31 janeiro 2014

Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste (disse a raposa)

Toda a gente sabe que para cativar o exigente público feminino, basta ter uma atitude a meio caminho entre o perfil de macho alfa e o de quem cita o Principezinho, ter um vasto conhecimento das potencialidades das palavras menos usadas do dicionário, insinuar o domínio das artes de escolher vinhos, subir montanhas ou temperar com cebola confitada. Ajuda se tivermos uma pitada de humanidade e compaixão, andar às voltas com um livro maldito, ser sócio de uma equipa que ganha menos que as outras, ter um alter-ego que seja um estereotipo de um sub-segmento social e, como é evidente, passar subliminarmente a ideia de a conta nunca ser um problema.

E as mulheres que têm blogues, porque não têm elas uma base sólida de leitores masculinos, ávidos de uma palavra, sedentos de um gesto que seja inequivocamente para eles, que leiam os textos e pensem, regalados, "Ela escreveu isto para mim, tenho a certeza"?

29 janeiro 2014

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, Pipoco Mais Salgado havia de recordar aquela tarde remota em que aprendeu a cozinhar

Dos dias felizes, um dos mais empolgantes foi aquele em que interiorizei que detinha os saberes necessários para cozinhar, eram os dias em que repartia casa com um velho caçador que me iniciou no admirável mundo das várias formas de cozinhar coelhos e perdizes, explicando-me, com infinita paciência, os tenebrosos rudimentos de cozinhar um arroz branco a acompanhar bife grelhado, no início o meu único foco era dominar os princípios básicos da arte, para poder dispor de recursos adicionais, que até esse dia eram desbaratados em contas de restaurante, que me proporcionassem, numa perspectiva de médio prazo, poder manter uma garrafa de gin com o meu nome escrito no rótulo, no meu bar de referência à época, mais tarde, mais ainda num tempo em que me encontrava disponível para o mercado, compreendi que saber cozinhar me dava poderes especiais e vidas extra na relação com as mulheres, é certo que seriam menos poderes que o saber como fazê-las rir, mas não é menos certo que eram mais poderes que um abdómen perfeito proporcionava aos meus iguais, o resto da história é um refinamento do conceito, um jogo de sorte e azar no arriscar mesclar sabores e texturas improváveis, um trabalhar da confiança que me possibilitava aventurar onde outros jamais ponderariam a sua sorte, a procura da validação externa daqueles que, abnegadamente e com tanta assertividade me tinham dado retorno da mistura vodka, tequilla e sumo de maçã, e agora, num caminho alternativo, me informavam se os revueltos de espargos verdes e farinheira de porco preto resultavam melhor ou pior que o arroz de tamboril com courgetes, na verdade é como na vida, ter mais e melhor informação que os outros, ousar arriscar, insinuar que dominamos a arte, qualquer que ela seja, e, finalmente, não esmorecer quando percebemos que teria sido avisado colocar menos sal.

Hoje sonhei com Lamborghins roxos

São três e doze da manhã e regresso a casa, fascina-me sempre ver o nascer do sol, na Radar passam "I Want let the sun go down", uma velha canção dos Spandau Ballet, fico a pensar na coincidência, o sol que nasce na canção e o sol que nasce aqui em Cascais, talvez mais tarde passem o "It's raining again" das Supremes e esteja a chover, na rádio eles divertem-se com este género de coisas, mensagens subliminares, é como sonhar com pontes, qualquer psicólogo que saiba destas coisas nos contará que quando sonhamos com pontes é porque desejamos que o consciente se separe do inconsciente, só podemos reverter o processo se fizemos como faziam os romanos, que mergulhavam no rio Letes e recuperavam a consciência, Dante Alligheri, no seu Inferno, conta-nos melhor esta história, é ler, mas são três e doze da manhã, talvez agora seja mais tarde porque gastei algum tempo a falar das Supremes, que me fizeram lembrar a Tina Turner, que por sua vez me fez lembrar Monet que, e era aqui que eu queria chegar, e cheguei, me fez lembrar que não posso deixar de ir ver a exposição do Prado que está no Museu de Arte Antiga.

28 janeiro 2014

Sou só eu a achar...

...que a fórmula "sou só eu a achar..." seguido de uma banalidade qualquer é a nova fórmula "keep calm and..." seguido de uma banalidade qualquer?

27 janeiro 2014

Pipoco é entrevistado pela Pipoca Arrumadinha

Durante muito tempo questionei-me por que razão ninguém do mundo dos blogs me enviava selinhos a dizer que eu era apreciado nem carimbos a atestar a qualidade do blog, ninguém me perguntava o que dizia a página setenta e dois do livro que estava a ler, parecia que toda a blogosfera, em uníssono, me ostracizava nestas coisas e não tinha interesse no meu pensamento nem nas minhas fragilidades.

Felizmente há a Pipoca Arrumadinha, que quis ir mais longe e me deu a oportunidade de mostrar a minha faceta mais pessoal, de desenvolver um pouco o meu pensamento sobre as coisas em geral, de divulgar a minha obra, de mostrar o homem que existe para além do blog.

Pipoca Arrumadinha, muito obrigado pelo momento de introspecção que me proporcionou, pela paragem para pensar nas minhas motivações, pelo convívio salutar entre pessoas que escrevem blogs.

Espero sinceramente que gostem da entrevista, aqui.

Reflectindo sobre a vida

Se se ganhasse o mesmo, fosse qual fosse a profissão, eu havia de escolher ser escritor de livros ou comandante de aviões ou pianista de bar de casino ou guarda da natureza numa montanha a sério ou instrutor de esqui de classes avançadas.

26 janeiro 2014

E agora Pipoco escreve sobre Duxes e praxes, mas afinal não, escreve sobre outra coisa qualquer

E agora o Dux é malvado porque não fala, não quer falar, as pessoas a sofrer e o Dux sem falar, pobres pessoas, malvado Dux, era metê-lo na prisão e torturá-lo e arrancar-lhe os tomates e  bater-lhe muito até ele falar, porque, em falando o Dux, as pessoas sofriam menos.

E agora o Dux é uma vítima, pois se ele estava em choque quando o encontraram na praia, semi-afogado e a espumar pela boca, foi alguma coisa que correu mal, pobre Dux, o que deve ter sofrido aquele rapaz, ver os amigos a ser levados e ele ali, vai ter que carregar o trauma pela vida foram, é normal que não consiga falar.

E agora o Dux é malvado porque estava a praxar a rapaziada e foi longe demais na violência da coisa, e agora o Dux é bom porque estavam só a testar a qualidade das praxes, aquilo era só um retiro para meditar na categoria de praxes que os semi-Dux haviam de aplicar na caloirada do ano que vem.

E agora as praxes são boas porque integram muito e mostram a cidade aos caloiros e explicam onde se bebe barato e fica-se amigo para a vida do praxador e estão ali todos pelo convívio, mas afinal as praxes são humilhantes e só servem para que uns inúteis que nunca foram nada na vida dêem umas ordens.

E agora os dos blogs não gostam do Dux nem as praxes, mas percebem o sofrimento do Dux e as praxes até podem ter um fundo de coisa boa.

Que vês da tua janela, Pipoco?

25 janeiro 2014

Esta noite sonhei com Lamborghinis roxos

Desde manhã cedo que, olhando pela janela e observando o vento a fustigar as minhas árvores, sentado na velha poltrona castanha, tentando ler Ulisses enquanto ganho coragem para substituir Keith Jarrett por Cecilia Bartoli, de caminho talvez me sirva de um Remy Martin que me ofertaram pelas últimas festas, uns favores que me deviam, e, em calhando, talvez ajeite o sobro na lareira, desde manhã cedo, dizia eu, pensativo, sorumbático e cofiando a barba, medito longamente em que pensarão as pessoas quando convidam um indivíduo com o idiossincrático nome Pipoco Mais Salgado para fazer parte de uma rede social profissional, que resposta esperará o convidante, que pensarão os abnegados parceiros de rede profissional se Pipoco Mais Salgado aceitasse e constasse como fazendo parte dos seus contactos, que portas profissionais se espera sejam abertas por Pipoco Mais Salgado.

24 janeiro 2014

Idiotas, Tio Pipoco?

Ah, o Zé Carlos, o que elas admiravam o Zé Carlos, ainda ele vinha do outro lado do passeio e já se sentia o cheiro delicado de Kouros, era um primo que lhe trazia de Andorra, o Zé Carlos, sempre com a t-shirt preta a dizer "Atletic", a fita da Senhora do Bonfim quase a desfazer-se e elas a desejar que o desejo do Zé Carlos se realizasse depressa, as calças de ganga justas ao corpo e as botas, céus, as botas de verniz preto a condizer com os óculos de massa, dizia-se que eram iguaizinhos aos do Djaló, bastava o Zé Carlos abeirar-se do balcão e logo um copo de amêndoa amarga se enchia, aos domingos era um Jotabê com três pedras de gelo, uma classe, o Zé Carlos era de poucas falas mas quando falava parava tudo, ele a sustentar que o Rodrigo havia de jogar com o Lima e o Cardozo, todos ao mesmo tempo, com ele era sempre ao ataque, elas a trocarem olhares, todas e entender a mensagem subliminar que para ali ia, havia alturas que o Zé Carlos lhes fazia a vontade e sacava do cartão do Glorioso, sócio trinta mil e sessenta e nove, contava-se que tinha passado à frente na fila de um tipo lingrinhas, não fosse isso e o Zé Carlos havia de ser o sócio trinta mil e setenta, não lhe assentava tão bem, só mesmo ele, tão engraçado, aquilo sim era sentido de humor, era isso e a categoria que era o Zé Carlos às vezes tratá-las por princesa no facebook, ah, o Zé Carlos, o que elas admiravam o Zé Carlos...

23 janeiro 2014

Os idiotas

Ah, o Burnay de Mendonça, elas falavam no Burnay de Mendonça e iluminava-se-lhes o olhar, casa em Azeitão, garrafa de gin no BBC, um telefone dos que dizem no fim das mensagens "sent by my iPhone", um grupo a quem o Burnay de Mendonça se referia como "os meus amigos de sempre", o Burnay de Mendonça a segurar-lhes as portas para elas entrarem mas a dirigir-se-lhes por "você", a provar o vinho e a dizer "pode servir" com ar de quem entendia do assunto e elas, que até tinham estudos, afinal tinham um curso de decoração de bolos, a vir-lhes à tona os episódios do "Sexo e a Cidade" gravados na memória de longo prazo, a suspirar se o Burnay de Mendonça, com voz sussurrante, lhes falava de Nova Iorque, elas a murmurar entre si a displicência com que o Burnay de Mendonça perdia na roleta, ah, o Burnay de Mendonça...

22 janeiro 2014

Porque leio blogs?

Porque, em lendo blogs, fico a saber que apareceu o Menino da Madeira, caramba, eu nem sabia que o Menino da Madeira tinha desaparecido, é como quando me dizem no magazine cultural da RTP2 que morreu o realizador John Csirham-Richmond, famoso pela sua obra neo-anarco-naif, após doença prolongada, e é triste, bem o sei, mas é desta forma que eu tenho conhecimento da existência do grande John Csirham-Richmond, infelizmente demasiado tarde para lhe mandar cumprimentos e dizer-lhe que está aqui (bater no coração).

Porque, em lendo blogs, tomo conhecimento de que ninguém quer falar daquilo do Meco, mas, já que se fala, sempre se vai dizendo que as praxes não levam a nada e que o Dux devia ser engavetado até confessar, não se sabe bem o quê, mas o importante é que o Dux fale e eu tenho curiosidade em saber o que é o Dux e afinal é uma espécie de Zé Gabriel do meu curso, o tipo mais burro que já conheci, vinte anos repetente só porque o pai do Zé Gabriel tinha aquela teima que o filho havia de ser engenheiro, apesar de ser inegável que era meio caminho andado ter o Zé Gabriel na equipa para ganhar a edição do Rally das Tascas e despertar a inveja e a admiração dos pares, mas, em associando o Zé Gabriel ao Dux, não sei se é boa coisa que o Dux fale, o Zé Gabriel tinha dificuldade em dizer "batata" duas vezes seguidas, só para avisar que temos que ter cuidado com o que desejamos porque pode realizar-se.

Porque, em lendo blogs, fico sabendo que devíamos referendar mas era se o Slimani devia ir para o panteão ou se o Fizz Limão devia regressar mas só nos meses de Fevereiro com vinte e nove dias, isto de referendar se não sei quê das famílias alternativas, ou lá o que é, está mal, pois se até Jesus Cristo teve dois pais e ninguém acha mal, não há direito.

Pipoco teve que ir a um balcão do banco estatal pela primeira vez em dez anos

E concluiu que os colaboradores levam a sério isso de pensar fora da Caixa.

Pipoco está inconsolável

Toda a blogosfera começou a ler Ulisses depois de mim e todos vão mais adiantados que eu.

21 janeiro 2014

O que seria do mundo, tal como o conhecemos...

...se tivesse sido Sinatra, em vez de Glenn Medeiros, a cantar "Nothing's gonna change my love for you", se Maria Eduarda não fosse irmã de Carlos da Maia, se Ilse e Rick tivessem tido Nova Iorque em vez de Paris, se Rigoletto não tivesse sido desagradável com o Conde Monterone, se Don Vito Corleone tivessse decicido entrar no negócio da droga, se Harry Hole fosse abstémio?

(Assustador, não é? Pois é...)

20 janeiro 2014

E qual é o problema de estar sempre a escrever o mesmo post?

Na verdade estamos sempre a escrever o mesmo post, as dos blogues de coisas para vestir têm sempre a mesma porta do quarto por detrás, o mesmo trejeito de boca, as mesmas unhas de cor inenarrável, sim, é certo às vezes há variações e fazem as fotografias no exterior, mas sempre com os mesmos prédios de subúrbio, a mesma roupa de loja de centro comercial.

Os dos blogs de política também estão sempre a escrever o mesmo post, sempre em cima da mesma caixa de sabão de Speakers Corner, só são lidos pelos do outro lado da barreira, acreditando uns e outros que todos estamos a prestar atenção, e não, só os do outro lado os estão a ouvir, nós não, nós estamos a escrever o nosso próprio mesmo post de sempre.

As dos blogs que escrevem aquilo que os outros blogs escrevem, mas em pior, lá estão também, sempre à espreita, sempre atentas ao que fazem os mesmos de sempre, numa eterna espiral de ser o arremedo de sempre do post de sempre, o que resulta numa estranha constância, que nos tranquiliza e apazigua.

Os dos blogs de diário de bordo, lá estão também, com os mesmos gatos de sempre, a comer o mesmo sushi de sempre, saboreado enquanto nos contam como são maravilhosas as mesmas séries de sempre, vistas na companhia do mesmo atado de sempre, debaixo da mantinha fofinha da loja de móveis de sempre.

Os intelectuais,  esses sistematizam os intragáveis livros de sempre, lidos nos intervalos de ciclos de cinema dedicados aos realizadores incompreendidos de sempre, que partilham connosco com a sobranceria de sempre.

As dos filhos contam-nos os progressos dos filhos, todos a dizer as mesmas primeiras palavras,  todos eles entram para a escola da mesma maneira, deixando as jovens mães com a mesma tensão e com as mesmas lágrimas nos olhos, todos eles são os melhores filhos do mundo, não tão deliciosos como as sementes de gitdja-karbunifa que as das comidas saudáveis nos mostram, todas sugerindo que ligam muito bem com arroz de pétalas Moiteng ou com iogurte grego das estepes amazónicas, naturalmente, todos eles preparados de véspera porque não há tempo a perder na corrida para o emprego de sempre, onde as espera o malvado chefe que é igual em todo o lado.

Os problemas das mulheres

Ser necessário colocá-las em tensão para que brilhem em todo o seu esplendor.

19 janeiro 2014

Pipoco acabou de decidir...

...que se não houver neve em condições nos Trois Valées por alturas da Páscoa, vai fazer "El Camiño".

Post em tempo real

Há poucos momentos tão magníficos como aquele em que o grupo de senhoras de idade, todas meio surdas e a falar muito alto umas com as outras, chegada a hora da Santa Missa, abandonam finalmente a mesa de café ao lado da minha, instalando-se finalmente o silêncio necessário para que eu possa ler a crónica do jogo de ontem.

18 janeiro 2014

A iniciar carreira nisto dos blogs? Pipoco ajuda.

Escreve em condições, ninguém se aguenta muito tempo nisto dos blogs só com fotografias de golfinhos e poemas de amores que nunca aconteceram.

Não pedinches atenção nem implores visitas. Nós, os consagrados, ficamos sempre constrangidos quando se põem aos saltos à nossa frente para nos chamar a atenção.

Pensa se a tua mãe gostaria de ler o que acabaste de escrever. Se tiveres dúvidas, não publiques.

Não é o fim do mundo escrever o post errado e não ser consensual. Respira fundo, a fúria e a memória das gentes dos blogs não dura mais que um dia.

Não tens que comentar tudo em todo o lado, um comentário é um bem precioso e deve ser usado com parcimónia. Não há nenhum problema se não tiveres nada a dizer ou valor a acrescentar ao que foi escrito.

Tem tento quando falas dos teus filhos. O problema não é se eles vão gostar de ler mais tarde, o problema é se os amigos dos teus filhos estão a ler agora.

Nunca esqueças que, por pior que seja a escrita, há pessoas por trás dos blogs. Sê gentil, pessoas merecem sempre respeito.

Não há problema em fazer mais do mesmo, se o fizeres melhor.

Nunca expliques o post de ontem, primeiro porque já ninguém se lembra nem se importa, depois porque, se precisas dar explicações, o problema não é quem lê, o problema és tu.

Não te deslumbres com três mil visitas por dia. Qualquer um consegue isso, lembra-te sempre que três mil pessoas é a assistência de um Arouca-Moreirense e a imagem que vemos na televisão é a de um estádio vazio.

Nunca escrevas posts como este ao sábado, quase ninguém vai ver. Guarda-os sempre para segunda feira de manhã e terás um "hit", pleno de comentários aprovadores, um afago no ego.

17 janeiro 2014

Pipoco foi às compras e mostra que também sabe combinar peças

Ironia é...

...eu estar no trânsito há duas horas, trovoada e granizo, já ter mandado alterar por duas vezes o inicio de uma reunião, e os tipos da rádio passam o "Beautiful Day".

14 janeiro 2014

Serviços mínimos

Lessem os dos blogs metade dos livros que apregoam, corressem metade dos quilómetros que nos juram ter corrido, tivessem os seus filhos metade da inteligência que nos asseguram que têm, comessem ao pequeno almoço metade da dose de cereais integrais que nos mostram nas fotografias, tivessem os seus  casamentos de sonho metade da felicidade que insistem em nos apregoar, e já seria um mundo tão melhor...

Nunca seremos iguais, pois não?

Elas falarão da bizarra dicotomia Dona Dolores - Irina, comover-se-ão com a imbatível imagem de homem a chorar, uma imagem mil vezes mais potente que aquela outra "homem inteligente e com sentido de humor", elas não deixarão de notar a presença do pequeno Cristianinho, também aqui se relevará a potência da imagem de homem acompanhado por criança nos seus momentos de glória, talvez elas, as mais rebuscadas, não passem ao lado do homem pobre que subiu tanto na vida que alcançou o incrível estatuto de poder ostentar um anel ridículo num dos mindinhos.

Eu, se falasse, falaria do relógio.


13 janeiro 2014

Messi, esse fatinho...

Queres falar?...

Os problemas das mulheres

Investir uma fortuna num par de sapatos de salto alto mas nenhum tempo em aprender a usá-los em condições.

11 janeiro 2014

As coisas são como são

Há momentos icónicos nas nossas vidas, poucos segundos que condensam a essência do que somos, momentos que ficam na memória dos que estão a ver, determinantes para a forma como nos catalogam a partir daí. Eusébio teve o momento em que foi buscar a bola ao fundo da baliza da Coreia do Norte e a levou para o meio-campo, Cristiano Ronaldo teve o momento em que despiu a camisola depois de marcar o golo pela selecção, Casillas teve o momento em que beijou a namorada-jornalista que o entrevistava, Bono Vox teve o momento em que, ao som de Bad, dançou com a miúda do público do Live-Aid, Diana teve o momento em que atravessou o campo acabado de desminar em Angola, e nós, apesar de todos os filtros do blog, mais tarde ou mais cedo, para o bem e para o mal, para nos agigantar ou reduzir aos olhos dos outros, teremos o momento que nos definirá enquanto pessoas.

10 janeiro 2014

Cuidado connosco, já disse...

Porque somos uma gente que nos concertos bate palmas no fim de acompanhar o artista  no refrão, que bate palmas quando o tipo do estádio diz quantos estão a assistir, que bate palmas assim que o avião toca na pista, que bate palmas nos minutos de silêncio, que bate palmas...

Retrato de passadeira sem ninguém a atravessar

09 janeiro 2014

Cuidado connosco

Nós somos aqueles que puseram bandeiras na janela para apoiar a selecção, somos da raça dos que se vestiram de branco por Timor, da estirpe dos que deixaram de beber Pepsi por causa daquela situação, somos aqueles que se abespinharam com o caso da tia da Comporta, somos dos que não ficaram calados com a problemática da miúda da mala e que não deixam passar em claro quando os posts de uns aparecem nos blogues de outros, somos aqueles para quem Eusébio sempre foi o King e Mandela sempre foi Madiba, nós somos os bravos que que se revoltaram com o Pingo Doce não aceitar cartões e nunca mais lá voltaram e não metemos gasolina nos carros para protestar por não sei quê, somos dos que desligam a luz uma hora do ano para poupar no ozono ou lá o que é, somos os que se revoltam com os vídeos das miúdas que estiveram na casa dos segredos e somos dos que se sacrificam por causas sérias ao ponto de fazer like no facebook.

08 janeiro 2014

07 janeiro 2014

Sonhando outra vez com Lamborghinis roxos

J. Rentes de Carvalho, neste seu post, fez acontecer o improvável, fez-me pensar. Relata-nos as suas preocupações com os personagens a quem deu vida e que eliminou, por já não lhe agradarem, perguntando-se se serão eles capazes de ressurgir um destes dias, zangados, pedindo-lhe explicações, incomodados com o destino que J. Rentes de Carvalho lhes reservou, talvez pedindo uma nova oportunidade, aquele era pobre e quer agora uma vida mais desafogada, aquele outro fazia parte de uma história que acontecia nas terras do Marão, um inferno no inverno, reivindicando agora um lugar numa praia do Algarve, imagino J. Rentes de Carvalho cercado pelas suas criações, algumas disformes por o autor as ter apagado ainda antes de lhes dar uma cabeça, outras não se sabendo comportar por o autor ainda não lhes ter ensinado boas maneiras, todas falando ao mesmo tempo, mulheres estrangeiras e homens boçais, J. Rentes de Carvalho sem saber a qual delas atender primeiro, querendo dar explicações, a uma prometendo-lhes uma vida melhor numa aventura lá mais para a frente, a outra ordenando-lhe que se retire, que aquilo não são modos de se dirigir ao autor, a outra ainda insinuando que pode muito bem reservar-lhes uma existência ainda pior, enfim, creio que a ideia era esta, mas fiquei eu a pensar que as pessoas que fui eliminando da minha vida serão como as personagens de J. Rentes de Carvalho e, se eu dou por mim a recordar-me das façanhas de algumas delas, é porque no final de contas são capazes de ainda não estar suficientemente bem apagadas.

06 janeiro 2014

Homens que se esforçavam quando o meu país não estava a ganhar

De todos os jogadores do Benfica, para além de Roberto e de Yannick Djaló, sempre gostei de Eusébio, um símbolo como já não há e um daqueles nomes que, dito para além de Badajoz, despertava simpatia, uma boa conversa sobre os seus feitos e, no meu caso pessoal, lençóis limpos e uma palmada de amizade nas costas numa carruagem-cama de um comboio búlgaro. Nunca vi jogar Eusébio ao vivo e sempre evitei assistir aos filmes dos seus melhores golos, sou um homem prudente e sei bem que num qualquer condensado de golos de Eusébio haverá sempre alguém com camisola às listas horizontais (naquele tempo eram riscas brancas e cinzentas) a levar um nó cego de Eusébio e um guarda-redes de leão ao peito, desalentado, a ir buscar a bola ao fundo da baliza. Eusébio era grande e cultivava alguns valores que me são simpáticos, era homem apreciador do que de bom a vida nos dá e daqueles homens capazes das amizades mais improváveis, sempre com aquele estilo de quem sabe que é quem é, mas faz de conta que não, que é só mais um. E era isto.

03 janeiro 2014

Pipoco, esse destruidor de ilusões

Por mais que se lhes explique, meu caro Ruben Patrick (alcança-me, por favor essa garrafa de Martell, sim, bem sei, os tempos estão agrestes mas não é menos certo que já toureámos em piores praças), nunca as convenceremos que por detrás de umas letras alinhadas com elegância, de forma a proporcionar-lhes a ambiência perfeita, lenha de sobro a arder na lareira, livros antigos a cheirar a muitos anos de estante, jazz em discos a sério, essas trivialidades, nunca as convenceremos, dizia eu, que que por detrás de umas boas letras alinhadas com elegância não está o homem idealizado, pode ser na variante músculos definidos mesclados com fino sentido de humor, pode ser na variante conhecedor de néctares e com capacidade de realização do fórmula mágica "jantar em Montmartre sem aviso prévio", pode ser ainda na variante terno com os filhos e corredor na praia às seis da manhã (serve-te também, Ruben Patrick, tens Macieira na prateleira de baixo). Um homem, em sabendo escrever, alimenta-lhes o sonho, desperta-lhes as emoções, tolda-lhes o raciocínio, priva-as da lógica.

E isso, parecendo que não, pode a coisa mais interessante que nos resta nisto dos blogs.

Porque leio blogs?

Porque, em consultando o que me dizem os blogs, fico sabendo que não é de bom tom desejar coisas para o novo ano, não é de bom tom correr pela fresquinha, não é de bom tom ter planos para comer melhor, não é de bom tom estar razoavelmente contente com o que se tem.

(no entanto, escrever sobre as não-coisas que as crianças fizeram, e que outras tantas crianças fizeram antes e outras ainda farão depois, contar as pequenas bizarrias quotidianas que só aos próprios dizem vagamente alguma coisa, transmitir com detalhes o quão estratosférico está o índice de massa corporal, mostrar todas as guloseimas que se aviaram nas festas, isso sim, é de valor).

02 janeiro 2014

Ressuscitando então Ruben Patrick, embora num registo mais sóbrio que o habitual e sem más palavras

Uma mulher bonita, Tio Pipoco, não é aquela que veste Thierry Mugler ou que sorri daquela forma que encanta os homens. Uma mulher bonita é bonita ainda que se nos afigure que já bebeu demasiado, quando a apanhamos a fazer batota, quando se zanga connosco mesmo a sério ou quando acorda à uma da tarde.

E assim, a meio caminho entre o criptográfico e a verdade absoluta, inicia Pipoco a sua série de palestras do ano corrente

Não creias que recuperar passados te salvará, Ruben Patrick.