31 outubro 2015
O retrato
Não estranhe que ela não lhe dê passagem no trânsito, ensinaram-lhe que é dar sinal de fraqueza e ela nunca mais se esqueceu, afinal ser dura é meio caminho andado para o sucesso, isto também lhe explicaram mas esta parte ela não percebeu bem. Se porventura ela lhe der passagem é porque se distraiu a maquilhar-se na fila do trânsito e, fixada no espelho de cortesia, não deu pelo trânsito avançar até o tipo de trás lhe buzinar e ela, com os nervos, atrapalhar-se com os pedais e deixar o motor do carro ir abaixo.
A portuguesa faz dietas de Janeiro a Dezembro. O facto de a ter visto a comer um pastel de nata ainda agora não significa menos foco no objectivo, aquilo era para lhe equilibrar os nervos, não há ninguém ao cimo da terra que sofra tanto com os nervos como a portuguesa e toda a gente sabe que não há nada melhor para acalmar os nervos do que um pastel de nata. Ou um mil folhas, vá. Não cometa a imprudência de cumprimentar uma portuguesa pela sua gravidez. Aquilo são nervos. E pastéis de nata. E uma inimiga para o resto dos seus dias.
Tome nota do seguinte: jamais aceda a que uma portuguesa lhe mostre retratos dos filhos pequenos (ela chama-lhes os meus filhotes, não me pergunte porquê, e o conceito "filhos pequenos" designa criatura com menos de trinta e cinco anos). Se, por caridade, ceder, tem matéria para várias horas, ela irá ao seu lado até ao seu carro passando o dedo pelo visor do telemóvel, ainda que você corra, ainda que já esteja numa conference-call, e arrisca-se a passar o resto da semana vendo-a saltar ao seu caminho, saída de algum canto escuro, dizendo-lhe "o engenheiro ainda não viu esta, é ela mascarada de sevilhana, não está tão bonita?".
Note que a portuguesa não se pode juntar a outra portuguesa sem entrar imediatamente em competição. Tire partido desse facto, mostrando um dia preferência por uma e no dia seguinte invertendo a sua preferência. Verá como aprimoram as suas qualidades competindo entre si. Invista algum do seu tempo dando-lhes informação inexacta sobre qualidades que valoriza na rival e chame a isso "coaching".
A portuguesa crê que não há ninguém como ela para interpretar esse conceito não provado da multifuncionalidade. Tire partido desta crença e, enquanto ela se desdobra mudando fraldas a crianças, estendendo roupa, gerindo o ponto de assadura do lombo de porco e desancando na empregada que não apareceu hoje, aproveite para fumar um Cohiba no exterior, enquanto degusta um Jameson velho e lê um bom livro. Não tente mudar o sentido das coisas, não queira mudar o mundo, limite-se a aprimorar esta qualidade das mulheres referindo-se a como o ponto de assadura não está correcto, mas dando um stroke positivo mostrando o seu agrado pelo facto de a cerveja estar fresquíssima (use o superlativo sempre que desejar bom sexo).
Faça-a feliz, dando uso a todos os ancestrais ensinamentos que nos foram legados e que funcionam na perfeição há muitas gerações: segure portas, escolha vinhos, suba à frente nas escadas, sirva-as primeiro, diga-lhe que estão lindas, faça com que não duvidem da sua atenção quando lhe contam as coisas lá delas.
Vá, pode disparar, eu estou pronto. Só me falta ajeitar o nó da gravata e apertar o primeiro botão do casaco.
(inspirado nisto aqui da Mãe Preocupada)
Post em tempo real
À saída do supermercado umas senhoras velhinhas, dessas dos calendários marotos, interpelam-me, não sei quê, se quero contribuir para o cancro. Penso mostrar-lhes o presunto de Barrancos e o chouriço de Arganil que acabei de comprar, para que confirmem que já estou a contribuir para o cancro. Parei a tempo, elas eram bastantes, meti umas moedas na ranhura da caixa amarela e elas pespegaram-me um autocolante na lapela.
30 outubro 2015
Pipoco pergunta
A exposição do corpo das senhoras velhinhas lá daquilo do calendário merecerá a ira das feministas, o vulgar da exposição do corpo feminino e não sei quê, ou será coisa de se apoiar, porque a coragem, o assumir, o serem como são, é que é de valor?
29 outubro 2015
Ovos com alheiras e queijo da Serra da Estrela
Uma picanha paraguaia fatiada por mim não leva a doença fatal, da mesma maneira que um Bushmills Malt jamais atacará os fígados.
Uma mulher demasiado bonita e demasiado inteligente não faz mal nenhum.
28 outubro 2015
O novo zerozerosete...
...pode não ser o melhor zerozerosete de sempre (para isso temos cá o Skyfall), pode não ter a melhor sequência inicial de sempre (para isso temos cá a de A view to a kill), pode não ter a melhor Bondgirl de sempre (para isso temos cá Ursula Andress).
Mas o vilão, esse é capaz de ser o melhor de sempre (mesmo que tenhamos cá Javier Bardem).
27 outubro 2015
Nisto dos blogs
Das torneiras de hotel
26 outubro 2015
Este é um post sobre política
25 outubro 2015
Pipoco também descreve uma prova desportiva
E a subida, senhores. A subida para o Castelo. Arfo, até que ouço uma senhora dizer que as escadas estão muito perigosas e escorregadias, o melhor é ir devagar. E sigo a passo, eu e as outras centenas de almas, um perigo estas escadas escorregadias, graças a Deus que tenho uma boa desculpa para ir a passo, Sintra luzindo lá em baixo, os frontais em fila indiana subindo a serra como se fossem milhares de vagalumes a passo lento, as conversas a finar-se, a cabeça a dizer que é melhor voltar para baixo, chego à saída do castelo e penso que agora é sempre a descer, afinal não, sobe-se até ao Palácio da Pena, lá em cima alguém diz que estamos no quilómetro seis e meio, nunca demorei tanto tempo a fazer seis quilómetros e meio, descemos agora , descer não é mais fácil que subir, o empedrado escorrega e os meus Adidas amarelos não foram feitos para isto, em São Pedro há uma senhora velhinha aos saltos que me diz que já falta pouco, agradeço a informação mas outras senhoras velhinhas já me disseram exactamente o mesmo lá atrás, a seguir está outra senhora aos gritos, a dizer que na rua dela ninguém pode ir a passo, que na rua dela quer ver toda a gente a correr, resigno-me, se a coisa é como a senhora diz pois que seja, corro a toda a velocidade, quando passo por ela berra-me aos ouvidos que na rua dela ninguém pode ir a passo, sigo infeliz, acabrunhado, puta da velha, queira deus que aquilo seja Alzheimer, diz que o Alzahimer faz confundir andar a passo com corrida veloz, chego à Volta da Pedra, muitos corredores começam a tirar os carros, imagino que terão desistido, não creio que tenham já cortado a meta e a mim ainda me faltam dois quilómetros, tenho um último assomo de dignidade e ataco, dois quilómetros fazem-se num instante, acelero na descida, sei que aqueles que ultrapasso ficam fascinados por esta minha ponta final, canto Aznavour e Brel, mais uma subida, a última subida e enfim a meta, estendem-me água e maçã desidratada, o Castelo dos Mouros lá em cima, rir-se de mim, o cabrão.
24 outubro 2015
Antes que o ano acabe
E não terminarei Ulisses.
21 outubro 2015
18 outubro 2015
16 outubro 2015
A situação política explicada por Pipoco
Imaginem que cá o vosso Pipoco propunha um programa, uma coisa em bom, evidentemente. Um projecto à imagem disto do Pipoco, onde se revissem os bloggers do Sporting, os que escrevessem maravilhosamente, os que tivessem maneiras a comer à mesa, os que lessem Ulysses para sempre, os que ajudassem velhinhas a encontrar a porta de embarque do voo para Málaga e os gostassem de gin tónico só gin tónico.
Haveria outras propostas, evidentemente: as das bloggers com filhos vestidos de igual, as das citações chagasfreitianas, as das corridas, as que não escrevem nada que se perceba e não é de propósito, as que concordam com tudo em geral. Mas esses não ganhavam, que Deus não dorme.
Naturalmente, e como seria normal, Pipoco ganharia as eleições mas, e é este "mas" que nos traz cá, ganharia sem maioria absoluta e as coisas são como são, sem maioria absoluta Pipoco não faria o que lhe apetecesse nisto dos blogs,o que seria uma maçada para todos em geral e para aos Homens de boa vontade em particular.
Ora Pipoco, abnegadamente, ouviria bloggers que lhe são próximos, certamente bloggers menos capazes mas, ainda assim, convergentes no essencial (Pipoco olvidaria as citações e os retratos de comida, não sei se me estão acompanhar). Pipoco procuraria o entendimento óbvio com Florzinha Azul (a segunda mais votada, um blog sobre poesia francesa e pinturas rupestres), uma blogger com ideias para isto dos blogs e, apesar de todos gozarem com ela porque não tinha ganho as eleições, pelo menos não adoçava o café.
Acontece que Florzinha Azul se pôs a fazer contas e é sempre uma maçada quando as Florzinhas Azuis disto dos blogs se põem a fazer contas: se juntasse forças com Matulão Tanzaniano (um blog que ainda ontem tinha escrito um post maldoso a vilipendiar a pintura francesa e poesia campestre, exactamente os temas queridos de Florzinha Azul), com Debaixo De Mim Serás Mãe (um blog dum tipo baixinho e gordo que arrancava suspiros por esses blogs fora que nunca tinha dado grande atenção a Florzinha Azul - e como isso doía a Florzinha Azul...) e, para cenário perfeito, com o Força Glorioso (uns tipos meio analfabetos mas que não arranjariam muitos problemas desde que tivessem sempre cerveja do LIDL fresquinha), todos juntos, tinham a maioria dos votos.
Pergunto: Preferiam confiar os vossos destinos de bloggers a Pipoco Mais Salgado e Florzinha Azul (essa menina tão ajuizada) ou a Florzinha Azul (essa valdevina), Mauzão Tanzaniano, Debaixo de Mim Serás Mãe e Força Glorioso?
Afinal...
Afinal isto não são só blogs.
11 outubro 2015
Outro bom post, para desenjoar
Também podia escrever sobre a chuva que esteve hoje
10 outubro 2015
A quem possa interessar
09 outubro 2015
E com os blogs? Ui, com os blogs...
Algures, em posts que já cá não estão para atestar que já disse coisas variadas sobre o tema, é uma das vantagens desta situação de esconder o que já escrevi, referi-me aos fantásticos inícios de "Cem anos de Solidão" (a situação do Coronel Buendia se recordar do dia em que o pai o levou a ver o gelo) ou de "Moby Dick" (Chamem-me simplesmente Ismael), de "Lolita" (luz da minha vida. labareda da minha carne) ou de "Anna Karenina" (aquilo de todas as famílias felizes se parecerem e as infelizes o serem à sua maneira) e, sobre isto não escrevi porque foi coisa recente, o maravilhoso início de Roth, o homem a quem devem um Nobel, em "O Complexo de Portnoy" que começa com uma ideia tão portentosa ("Ela estava tão profundamente entranhada na minha consciência que, no primeiro ano da escola, eu tinha a impressão de que todas as professoras eram a minha mãe disfarçada."), que me fez aguentar as restantes duzentas páginas mais vulgares.
Aborrece-me que com as pessoas seja cada vez mais igual. Ou me fascinam nos primeiros dois minutos ou...
Os problemas das mulheres
08 outubro 2015
Rodrigues. Dos Santos.
É certo que o homem escreve maus livros, mas será isso razão para tanta pulhice?
(e, já agora, o homem já toureou em piores praças...)
Isto é capaz de querer dizer alguma coisa
Acabei de ler o livro do tipo que acompanhou a expedição de 96 ao Everest e sobreviveu para contá-la. Sei o suficiente sobre montanhas para lhes ter respeito absoluto, afinal das três vezes em que pensei que podia morrer, duas foram na montanha. Os tipos que morrerem, morreram porque não ouviram a mais básica das recomendações da montanha: "é capaz de ser melhor voltar para trás". Os tipos que os deixaram morrer morreram porque arriscaram e arriscaram porque era mau para o negócio não fazer subir à montanha alguém lhes tinha pago para subir à montanha. Isto é capaz de querer dizer que ter muito dinheiro não é suficiente para nos fazer subir às montanhas.
Quinze minutos depois de terminar o espectáculo de Slava, mais de meia sala do CCB ainda se divertia a tocar bolas coloridas que passavam por cima das suas cabeças. Meia sala não arredava pé, não pensava em tirar o carro da garagem nem em chegar depressa a casa porque estava entretida a socar bolas gigantes no espaço do grande auditório do CCB. Só isto, tocar bolas coloridas e gigantes por cima das nossas cabeças. Isto é capaz de querer dizer que ainda há esperança na humanidade.
Os meus amigos, desses que não encontrei nos blogs, sabem que há dois tipos de filmes que vejo na estreia: filmes sobre montanhas e o último de Bond, James Bond. Tenho um convite para ir à ante-estreia de Spectre, no O2 Arena, em Londres, no mesmo dia em que a minha agenda me diz que estarei a assistir à defesa de tese de doutoramento de alguém que admiro. Isto é capaz de querer dizer que verei Spectre no dia de estreia num cinema da minha cidade.
07 outubro 2015
06 outubro 2015
Há quanto tempo não vos falava de dress code?
Mas chegando sempre onde tenho que chegar
Eu a pensar que, se isto não é uma metáfora à minha vida, então não sei nada de metáforas sobre a minha vida.
04 outubro 2015
Pipoco comenta as eleições (XVI)
Pipoco comenta as eleições (XIII)
Pipoco comenta as eleições (XII)
Pipoco comenta as eleições (X)
(não é nada, estava a brincar...)
Pipoco comenta as eleições (IX)
Pipoco comenta as eleições (VI)
Pipoco comenta as eleições (II)
Pipoco comenta as eleições (I)
02 outubro 2015
Em verdade te digo, Ruben Patrick
É por isso conveniente dar-lhe atenção, não será necessário que seja coisa diária, basta dar nota uma vez por outra que sim, que notámos que era ela quem, lá ao longe, esbracejava num esforço brutal de autosinalização. Nessa altura, um sorriso, um leve acenar de cabeça será o bastante para a acalmar, para lhe diminuir a tensão para, enfim, lhe dar a ilusão que sim, que a vislumbrámos por detrás das moitas, basta que lhes acenemos ao de leve e está a coisa feita, é o bastante para que suspirem de alívio, que voltem para junto da sua tribo, elas cobertas da glória da nossa atenção, as da sua tribo invejando-lhes a audácia e desejando no seu íntimo vir a ser como elas e esbracejar também por detrás das moitas e nós, sábios, teremos tranquilidade durante um par de dias.