Que importa se são quatro e meia, põe-te a pé, está certo que não há voos das sete para não perder, agora quase não fazes voos das sete, na verdade nem das sete nem nada, mas quatro e meia é uma hora tão boa como outra qualquer, avança, sempre despachas dois episódios do "Método Kominsky", temporada três, antes do sol nascer, depois escolhes correr o caminho para poente, terás o sol de frente na volta, talvez te ajude a decidir se é desta que compras o barco a remos para aproveitar melhor a barragem em fim de dia, ou então lês o que te falta dos livros que tens meio lidos e espalhados pela casa, afinal parece que vais ler um livro de respeito, é melhor enfrentá-lo sem contaminação, em não te apetecendo correrias com o cão ao lado, podes decidir por sentar-te em posição de flor de lótus e deixar que nada mais importe senão respirares, podes escolher uma voz que te guie e que invariavelmente te sugira, sem impor, que os teus pensamentos se passeiem pela empatia e pela quietude, desistirás ao fim de trinta segundos, bem-entendido, e escolherás afinal a correria, não há nada pior que os teus pensamentos deambulem por verdes prados e por terras de leite e mel, são sete da manhã, o tempo passa a correr, prepara um bom sumo das tuas laranjas e selecciona a Bartoli, não há melhor combinação do que Bartoli e sumo de laranja, isto tirando bola e bifanas ou imperial com camarão da costa.
(inspirado pela Flor e pela Susana, que não vislumbram a beleza que há em acordar às quatro e meia)