26 setembro 2021

Por todas as vezes que não me deixaste entrar no Frágil

 Chupa, Guida Gorda…

E para jogar poker e comprar uma garrafa de Hennessy

Faltam-me horas para ir ver o último do zero zero sete, para ir ao Meridional ver Kiki von Beethoven, um monólogo daqueles que fazem de nós melhores pessoas, para ir ver o Sporting a Alvalade, para o jantar das pessoas da minha rua e das pessoas dos meus estudos, para o mítico fim de semana dos sobrinhos e para o fim de semana na Graciosa, para os projetos da bazuca e para o orçamento do ano que vem, para ler os livros que comprei este mês e para juntar mais Grieg e Mendelssohn ao meu Spotify, para decidir em quem voto e para escrever a uma espécie de amiga que, sei-o bem, sem mim irá de vitória em vitória até à derrota final.

23 setembro 2021

A verdade é que simpatizo com o processo criativo dos negacionistas...

...é um daqueles processos que é tão bom que é mau, primeiro a dúvida sistemática, nada os convence à primeira, lá está, com tantas notícias falsas por aí à solta há que analisar a coisa por outros pontos de vista, é vê-los a franzir o sobrolho como o velho Statler, o mais céptico dos Marretas, isto aqui há gato, lá está o poder a querer manipular, vamos lá criar uma narrativa que misture a frequência de Deus com os Illuminati, Rosewell com o triângulo das Bermudas, problema é quando a realidade não encaixa na narrativa que eles inventaram, o quê, o Sporting foi campeão?, ora vamos lá verificar isso, mostramos-lhes o vídeo dos jogos, dizem-nos que podem ser jogos de campeonatos passados, mostramos-lhes os estádios sem público por causa da pandemia, afinal é um sinal de que os jogos são do último campeonato, mas esbarramos no argumento de não ter havido pandemia, logo aqueles jogos sem público por causa da pandemia não podiam ter acontecido, é a lógica a funcionar, e acaba-se a conversa, assim se prova que não é certo o Sporting ter sido campeão, a não ser que eu queira ser da manada dos que acreditam nisso, o problema é meu que não sei pensar pela minha cabeça, impressiona-me o processo criativo, não sei se já tinha dito, afinal a realidade paralela é muito mais interessante que a outra, a da vida real, e eu, que cada vez sei menos de situações, sei que estas pessoas são muito mais divertidas e muito mais felizes do que eu, que continuo a acreditar no que vejo e sou cá manada, um tipo que aborrece as pessoas.

20 setembro 2021

Pipoco em modo bucólico

Às vezes sinto vontade de ter uma dessas vidas em que não se corre atrás de nada, teria um desses trabalhos onde as pessoas são promovidas porque estão lá há muito tempo, leria um livro por ano, de preferência um que tivesse conselhos para se mudar de vida, compraria um Fiat Tipo ou um Nissan Qashqai, iria ao Algarve no verão e à serra da Estrela quando nevasse, seria sócio do Benfica e do Automóvel Clube, para ter gasolina mais barata às terças-feiras, os meus filhos haviam de se chamar Vanessa e Ruben, saberia a vida passada da namorada do Cristiano Ronaldo e as promoções do Pingo Doce.

Depois convido uns amigos para um almoço cá em casa e um deles traz a mulher nova, que é tal e qual essas pessoas, mas em um bocadinho melhor, esta tem um filho que se chama Zé Paulo, e passa-me logo a vontade.

12 setembro 2021

São precisos dezoito dias e meio para se ter oitocentos e doze seguidores nisso do twitter

 Escolhe um bom retrato, um que favoreça e onde apareças com um cão, não importa que o retrato seja tão antigo que foi tirado há dois cães atrás, escreve o teu nome, não é importante que seja o teu verdadeiro nome, coloca pelo menos dois apelidos, Bernardo Moura Thyssen é um bom nome, comenta com sabedoria os que aparecem na televisão, a Câncio e a Constança são aposta certa, são reactivas e estão sempre ligadas, provoca os trogloditas do momento, um insulto com pés e cabeça são trinta seguidores em caixa na hora seguinte, os trogloditas vão dar-te atenção, dão sempre, não resistem a uma boa ferroada, republicarão o teu comentário e duplicarás o teu tempo de antena, não carregues na tecla dos corações, só o dono da conta se preocupa com a tecla dos corações e a ti interessa-te toda a gente menos o dono da conta, foca-te no comentário, qualquer coisa entre o inteligente arrogante e o irónico corrosivo, acaba sempre com reticências, quando se termina com reticências é porque podemos estar a dizer aquilo ou outra coisa qualquer, o twitter gosta dessa displicência, não retwittes sem colocares o teu ponto de vista, escolhe um desgraçado qualquer para gozares, de preferência um que te pareça não ter andamento para isto do twitter, com três seguidores, explora o filão até o desgraçado fechar a conta, nunca concordes com ninguém, concordar com coisas dirá de ti que és um fraco sem opinião, foca-te num ódio de estimação, podem ser os ciclistas, o Jorge Jesus ou os que não gostam de foie-gras por causa daquilo do sofrimento dos perús, o teu ódio de estimação tem que ser qualquer coisa local, o Afeganistão ou o aquecimento global não dão em nada, analisa as coisas pela rama, com aquela profundidade que só o correio da manhã é capaz, as pessoas não querem saber, afinal andam todos ao mesmo, todos queremos pensar que alguém liga à nossa opinião, o monstro precisa de amigos, não comentes tudo o que acontece num jogo da bola, ninguém lerá o que te pareceu o quinto cartão amarelo nem saberá o que queres dizer com aquele "Nãoooo!" que fazia tanto sentido quando marcaram um penalty contra a tua equipa, orgulha-te por teres sido bloqueado e mostra-o a toda a gente, nunca expliques uma piada, se não resultou, se ninguém percebeu o teu sentido de humor alternativo, segue jogo, escreve duas ou três coisas seguidas sobre o direito que os homossexuais têm de ser felizes ou sobre a barbárie que são as touradas, estás safo, volta a escrever no blog.