28 outubro 2020

Cinema

 Muitos meses depois da última vez, entrou Pipoco numa sala de cinema e constatou que "O ano da morte de Ricardo Reis" se aguenta bem, isto se descontarmos que Lídia nunca seria igual a Catarina Wallenstein e Lima Barreto é um Fernando Pessoa que não lembra a ninguém, tirando isso está como o Harry Potter dos livros está para o dos filmes, é igualzinho, parece que finalmente temos quem pegue em Saramago e faça uma coisa em condições, digo eu e dirão as mais três pessoas na sala em dia de estreia.

27 outubro 2020

Tirando eu,...

...todos os homens gostariam de ser como Felix, o Bill Murray de On the Rocks, já não é o Bill Murray de Lost in Translation, o passar do tempo toca a todos, parece que foi ontem que me ofereceram Lost in Translation para me dizer não sei bem o quê, mas Felix, o Bill Murray de On the Rocks tem tudo o que as mulheres acham que um homem tem que ter, é culto, sabe escolher bons restaurantes e conhece sempre alguém que conhece alguém, não da maneira que Saul Goodman, de Breaking Bad conhecia alguém que conhece alguém, bem entendido, Felix, dizia eu, sabe de arte e de viagens, conduz um Alfa Romeo descapotável, sabe dizer a coisa certa na altura certa e, lá está, parece que sabe fazer com que as mulheres façam o que deve ser feito, mas afinal não, é uma espécie de homem de que é preciso tomar conta, esse encanto fatal a que nenhuma mulher resiste.

26 outubro 2020

E nem espanholas havia

Bem fez Carlos da Maia em escolher almoçar no Nunes em vez de se enfiar no Lawrence, já eu, com  os Maias relidos ainda não há um par de anos e parece que não aprendo nada com os livros

25 outubro 2020

Uma dia na vida de Pipoco

Muitos quilómetros de bicicleta com chuva de frente, mas, a seguir, lareira acesa, Dickens e chá quente.

14 outubro 2020

Fronteira

Sei precisamente quando me apaixonei pelas aldeias da raia, foi no tempo em que li os Novos Contos da Montanha e tive vontade de ler “Fronteira” duas vezes seguidas, a beleza do guarda republicano a mudar de vida, aconteceu-me agora nestas férias por lugares lá longe decidir ir a essa Fronteira de Torga e esbarrar com a triste realidade, não existe nenhuma Fronteira nas terras da raia, muito menos existe um austero castelo de Fuentes, há uma Fronteira para os lados de Sousel e um castelo de Fuentes em Palência, nem um nem outro na zona da raia, e, pior, de Fronteira não se vê o castelo de Fuentes e vice-versa, assim destrói Torga o encanto das coisas simples, que são um homem decidir-se, muitos anos depois, a um lugar que o fascinou, um desses sítios onde um homem chega, olha em redor, pensativo, e diz “sim senhores, foi precisamente por estes caminhos que o Valentim e o Sabino se esgueiraram”, acabei em Marvão, que sempre é terra da raia, as coisas são como são. 

09 outubro 2020

A importância de se chamar Anselmo

 Don Anselmo, o melhor assobiador de todas as lezírias, isto segundo afiança o próprio depois de encomendar uma mini ainda antes das oito da manhã no estabelecimento onde servem café da marca Camelo, o meu favorito, Don Anselmo, dizia eu, fala alto, aquele falar alto dos guardadores de certezas e dos que sabem que poucos desafiarão os seus saberes, afinal Don Anselmo é homem para quase dois metros de altura e toda a gente sabe que, para além de melhor assobiador das lezírias, Don Anselmo conduz gado bravo como ninguém e não são poucas as histórias de homens cuja fanfarronice não sobreviveu a duas lambadas bem assentes, cortesia da mão calejada de Don Anselmo, que dizia para quem o quisesse ouvir, ainda não eram oito da manhã, que o que pagava a mulheres da vida não era para elas lhe proporcionassem um bom bocado de festa rija, pagava para que elas se fossem embora a seguir.