31 maio 2015

E foi assim que tudo aconteceu

Post em tempo real

Isto está a correr tão mal que nem apetece prantar aqui retratos.

(mas tenho cá a minha fé que vamos ganhar isto)

Dos fins de semana perfeitos

Volvo Ocean Race, Feira do Livro, Final da Taça.

30 maio 2015

Pipoco também dá conselhos para vidas felizes

Corre pela manhã. De preferência com o sol a nascer à tua frente no caminho de regresso a casa.

Muda-te para o campo. Mas continua a trabalhar na cidade.

Aprende o nome das estrelas. E das constelações. Isso vai fazer-te sábio perante as mulheres.

Lê livros. Muitos, ao mesmo tempo. Espalha-os pela casa para que nunca te faltem.

Pede conselho aos teus pais. Não os sigas quase nunca. Mas pede-os.

Tira fotografias. E não percas o hábito de as pendurar nas paredes.

Não acredites em tudo o que te dizem. Confia no instinto. No teu.

Usa mapas. São muito melhores que qualquer GPS e têm a vantagem de te levar mesmo ao sítio certo.

Adopta um cão. Ou dois.

Telefona aos teus amigos. Convida-os para almoçar. Cozinha para eles. Nada se compara a cozinhar para os nossos amigos.

Senta-te sempre de costas para a parede. Se os antigos o faziam, alguma razão havia.

Aceita o que generosamente te dão. Não ficas em dívida.

Trata todos com cortesia. Mesmo os que não merecem a tua cortesia. Isso irrita-os e só por isso vale bem a pena.

Aprende palavras novas. E usa-as.

Aprende a jogar xadrez. Não encontrarás jogo mais útil que o xadrez.

Aprende a gostar de ópera. Um dia explico-te porquê.


28 maio 2015

Setenta anos de blogs

Por entre um Partagas e uma aguardente Adega Velha para moer o jantar, uma salada de rúcula bem apaladada, sentado no meu telheiro, a olhar para as estrelas e a pensar em coisas cá minhas, revi estes setenta anos de blogues, sorrindo, nostálgico quando contemplava os primórdios desta coisa do lado menos luminoso dos blogs, que sempre existiu, não se inventou ontem. Revi o lendário aborrecimento da Pipoca Mais Doce e da Kitty Fane e sorri, a coisa teve o seu glamour, está bem que eram só umas miúdas à bulha por causa de coisas não sei quê, e nós ali, divertidos, a olhar para aquilo, tudo ao vivo, não havia cá facebooks a fazer de amplificador, eram só umas miúdas a fazer uma chinfrineira e nada mais. Depois lembrei-me do hate-blogs daquele tempo, aquilo é que era, maldicência em estado puro, não havia cá caixas de comentários moderadas nem posts a fazer de conta que a autora tinha uma cultura geral mínima, aquilo era outra categoria, blogs parasitas como manda a lei, sabia-se bem ao que se ia, de vez em quando quase se descobria a autora da má-língua, especulava-se que se sabia quem era a marota, que já se sabia o IP, tudo tremia, caramba, elas sabiam o IP umas das outras, dali até acabar o fartote e acabar tudo na esquadra havia de ser coisa que se fizesse em menos de nada. Depois lembrei-me dos blogs que marcavam a época, trezentas visitas por dia era uma marca que se invejava, não era para qualquer um, as caixas de comentários eram uma coisa interminável, uma espécie de chat desorganizado, a coisa acabava quase sempre nos lendários jantarinhos de bloggers, uma coisa sem jeito nenhum que só servia para nunca mais pormos os pés no blog da gorda que escrevia como se fosse a Miss Venezuela, aquele era o tempo em que se trocavam ligações, se tu tens uma ligação para o meu blog eu retribuo. Ah, que tempos eram aqueles...

26 maio 2015

Déjà vu, outra vez

Normalmente sou um tipo paciente. Ouço-as com atenção, interrompendo cirurgicamente quando penso que tenho alguma coisa a acrescentar à ideia que estão a desenvolver ou quando não captei algum pormenor. Tento percebê-las, interesso-me pelos pequenos nadas que lhes atormentam os dias, a amiga que disse que ela está com bom aspecto, mas de certeza que o queria realmente dizer é que o os sapatos de salto alto lhe assentam mal, o amigo do facebook (o que quer que seja o facebook) que lhes pede conselho para evitar uma catástrofe qualquer e elas lhes respondem com uma imagem de sapatos que era para enviar à amiga, com quem também estavam no facebook e o amigo acaba por ofender-se, ouço-as mesmo, sei que é importante que tenham atenção indisputada.

Normalmente sou um tipo paciente. Outras vezes, nem por isso.

Subindo no Blogometro

Eco, Umberto Eco, um dos meus favoritos escreve no seu livro novo sobre a inquietação de um jornal poder servir para outra coisa que não informar e uma notícia poder de facto não ter acontecido.

O Correio da Manhã não precisava desta publicidade de Umberto Eco.

25 maio 2015

Quem és tu, Pipoco?

No café cá da terra: aquele, o do BMW Citroën Audi Jaguar, Mercedes preto verde preto, cinzento, que nunca quer açucar no café, não sabes? o que lê o Diário de Notícias quando tem vago o Record, tu sabes quem é, aquele que vem sempre de gravata menos aos sábados que vem de bicicleta, claro que sabes, só não estás a ver quem é, o que encomenda no quiosque os jornais estrangeiros a imprensa estrangeira, isso, esse.

Para os vizinhos: o que corre com o cão à chuva.

Para o Senhor Ribeiro lá do sítio onde compro coisas : o dos vinhos que nunca temos.

Para elas, as do blog: Ohhhhh, o Pipoco!!! (minha visão da coisa)

Para elas, as do blog: Pff, o Pipoco... (visão mais aderente à realidade)

Como a Luna e a Izzie já não escrevem em blogues, este é um post sem risco

A inteligência emocional com que as mulheres se comportam nas redes sociais é capaz de atrasar bastante aquela ideia lá delas de dominarem o mundo, ou lá o que é que elas pretendem.

24 maio 2015

Resumo da semana dos blogs

Amanhã teremos só posts de valor sobre os trapos dos Globos de Ouro, que estava tudo muito compostinho, sim senhores, os outfit "parecia uma vaca gorda" serão elevados à categoria de "escolha menos adequada", os "prémio Maga Patalógika" serão afinal "vestido demasiado escuro".

E nós a ver que não...

23 maio 2015

Grande cena

Talvez a melhor cena de cinema seja a de Marlon Brando, o Padrinho, pois claro, quando tranquiliza Johnny Fontane que o lugar será dele, afinal Don Corleone fez uma oferta que ele, um tal Woltz, não poderá recusar, não é só uma grande frase, bastante corrente em reuniões de Conselho de Administração em que o CEO já não tem mais ideias, mais tarde havíamos de saber que o tal Woltz teve que escolher entre ter os seus próprios miolos ou o nome de Fontane no contrato, percebe-se aqui que o tal Woltz tinha miolos e soube escolher, retenho da cena um Don Corleone com uma gravata papillon desalinhada e a testa de Don Corleone, sem rugas até ao momento em que Fontane, descrente dos poderes que são o que são, ousa dizer que é demasiado tarde e é nesse preciso momento que a testa de Don Corleone se enruga, não querendo crer, esta é um dos meus alinhamentos de frases favoritos, querendo crer, não querendo crer, dizia eu, que Fontane, um afilhado, tivesse acabado de proferir palavras insensatas, "it's too late", nesse momento a testa de Don Corleone sinaliza que Fontane passou das marcas, fosse eu Don Corleone e talvez deixasse que Fontane tivesse razão, que fosse demasiado tarde para fazer uma oferta irrecusável.

Teaser

Um destes dias o grande Lourenço Bray contava-nos qual era o melhor exemplo de representação que lhe tinha passado sob as vistas e eu fiquei a pensar na situação, os meus posts ficam em rascunho numa parte do meu cérebro que também é usada para guardar letras de velhas músicas de José Cid e Quim Barreiros, a diferença entre estalactites e estalagmites, quem era o avançado do Sporting na temporada 85-86 ou como se chama a capital do Quirguistão.

E eu também tenho a minha cena favorita de filme. Previsível.

19 maio 2015

Déjà vu

Em boa verdade eu nem sei se a Carmen desejava mesmo o Escamillo, as mulheres bonitas são assim, fazem de conta que preferem os maus rapazes e o Escamillo, Toreador, era um mau rapaz, só os maus rapazes é que frequentam locais como a taberna do Lillas Pastia, acredito que a Carmen acabaria por se fartar do Escamillo, nenhuma mulher, e aqui falamos de mulheres bonitas, suportaria muito tempo a trilogia torero/mulheres/taberna do Lillas Pastia, acredito que a Carmen gostasse de fazer ver às outras mulheres que era poderosa, tão poderosa que conseguia os favores de Escamillo, marcação de território, nisso as mulheres bonitas são excelentes, mas no fim as mulheres bonitas acabam todas por ficar com tipos como Don Jose, um tipo recomendável, casa-trabalho-casa, emprego seguro como cabo do exército, a farda, sempre a farda, era só Don Jose ter aguentado a pressão e a coisa duraria dias, tenho a certeza, e acabaria por ficar com Carmen, não havia necessidade de lhe ter espetado a faca no peito, foi uma maçada, os maus rapazes acabam todos por morrer cedo, de cancro no fígado e restam os Don Jose, fiáveis e honestos, eu nem sei se a Carmen queria mesmo ficar com o Escamillo, não sei se já tinha dito.

16 maio 2015

Um homem percebe que iniciou o seu declínio. ..

...quando abre a porta do frigorífico e constata que lá dentro há mais garrafas de Água das Pedras do que de Super Bock.

15 maio 2015

Não deve ser isso, pois não?...

Com um par de posts que não são grandes geradores de tráfego (embora sejam posts bem escritos, com grande actualidade e de qualidade bastante acima da média), o dia de hoje está a ser o dia de maior tráfego de que me lembro.

Não deve ser por causa daquilo de tirar a roupa, pois não?

Resumo

As miúdas mereciam um enxerto de porrada, as miúdas já tiveram a sua dose e estão arrependidas, os pais das miúdas é que são os culpados porque não lhes deram educação, os pais das miúdas é que são os culpados porque não lhes deram porrada, os pais das miúdas não têm culpa nenhuma e são gente de bem e estão de rastos, as miúdas deviam ir para um internato, as miúdas deviam ter uma nova oportunidade, se o miúdo fosse meu filho eu ia à Polícia, se o miúdo fosse meu filho eu ia atrás das miúdas para lhes dar uma coça, o miúdo fez bem em não se defender, o miúdo nem se tentou defender, o miúdo alguma coisa deve ter feito, as miúdas não tinham noção da gravidade do que faziam, as miúdas sabiam bem como era grave e até paravam a porrada quando pressentiam alguém, a escola é que tem a culpa, os pais é que têm a culpa, a sociedade é que tem a culpa, as redes sociais é que têm a culpa, eu nem consegui ver mais que dez segundos que quase tive um afrontamento, eu não vi mas contaram-me.

Eu acho que os telemóveis não deviam ter câmara de filmar.

E tu Pipoco, não tens também uma historinha de bullying para contar às pessoas?

Não.

(a não ser aquela situação do badocha dos óculos que fazia colecção de selos, ou lá o que era)

(ou daquela vez em que abusei da sorte e os tipos afinal tinham uns amigos demasiado grandes)

(mas ninguém filmou, aquele era o tempo em que os telemóveis ainda não existiam)

14 maio 2015

Whishful thinking

Primeiro o Tio Pipoco falou sobre pintura e a pintura espalhou-se pelos blogs, depois o tio Pipoco debruçou-se sobre a temática dos cães e multiplicaram-se os cães nos blogs.

Amanhã o Tio Pipoco tira a roupa, estou a avisar...

É pelo olhar que um homem ama o seu cão

13 maio 2015

Porque leio blogs?

Porque, em lendo, fico sabendo que, se encontrássemos as miúdas havíamos de lhes dar um enxerto de porrada, que ninguém disto dos blogs cumprirá jamais o acordo ortográfico, que ninguém sabia que os miúdos dão uns calduços uns aos outros de vez em quando, que a grande pintura tomou conta dos blogs.

Uma coisa nova por dia: conduzir um carro eléctrico

Teaser

12 maio 2015

Grandes turn-off na vida de Pipoco

Mulheres com decote que sim senhores, muito bem, e tal, mas depois estão sempre a ajeitar a situação, quase que temos vontade de lhes ofertar um xaile para se aconchegarem.

Mulheres que me fazem lembrar as Manas Lousadas.

Mulheres que me interrompem quando estou a falar e dizem "não se esqueça de onde vai".

Mulheres que me telefonam a perguntar porque razão não lhes telefonei.

Mulheres com voz de Cristina Ferreira.

Mulheres que dizem "Quem?" quando lhes falo de Pamuk.

O bairro dos blogs (II - O Blogger é um solitário)

Que pretenderá exactamente o blogger que, sem nunca ter criado nada que jeito tenha, persiste em ficar atrás das moitas, à espera de um deslize,

Analisemos então à lupa, e sem ideias pré-concebidas, as catorze Pinturas Negras de Goya

Nesta obra Goya mostra-nos a suavidade da categoria "bloggers amigas", ainda ontem a grandalhona dizia da blogger que está de costas que sim senhores, que grande escrita ali estava, divertida, irónica, uma grande descoberta nisto dos blogs. Infelizmente a blogger que está de costas fez um comentário discordante no blog da grandalhona...



Proposta de Goya retratando as bloggers que nos mostram a imensidão de espaço livre na sua enxerga, Goya quis prestar um tributo às blogguers com alto índice de malfodibilidade, esse mal que assola as discordantes da opinião da manada.


Goya, num extraordinário momento de visão futurista, mostra-nos as bloggers seguidoras de outros bloggers. Nesta obra, as bloggers seguidoras preparam a estratégia para atacar massivamente o blog de uma pobre desgraçada que ousou deixar o acintoso comentário "as coisas não são bem assim" num post da blogger da sua predilecção.


Nesta obra, Goya retrata as bloggers que flutuam sobre a realidade, bloggers para quem a vida corre tranquila, porque acreditar que se consegue é meio caminho para dar a volta por cima, basta acreditar, basta repetir em voz alta que, em o querendo realmente, flutuamos sobre as dificuldades e conseguimos o que desejamos.


Demonstrando uma rara capacidade preditiva, Goya mostra-nos que as bloggers que voam sobre as dificuldades acabam por perder as boas cores. Porém, mesmo cinzentonas, continuam a flutuar.


Goya retrata-nos nesta obra, de forma sublime, a harmonia dos blogs irónicos propondo-nos dois bloggers irónicos que reflectem sobre a realidade de uma forma irónica, sem aleijar ninguém, usando apenas a graça inteligente.


Goya propõe-nos a sua visão de como um ancião da blogosfera, uma lenda com mais de oitenta e dois anos disto dos blogs, reage com elegância e tranquilidade à investida de anónimos mauzões , esses imprudentes, que tentam dar-lhe mordidelas nas orelhas. Repare-se na farta cabeleira do ancião.


Talvez o mais conseguido retrato da blogosfera, magistralmente registado por Goya, representando o Blogómetro, com os da frente do pelotão fazendo de tudo para que lhes atirem umas moedas. Lá atrás, no segundo morro, os blogs que Goya designou como "blogs Paços de Ferreira".


Goya, numa obra designada "Oh não, outro blog colectivo..."


Goya, esse visionário, mostra-nos os primeiros bloggers que tiram fotografias a pratos de comida.


Goya retrata-nos agora uma blogger feminista que reage com candura e elevação a uma provocação inteligentíssima de um blogger conceituado, um líder de opinião, uma referência no mundo dos blogues.


Goya, retratando um grupo de bloggers no preciso momento em que tomavam conhecimento de mais uma rubrica "Hoje deu-me para isto".

Goya, retratando o restrito grupo de bloggers que, de facto, lêem livros. Repare-se no blogger lá ao fundo, não percebendo nada do que o blogger erudito está a explicar mas, ainda assim, não arredando pé, fazendo tudo para aparecer no retrato.

Reparem como Goya retrata magistralmente o cão que se esconde, temeroso da máquina fotográfica com que que a sua dona blogger o persegue. Há aqui uma densidade dramática, evidenciada pelo espaço disponível na pintura, como se o animal não tivesse onde se resguardar, simbolizando claramente o vazio. O cão é tão fofinho, não é?


09 maio 2015

Da paz nos blogues e outras bizarrias

Durante a minha curta ausência disto dos blogues para tratar de assuntos cá meus, Palmier de Encoberto, a nossa doce e ponderada Palmier, intranquiliza-se e partilha com o vasto auditório que isto dos blogues são agora uma ambiência soturna, uma espécie de submundo onde ninguém ousa rasgar o obscurantismo, um pouco como as Pinturas Negras de Goya.

Eu continuo a ver isto dos blogues como um quadro de Brueghel, o Velho, uma obra cheia de pormenores, com mensagens subliminares a cada canto, onde é preciso estar atento, onde cada coisa pode ser assim ou de outra maneira qualquer, mas sempre luminoso.

(logo agora que eu tinha uma série que se chamava "essência dos blogues", onde me dedicaria a esmiuçar blogues que eu cá sei e a dizer em duas linhas o resumo da sua obra, uma espécie de resumir "Os Maias" a "era uma vez um tipo que era fraquinho de cabeça porque a mulher fugiu com um italiano e o filho de ambos foi criado pelo avô e acabou na cama com a irmã e o avô morreu disso e o tipo viajou muito mas nunca fez nada que jeito tivesse")

(mas respeito o período de paz, está claro...)

(Já o Ruben...)

Post em tempo real

Já é a terceira vez que a bola do miúdo com cara da Piraña do Verão Azul me interrompe a leitura, o miúdo que parece mesmo o Piraña chuta à baliza, onde está um miúdo que parece o David Luiz, e faz os movimentos que faz o Cristiano Ronaldo, olha para a baliza, mãos nas ancas, respira fundo e falha largueiro, é nesse falhar que me incomoda a leitura, para se ter a ideia da falha diga-se que a minha mesa está a uns bons vinte metros por detrás da baliza, fazendo um ângulo de quarenta graus com o imaginado poste esquerdo da baliza, que na verdade é um candeeiro da praça, nem o Fábio Coentrão falha assim, vejo a bola ser chutada, é para isso que serve a visão periférica e tenho tempo para segurar a caña.

O miúdo com cara de Piraña agradece-me a devolução da bola e diz "perdona", eu estico o polegar como faziam os aviadores na segunda guerra, como que a dizer "no pasa nada", sorrimos ambos e eu fico a pensar que gosto de praças com miúdos a jogar à bola.

07 maio 2015

Operação Aznavour- epílogo

A Aznavour perdoa-se ter cantado meio concerto em castelhano (é como servir um Château Lafite em copo de plástico mas eu, desde que vi o Kitt a falar castelhano com o Michael Knight já estou por tudo), a Aznavour perdoa-se ter feito às suas canções o que o Pedro Barbosa fazia ao jogo do Sporting, a Aznavour perdoa-se a senhora velhinha ao meu lado que me ofereceu rebuçados de limão durante o Ave Maria, a Aznavour perdoa-se ter-me lembrado o Chelsea, tanto que se  defendeu, a Aznavour perdoa-se ter-nos dado vontade de subir ao palco para. ajudar nas notas baixas (e nas altas também).
Às lendas tudo se perdoa e não há muitos que me façam tremer a voz (como aconteceu no Emmenez-moi final) e já posso dizer que ouvi Aznavour cantar La Bohème ao vivo no concerto de uma vida e agora é chegar a casa e ouvir os vinis com mais de quarenta anos que herdei do meu tio de Paris.

Operação Aznavour (sim cheguei demasiado cedo. sim, a idade média da sala é de noventa e sete anos)

Operação Aznavour (os preparativos)

06 maio 2015

Operação Aznavour - o início

O bairro dos blogues (I - O Blogger é um fingidor)

Que pretenderá exactamente o blogger que anuncia que está meio aborrecido com isto dos blogues, que é uma maçada, que as coisas já não são como eram, que é um espartilho, tanta a gente a ler, que se calhar, ainda não decidiu bem, mas está a um pedacinho assim (imaginar o polegar quase a tocar no indicador) de nos deixar?

Onze

Talvez não devêssemos gastar tanta energia a tentar esquecer um grande amor, toda a gente sabe que os grandes amores nunca se esquecem, por mais que nos esforcemos, por mais que os queiramos manter longe. Os grandes amores devem guardar-se numa caixa de boa madeira, talvez uma caixa onde tenhamos guardado charutos ou livros de que gostámos muito, pega-se na memória dos grandes amores e, com jeitinho, fecham-se dentro da caixa, que se há-de guardar num sítio confortável, talvez num sótão onde há estejam coisas de que gostámos mas que agora não nos fazem falta.

Com os nossos demónios é igual, com a diferença de que a caixa deve ter uma chave, que nunca por nunca devemos deixar na fechadura.

05 maio 2015

Dez

Às vezes penso que teria sido diferente se, em vez de nos termos conhecido num dia de fato às riscas e gravatas com nó duplo Windsor, nos tivéssemos conhecido num dia de calças de ganga Chevignon e camisa branca.

Nove

O je ne sais quoi numa mulher é aquilo que faz com que tenha sempre bom ar, seja depois do terceiro absinto, seja depois de acordar numa tenda no meio do deserto. Penelope Cruz, a Maria Elena em Vicky Cristina Barcelona tinha um je ne sais quoi, apesar de completamente, digamos, temperamental. Audrey Tautou, Amelie no Fabuloso Destino de Amelie Poulain tem um je ne sais quoi, apesar do ar provinciano. Leonor Silveira, a Ema de Vale Abraão tem um je ne sais quoi, mas Leonor Silveira tem um je ne sais quoi até a comer torresmos, a beber cerveja pela garrafa e a limpar a boca às costas da mão.

Oito

Por coisas cá minhas chego a uma imagem de Sofia Loren em It started in Naples, coisa dos anos sessenta. "Clique para aumentar", dizia a imagem. Achei melhor não, dadas as circunstâncias.

04 maio 2015

Sete

Houve um tempo na minha vida em que escutava La Oreja de van Gogh e Mecano.

Foi um tempo, curto, felizmente.

Seis

O meu sobrinho mais velho cumprimenta-me com um beijo e faz com que eu repare que traz Camus debaixo do braço. Dezanove anos. E sabe preparar um bom gin.

03 maio 2015

O estranho caso do livro que lia o leitor (capítulo IX)

Luisinho, o leitor de Moscavide, sente-se gelar. Reflectido no espelho está a sua face, isso é certo, lá estão as suas orelhas gigantescas, a tia costuma chamar-lhe carinhosamente Dumbinho enquanto lhe serve bolachas Maria barradas com manteiga, mas, o horror, há um monóculo no reflexo da sua cara no espelho. Luisinho fecha bruscamente o baú e cai para trás, surge-lhe agora o Penguin a assombrar-lhe os sonhos, onde estará o Batman quando precisamos dele?, há uma caveira, a de Hirst, que lê a Monocle, Eça almoça no Martinho da Arcada e Pessoa está a caminho de Sintra, umas coisas com umas espanholas, Spínola recita Karl Marx e o Conde dos Marretas está à conversa com Chamberlain.

A tia bate à porta para lhe trazer o leitinho da noite. Felizmente a tia não usa monóculo, é um bom sinal, mas Luisinho lembra-se agora da terrível frase, questionando-se se não teria sido um pesadelo, jamais autor algum ousaria chegar tão longe na escala do horror, não, não era possível, a frase seguinte não podia ser a que ainda deixava as suas têmporas latejantes, Luisinho questionava-se agora se a frase horripilante, a que lhe gelava o sangue, poderia mesmo ser "O segredo da caveira é      "


Capítulo I: Palmier Encoberto

Cinco

O Google diz-me que Não foram encontrados resultados para "pipoco terminou a leitura de ulisses e sobreviveu".

Dizia-me.

02 maio 2015

Quatro

Uma casa só está realmente pronta a receber-nos quando o último livro está finalmente desencaixotado e colocado no seu lugar da estante, passado o processo de decidir se a ordem seria alterada, se desta vez os colocaríamos por autor, por lidos e não lidos ou por portugueses e estrangeiros.

Depois os livros hão-de ficar espalhados pelas divisões, amontoados em pilhas, disponíveis para nos servirem quando necessitarmos deles. Mas isso é só depois.

Três

Nem é tanto o espelho que me diz que estou a envelhecer, são as pequenas coisas, os pormenores, os pequenos sinais, um dia percebemos que, estatisticamente, já não seremos escolha para defesa central da equipa principal, depois interiorizamos que já não nos esforçamos para que as pessoas caibam todas na nossa vida, damos por nós a escolher as que nos interessam e, dessas, as que nos interessam mesmo, finalmente começamos a perceber que estamos diferentes por dentro. Melhores, na maioria dos casos.

01 maio 2015

Dois

À porta do café está agora um homem sempre a fumar cachimbo. Saio do carro e já sei que está ali, chega longe o cheiro adocicado do tabaco. Tem uma boina basca, barba grisalha, umas excelentes botas e veste de preto. Concede-me um leve acenar de cabeça quando o cumprimento, imagino que lamentará os meus sapatos pretos e a minha gravata e o meu ar de quem tem que chegar a horas a sítios. Cachimbos trazem-me à memória Maigret e Magritte, talvez Hemingway tenha imaginado assim o velho Santiago, certamente com umas botas menos boas, talvez fumando charutos em vez de cachimbo mas, na verdade, este homem do meu café fez-me lembrar um homem igual que estava à porta da lavandaria em Poitiers e que fumava do lado de fora enquanto eu esperava que a minha roupa ficasse lavada.

Um dia decidi-me e fiquei também do lado de fora, ao lado do homem do cachimbo. Falámos de livros, quis saber de onde eu vinha e nas vezes seguintes falámos de vinho do Porto e de terras com mais sol que Poitiers, fico sempre a ganhar quando não espero sozinho. Um destes dias não será má ideia tomar o café cá fora e falar com o homem do cachimbo, talvez me conceda mais que um acenar de cabeça, talvez acredite que não sou má pessoa. Apesar da gravata.

Um

Tenho agora um desses cadernos de capa dura e preta. Serve-me para assentar ideias, só as que me parecem suficientemente boas para propor a Kusturica, que havia de fazer um filme inspirado nelas ou, talvez, dignas de uma letra que Tom Waits não se importasse de cantar.

Os anos oitenta foram há tanto tempo, não foram?

À atenção do sindicato da TAP

Aquela figura que colocaram a defender as vossas razões não funciona em televisão.

(nem em lado nenhum, um tipo que não sabe fazer o nó da gravata e começa as frases com "é assim", que se embaraça com as palavras e com as ideias não funciona em lado nenhum)