30 março 2021

Já aos maus livros, Ruben Patrick,...

 ...esses deves eliminá-los absolutamente da tua vida, um mau livro não merece segunda oportunidade e, excepto se for "Os Maias", não se transformará num bom livro a partir da página quarenta, todos os minutos que gastares num mau livro são irrecuperáveis, são minutos que podias usar muito melhor, talvez conhecendo um bom vinho tinto, talvez ouvindo Bach enquanto pedalas até ao cabo da Roca, um mau livro causa-te danos irreparáveis, experimenta recomendar um mau livro a uma mulher que te deslumbre e sentirás um arrepio frio, como se os Devoradores da Morte estivesse ali ao lado, livra-te dos maus livros Ruben Patrick.  

25 março 2021

Também as piores pessoas, Ruben Patrick, ...

 ..são as que te fazem dar o melhor de ti, não te tornam mais forte, isso são os duches de água frio no inverno e os livros de James Joyce, são as que te tiram o medo e as que te levam a um patamar de inteligência que nunca imaginaste alcançar, as piores pessoas pedem o melhor das tuas noites para engendrares os planos mais infalíveis e as estratégias de mais alto nível para as tirares do teu caminho, existissem apenas boas pessoas e só estorvariam, a tua vida seria tenebrosa, uma mistura de músicas dos Coldplay e de livros de Paul Auster, que nunca te faltem as más pessoas na tua vida, Ruben Patrick, são essas que fazem de ti uma melhor pessoa.

23 março 2021

As piores canções, Ruben Patrick,...

...são as que vão marcar os momentos importantes da tua vida, a "Lacrimosa" de Mozart nunca tocou na despedida de um amor com mau final (mas o "Every breath you take" dos Police, sim), a "Minute Waltz" de Chopin nunca tocou num Alfa Romeo Spider a caminho da Seagull na Arrábida (mas o "Nowhere fast" dos Fire Inc., sim), nem sequer se pode dizer que "You can never hold back spring" de Tom Waits foi a música que estava a tocar num primeiro encontro (mas o "Take my breath away" dos Berlin, sim).

17 março 2021

Por outro lado, já quase não uso "resiliência"

Pouco a pouco, sem nada que o justifique, ou talvez porque me dou com as pessoas erradas, "estultícia" vai ganhando terreno como minha palavra favorita, ultrapassando "tergiversar" e aproximando-se de "idiossincrasia".

(as minhas palavras favoritas não são necessariamente as mais bonitas, essas serão sempre "chover", "tertúlia" e "gentil")

16 março 2021

Para memória futura

 As pessoas que se estimam nunca se deviam apartar.

Eça de Queirós, in 'Carta a Emília de Rezende (1885)

13 março 2021

Onze

Todos os anos, por alturas do fim do inverno, este blog aniversaria. É um bom blog, razoavelmente honesto, que cada vez mais me serve para ter a certeza das coisas que aconteceram na minha vida, se está no blog é porque deve ter mesmo acontecido. Há dias em que me desapetece e já sei que tenho que esperar que passe, a maioria dos outros dias é-me útil para deixar aqui explicado como foi realmente que as coisas aconteceram. As pessoas vão e vêm, uns são visitas quase cá de casa, outros regressam para se espantarem por eu ainda por cá andar, sinto-me sempre como aquele parente de vícios antigos que continua a ouvir discos de vinil e a ler jornais em papel, enquanto todos os outros se deslumbram com as luzes, informando-se do mundo  lá naquilo do facebook ou mostrando retratos de almoços por começar no instagram. Há dias em que me parece que já escrevi melhor, há outros que quase acredito que nunca escrevi tão bem como agora. Os blogs ensinaram-me a resumir as ideias, as pessoas têm a sua vida e não se dão bem com textos grandes. Tenho pena de não estar mais vezes à conversa com quem lê o que escrevo e é generoso ao ponto de me dizer se gostou ou não, talvez essa fosse a única coisa que mudaria, se me apetecesse mudar alguma coisa. Acho que não sou mau tipo, apesar de tudo. 

Um blog é só um blog, essa é que é essa.

11 março 2021

As coisas são como são

Do que realmente tenho saudades é pendurar um papel a dizer "Do not disturb" na porta do quarto.

10 março 2021

Dias sim

Tinha saudades destes dias de sol em que parece que só estou desperto para o lado bom da vida, os vapores da maresia que entram pela janela aberta para a Marginal,  que está vazia a esta hora, ouvindo alto grandes músicas (e também os Capitão Fausto), atento ao telefone que não toca, chegue a chamada que, se não me falharem as previsões, chegará lá mais para o fim do ano e talvez se desatem pontas soltas, ou talvez não, afinal pontas soltas, isso é comigo... 

07 março 2021

Teaser

Por razões que se prendem com a aleatoriedade que a minha vida me permite por esta altura, cruzei-me com uma sequência de imagens que reflecte a profundidade de pensamento de Paulo Futre, que tenho evitado a custo desde o memorável momento em que dizia ao sócio que estava concentradíssimo, um desses momentos que nos marca a existência e que nos exacerba a compaixão pelo semelhante, em que colocamos em perspectiva todas as nossas crenças e, finalmente, em que achamos que não há impossíveis, como dizia o anúncio da Nike e nos anunciava Baden-Powell, diz Paulo Futre, com aquela comoção na voz capaz de arrancar do fundo da vida monástica todas as professoras de filosofia do secundário, tão pouco escutadas, a quem Paulo Futre proporciona o seu momento de exegese, não da sagrada palavra, mas de uma mistura da palavra avisada de Chagas Freitas com a flacidez intelectual do cinema de Allen na sua versão de declínio, ou seja, tudo o que lhe ocorreu contar-nos desde "Annie Hall, Futre, após o visionamento das palavras misericordiosas  de um homem bom que pediu à mãe para lhe espalhar as cinzas pelo corredor lateral onde Futre fazia as suas arrancadas, missão impossível porque esse espaço ficou esquecido no tempo, o velho estádio do Atlético de Madrid foi terraplanado e agora existirá por lá, se a probabilidade estatística não me falhar, uma pitoresca mistura de lojas que terá a sua âncora numa cadeia de roupas de má qualidade, coadjuvada pela infalível trilogia "supermercado-loja de bricolage-boutique Nespresso", dizia-nos Paulo Futre, em resumo, "sou português, caralho", isto com grossas lágrimas correndo expeditas e é disto que vos falarei nos tempos mais próximos, da minha própria visão do que é ser português, caralho.

03 março 2021

Pequeno ritual para me desconectar da vida real

Tirar o relógio e colocá-lo na consola central, aliviar o nó da gravata, abandonar o telemóvel no banco traseiro, escolher entre Don Giovanni (se a hora de sair for antes das oito da noite) ou Carmen (se for depois) para me acompanharem nos cinquenta minutos que demoro a chegar a casa.

02 março 2021

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Evita as mulheres Barca Velha, Ruben Patrick, são aquelas que reservarás para uma ocasião especial que adiarás sempre, evita também as Château Lafite, lamentarás eternamente serem demasiado caras para o tempo que duram, não te aventures com as Casal Garcia, são as que jamais te atreverás a aconselhar numa reunião de comissão executiva, não escolhas em nenhuma circunstância as Papa Figos, são competentes mas não te lembrarás delas no dia a seguir, escolhe sempre as mulheres Cartuxa, valem o que custam e não envelhecem mal.