22 agosto 2020

Coisas mesmo boas

 O charme dos velhos hotéis de província, com senhoras antigas a servir o pequeno-almoço, que se demoram a saber de onde vimos enquanto nos servem mau café.

A Queijaria Manteigas, um desses casos de pessoas a quem a pandemia empurrou para a montanha, sorte nossa que temos quem nos sirva vinho a preço decente e bom queijo a acompanhar pão mesmo a sério.

A estrada que vem da Nave de Santo António para Manteigas e que à noite nos faz lembrar que afinal ainda gostamos de conduzir.

Sinos de igreja às sete da manhã.

As estrelas vistas do café da nascente do Côa, depois de um gin a desoras.

O museu de Aristides Sousa Mendes, em Vilar Formoso.

18 agosto 2020

A viagem grande possível

Viajar só por estradas nacionais, ligar para uma rádio local, dizer a frase, pedir uma música de Augusto Canário e eles passarem mesmo a música, ficar num turismo rural com a pior decoração de sempre mas com uma proprietária tão simpática que nem apetece dizer nada sobre as senhoras de Fátima e as colchas padrão tigre, verificar que o Audi Q7 é o novo Opel Calibra dos nossos emigrantes, não saber os números do Covid de ontem nem os do Brent de hoje, não fazer ideia de onde vou dormir amanhã, adormecer cansado, deliciar-me com os emigrantes que falam francês entre si quando não querem que se perceba o que dizem, como se usassem um dialeto das tribos perdidas do Borundi, cumprimentar as pessoas na rua e elas responderem.

Uma coisa nova por dia

 

17 agosto 2020

Ainda agora, na judiaria

 “O que é uma sinagoga?”, perguntou a rapariga dos óculos de marca italiana. “É uma igreja, mas de outra cultura “, respondeu o homem com um símbolo de um cavalheiro a jogar polo bordado na camisola.

09 agosto 2020

Muitos anos depois, diante da limitação do confinamento, Pipoco Mais Salgado havia de recordar aquelas tardes remotas

 Bem podemos caminhar no carreiro que liga as Cinqueterre, beber um trago de vinho de palma em São Tomé, sentir no corpo o morno das águas do Índico, desafiar os cumes dos Alpes ou caminhar com tempo em Central Park, o Santo Graal das férias, aquilo de que estamos sempre a correr atrás sem nunca mais o conseguir repetir, são as férias com livros de Enid Blyton lidos à hora do calor, fazendo tempo para ir ao rio numa bicicleta sem travões, roubando figos e uvas pelo caminho e regressando felizes ao pôr do sol, mesmo a tempo de a nossa avó nos preparar o nosso jantar favorito, recomendando-nos que não comêssemos melancia à noite, o dia seguinte seria igualzinho e não havia nenhum problema nisso.

08 agosto 2020

Os efeitos mais nefastos do confinamento, Ruben Patrick...

 ...encontramo-los no areal, à vista de quem não consegue desviar o olhar a tempo.

06 agosto 2020

Talvez a melhor forma de amar uma mulher, Ruben Patrick,...

 ...seja preparar-lhe um pequeno-almoço a sério, cozinhar com altruísmo, com generosidade, levantar cedo e escolher as melhores laranjas da laranjeira pequena e espremê-las com as tuas mãos, sentindo o orvalho fresco da noite na casca, aspirando o aroma cítrico, depois o pão, um bom pão de mistura acabado de cozer a lenha, em sendo época colhe uns morangos pequenos e apanha amoras selvagens, depois faz uma boa omeleta, perfeitamente cozinhada, uma omeleta com queijo da ilha de São Jorge, finalmente, Ruben Patrick, leva-lhe o fruto do teu labor e do teu tempo à cama, acorda-a afastando-lhe os cabelos do rosto, ela sentirá o odor da boa comida e há-de perguntar-te se por que não lhe trouxeste iogurte magro e tostas integrais