30 junho 2012

Que estás a fazer neste momento, Pipoco?



(à espera de um sargo grelhado, no Clube Náutico de Faro)

Quase no fim do Sul

O sul que eu gosto é o de finais de Junho, senhoras antigas com netos pela mão, equipadas com chinelos de praia marca Beach Time, ficam-se pela borda de água e deixam o mar todo para mim, senhores que gozam as delícias da reforma e chegam cedo ao areal, equipados de livros com marcas de pó e humidade de sótãos, às vezes atendem os telefones e falam para longe, são os pais dos netos que querem saber se tudo está bem, eles confirmam com o olhar que sim, que o Ivan e a Constança estão felizes, a brincar com os seus baldes e omitem a bola de berlim que acabaram de lhes ofertar, em Junho não tenho que esperar pela minha vez para me servirem um café e posso ler livros enquanto espero pelo jantar que é sempre peixe grelhado, "peixe de mar, senhor Pipoco, disto não encontra na sua cidade", eu confirmo ao velho Julião que sim, que a dourada que me apresenta é coisa em condições, este é o tempo em que o sul se suporta, um sul tranquilo e doce, em Junho até eu sou o mais bonito da praia.

29 junho 2012

Tudo está no seu lugar...

...quando um homem equilibra com duas horas de blackjack o que perdeu num mês de facebook.

28 junho 2012

Agora do meu Sul

De volta ao sul do meu lado da fronteira, meto conversa com o autor de"Abelhas Assassinas", um romance de cinquenta e seis páginas onde todas as palavras começam com a letra "A". O autor, que curiosamente não se chama Abel Alves ou André Athayde, olha-me nos olhos e diz-me que "você só é derrotado quando desistir", assim mesmo, à laia de lema de vida, uma espécie de bom conselho de homem vivido. Nygel Filho diz-me que eu só serei derrotado quando desistir e eu cumprimento-o com um sorriso e penso que, claramente, o autor não sabe com quem fala.

27 junho 2012

O que mais me irrita nisto do prolongamento do jogo...

...é que estou numa fase crucial do Lituma nos Andes e está a custar-me ter que esperar mais mais hora para entender como é que aquilo afinal se desenvolve.

("saque de banda" também é divertido)

Oitenta minutos

E em verdade vos digo que estes tipos da Tele5 são muito piores que os comentadores da SIC, não calam a matraca.

(mas afinal é divertido isto do "segundo palo" e do "corner para Portugal").

Preocupação pipoqueana primeira

Quando da edição d' "O Primo Bazilio", o pai de Eça de Queirós escreve-lhe uma carta dando-lhe conta das reacções em Lisboa ao livro. O último parágrafo termina com um pedido, "Recomendo-te só que em tudo o escreveres evites descrições que senhoras não possam ler sem corar".

Post grande, afinal estou de férias

Daqui a pouco, depois daquilo dos hinos, eu de pé, mão esquerda junto ao coração e a voz projectada no meio dos infiéis que se sentirão menorizados por não ter um hino com letra, uma coisa cantabile, o tipo que manda na realização a mandar parar a imagem no detalhe do penteado do Cristiano Ronaldo, também ele de pé, cairá dos céus aquilo que se chama a sportinguização da equipa, uma espécie de fenómeno transcendental que consiste, e isto agora sou eu a traduzir em palavras simples o elaborado fenómeno que é a sportinguização de uma equipa, num bloqueio mental que tem como resultado final um sentimento de quase, um quase estar lá mas afinal não. Este fenómeno, amplamente trabalhado por gerações de treinadores da bola ao serviço dessa instituição de esforço, dedicação, devoção e glória, com um ligeiro interregno quando do Malcolm Alisson, que era maluco, persegue as equipas desde o tempo em que empatávamos com a Escócia e era um bom resultado, eu sou desses tempos, em que era um feito o Sporting despachar o Southampton e a selecção perder por poucos com a Bélgica, era uma coisa honesta, toda a gente sabia ao que ia, não existia cá isso de acharmos que podíamos ganhar a qualquer um. Depois veio a sportinguização, juntavam-se jogadores geniais uns a jogar com os outros, tu jogas a defesa central e chamas-te Peixe, tu aí, rodas baixas, tu jogas na posição sete e distribuis jogo, chamas-te João Moutinho, e era assim que se passavam as coisas, eles jogavam muito à bola e no fim ganhavam os outros, injustamente, mas ganhavam os outros. Ora este processo foi-se sedimentando, os Figos e os Moutinhos e os Cristianos e até mesmo os Simões Sabrosa e Quaresmas desta vida foram pelo mundo, espalharam a boa nova e alguns chegaram mesmo a sportinguizar as equipas por onde passaram, veja-se o caso do Figo no Real Madrid. Outros, menos robustos no domínio do conceito, sucumbiram e definharam e levantaram bem alto os troféus que as equipas ganharam com eles, apesar deles. Ora daqui a pouco, numa espécie de reencontro de amigos de Alex, todos esses porta-estandarte da sportinguização, essa ciência do quase ganhar, subirão ao relvado, liderados por um senhor das artes de sportinguizar qualquer um, aliás, só batido pelo Mestre Peseiro, jogaremos como uns heróis, garbosos e com triangulações rápidas mas lá pelo minuto setenta os outros estarão capazes de se aborrecer e, impulsionados pelas perdidas do Cristiano, mai-las bolas no poste do Moutinho, mai-las saídas fora de tempo do Patrício vislumbrarão ali a sportinguização da equipa a descer devagarinho, como uma névoa mansinha, os jogadores não sportinguizáveis, como o Pepe, que fez a formação no Desportivo de Minas Gerais, a perceber que a coisa se está a dar, eles todos a tentar lutar contra a força maligna, o Bruno Alves a tentar os truques de expelliarmus, uma coisa que ele viu no Harry Potter, mas nada resultar, o Paulo Bento a substituir de uma assentada três jogadores de campo das escolas do Sporting por outros três da universidade sénior do Besiktas, a coisa a não resultar porque também ele, Paulo Bento, está possuído, o Iniesta a ver tudo isto a acontecer, a fazer um sinal ao Casillas para lhe colocar a bola directa e já está, os nossos a ser recebidos na Portela, caramba, estivemos quase, faltou ali uma pontinha de sorte e eu a ver as coisas, que, uma vez mais, são como são.

26 junho 2012

Mais uma coisa que me preocupa por estes dias

Saber se sempre se confirma uma melhoria das condições meteorológicas lá para os lados de Leiden.

(ele há ocasiões em que me parece que a minha missão no mundo é fazer do bom povo Leidenense pessoas felizes...)

Outra coisa que me preocupa por estes dias...

...é a forma como vou ver o jogo, nunca vi um jogo da selecção em casa do adversário. Por um lado, posso ver o jogo no conforto do quarto, tranquilamente, mas sei que me aborrecerei de morte, os jogos da selecção não devem ser vistos num quarto, ainda para mais na versão em que os comentários serão inflamados de cada vez que La Roja passar a linha do meio-campo, além disso não me parece divertido ouvir os golos do CR7 comentados em tom de velório. Por outro lado, ver o jogo no bar pode parecer desagradável para os presentes, eles de mãos na cabeça sem perceber que hecatombe lhes está a acontecer e eu a vibrar, sem pressentir que o Chef haverá de castigar-me mais tarde, seleccionando os pimientos de Padrón certos para me servir. Que fazer, senhores, que fazer?

Daqui onde me encontro...

...enquanto aguardo que me sirvam o encomendado gin tónico, antes da siesta, percebo que estas pessoas têm mais trinta anos do que eu, irei encontrar as senhoras na praia de Mazagon, com os seus penteados louros armados com laca, lendo a Hola, os cavalheiros passearão pela praia, rentes à água, em grupos de três, os cabelos puxados para trás, crucifixo de ouro pendurado ao pescoço, ar grave de quem discute coisas de política, fumando Ducados de manhã ou Montecristo depois das seis da tarde, calções de riscas verticais, lerão o El Pais quando nos encontrarmos na esplanada, enquanto aguardamos que sejam horas de nos servirem o jantar, para o qual nos vestiremos a preceito, calças de linho ou algodão, camisas brancas de manga comprida, cuidadosamente arregaçadas, sapatos leves, havemos de nos cumprimentar civilizadamente com um leve aceno de cabeça, eles e elas desculpando-me a barba de três dias.

25 junho 2012

Também tenho as minhas preocupações, como toda a gente

A maior preocupação nestes dias de sul é eu gostar de ler blogs que não estão na lista ali do lado e ter que lhes aceder por via de um terceiro blog que não leio.

(poderia eu próprio ter uma ligação directa aos blogs que leio, mas isso obrigava-me a tirar alguns dos que lá estão e as pessoas ficam tristes quando eu lhes retiro as ligações)

(por outro lado, da maneira como vão enchendo chouriços, há três blogs da lista ali do lado que se estão a habilitar...)

Do sul, outra vez

Todos os anos, por esta altura, sigo para sul. Mais que o início do ano civil ou o meu aniversário, é este tempo a sul, por entre água salgada no corpo, cerveja fria e conquilhas, que apanho os cacos do ano que passou e projecto onde quero estar da próxima vez que estiver a sul, aqui decido que livros ficarão por ler e quais os que migrarão para o novo ano, é neste tempo de sul que arrumo num sótão as relações que não quero reatar e é neste tempo de sul que penso com nostalgia no que perdi por não ter feito a coisa certa no tempo certo. É neste tempo de sul, em que as havaianas compradas no Rio substituem os sapatos engraxados, as t-shirts brancas substituem os fatos às riscas, a Bola substitui os relatórios com gráficos e a barba com sol e sal ocupa o rosto que voltará a estar escanhoado um destes dias, que faço o balanço, é neste tempo que os meus olhos mudam de cor, é a sul que relativizo a minha vida.

24 junho 2012

Que vês da tua janela, Pipoco?

Praia de Mazagon, vista do Parador de Mazagon

23 junho 2012

Ruben Patrick diz que os Alemães...

...podem ter ganho aquilo aos Gregos, que sim senhores, ganharam e bem ganho, mas também é bem verdade que ter que ver a Merkel enfiada naquele vestido verde de mau corte, aos pulinhos e com aquele mau ar que nosso senhor lhe deu, os olhinhos esbugalhados, é coisa que não enche de orgulho nenhum povo.

(para além daqule cabelinho à foda-se do treinador, podemos dizer que é um cabelo tipo Paulo Bento, mas em mau)

22 junho 2012

Ruben Patrick fala sobre beijos em aeroportos

Derivado de situações cá da minha vida, passei boa parte do dia num aeroporto, do lado das chegadas, derivado de ser a zona em que o café é melhor. Maneiras que, derivado dessa situação, estive a olhar para pessoas que chegavam e vi muitos homens e mulheres que chegavam e tinham mulheres e homens à espera. Reparei que as mulheres beijam como se não houvesse mais ninguém no mundo, abraçam o homem que têm à espera, fecham os olhos e não se importam com mais nada, nada mais importa, nem os tipos que têm que se desviar do par que se beija no meio do corredor. Eles beijam mal, de olhos abertos, tentando perceber se estão a olhar para eles, quase pedindo desculpa com o olhar por estarem ali a ser beijados por uma mulher que os esperava, desconfortáveis, tentando apressar o fim do beijo.

Fiquei contente porque, em centenas de chegadas a aeroportos, nunca tive ninguém que me esperasse.

Ruben Patrick disserta sobre montaditos de tortilla

E lá estava eu, sossegadinho da minha vida, derivado de estar a apanhar o primeiro sol do Verão tinha uma Super Bock na mão, passando os olhos pelas gordas do "Record", e chega-se uma senhora espanhola à mesa do lado e pede ao rapaz das mesas um montadito de tortilla e vai o rapaz e diz que montadito não tinha, e vai a senhora espanhola, já de idade, são sempre as senhoras de idade que se sentam nas mesas à beira da minha, e, dizia eu, a senhora espanhola abespinha-se e faz por meter conversa comigo, que não se compreende que não exista um montadito de tortilla para lhe ser servido e eu levantei os olhos das gordas e disse à senhora que lhes vamos ganhar por três na quarta-feira e a senhora ficou a modos que aborrecida por eu não ter conversado com ela sobre a temática de não haver montaditos de tortilla numa esplanada da minha cidade e eu fiquei a pensar no que será que motiva estas pessoas a viajar.

21 junho 2012

Ruben Patrick toma conta disto

Com o Tio Pipoco fora de cena (há quem diga que foi à Polónia ver um jogo da bola, há quem diga que foi para Sul e que estará a esta hora a beber um gin tónico e lê mais umas linhas do Ulysses enquanto espera pelo sol), fico eu a tomar conta disto e cabe-me a mim dizer coisas cá da minha vida, nomeadamente a problemática que é encontrar a mulher média, essa verdadeira preciosidade, isto derivado de um homem nunca estar contente, se escolhe uma mulher demasiado fácil a coisa não dá luta, ainda estamos a tentar decorar-lhe o nome e já a situação está incontrolável e ela nos puxa para um canto do elevador e nos mostra como é que se faz, se ela é demasiado difícil dá-se o caso de perdermos o nosso tempo, podíamos estar a fazer uma coisa em condições e afinal ainda não passámos da fase disso da sedução, um homem a dizer-lhe que ela cheira muito bem do cabelo e que tem um sorriso lindo e ela nada, nem abre uma brecha, chega-se ao fim do tempo que gentilmente lhe diponibilizámos e a coisa ainda está naquela indefinição que nos faz lembrar o Postiga ali nas fintas a maio caminho entre a linha final e a zona de pontapé de canto, sem ângulo para chutar à baliza e afinal é mesmo disto que eu queria falar, do jogo de hoje, um homem anda aqui às voltas com a temática do amor mas lá no fundo todos os posts que um homem escreve são posts de bola

20 junho 2012

Ruben Patrick, uma vida dedicada a fazer as pessoas felizes

Ele há dias em que passo pelo quiosque e compro uma revista, Depois enrolo a revista e meto-a no bolso e esqueço-me, só me volto a lembrar da revista quando vejo a cara de assombro da Carina Suzete e da Cátia Rossana a mirar-me quando eu chego à máquina das fotocópias, tão contentes por me verem, minhas ricas meninas.

19 junho 2012

Ruben Patrick is in the house

A grande vantagem de escrever num blog como este do Tio Pipoco é que não tenho que dizer que o Dacia Duster é um automóvel fantástico...

Acabei de decidir

Que vou dedicar a minha próxima hora a comentar blogs.

(há sempre uma primeira vez)

Adenda: Game over. Foi bem divertido, em me apetecendo estou capaz de repetir.

Daqui onde me encontro...

...estou a seguir o Suécia-França. Gosto genuinamente de França, paixão antiga. Se a França ganhar o jogo eu ganho cento e vinte euros, o justo prémio de ter acertado em todos os primeiros e segundos classificados de todos os grupos (sim, apostei que a Rússia e a Holanda não passavam desta fase...). E, no entanto, estou a desejar que a Suécia ganhe o jogo, só porque quero que não saiam do Euro sem ganhar um jogo, coitadinhas das suecas que eram capazes de ficar tristinhas.

(acho que este meu bom coração só me prejudica...)

18 junho 2012

(sim, está a faltar-me o gás para manter isto nos mínimos...)

Ele há ocasiões em que eu, na minha demanda de material trabalhável para me inspirar nisto de manter um blog, para além dos retratos de pés descalços na areia, dou por mim a ler coisas de pessoas que escrevem em blogs que falam de pessoas que escrevem em blogs como se estas fossem reais, como se aquilo que escrevemos nos definisse claramente, basta-me escrever que sou um tipo bem apessoado, alto e viril, para que assim seja, temos então uma espécie de sósias da Miss Marple, basta-lhes estar lá nas suas casinhas em St Mary Mead, muito sossegadinhas enquanto afagam a gataria e vão resolvendo os insondáveis mistérios de quem está deste lado, dos que se divertem com isto de escrever coisas, pois se a Miss Marple conseguia ajudar o Inspector da Polícia a adescobrir o mistério, baseando-se apenas e só no seu conhecimento das pessoas, porque razão não haverão elas de traçar o perfil de quem escreve só pelo que escreve?

Nestes dias em que se me escapa uma boa oportnidade de win-win situation...

...lembro-me outra vez daquela história em que estão duas irmãs a disputar uma laranja, só havia uma laranja e elas estavam a lutar para ficar com a laranja, e o pai chega a casa e resolve acabar com aquela discussão, parte a laranja ao meio e dá metade da laranja a cada uma. A primeira irmã espreme os gomos da laranja e deita a casca fora, queria a laranja para fazer sumo. A segunda irmã raspa a casca da laranja e deita os gomos sumarentos para o lixo, queria a laranja para aproveitar a casca e fazer bolo de laranja.

As coisas são como são

De quando em vez o Criador olha cá para baixo e percebe que o nível de desenvolvimento civilizacional das mulheres subiu a níveis estratoféricos, quando comparado com o dos homens. É nestas alturas que o Criador, do alto da Sua infinita sabedoria, decide equilibrar as coisas e manda-lhes as unhas de gel.

17 junho 2012

Balanço da coisa

Quarenta e duas garrafas de Super Bock, uma garrafa de Cardhu, três garrafas de Cartuxa tinto, três morcelas assadas, uma dose de ovos mexidos com farinheira de porco preto, cogumelos salteados, catorze cafés, requeijão com doce de abóbora, sete amigos com o cachecol ao pescoço e um rádio sintonizado na TSF que nos dava notícia dos golos quando na televisão a bola ainda estava no meio campo.

Exigência

Quis o destino, nunca sou eu quem quer estas coisas, que me calhasse em sorte, precisamente à mesma hora em que os gregos despachavam os russos, ir ver uma dessas coisas de jovens talentos para a música, adolescentes a cantar. Vozes potencialmente agradáveis a ser assassinadas por tiques, por arremedos do que viram fazer na televisão e no fim os pais emocionados, minha rica filha, vai chegar longe. São estas miúdas, levadas aos céus por quem não quer ver o óbvio, que procuram o sorriso embevecido das mães no final da actuação e ele, o sorriso, lá está, quer elas se tenham espalhado ao comprido quer se tenham desembrulhado com distinção, que são depois sarrazinadas nos programas de talentos de televisão, é este contentamento dos pais pelo medíocre que depois me levam estes miúdos, já quase-adultos, à minha presença, eles a pensar que sabem daquilo que é preciso saber, eles, do alto dos seus mestrados, a achar que aquilo de ter que me convencer é apenas um preâmbulo, eu a cortá-los às postas muito fininhas e a aproveitar apenas os que são capazes de juntar as peças de novo.

16 junho 2012

Pipoco, esse fazedor do bem

Há alturas em que me apetece fazer o bem, fazer com as pessoas sejam melhores, é nessas alturas que me apetece vestir uma capa vermelha e colocar uma máscara de super-herói e ficar a rondar ali pela zona dos livros de auto-ajuda da Bertrand, vigilante, como um felino atento, em vendo as pessoas a folhear os livros da secção eu havia de saltar, num ápice rapinava-lhes os livrinhos de auto-ajuda prestes a ser comprados e dizia-lhes bem alto para não comprar aquilo e as pessoas haviam de ver a luz e comprar Saramago ou Eça e seriam felizes e haviam de me escrever cartas a agradecer a ajuda.

15 junho 2012

Cá está o tal post intimista

Não sou muito de me emocionar com coisas, ainda para mais coisas escritas em livros, creio que a última vez que me emocionei com coisas que li em livros foi quando a tia de Heidi a foi levar ao avô e ele não queria ficar com ela, mas, em verdade vos digo, ontem estava na parte final dos Capitães da Areia e toldou-se-me o olhar naquela parte em que o Dora morre lá no trapiche (confirmo, versão brasileira) e é deitada às águas no batelão do Querido de Deus.

Caros Wannabe, quereis ter muitas visitas no blog? O Tio Pipoco explica.

A blogosfera está repleta de blogs iguais ao seu, a descrição de uma ida à praia de Carcavelos ou relatar como alguém passou à sua frente na fila do talho do Minipreço (há lá talho, não há?) vai fazer bocejar as pessoas. Fale de vinhos raros e de locais com nomes vagamente bucólicos, o leitor de blogs é crédulo e tende a aceitar como fantástico tudo o que desconhece.

Tente inventar um nicho de mercado. Baby-Blogs, Hate-Blogs, Diários de Bordo e Blogs de pessoas que mostram orgulhosamente a roupa da Zara são conceitos a que ninguém liga. Invente novos conceitos de blog, como o "tecno-rústico", o "deprimo-motivacional" ou o "cool-suburbano". Evite o "snob-chic", é dificílimo de manter.

Coloque fotos, as fotos fazem disparar o número de visitas. Prefira retratos de instantes do seu quotidiano, isso fará com que as pessoas se sintam a partilhar os seus momentos.

Coloque posts a horas certas, as pessoas gostam de rotinas. As melhores horas são as 8 da manhã, para as pessoas terem algo fresquinho quando chegam ao escritório e abrem o computador, a uma da tarde, para acompanhar a sandes mista e o compal de manga-laranja e as dez da noite, quando as pessoas assistem à telenovela com o portátil em cima das pernas.

Repita frases e insira-as aleatoriamente nos posts. As pessoas reconhecerão estas frases feitas como algo de original na sua escrita e, se a frase for "Em verdade vos digo", conte com uma auréola de escrita sagrada. Se a frase for "as coisas são como são", transmitirá uma mensagem de segurança, de certeza absoluta no que diz.

Não responda a todos os comentários, isso dará um ar de exclusividade à sua atenção e garantirá que aqueles a quem responde se tornarão dignos de admiração por parte de todos aqueles que nunca mereceram uma palavra sua, para além de garantir que aqueles que forma dignos da sua atenção o seguirão com redobrado entusiasmo.

Coloque um post inteligente a cada dez sem sentido nenhum. Por exemplo, por cada dez que versem a temática dos problemas das mulheres, coloque um episódio da vida de S. Tomás de Aquino. Divirta-se com a ausência de comentários aos bons posts.

Mantenha um ar distante e inacessível com quem o lê. Quando sentir que a sua escrita está a ficar demasiado intimista ou que está a escrever com o coração, ataque com um post a dar conselhos ao Ruben Patrick.

Escreva de forma a que o seu estilo seja detectado a léguas, seja qual for o blog que resolva inventar. Se não souber melhor estratégia, faça parágrafos longos com muitas vírgulas.

Divirta-se. Afinal isto é só um blog, nunca se esqueça disso.

14 junho 2012

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Não poderás dizer que conheces uma mulher se nunca tiveres caminhado ao lado dela numa madrugada de chuva, ela caminhando descalça, segurando os sapatos de salto alto na mão, tu escutando em silêncio a forma como ela fala sobre o tipo que acabou de lhe cortar o coração às postas, nunca poderás dizer que conheces uma mulher se não tiveres estado a seu lado no preciso momento em que ela sucumbe ao quinto gin tónico e percebes como ela reage a como a deitas na cama enquanto lhe afagas a cabeça e lhe dizes que está tudo bem e que ficarás por perto, nunca poderás dizer que conheces uma mulher enquanto não souberes como se comporta ela quando te atrasares uma hora para o almoço que tu próprio marcaste.

Um snob-chic tem que saber destas coisas

Diz-se de JP Morgan que informou um joalheiro do seu desejo de comprar um alfinete de lenço (usava-se naquele tempo...) com uma determinada pedra preciosa. Alguns dias depois, o joalheiro encontrou uma magnífica pedra preciosa, que incrustou no alfinete e enviou a JP Morgan, com uma conta de 5.000 dólares. No dia seguinte o joalheiro recebeu o pacote de volta, selado e com uma nota escrita de JP Morgan, que dizia "Gostei do alfinete, mas não do preço. Se aceitar o cheque de 4.000 dólares que segue junto, por favor devolva a caixa com o selo intacto". O joalheiro, furioso, mandou devolver o cheque e, quando abriu a caixa para recuperar o alfinete devolvido, verificou que não estava lá nenhum alfinete com uma pedra preciosa, mas sim um cheque de 5.000 dólares.

13 junho 2012

Que vês da tua janela, Pipoco?

(porque ele há dias em que tenho sorte também no regresso...)

Dupond & Dupont
























(Post agendado. Para dar sorte...)

Que vês da tua janela, Pipoco?

(às vezes consigo lugar no cockpit...)

As coisas são como são

Bem podemos andar aqui a enganar-nos uns aos outros mas não é a bondade, nem a cultura geral, nem o civismo, nem o ar protector, nem a capacidade de introspecção, nem o ar saudável, nem o sorriso, nem o que veste, aquilo que nos capta a atenção numa mulher. O primeiríssimo requisito para que uma mulher merecedora do nosso olhar mais detalhado é que seja bonita, aliás, extremamente bonita. Depois, em sendo bonita, aliás, extremamente bonita, preocupamo-nos com o secundário.

12 junho 2012

Voltemos então à costumeira linha editorial

Por mais que se vão sofisticando os géneros, a verdade é que serão necessárias muitas gerações para que se chegue ao ponto de excelência civilizacional em que um homem sabe exactamente o que fazer quando está em presença de uma mulher bonita e uma mulher sabe exactamente como reagir a um elogio.

À atenção da Sport TV

No dia em que existir um canal de jogos da bola que transmita os jogos só com som ambiente do estádio, sem comentadores que me informam da data de nascimento do Shevchenko e da condição de cinturão negro do Ibrahimovic, que, vá lá, sobreponha música clássica ao som ambiente, sempre achei que o Bolero de Ravel assentava na perfeição a jogos como o Alemanha-Portugal, podeis estar certos que mudo imediatamente para esse tal canal de jogos da bola, mesmo pagando o dobro.

Falando a sério, por uma vez

Nunca fui especial apreciador da escrita de José do Carmo Francisco, reconhecia-lhe a nobre missão de dar um toque pitoresco ao Aspirina B mas normalmente não resistia a prosseguir para além da terceira linha do que escrevia, as coisas são como são e o tempo é o meu bem mais escasso.

Acontece que José do Carmo Francisco deixou hoje de escrever no Aspirina B e isso inquieta-me, mexe-me com os nervos e revolta-me. Em meia dúzia de anos disto dos blogs já vi este filme repetido demasiadas vezes, começa sempre em nome da ironia (foda-se, sabem lá vocês o que é a ironia...) e a coisa começa a entrar em espiral, em crescendo de violência verbal, até se chegar à exposição de pormenores da vida pessoal é um pequeno passo (e não me venham dizer que são as pessoas que se expõem, este meio é demasiado pequeno e a todos nós chegam pormenores da vida pessoal de quem escreve nos blogs, quem é, onde trabalha, como lhe corre a vida, que aderência tem a persona do blog com a pessoa que escreve, tudo isto sem nós verdadeiramente o querermos saber). O fim do filme é conhecido, quem escreve retira-se e quem ataca cobardemente mete o rabo entre as pernas e apodrece por aí, pode voltar a escrever com outra capa qualquer, mas será sempre, para todo o sempre, um pequeno chacal.

Gosto verdadeiramente de quem comenta de peito feito, de quem discorda do que se escreve, de quem argumenta. Seja no Aspirina B, no Tolan, na Pipoca Mais Doce ou onde quer que seja, sempre os haverá, os discordantes, os que deixam o registo de que passaram e não gostaram, os que passaram, abanaram a cabeça em desacordo e foram à sua vida, os que merecem respeito e admiração. Dos outros, os que usam as caixas de comentários para humilhar e para achincalhar, tenho vergonha, a pior das vergonhas que se pode ter, vergonha alheia.

Tem cuidado com o que desejas, pode realizar-se

Dizia-se de Carnegie que um dia foi visitado por um socialista que debitou toda a cartilha sobre o quão deplorável era o capitalismo e da necessidade de distribuir a riqueza por todos, diz-se que Carnegie chamou o seu secretário e perguntou-lhe o valor da sua fortuna e a estimativa da população mundial. Carnegie dividiu um número pelo outro e mandou ao seu secretário que desse dezasseis cêntimos ao fervoroso socialista, a parte dele da fortuna de Carnegie.

11 junho 2012

Post em tempo real

Está aqui a meu lado uma senhora que pediu ao empregado da loja que lhe trouxesse um bikini com a parte de baixo tamanho S e a parte de cima tamanho L e eu, com a minha visão periférica, avaliei a situação e pareceu-me que a senhora estava a ser bastante optimista no que respeita ao tamanho correcto que lhe assentará melhor na parte cimeira do bikini.

Pipoco mostra o seu lado bom

Sou um homem de rotinas, perguntem a quem quiserem e todos vos confirmarão que sou um homem de rotinas, levanto-me cedo e gosto de ir correr com o meu cão preto ao lado, às vezes avistamos uma raposa ao longe e não há dia em que não se atravessem coelhos ou perdizes à nossa frente, a corrida matinal acaba sempre na esplanada do Clube para tomar o primeiro café do dia e, à matinal hora, encontro-me sempre com os meus vizinhos madrugadores, ambos reformados, um deles chega de bicicleta enquanto fuma o seu velho cachimbo e prepara os apetrechos de pesca para a manhã que passará na barragem, às vezes leva binóculos e um livro de aves com muito uso, outras vezes leva livros de poesia que lerá à sombra dos sobreiros, o outro chega num Porsche Panamera grená e retira cuidadosamente os tacos de golfe, jogará toda a manhã, às vezes toma um segundo café antes de fazer o buraco doze, nunca o vi com livros, os nossos primeiros minutos de conversa dedicamo-los à problemática da bola, debruçamo-nos sobre quem jogará na selecção na posição 6, desde o Costinha que não temos quem faça a posição seis em condições, depois falamos da bolsa e de como o hub de Zeebruge podia ser mais usado, quando volto a casa, para finalmente vestir o meu fato às riscas, fico sempre a pensar que tipo de vizinho serei eu no futuro e desejo muito que alguém interceda por mim no sentido de nunca me deixar chegar àquele ponto que representa o nível mais baixo da degradação humana que é ser proprietário de um Panamera grená.

São só blogs, senhores

A verdade é que isto dos blogs está a ficar aborrecido, não há outra forma de o dizer. Ou a coisa é um diário de bordo e, a vidinha das pessoas é como é, não há como escapar a repetir as fantásticas acrobacias dos gatos (toda a blogosfera tem gatos) ou como a colega de trabalho é uma nulidade (a blogosfera vive rodeada de nulidades) ou ainda de como o namorado (ninguém na blogosfera se casa) foi capaz de estrelar um ovo. As da roupa não conseguem descolar da fórmula mágica "faz uma frase sobre o verniz, mais um like na marca do verniz e outro like na minha página do facebook", a coisa vai-se aguentando porque há sempre quem precise de um verniz à borla, ainda que para isso tenha que deixar um like num look que tem Mem Martins na linha do horizonte. Os que já escreveram livros lá se vão aguentando, a coisa auto-alimenta-se, se escreveram um livro recebem coisas e isso origina um post com as coisas que lhes oferecem, se há um post com as coisas que lhe oferecem, isso gera comentários de pessoas a quem não oferecem coisas e acaba por se gerar um post com a fantástica temática de não haver publicidade encapotada, aquilo são só coisas que as pessoas oferecem, e isto acaba por gerar o patrocínio dos hotéis e, lá está, acaba tudo num post a exacerbar as qualidades dos hotéis e como o ambiente é requintado e de como se é feliz naquele hotel, tão feliz que se resolveu escrever um post em vez de aproveitar as delícias do spa, quem lê boceja com mais do mesmo ou então diz que lol, também quer ir a um hotel assim, só para dizer alguma coisa, toda a gente sabe que os autores dos blogs que escreveram livros ficam tristes se não tiverem comentários, é uma espécie de share da blogosfera. Há os bons, os realmente originais e que se dedicam a nichos de interesse ou então têm uma vida realmente interessante e que pode ser contada, a esses ninguém lê, alguns estão ali na coluna da direita e mais tarde ou mais cedo vão-se deslumbrar com tanta visita e ficar com duplo queixo e engordar e ficar preguiçosos, os outros estão no meu google reader e por lá ficarão, quietinhos, sem ver o sol, para que continuem geniais.

Eu? Eu fico bem, não se preocupem comigo, isto é só um blog, nada mais que um blog.

10 junho 2012

Tivessem visto o Espanha-Itália de hoje e talvez percebessem a coisa

Não se explica este friozinho no estômago antes do jogo começar, não se explica esta adrenalina a cada bola perdida na nossa defesa, não se explica este libertar de energia quando nos marcam um fora de jogo que nunca existiu, não se explica a caneca de imperial ficar a meio caminho dos nossos lábios durante o tempo que demora a perceber se resulta alguma coisa do livre directo, não se explica a força do abraço aos amigos quando os nossos marcam golo, bem podem dizer que tanta informação é uma tormenta que não se aguenta, que vão aproveitar para fazer compras à hora do jogo, que eles estão lá pelo dinheiro, que aquilo é só um jogo, bem podem teorizar, ele há coisas que não se explicam.

Debriefing do jogo da bola

Esta ontem à conversa com o Meirelles de Menezes, toda a gente a discutir como seria se aquilo do Pepe tivesse sido para lá da linha e eu, que sou uma pessoa que se preocupa com as situações, perguntei ao Meirelles de Menezes o que era feito da morena belíssima que o tinha acompanhado nestes últimos dois meses e o Meirelles de Menezes respondeu-me que a tinha trocado por alguém de quem gostava ainda mais do que gostava dela, que a tinha trocado por ele próprio e eu, que sou uma pessoa que percebe as coisas à primeira, fiquei sem perceber o que o Meirelles de Menezes me queria dizer.

09 junho 2012

Jogar como nunca...

...perder como sempre.

(mas a cerveja estava fresca e as moelas e o pica-pau estavam no ponto)

08 junho 2012

Onde Pipoco fala sobre política parecendo que fala sobre bola

A história da Grécia é isto, a Polónia, que é uma espécie de Alemanha, só que uma Alemanha há setenta anos atrás, a sufocá-los, a Grécia a definhar, quando tudo parecia piorar, passam a jogar em inferioridade, tudo parecia acabado, os primeiros a sair do Euro, de repente uma golpada de sorte, um balão de oxigénio, parece que se aguentam, olha, vão ultrapassar a coisa, um penalty deve servir-lhes para virar o jogo, afinal não, olha viraram mesmo, afinal não, foi anulado, ficaram na mesma, parece que se aguentam no Euro. Ou então não.

Que estás a fazer neste momento, Pipoco?

Gosto tanto, mas tanto, disto...

Coisas fantásticas da crise

Comem-se menos pipocas no cinema.

07 junho 2012

Corpo de Deus

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Depois de quinto gin tónico, ela vai parecer-te fantástica, sim tu também és fantástico e nada te será impossível, esses indivíduos grandes que te tiraram de cima do balcão, tu a imitar aquilo da Kim Basinger ao som do You can leave your hat on, são uns invejosos, eles não sabem que o David Guetta às vezes soa como Joe Cocker, depois do quinto gin toda ela irradia luz, que sensualidade, que saber estar, o problema, Ruben Patrick, é que na manhã seguinte ela te vai aparecer como realmente é, as coisas são como são.

06 junho 2012

Que vês da tua janela, Pipoco?


Place de l´Opéra, Paris, vista do Hotel Intercontinental

(esta fantástica rubrica passará a ter legenda, incluindo as anteriores edições)

As senhoras sabem de quem eu estou a falar

Toda a gente sabe que há mulheres que se apaixonam por um homem só por aquilo que ele escreve, é assim como a bolha imobiliária nos anos dourados de Marbella, as pessoas compravam casas de praia sem ver, nos blogs é igual, um homem escreve com o coração nas mãos e é senti-las a suspirar, que coração sensível tem o rapaz, elas a imaginá-lo ajoelhado em frente à amada, numa urgência de lhe declarar o amor por ela que não o deixa descansar, coração palpitante, olhos faiscantes e ele, a essa hora, na esplanada do Santa Bizarria, copo de imperial na mão a dar pontuação de um a dez das caixas abdominais das suecas que por ali passam, depois o rapaz escreve sobre um livro que anda a ler, uma página por semana, e elas imaginam um espírito inquieto, um homem de letras, elas com a cabecinha deitada no colo dele, mantinha por cima das pernas, deleitadas a olhá-lo nos olhos e ele devorando livros que lhe há-de explicar com aquele olhar alheado das coisas que só está ao alcance dos iluminados e afinal ele não passou da página cinquenta do tal livro, o mais que lê é o jornal desportivo e mesmo assim só se lá vierem escritas as contratações certas do Sporting, ele escreve sobre vinhos e elas logo se apaixonam pelo fino requinte, a sensibilidade de conjugar néctares com comida, o saber ancestral de distinguir um touriga nacional de um Syrah, o imaginário a remeter para um vinho raro bebido junto à lareira de uma casa do século dezoito, um Jaguar do tempo em que eram feitos em Inglaterra estacionado lá fora e afinal o rapaz varia entre o Duas Quintas e o Esteva, na verdade acompanha as sardinhas assadas com coca-cola, disseram-lhe que facilita a digestão.

Agora, complicado, mas mesmo muito complicado, é quando um homem se apaixona por aquilo que uma mulher escreve e, em verdade vos digo, está prestes a acontecer comigo.

Maria Lucinda agora é a Lucy

A Maria Lucinda era o patinho feio da turma do décimo segundo bê da Dom Pedro Quinto, era uma espécie daquela rodela de coisa verde que vem com os hamburgers, a rapaziada comia tudo o que lhe aparecia à frente, mas em chegando àquilo verde, que em sentido figurado era a Maria Lucinda, o pessoal deixava de lado, talvez uma ligeira lambidela para tirar o ketchup que a coisa vegetal verde tem por cima e bastava.

Ontem, num desses eventos com rissóis e pessoas de copo na mão que acenam com movimentos a cabeça umas para as outras quando se cruzam, a Maria Lucinda veio ter comigo, tantos anos, caramba, estás igual, isto disse-me ela, que era a Lucy, agora chamam-lhe assim, não sei que coisa fez o criador à Maria Lucinda, aliás, à Lucy, mas dei por mim a conversar com ela mais tempo do que aquele que lhe dediquei em todo aquele glorioso décimo segundo ano, ela a recordar como eu a ajudava com aquilo dos integrais e com os números imaginários, isso de eu apreciar números imaginários é coisa para me acompanhar até ao fim dos dias, eu a tentar perceber de onde lhe tinham aparecido aquelas formas e a pensar que aquela pouca roupa lhe assentava muito bem, ela a sorrir-me no final e a dizer que temos que ir tomar um café, eu a pensar que se calhar é melhor não.

05 junho 2012

Anda comigo ver os aviões

Ruben Patrick, em verdade te digo

Se nem te ocorreu que o Sporting jogava exactamente à mesma hora em que ela te está a pedir conselho sobre se deve comprar os sapatos azuis ou os amarelos, se dás por ti a jantar sushi regado a sumo de frutas natural e recebes uma chamada do Cajó a perguntar se ainda demoras muito para a churrascada, informando-te que já vão na quarta rodada de imperiais e tu voltas à mesa e quando ela pergunta quer era tu respondes que era engano, se trocaste os bilhetes dos Mettalica por outros do Bryan Adams, se começaste a preocupar-te com o corte das tuas unhas, se achas que a Angelina Jolie é uma mulher normal, se te parece que o Lago dos Cisnes é melhor programa que o combate de wrestling do Mad Joe contra o Animal Jack, se de repente dás por ti a saber distinguir cheiros de cabelo, então, meu caro Ruben Patrick, considera a possibilidade de estares ligeiramente apaixonado.

Esta noite sonhei com um (e apenas um) Lamborghini roxo

Transformei em projecto de vida isso da leitura de Ulysses, avanço uma página por semana, a este ritmo estou capaz de terminar a coisa na casa com lareira e vista de mar onde passarei os últimos dias, provavelmente na ilha das Flores, leio uma página por semana, cuidadosamente entremeada com coisas ligeiras, hoje um Lobo Antunes, amanhã um Pamuk, às vezes volto atrás, a página que avancei esta semana não faz sentido se não perceber exactamente a página que li na terceira semana de Abril, nesse caso volto atrás e recomeço, sinto um respeito das pessoas que viajam nos lugares junto ao meu, é sempre no lugar 6A, uma velha mania, eles às voltas com os seus iPad, usados até à exaustão e só desligados à terceira advertência da assistente de bordo, lançando-me olhares invejosos, eles a preparar os últimos números para apresentar a quem manda, eu a debater-me com toda a tranquilidade com Ulysses, mas o que eu queria realmente partilhar com o vasto auditório é que voltei a sonhar com um Lambirghini roxo e toda a gente sabe o que acontece quando sonho com um Lamborghini roxo, certo?

04 junho 2012

Pipoco aconselha Ronaldo, Cristiano Ronaldo

Esteja à vontade, meu caro Cristiano, sente-se um pouco nessa poltrona, Coral?, sim, mando servir, não, eu prefiro um Cardhu sem gelo, chamei-o aqui, bem sei que o seu tempo é escasso, sim, concordo, o meu ainda o é mais, tem toda a razão o meu caro, o tempo é o nosso bem mais precioso, seja como for agradeço-lhe ter vindo, aqui tem a sua Coral, Ezequiel pode retirar-se, não incomode o senhor Cristiano com isso dos autógrafos, pois meu caro Cristiano, chamei-o aqui, não se importa que eu fume um Montecristo?, cai-me bem com o malte, pois, conforme lhe dizia chamei-o cá para lhe falar da problemática desse seu cabelo, que ideia foi essa meu caro? esse é o cabelo que o Tom Saywer usava quando a Tia Polly o mandou pintar a cerca, quem é a Tia Polly?, bem, meu caro, era uma senhora que tomava conta de um rapaz, mal comparando é uma espécie da senhora sua mãe, mas sem aquele chapéu cor-de-rosa, bem sei que lhe explicaram como se deve comportar com as câmaras, quando o meu caro prepara os livres directos nota-se que lhe disseram para recuar cinco passos, depois colocar as mãos nas ancas e depois, quando as câmaras lhe fizerem um zoom ao rosto, deverá o meu caro expirar profundamente, um sopro bem medido, e partir para a bola, aquilo resulta razoavelmente, meu caro, é como um concerto dos Xutos, já se sabe o que vem a seguir, a terceira música é o "Vou correndo para ti Maria", a meio do concerto o Kalu canta o "Ai a minha Vida", prolongando o grito do "Aaaaaaaaaaaai!", pede às pessoas para abanarem as mãos e acaba com um "Ai a puta da minha vida!" e um solo final de bateria, depois entra o "Circo de Feras" e acaba com a "Minha casinha", com os livres é igual, sendo que a encenação às vezes acaba com a bola lá dentro, infelizmente não tantas vezes como as que acabaria se não houvesse encenação, as nossas energias são o que são e, em as canalizando para o que não é essencial, leu o Principezinho?, a coisa dá-se como convém, mas o que lhe queria mesmo dizer, caro Cristiano, é que tem que resolver o problema desse penteado, Ezequiel, acompanhe o senhor Cristiano à porta, não me agradeça meu caro Cristiano, estou cá para isto, para espalhar o bem, veja lá isso do penteado e darei por bem gasto o meu tempo.

Por outro lado

E se afinal eu fosse um tipo que prefere transportes públicos a carros alemães? E se afinal eu fosse um tipo que prefere cerveja bebida pela garrafa a vinho de Bordéus servido à temperatura certa? E se afinal eu fosse um tipo que aprecia mulheres que calçam ténis All Star em vez das que calçam sapatos com sola vermelha? E se afinal eu fosse um tipo que prefere caminhar nos Açores a ópera em Milão? E se afinal eu fosse um tipo que na maioria dos dias vê sempre o mesmo da sua janela? E se afinal eu preferisse frases curtas em vez de um único parágrafo com as vírgulas onde eu acho que elas pertencem? E se eu passasse a usar isto como um diário de bordo onde contasse a minha vidinha em vez de isto ser como é?

Ficava aqui a falar sozinho, não era?

03 junho 2012

Vanessa Silva, anda cá ao Tio Pipoco

Vanessa, contaram-me numa caixa de comentários ali para baixo que aquilo que ontem se passou à frente dos meus olhos afinal não se passou como eu vi. Acontece, Vanessa, que eu me ando a esforçar por duas situações e uma delas é para ser um bocadinho menos céptico. Acreditei mesmo a sério que aquilo foi um momento Susan Boyle, e há tantas parecenças físicas com a Susan, por Deus, acreditei mesmo que qualquer Vanessa Silva pode ser chamada ao palco, aleatoriamente, e a coisa correr bem. De forma que, Vanessa, se a coisa não se passou como eu vi que passou, fico aborrecido. E aborrece-me ficar aborrecido, Vanessa.

Ao jeito do Bruce Springsteen a chamar a miúda para o palco no teledisco do "Dancing in the dark"

Está ali à minha frente uma miúda com uma t-shirt preta a cantar com o Bryan Adams, com uma cara de felicidade que não se consegue contar. São estas coisas quem me fazem ter fé na humanidade.

Era só isto.

02 junho 2012

Aprendi hoje

Que "paella" é uma contracção de "para ella", ou seja, é um prato para ser feito por homens. Estou com as mãos na massa e um avental preto, portanto. (mas há quem me traga cerveja fresca, nada está perdido)

01 junho 2012

Não sei se é dos meus olhos...

...mas parece-me que são cada vez mais os que escrevem tudo num único parágrafo com as vírgulas dispostas como calha, os que dizem que em verdade nos dizem que as coisas são como são, e, apesar de isto ser só um blog, nada mais que um blog, começa a engrossar a fileira dos que anseiam comunicar-nos o que estão a fazer neste momento.

Estou de rastos

Não faço a mínima ideia de quem será a Sara Barradas.

Não consigo precisar o exacto momento em que me transformei num céptico,

...foi certamente antes daquele jogo em que o jogador dos Paços de Ferreira meteu golo com a mão e isso nos tirou o campeonato, talvez tenha sido quando a Rita, que era de um campeonato claramente acima do meu, me convidou para ir ver o mar e afinal era para se aconselhar comigo no que respeitava a dar o primeiro passo para convidar o Carlão, que jogava nos juvenis do Estrela da Amadora, para dar um salto ao Frágil, naquele tempo usava-se ir ao Frágil, mesmo com a Guida Gorda a fazer de generala à porta.

Na verdade nem há razões para me ter transformado num céptico, afinal o meu pai pegava-me ao colo e mandava-me ao ar e eu sabia que ele me seguraria sempre e essa certeza de que há sempre uma rede quando me lanço no vazio acompanhou-me todos os dias da minha vida, mesmo quando a todos parece que não há rede nenhuma, eu sei que sim, é uma rede invisível mas está lá, talvez seja uma rede que só eu veja, talvez de facto ela não estivesse lá no início do salto e alguém, no último milésimo de segundo, a tivesse colocado lá, só para que eu não deixasse de me lembrar que o meu pai, quando me pegava ao colo e me atirava ao ar, segurava-me sempre.

Talvez eu seja um céptico fraquinho, se calhar é isso.