31 março 2017
24 horas
Um avião com uma avaria não sei quê, um voo que se atrasa três horas, uma mudança de aeroporto de destino mas afinal não, um rent-a-car já fechado, um autocarro que não sai porque alguém deixou uma mala lá dentro, a sorte grande de um taxista, um hotel que afinal é do outro lado da rua do sítio da reunião, um jantar às duas da manhã, uma reunião das que correm bem, o palácio de Versalhes, uma Leffe numa esplanada, haverá neve em condições, jantar no meu restaurante preferido se o voo não secatrasar muito.
28 março 2017
Hoje sonhei com Lamborghinis roxos
Sobreviveram ao tempo em que não podiam ir mais que uma vez por ano ao Belcanto, sobreviveram ao dia em que ela confessou já ter lido Paulo Coelho e não tinha desgostado, sobreviveram ao tempo em que ele podia tudo, sobreviveram ao dia em que ela esquiou mais depressa do que ele, sobreviveram a entenderem-se só com um olhar, sobreviveram a ela ser de um clube qualquer, sobreviveram a ela ter que tomar conta dele de vez em quando, sobreviveram a apostar tudo de uma só vez sem ter a certeza de ganhar.
Não sobreviveram a tudo. Evidentemente.
Não sobreviveram a tudo. Evidentemente.
27 março 2017
Da injustiça nos blogs
O melhor post da semana, tirando a bonecada escusada, é este aqui, da NM, um bom post, razoavelmente bem escrito, com uma história lá dentro e a tal magia de nos deixar a pensar nas coisas, não vai ter mais que dois comentários, e isto na condição de a mim me apetece comentar e à NM apetecer responder.
Já o post que eu vou escrever a seguir, um movimento blogosférico que vai gerar ideias para ajudarmos a Palmier Encoberto a pintar em condições, vai ser um sucesso de comentários entusiasmados.
Isto dos blogs é deveras injusto.
Já o post que eu vou escrever a seguir, um movimento blogosférico que vai gerar ideias para ajudarmos a Palmier Encoberto a pintar em condições, vai ser um sucesso de comentários entusiasmados.
Isto dos blogs é deveras injusto.
25 março 2017
Depois de descer da árvore
Marquei férias, dessas de esquiar o dia inteiro, com um gin tónico na mão, sentado numa esplanada e com óculos escuros. Arriscar é o meu nome do meio.
Entretanto está a nevar lá para o sítio das tais férias. Muito. Sou um tipo com sorte.
Aproveitei a minha vaga de generosidade para comigo próprio e fiz reserva naquele hotel ao pé das pistas, aquele que, quando eu passava por ele pensava sempre que um dia havia de dormir ali.
O meu potente carro alemão finou-se de um momento para o outro. Correia de distribuição, uma maçada. Fiquei a saber todos os crimes da terriola onde o potente carro alemão se finou, contadas pelos guardas republicanos que ficaram à conversa comigo até que chegasse o reboque.
Os guardas republicanos perguntaram-me se o tipo do reboque com quem eu estava a falar tinha voz de ucraniano. Eu disse que sim e eles riram-se muito. Depois tentaram tranquilizar-me e disseram que talvez não fosse o mesmo e, além disso, o meu potente carro alemão estava numa recta e não era difícil puxá-lo para cima do reboque. Percebi o que me queriam dizer enquanto o tal tipo com sotaque ucraniano fazia as manobras para puxar o meu potente carro alemão para cima do reboque. Sou um tipo com sorte, creio que já tinha dito que sou um tipo com sorte.
Deram-me um carro alemão ainda mais potente que o que se finou. E com mais botões.
Tentei ligar a luz interior do carro novo e atendeu-me um senhor a perguntar se estávamos todos bem dentro do carro. Eu disse que sim, apesar de estar sozinho. O tal senhor disse que eu carreguei num botão para fazer chamadas de emergência. Eu disse que só queria ligar a luz, mas podíamos ficar ali um pedacinho à conversa porque eu ainda ia para o Porto e, parecendo que não, sempre fazíamos companhia um ao outro. O senhor riu-se e desligou.
Não consigo comprar pimientos de Padrón em condições.
Abri uma garrafa de vinho do século passado que um amigo me ofereceu e telefonei-lhe para lhe dizer que o vinho ainda estava bom. O meu amigo ficou emocionado porque me ofereceu a garrafa há mais de vinte anos e não nos vemos desde essa altura. As pessoas acham que eu faço coisas estranhas.
Fui a Madrid jantar no Museu dos Caminhos de Ferro, ali para os lados de Atocha e fiquei com vontade de voltar a fazer uma grande viagem de comboio.
Marquei voos de regresso mais tarde do que o costume só para ir ao Museu Sorolla e a Versalhes em dias de trabalho.
A minha cadela arrancou metade dos pés de alfazema. Foi a primeira vez que nos zangámos a sério. A terceira, vá, tinha-me esquecido daquela situação da rede de rega e daquela outra da garrafa de Adega Velha.
Tenho que ir ver isto do fémur.
Entretanto está a nevar lá para o sítio das tais férias. Muito. Sou um tipo com sorte.
Aproveitei a minha vaga de generosidade para comigo próprio e fiz reserva naquele hotel ao pé das pistas, aquele que, quando eu passava por ele pensava sempre que um dia havia de dormir ali.
O meu potente carro alemão finou-se de um momento para o outro. Correia de distribuição, uma maçada. Fiquei a saber todos os crimes da terriola onde o potente carro alemão se finou, contadas pelos guardas republicanos que ficaram à conversa comigo até que chegasse o reboque.
Os guardas republicanos perguntaram-me se o tipo do reboque com quem eu estava a falar tinha voz de ucraniano. Eu disse que sim e eles riram-se muito. Depois tentaram tranquilizar-me e disseram que talvez não fosse o mesmo e, além disso, o meu potente carro alemão estava numa recta e não era difícil puxá-lo para cima do reboque. Percebi o que me queriam dizer enquanto o tal tipo com sotaque ucraniano fazia as manobras para puxar o meu potente carro alemão para cima do reboque. Sou um tipo com sorte, creio que já tinha dito que sou um tipo com sorte.
Deram-me um carro alemão ainda mais potente que o que se finou. E com mais botões.
Tentei ligar a luz interior do carro novo e atendeu-me um senhor a perguntar se estávamos todos bem dentro do carro. Eu disse que sim, apesar de estar sozinho. O tal senhor disse que eu carreguei num botão para fazer chamadas de emergência. Eu disse que só queria ligar a luz, mas podíamos ficar ali um pedacinho à conversa porque eu ainda ia para o Porto e, parecendo que não, sempre fazíamos companhia um ao outro. O senhor riu-se e desligou.
Não consigo comprar pimientos de Padrón em condições.
Abri uma garrafa de vinho do século passado que um amigo me ofereceu e telefonei-lhe para lhe dizer que o vinho ainda estava bom. O meu amigo ficou emocionado porque me ofereceu a garrafa há mais de vinte anos e não nos vemos desde essa altura. As pessoas acham que eu faço coisas estranhas.
Fui a Madrid jantar no Museu dos Caminhos de Ferro, ali para os lados de Atocha e fiquei com vontade de voltar a fazer uma grande viagem de comboio.
Marquei voos de regresso mais tarde do que o costume só para ir ao Museu Sorolla e a Versalhes em dias de trabalho.
A minha cadela arrancou metade dos pés de alfazema. Foi a primeira vez que nos zangámos a sério. A terceira, vá, tinha-me esquecido daquela situação da rede de rega e daquela outra da garrafa de Adega Velha.
Tenho que ir ver isto do fémur.
18 março 2017
17 março 2017
Há semanas em que que chegam muitos mails, ...
... uns querendo saber se eu continuo a estimar J. Rentes de Carvalho, outros desejando muita saúdinha para mais umas semanas de Pipoco, outros ainda abalando dramaticamente a minha autoestima mandando dizer que as minhas sábias palavras não chegam aos seus empedernidos corações.
De todos os mails, que agradeço efusivamente, continuo a maravilhar-me que me escrevam, um houve que me deixou a pensar e que, resumindo, me perguntava qual o propósito de continuar a escrever coisas variadas.
E há um propósito, trata-se do gozo que me dá ter um blog é contar uma história sem powerpoint lá atrás, trata-se de escrever palavras que contem uma história, a melhor história possível, que as palavras se transformem em imagens na mente de quem lê, que as letras, encavalitadas umas nas outras, sem contaminação nem ruído de imagens, só palavras umas a seguir às outras de tal maneira que consigam contar uma boa história, tenham o poder de fazer sorrir as pessoas, ou enfurecê-las, que as façam perder um par de segundos a imaginar o que lhes quero contar.
É uma espécie de magia, não é?
De todos os mails, que agradeço efusivamente, continuo a maravilhar-me que me escrevam, um houve que me deixou a pensar e que, resumindo, me perguntava qual o propósito de continuar a escrever coisas variadas.
E há um propósito, trata-se do gozo que me dá ter um blog é contar uma história sem powerpoint lá atrás, trata-se de escrever palavras que contem uma história, a melhor história possível, que as palavras se transformem em imagens na mente de quem lê, que as letras, encavalitadas umas nas outras, sem contaminação nem ruído de imagens, só palavras umas a seguir às outras de tal maneira que consigam contar uma boa história, tenham o poder de fazer sorrir as pessoas, ou enfurecê-las, que as façam perder um par de segundos a imaginar o que lhes quero contar.
É uma espécie de magia, não é?
15 março 2017
14 março 2017
Post em tempo (quase) real
Está ali atrás da minha potente viatura de marca alemã um casal muito afrontado, ela, muito loura e com óculos de sol a segurar-lhe o cabelo, gesticula virada para ele, nota-se que está a gritar muito alto, a viatura deles é pequena, há alturas em que parece que ela quase lhe toca na cara, tão largo é o esbracejar, ele nem sequer olha para ela, fixa o olhar em frente, as duas mãos agarradas ao volante, a cara de jogador de póquer dele parece enfurecê-la ainda mais, o trânsito entretanto arranca, passa jazz na Antena Dois, eu primeiro penso que má coisa terá feito o homem da cara de póquer, depois ocorre-me que se calhar não fez nada e é só este meu mau hábito de achar que a culpa nunca é delas.
13 março 2017
Sete anos disto do Pipoco. E tudo vai bem.
O que sucede, Ruben Patrick, é que é um prejuízo as palavras andarem por aí desirmanadas pelos posts, têm que ser alinhadas umas com as outras de forma que consigas dizer a mesma coisa mas de uma maneira só tua, depois tens que saber que nem sempre o boneco se aguenta, há ocasiões em que tens que ser tu a ajudá-lo, as pessoas hão-de notar e isso é um problema, os bonecos querem-se rijos, depois, Ruben Patrick, há que falar do que se sabe, a coisa pode não ter ocorrido mesmo assim mas é da tua conveniência que tenha acontecido maioritariamente assim, as pessoas não são tontas, quem te lê sabe o que fizeste no Verão passado, a seguir, Ruben Patrick, não te esqueças de ser gerir o ambiente, se a coisa começar a ficar desgovernada, só porque falaste do cão grande ao teu lado, tu com uns jeans velhos e uma camisa branca, acabado de chegar de Nova Iorque e com um bom livro defronte dos teus olhos, terás que falar a seguir de como a tua mulher te percebe os silêncios, ainda não falámos de que tens que ser razoavelmente capaz de conduzir os acontecimentos, as pessoas dos blogs não podem decidir o caminho da coisa, és tu quem conduz, um dia por um caminho, outro dia por outro caminho diferente, se não te apetecer dizer para onde vais, espera que te chega a vontade, chega sempre, entretanto vai falando de velhinhas à procura de portas de embarque ou de problemáticas de mulheres, as pessoas esperam por ti, esperam sempre, e, para terminar, por mais que te digam que não, que isto são mais do que só blogs, nunca percas de vista que isto são mesmo só blogs, que a vida mesmo a sério é outra coisa.
(Obrigado a todos os que lêem isto do Pipoco, os que lêem sem gostar, os que lêem porque se divertem com a coisa, os que lêem por hábito, os que lêem só para se aborrecerem, os que lêem só porque sim, todos fazem parte desta espécie de meu divertimento.)
(Obrigado a todos os que lêem isto do Pipoco, os que lêem sem gostar, os que lêem porque se divertem com a coisa, os que lêem por hábito, os que lêem só para se aborrecerem, os que lêem só porque sim, todos fazem parte desta espécie de meu divertimento.)
12 março 2017
10 março 2017
Dias da Mulher
Celebremos então as que se envergonham com quotas por género, as que sabem escolher vinho sem se enganarem muito, as que sabem interpretar silêncios, as que sabem perder um jogo, as que sabem estacionar à primeira, as que não se deslumbram porque o parceiro sabe descascar batatas, as que sabem sair de cena sem maçarem as pessoas, as que, para além dessa, conhecem outras artes de encantar um homem, as que sabem ficar invisíveis, as que dizem uma coisa e a coisa não quer dizer outra coisa, as que descodificam quando há alturas em que não nos apetece, as que nos falam de lugares onde nunca estivemos e de livros que nunca lemos, as que nos dizem que não, as que nos fazem rir, as que nos acompanham num gin tónico no fim da tarde e é só um gin tónico ao fim da tarde, as que gostam de andar à chuva, as que ganham mais do que nós, as que nem sequer consideram a possibilidade de nós não sabermos como se trata de um filho doente.
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08 março 2017
05 março 2017
Em verdade te digo, Ruben Patrick
Afadigam-se elas com vertiginosos saltos, exuberantes decotes, ousadas transparências, recomendam-nos densos livros de poemas, ensaiam poses de mulher fatal, desenvolvem perfis de mulher misteriosa, e afinal, Ruben Patrick, nós só queremos delas aquilo que elas querem de nós: que nos façam rir.
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02 março 2017
E depois...
...havíamos de chegar a Megève num carro com dois lugares e com uma bagageira minúscula, havíamos de nos instalar no M e tomaríamos um banho quente, jantaríamos num restaurante na praça, um que fosse bem aquecido, havíamos de beber um vinho que eu escolhesse e regressaríamos cedo ao hotel, para uma noite bem dormida, havíamos de nos levantar cedo e seríamos os primeiros a abrir as pistas, antes ainda da rapaziada das pranchas, havíamos de nos cansar e parar para tomar café num desses bares no fim das pistas encarnadas, e regressaríamos no fim da tarde, a tempo de um gin tónico e de uma boa partida de snooker a pares com duas mulheres demasiado bonitas que nos perguntariam se não nos importaríamos de jogar com elas, abandonaríamos então os nossos livros, o meu seria aquele cujo nome não posso pronunciar, e diríamos que sim, que seria um gosto, elas haviam de sorrir, havíamos de dançar a seguir ao jantar, havias de me ensinar de uma vez por todas a dançar o tango, havia de ser assim em vez da reunião com o Fonseca da tesouraria, e logo às oito da manhã.
01 março 2017
Às vezes, quando vejo pessoas desistir de pessoas, lembro-me deste final de livro
"- E até quando pensa o senhor que podemos continuar neste ir e vir dum caralho? - perguntou-lhe.
Florentino Ariza tinha a resposta preparada há já cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com todas as suas noites.
- Toda a vida - disse."
Florentino Ariza tinha a resposta preparada há já cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com todas as suas noites.
- Toda a vida - disse."
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