05 fevereiro 2020

Ontem, numa área de serviço

A agente da autoridade que me interroga com severidade pergunta-me primeiro pelo nome de pai e mãe, tenho um momento de pânico, espero que a agente não se vá queixar de mim a nenhum deles, não me apetece que os meus pais fiquem em cuidados por causa de temas que envolvem agentes de autoridade, a seguir pergunta pela minha profissão, resisto a dizer o que realmente faço, a autoridade não havia de gostar que eu respondesse “contador de histórias”, apesar de ser a mais pura das verdades, preferi dizer o que está escrito nos papéis da escola, a agente da autoridade distende-se, quase sorri, partilha que é a profissão que o seu filho vai escolher, eu incentivo, digo que é uma bela profissão, omito apenas que ser contador de histórias é muito melhor.

04 fevereiro 2020

Post em tempo real

O homem com voz de Shrek, versão portuguesa, tortura-me com a sua visão pouco sustentada de carbono zero, explica-me processos que eu, que ainda me lembro dos rudimentos da termodinâmica, sem fazer muitas contas sei serem impossíveis, recorro então ao meu infalível e ancestral processo de, parecendo que não, desligar, e visualizo pistas de boa neve, intermináveis, percorridas com uma versão interminável de uma qualquer música de Herbie Hancock, de repente o homem com voz de Shrek, versão portuguesa parece-me mais suportável, sorrimos os dois enquanto apertamos as mãos, ele convencido de que temos negócio, eu agradecendo-lhe estes minutos de coisas imaginadas, ambos havemos de nos recordar disto logo à noite como a melhor coisa do nosso dia.