31 dezembro 2013

2014 será como será

Resista eu as menos de nove horas que me separam do novo ano e terei tido sucesso naquela que é, desde há anos, a minha única decisão para o novo ano, tomada entre uma baforada de Cohiba e um gole de conhaque: ser imortal.

30 dezembro 2013

2013 foi como foi

O ano em que deixei de ter um cão preto nunca poderia ser um ano bom, mesmo que tenha sido o ano em que li Jo Nesbo em Oslo e Conan Doyle em Londres, o ano em que esquiei em Andorra e subi ao cume do Galdhøpiggen mas também o ano em que me aventurei no golfe e vibrei com o jogo do novo campeão de xadrez, o ano em que vi teatro como nunca, mas não consegui terminar Ulysses de Joyce, o ano em que a minha profissão mais exigiu de mim, mas o ano em que mais cedo esgotei as minhas férias, o ano em que mais horas trabalhei, mas o ano em que menos noites dormi em hotéis, o ano das grandes decisões, mas o ano em que tive tempo para me deitar ao sol na minha relva e ficar só ali sem pensar em nada, o ano em troquei poker por meditação e gin por água lisa.

29 dezembro 2013

Schumacher

Schumacher é, talvez, a minha única excepção na admiração que tenho por tipos metódicos e de decisão rápida.

Mas acidentes de esqui é coisa que não se deseja a ninguém, é coisa errada que alguém se possa magoar a sério onde só devia existir diversão e magia.

Não tente fazer isto em sua casa, este é um exercício treinado duramente por profissionais

Por razões que não vêm agora ao caso resolvi que hoje passaria a tarde a ver a parte que me faltava dos filmes que não me apeteceu terminar este ano, uma espécie de ajuste de contas com a filmografia do ano. E assim assisti aos últimos vinte minutos de Annie Hall, a última meia hora do Mistério da Estrada de Sintra, os últimos dez minutos de Sweeney Todd e quase todo Aquele Querido mês de Agosto.

Estou derreado.

28 dezembro 2013

Os problemas das mulheres

Desconhecer que podem ter as unhas impecavelmente arranjadas e, ainda assim, estalar-lhes o verniz.

27 dezembro 2013

Microconto

Era uma mulher tão errada, que por pouco não deu tudo certo.

Ulisses, Joyce, ano terceiro

A troco de dinheiro, chegou-me à mãos a tradução do Ulisses, em português de Portugal. Pode ser que seja desta que termino o livro maldito.

(um stroke positivo para o meu ego é poder apostar que quem começou Ulisses ao mesmo tempo que eu ainda não passou da página, digamos, noventa)

26 dezembro 2013

Os livros estão muito bem,...

..., os envelopes com viagens lá dentro também não estão mal, os vinhos espantosos serão sempre bem recebidos, mas, caramba, o que era de valor era que alguém me tivesse oferecido uma Boutique Law Firm só para mim...

Debriefing do natal

Bem sei que houve harmonia na família e risos à mesa e toda a família esteve unida, conversando até altas horas da manhã sobre a temática da maravilha de estar juntos, afinal o natal é a família, bem sei que os risos das crianças ecoaram pela casa, tão felizes, afinal o natal são as crianças, bem sei que o vinho estava à temperatura certa e que era daqueles vinhos especiais, escolhido pelo tio que sabe escolher vinhos, bem sei que o bacalhau estava com a dose certa de sal e que o peru, sabiamente trinchado pelo maravilhoso homem da casa, estava com o grau de assadura perfeito, bem sei que os presentes foram exactamente os desejados, tudo coisas de utilidade, tudo criteriosamente doseado, compras inteligentes e de valor sentimental, a mais apreciada foram as bolachinhas feitas pela sobrinha mais nova, bem sei que o momento da entrada do pai natal foi inesquecível, os olhinhos brilhantes das crianças que desafiaram o soninho até tão tarde, os mais velhos a perpetuar a magia do momento para não estragar a ilusão dos mais pequenitos, tão fixados eles estavam, as bolachinhas meio comidas e o leite morninho para o pai natal meio bebido, que os pormenores não são para descurar, bem sei que foram, de mãos dadas e bem agasalhadinhos, à missa do galo, e sei muito bem que o momento de regresso a casa, reflectindo na palavra do Senhor, vos deu paz interior e felicidade absoluta.

Mas, agora a sério, que tal correu esse vosso Natal?...

24 dezembro 2013

Pipoco também deseja Boas Festas a todos quantos vão ler este post

Todos os anos, por alturas da véspera de Natal, invade-me uma bizarra sensação de baixar as defesas, chega devagarinho, tem o cheiro da massa de filhós que a minha avó amassava, distendo-me, quase não me importo se percebo que o vinho é Esteva, afinal o importante é que os que chegam de longe se juntem aos que por cá ficaram, que interessa se os talheres estão desalinhados ou me servem água no copo de vinho branco, se os Christmas Carols estão em modo de repetição, se a Tia Gertrudes insiste em me oferecer maus livros?

Todos os anos, por alturas da véspera de Natal, arregaço as mangas da camisa e cozinho para as minhas pessoas, penso nos que já cá não estão e faz-me bem pensar neles, devolvo com um telefonema de viva voz as mensagens que alguns ainda teimam enviar-me, quase todos por graça, por saberem que é a senha para eu lhes devolver a chamada, todos os anos, por esta altura, fico mais disponível para os que me arrancam bocejos nos outros dias, quase me comovo com posts de roupas, as pessoas lá terão as suas razões, não me importo se o whiskey é novo e com gelo, se o café tem açucar, se as pessoas começam a frase com "é assim".

E é por isso, por ser véspera de Natal, que quero fazer igual a toda a gente e saudar os que insistem em não me deixar a falar sozinho, aos que comentam sem esperar resposta, às pessoas tão interessantes e com tantas histórias que certamente estão por detrás de "nicks" de blogs, aos que gostam do que escrevo e aos que nem tanto, é nestes dias que baixo a guarda, desvio-me da "persona" do Pipoco, evito o Ruben Patrick e eu, mas eu mesmo, desejo a todos paz, um natal tranquilo, na companhia da vossa gente e dos que, não sendo a vossa gente, são abençoados com a vossa presença e partilham a vossa mesa.

23 dezembro 2013

Last, last Christmas

Toda a problemática, todo o drama do Last Christmas passa-nos ao lado, as pessoas comovem-se com o passamento da mãe do Bambi, com a queda de Mufasa, ninguém sabe isto mas Mufasa era o pai do Simba e, já agora fiquem sabendo que Andrew Ridgeley era o outro tipo dos Wham!, mas ali, em Last Christmas, há dois dramas maiores, o primeiro é que no meio daquela neve toda, acabadinha de cair, as pessoas preferem estar a enfeitar árvores de natal quando podiam estar a descer pistas pretas, a segunda situação, e não me perguntem como me ocorreu isto hoje, é o desconforto de estarmos no mesmo espaço vital da nossa namorada de outros tempos e agora ela é a namorada de um amigo nosso, há todo um conjunto de informação confidencial que detemos mas que não podemos usar, há todo um conjunto de forças que nos impelem a chamar o nosso amigo e partilhar com ele o nosso saber, mostrar-lhe o caminho das pedras, mas logo vem uma força contrária que nos aconselha contenção, que guardemos para nós o que sabemos, não me perguntem como eu sei destas coisas mas eu, que não sei tudo mas sei muitas coisas, não fui esquiar porque por cá não há neve mas aproveitei a situação e disse que ia só ali fazer nove buracos e já voltava.

22 dezembro 2013

Já se disse tudo sobre aquilo das advogadas. Mas não o dissemos todos..

O que ninguém repara, felizmente eu estou cá para para guiar as pessoas, é que a patroa se chama não sei quê Mattos, fosse a Maria do Rosário da recepção e tiravam-lhe logo um tê do Mattos, mas isto, em se sendo patroa, a coisa muda de figura, uma injustiça, quando a Maria do Rosário fala percebe-se logo que há ali um traço de Marlboro, quase de certeza do pacote vermelho, já a segunda que aparece, logo a seguir à patroa, parecendo que não é nestas coisas que se percebe quem é a favorita, a nossa Ana, cabelos esvoaçantes, vê-se a léguas que é uma mulher confiante ou então não andaria com o I-Pad à mostra em pleno Terreiro do Paço, isto para além de ser uma mulher no Norte, a maneira como diz "soucésso" não engana, já a terceira, também de cabelos esvoaçantes, é clarinho como água que é estagiária, se a patroa deu um I-Pad à Ana, à Natália obriga-a a andar com a agenda jurídica em papel, por um lado é uma ode à justiça, se a patroa a castigou e não lhe autorizou a despesa do I-Pad, o Criador favoreceu-a com as melhores formas, o Universo equilibra sempre as situações, a seguir somos brindados com a Liliana, a única que se percebe que vai a caminho do trabalho, talvez devesse escolher uns sapatos que lhe dessem um andar mais confiável, finalmente a Sara, a mensagem subliminar é que o realizador não gostou muito dela, aquele plano de cima para baixo não deixa dúvidas, é isso e o insistir no plano de perfil, o rapaz castiga-a outra vez, resumindo, que a prosa vai longa e a minha vida não é isto, não se entende a afronta, eu, podendo escolher, escolho sempre as advogadas mais sensuais, as enfermeiras com os olhos mais bonitos, os cafés com as empregadas com melhor ar, porque isto, já o dizia o meu Tio Meirelles de Telles, mais vale bonita e rica que feia e pobre.

Está tudo bem...

16 dezembro 2013

Pipoco, sempre no caminho certo, às vezes sem saber como nem porquê

Um estudo, creio que de Harvard, acredito sempre que os estudos são de Harvard, diz que a qualidade (e a frequência, céus, a frequência...) da vida sexual das pessoas em geral está em declínio, uma coisa decadente e tremenda. Culpa do Facebook, diz o estudo. Pois é. Agora, usai esta informação de valor e é esperar que o processo seja reversível, coisa que não me parece que sejam favas contadas. Ainda assim, desejo-vos boa sorte. E muita saúde. Vós estais aqui.

15 dezembro 2013

Dupont & Dupond

Fazendo o que eu digo

Por razões cá da minha vida, estive um destes dias num desses concursos de talentos, com miudagem a cantar e a mostrar a raça de que são feitos.
O júri, de cada vez que um dos miúdos cantava em português, não poupava nos elogios nem nos louvores, que era um gosto ver que esta geração ainda gostava de defender o que é nosso, imitando o que vê fazer aos jurados dos programas de televisão. O público aplaudia, concordante.
No final, enquanto se esperava pelo resultado dos vencedores, dois dos jurados, gente das canções, brindaram-nos com a sua arte. Um cantou o "I Will Allways Love You", e outro o "Superstition", essas lendárias músicas escritas por Ary dos Santos que tão bem ficaram nas vozes de Amália e Carlos do Carmo.

Então e o Natal, que nunca mais chega?

14 dezembro 2013

Espírito natalício

Eu, Pipoco Mais Salgado, digno representante do segmento A+, informo que sou acometido de um irresistível e incontornável impulso de não-compra quando visualizo o produto sugerido nos blogues, informando-me que a dona do blog, no meu imaginário alguém que acaba de emergir das profundezas do segmento C, recomenda aqueles produtos como prenda de Natal.

13 dezembro 2013

Aos meus amores

Gosto de ir a casa de quem emprestei livros e vê-los ali, aos meus livros, na estante principal, sem separações, encostadinhos aos livros que são das pessoas a quem emprestei livros, ou então não, estarão encostadinhos aos livros de outras pessoas que emprestaram livros a quem eu emprestei livros. Gosto de ficar ali a admirá-los, a pensar nos momentos que passámos juntos, a este li-o de uma assentada numa viagem de avião, este deu-me luta, teve que ser lido em suaves prestações e eles ali, os livros, aposto que felizes por me reverem, trocamos um último olhar, acabo de beber o meu vinho e lá volto para junto das pessoas, em paz, feliz por ver que os meus livros estão na estante principal.

Os meus dois minutos de fama com J. Rentes de Carvalho



Cancelei a videoconferência com Nova Iorque, antecipei o voo de Madrid, recordei a Maria Gertrudes da minha indisponibilidade para toda a tarde, vesti o meu melhor fato, engraxei os sapatos com mais afinco que nos outros dias, ajeitei o nó da gravata, dei uma última olhadela na minha imagem reflectida no capot preto do carro alemão que mandei lavar, com polimento extra, o normal nestas situações, fiz-me à estrada, imaginei que era a velha estrada de Sintra que os dos livros de Eça percorriam para ir ter com espanholas e cear no Lawrence e foi-me menos penoso passar Massamá e a Damaia, o Cacém e Ranholas. Escolhi uma estação de rádio dessas de música calma e cheguei com tempo à biblioteca municipal, o normal nestas situações.

As senhoras da recepção sorriram-me, é o meu lendário poder sobre senhoras de idade, e lá estava J. Rentes de Carvalho a falar com homens de cara séria e mulheres de olhar embevecido, os grandes escritores têm este efeito.

A cerimónia estava atrasada, o normal nestas situações, respirei fundo, lembrei-me das técnicas de ioga para controlar a pulsação e abeirei-me de J. Rentes de Carvalho, sorriso nervoso, pé ante pé, acercando-me em círculos. "Professor, posso pedir-lhe para me autografar um livro?", disse eu, quase num sussurro, falta de experiência de pedir coisas, J. Rentes de Carvalho, solícito, vendo-me a tropeçar nos meus próprios pés, as mãos trementes, apiedou-se e disse que sim, quis saber o meu nome, o normal nestas situações. "Pipoco Mais Salgado", murmurei, esperando que as senhoras da primeira fila não ouvissem, "Como?" quis saber J. Rentes da Carvalho, "Pipoco Mais Salgado", repeti quase junto à orelha de Rentes de Carvalho, sentindo-me um menino que roubou um doce e foi apanhado, olhei por cima de mim abaixo, fato completo, sobretudo azul, realizando o ridículo de dizer a J. Rentes de Carvalho que me chamava "Pipoco Mais Salgado", lamentando não ter um blog chamado "Benevides de Burnay", felizmente Rentes de Carvalho lembrava-se vagamente de mim, apesar do seu "Não pode ser, não pode ser...", é sempre assim, as pessoas têm expectativas demasiado altas em relação a mim, está sempre a acontecer-me, felizmente chegaram pessoas importantes e J. Rentes de Carvalho, posso apostar que com pena, teve que ocupar o seu lugar na mesa, o normal nestas situações.

E as pessoas falaram e disseram coisas importantes e leram excertos do livro que ali os trazia, o normal nestas situações, e J. Rentes de Carvalho também falou e disse coisas acertadas e de valor, e lá estava eu no final, de novo com o livro estendido e à conversa com o grande J. Rentes de Carvalho e as pessoas a olharem para nós e as senhoras a perguntarem-se quem seria aquele rapaz tão composto, e os fotógrafos começaram a disparar os "flashes", o normal nestas situações, e eu a pensar se seria como nas revistas cor-de-rosa onde apareceria Rentes de Carvalho e eu, e o título do retrato havia de ser "J. Rentes de Carvalho com um amigo" e eu havia de ficar contente porque ser confundido com um amigo de J. Rentes de Carvalho era coisa para ser, de longe, o melhor do meu dia.

12 dezembro 2013

Este ano inventei...

...um calendário do advento que, em vez de chocolates, tem vinho alentejano e queijo de Azeitão.

11 dezembro 2013

Acabei de constatar

Nunca dependi da bondade de estranhos.

10 dezembro 2013

Que estás a fazer neste momento, Pipoco?

No tempo em que não havia Google ...

... eu era o tipo que todos queriam ter na equipa na hora de jogar esses jogos com perguntas em cartões e era eu quem decidia se o rio Jordão desaguava no Mar Morto ou no Mediterrâneo, era a mim que recorriam quando era preciso saber qual era capital do Sri Lanka ou quem tinha escrito "Vermelho e Negro" e quando eu não era conclusivo, não era raro debater-se noite fora se seria Colombo ou Rangun, Stendhal ou Hemingway, inflamava-se a conversa e havia calor na discussão e, não poucas vezes, muitos dias depois, alguém a propósito de nada diria num jantar "Densmore, o tipo chamava-se Densmore" e todos nos recordaríamos que na semana passada ninguém se lembrava do nome do baterista dos "The Doors" e sim, o tipo era o Densmore, John Densmore.

O Google responde em segundos, com um telefone na mão todos sabem tudo e não precisam de saber nada. O Google é um aborrecimento.

Palavra do ano de Pipoco

A minha palavra do ano é "não". Sempre soube dizer "não", mas era um "não" gentil, parcimonioso, trabalhado para não deixar mossa, um "não" que deixava ler nas entrelinhas que podia ser um "talvez", caso a conjuntura mudasse. Este ano o meu "não" ficou mais assertivo, menos manipulador. Bem sei que estou longe do "não" seco, do "não" desagradável, mas o caminho faz-se caminhando e a verdade é que o meu "não" deste ano já é um "não" capaz de desconfortar e desconcertar, é um "não" tremendamente libertador, um "não" que poupa energias, um "não" que deixa pouca margem de progressão, um "não" com menos fé nas pessoas, tremendamente eficaz. O meu "não" deste ano trouxe mais tempo para ler, mais tempo para o que realmente me importa, trouxe-me menos fretes e a absoluta certeza que um "não" é a melhor forma de tornarmos melhores pessoas os que estão à nossa volta.

09 dezembro 2013

Em busca do post sem comentários

Este é um post sobre nada. Como todos os outro, portanto.

Uma menina de três anos perguntou-me isto ontem e eu não soube responder

Será que o escuro também tem medo de nós?

08 dezembro 2013

Somos então chegados às semanas...

...em que temos que ter contacto visual as árvores de Natal de plástico que todas elas prantarão nos blogs, em que todas contarão como se aborreceram no jantar de Natal lá do serviço e contarão, incrédulas, como o chefe as tentou seduzir, tão maus eram os vinhos, e como o rapaz das fotocópias afinal nem é assim tão mal apessoado, em que elas colocarão retratos de prendas que nunca terão porque nem sequer os desejam realmente, mas ficam tão bem no blog e sempre é mais um post, em que se queixarão da ceia de Natal em que terão que sorrir para a cunhada e contarão como a sogra, sibilina, fez delas carpaccio só porque não chegaram a tempo de ajudar a fritar as fatias douradas, em que elas se queixarão da quantidade de prendas que as crianças receberam, em que discutirão se o "Last Christmas" ganhará aos pontos ao "Fairytale of New York" como a definitiva canção de Natal, em que elas escreverão posts inflamados acerca da interessante temática de como se está a perder o espírito Natalício.

Estas são as melhores semanas do ano.

E foi assim que aconteceu

Um homem escolhe ir ver "A Noite", aquilo de Saramago que está no Teatro da Trindade, assiste a um bom desempenho do João Lagarto e do Vitor Norte, mais do João Lagarto, bem entendid,o e depois, quando um homem já abotoa o sobretudo para se fazer ao frio da noite, estendem-lhe uma garrafa de um tinto Ermelinda Freitas, que é oferta, que basta entregar o bilhete, e um homem vê-se assim no Bairro Alto, garrafa de tinto na mão, sobretudo abotoado e, tivesse com que o abrir, era bem capaz de beber directamente da garrafa.

07 dezembro 2013

Espírito natalício

Quando tempo é necessário para voltarmos a aproximar-nos daqueles que nos fizeram felizes?

06 dezembro 2013

Partiu um homem bom

Quando parte um homem bom, há que guardar recato. Há que dirigir o nosso pensamento para o exemplo inspirador e, em silêncio respeitoso, aspirar a fazer quase igual ao que fez o hmem bom que acabou de partir.

Ilustrar a nossa proximidade ao homem bom, tanta que lhe apertámos um dia a mão (que interessa se o homem bom era feito de peças de plástico?) ou propagar as bizarras confusões que os outros (sempre os outros) fizeram com o retrato do homem bom é coisa que, não fosse este recato que nos merece a partida de um homem bom, havia de nos fazer pensar que o ridículo é uma coisa sem limites.

05 dezembro 2013

Baby, it's cold outside

Miguel Esteves Cardoso, essa espécie de Rui Patrício do espectro audiovisual, ora fazendo coisas gigantes e segurando a fama que o precede, ora fornecendo ao adversário motivo de chacota durante semanas a fio, é o motivo que me faz sintonizar a Antena Um na janela temporal que se inicia imediatamente a seguir ao noticiário de desporto das oito e meia da manhã, sendo que nestes dias felizes em que o noticiário de desporto inclui, aleatoriamente, as palavras "leões", "topo" e "classificação", também ele, o noticiário, é escutado com especial devoção por este que vos dirige estas palavras sábias, e termina, a janela temporal, com os últimos acordes da versão que Esteves Cardoso corta às postas nessa semana, ou seja, três minutos depois do noticiário de desporto ter dado o sinal indicativo de final de rubrica, nunca depois das oito e trinta e sete da manhã, hora a que estou num ponto aleatório da A1, que tanto pode ser a parte da A1 que passa defronte de Alvalade como a que passa defronte do Dragão. Esteves Cardoso consegue a simbiose perfeita entre aquela voz que o criador lhe forneceu, a cultura musical e a rádio, esse meio em que Esteves Cardoso resulta tão melhor que em televisão e substancialmente melhor que na coluna do Público onde nos fornece informação rudimentar e parece que está sempre a escrever para alimentar blogs cor de rosa. Fala-me de grandes músicas, propõe-me versões alternativas durante toda a semana, é gigante no equilíbrio de falar penas o suficiente e fornecer-me apenas informação relevante, não contaminando o que os meus ouvidos vão escutar com informação desnecessária, assim fossem os locutores da Sport TV e que mundo melhor nós teríamos. Esta semana é "Baby, it's cold outside" e, estivesse eu no vosso lugar, sintonizava a antena um nesses preciosos momentos e depois, apaziguado com o mundo, voltaria para a comercial ou para a éme oitenta, essas rádios que o vasto auditório escuta, que as pessoas lêem o pipoco, parece que afinal têm redenção, mas depois as coisas acabam sempre por ser como são.

03 dezembro 2013

Agora que todas as meninas disto dos blogs já colocaram os retratos do dia internacional pela eliminação da violência contra as mulheres...

... e colocaram-nos no dia certinho, voltarão no dia internacional da mulher, com mais fotos e muita revolta por ainda ser preciso um dia assim, agora que tenho a vossa atenção indisputada, este é o tempo em que é absolutamente necessário que saibam que ele não vai mudar, ainda que ajoelhe à vossa frente, ainda que implore mais uma oportunidade, ele não vai mudar. Este é o tempo em que é absolutamente necessário que saibam que há vida para além dele, aliás, só há vida para além dele. Este é o tempo em que é absolutamente necessário que saibam que têm que contar, que não é uma vergonha que se saiba, que a primeira coisa a fazer é contar. Este é o tempo em que é absolutamente necessário que saibam que que é errado, sejam quais forem as circunstâncias, um homem bater numa mulher. Este é o tempo em que é absolutamente necessário que saibam que ele não vos tem amor, que é cobarde, que manipula os vossos sentimentos e corrói a vossa autoestima. Que não se desculpem com o que é melhor para os filhos, que não o desculpem porque o dia dele não correu bem, que não se comovam quando ele diz que perdeu a cabeça e jura que não voltará a acontecer. Este é o tempo em que é absolutamente necessário que saibam que o primeiro passo, custe o que custar, tem que ser o vosso.

02 dezembro 2013

Post em tempo real

E logo pela manhã, rumo a sul, o aviso no pórtico da autoestrada indicava "Cuidado. Animal na via". Era verdade. Três quilómetros mais à frente lá estava o indivíduo a sessenta à hora, na faixa do meio.

01 dezembro 2013

E já estamos em Dezembro...

Dia seguinte

O Fagundes Meyrelles casou outra vez. Diz que se apaixonou e é bem capaz de ser verdade e desta vez até eu, que sou eu e não me apaixono por ai além, percebo que o Fagundes Meyrelles se tenha apaixonado por aquela morena vistosa que, no exacto momento em que o Fagundes Meyrelles me anunciou com um "Este é que é o Pipoco Mais Salgado, mais que um irmão", recuou dois passos, olhou-me nos olhos, disse que já me conhecia antes de me conhecer e pediu-me para eu tomar conta do Fagundes Meyrelles. Eu estranhei mas disse que sim, que tomava.

Recordo cada uma das ocasiões em que o Fagundes Meyrelles se apaixonou e o quanto isso me custou em gin bebido a desoras. O Fagundes Meyrelles convencido de que está apaixonado é dos mais memoráveis espectáculos a que posso assistir, é nestes momentos aziagos que aplico toda a retórica que fui aprendendo, que o levo a jantar e lhe tento explicar que a paixão é uma coisa diferente daquilo que ele está a viver. Debalde, com aquele sorriso do tamanho do mundo e aquela generosidade que me deixa sem argumentário, o Fagundes Meyrelles lá se vai desgraçando de paixão em paixão e há alturas em que se casa.

Hoje, naquele abraço que os amigos dão no momento em que cada um fica entregue à sua vida, o Fagundes Meyrelles segredou-me: "Pipoco, já reparaste que, de cada vez em que casei, o Porto perdeu?".

E eu fiquei a pensar nas palavras sábias do Fagundes Meyrelles e em que dia é que calhava bem o próximo casamento.