O homem que vendia bolas de berlim à beira da autoestrada do norte, logo a seguir à saída de Aveiras sentido sul-norte, conhecia de vista o Fábio Coentrão, do tempo em que lhe orientava convites para a superior norte do estádio da luz e tinha um Ford Capri a gasolina que gastava quinze litros aos cem que só conseguia aguentar com um negócio paralelo de marcar golos de trivela no Sacavenense, mas só se fossem jogadas pelo corredor direito porque o homem que vendia bolas de berlim à beira da autoestrada do norte era esquerdino, quer dizer, não era bem, na verdade o pé direito tinha um estilhaço de granada, coisas dos tempos de boina negra na Guiné e o estilhaço, embora fosse bom para aviar com fratura exposta o defesa esquerdo adversário, prejudicava a trajetória em forma de curva de gauss, mas observada por uma rotação longitudinal de noventa graus, das trivelas, e foi por isso, e também por não lhe ter sido oferecida a oportunidade de sair com caução, que o homem foi preso, ele e um fornecedor de bolas de bolas de berlim de alfarroba, era o tempo em que estavam na moda porque se dizia que não engordavam tanto, isto se fossem sem creme, como é bom de ver, e tinha a polícia os dois facínoras em celas separadas, mas como não tinham artilhado a coisa de forma a apanhá-los em flagrante delito só os podiam condenar a seis meses de cadeia por um delito menor, mas não mais do isso, não os conseguiam condenar à pena máxima de cinco anos de cadeia, que é o castigo justo para quem vende bolas de berlim à beira da autoestrada do norte, a não ser que um deles confessasse o crime e é aqui que a polícia se lembra da solução, tecnicamente chama-se o dilema do prisioneiro e, consiste em apresentar o seguinte acordo a cada prisioneiro: em troca de uma acusação do parceiro, é-lhe concedida a liberdade e o parceiro leva com cinco anos de prisão mas se nenhum incriminar o outro a coisa fica em 6 meses para cada um, se ambos se incriminarem o resultado é uma pena de 2 anos para cada, ora a coisa acaba como tem que acabar, é assim a natureza humana, cada um escolherá incriminar o parceiro, as pessoas olham só para o seu problema e é por isso que cada um vai apanhar dois anos de prisão, sem cuidar de pensar que afinal a melhor opção era não incriminar o parceiro, fosse assim e estavam livres ao fim de seis meses, passa num instante, mas realmente o que vos queria dizer é que começo mesmo a acreditar que somos campeões este ano e a verdade é que nunca se escreveu neste blog que somos campeões este ano, isto se excluirmos estas duas vezes, a desta linha e a da linha de cima.
28 abril 2021
16 abril 2021
Pipoco opina sobre "The One"
Devidamente aconchegado por generosas doses de Ardbeg, um malte que tem um final de madeira fumada que não vos passa pela cabeça, lá me dediquei àquilo do "The One", uma séria simpática que nos fala da beleza da alma compatível, é entregar um fio de cabelo e recebemos na volta do correio o contacto da nossa alma gémea, depois é fazer vir a pessoa lá do Burkina Faso ou das Ilhas Caimão, que isto das almas gémeas nem sempre são as girls next door, e não há que duvidar, em estando frente a frente libertam-se as feromonas ou a serotonina ou lá o que é, e a coisa dá-se, percebe-se que é para a vida, que com aquela mulher ao lado, bem sei, sou um dinossauro, resumo a coisa a um mundo heterosexual, mas com aquela mulher, dizia eu, não há quem tenha vontade de ir ao Brasil em negócios nem dar um salto ao Bairro Alto só para analisar o mercado, e vice-versa, ela tem-nos cativados para sempre, principezinhos e raposas, é aproveitar, poupa-se uma fortuna em restaurantes de boa fama, já não precisamos de fazer de conta que somos uns intelectuais incompreendidos para as conquistar, não teremos que escolher ser maus ou bons rapazes, elas não terão que espalhar generosas doses de essência de pêssego pela pele nem pintar as raízes do cabelo, os preliminares serão uma opção que ninguém usará, parece tão boa ideia, tão perfeito, tão vibrante e, afinal, é tão sem jeito nenhum.
15 abril 2021
Dos emojis e outras inutilidades
Prova de que ainda se aprendem coisas de valor nos blogs é eu ter tomado conhecimento pela São João que o lendário emoji “Chorar a rir”, essa bizarria
que apenas as pessoas vagamente minhas conhecidas me enviam quando lhes digo o
que me vai na alma, deixou de ser emoji mais usado. Enquanto damos um tempo a
nós próprios para recuperarmos totalmente desta notícia aziaga, cuidava eu que
o novo rei dos emojis fosse o emoji “coração”, afinal o amor é um sentimento
difícil de descrever por palavras, um coração encarnado dá sempre jeito para
estas coisas, é de espectro largo, tanto serve para declarar um amor para a
vida como para se dizer ao Ruben Patrick que foi um grande querido por ter
aparecido para nos desentupir o lava-louças, afinal não, o emoji “Coração” aparece
num miserável quinto lugar, é uma espécie de Vitória de Guimarães dos emojis, o
novo emoji-mor é agora o “Chorar Ruidosamente”, o que nos faz assumir que há
uma necessidade de majorar o riso, “Chorar
a rir” já não é suficientemente exuberante para expressar a piada que se acha
quando se recebe uma mensagem a dizer “O Ruben Patrick já me desentupiu a canalização…”,
isto é coisa para um “Chorar ruidosamente”, para uma coisa desta categoria temos
que ter disponível um riso superlativo, onde as lágrimas escorram em torrente
pela cara abaixo, mas afinal que sei eu? que nunca precisei de usar emojis para
dizer as coisas.
12 abril 2021
Pipoco visualizou o "The One" nos tempos mortos do fim de semana e já cá vem contar como foi
Isso que te dizem ser a química, Ruben Patrick, saberás que ela é a tal no preciso momento em que, quando dizes o nome dela, a palavra significa coisas diferentes do que significava antes, as letras são as mesmas mas o significado é outro, já não é só um nome de mulher, agora é uma palavra nova, com descontrolo lá dentro.
01 abril 2021
Páscoas
Preocupei-me com os futuros do carbono e despachei num instante a série da Netflix onde entra a filha do Bono Vox, tivesse eu menos oitenta e cinco anos e seria o tipo de miúda que me agradaria, isto se desconsiderarmos o corte de cabelo das cenas de flashback e aquela mania de trocar de alma, comprei croissants do Careca e Pastéis de Belém sem ter que esperar na fila, plantei tomate e hortelã, perdi ao poker porque me desfoquei mais do que uma vez, de manhã dei conselhos matrimoniais a um grande amigo e ao fim da tarde dei os mesmos conselhos, mas ao contrário, à mulher dele, e afinal, realmente, o que eu queria estar a fazer é o que sempre fiz por esta época, era ter um par de esquis enfiado nos pés e deslizar montanha abaixo.