31 agosto 2012
Ainda ontem estava com um rio pelos joelhos
Foto: Pipoco Mais Salgado, Largo da Oliveira, Guimarães
As boas ideias são quase sempre simples, nesta ideia de um lado estão actores que dizem um texto belíssimo de José Luis Peixoto, do outro lado está quem passa. Eu ganhei o dia, estava ali só para tomar café e quem me disse Peixoto disse-mo nos olhos e espantou-me, logo a mim que quase nada me espanta.
29 agosto 2012
As coisas são como são
Fiz-te entender os vinhos, aprendeste que não são todos iguais e há alturas certas para apreciar cada um deles, ensinei-te os livros, que havia mais para além dos chilenos e peruanos e mexicanos, que nem sempre os americanos são melhores que os russos, expliquei-te a música e aprendeste a gostar de Rossini e Verdi e Wagner, só não consegui que apreciasses as montanhas, nunca te preocupaste em compreender isto das montanhas e afinal era a única coisa que importava, gostar das montanhas importava, aliás, era a única coisa que no fim de contas realmente importava.
28 agosto 2012
Duas ou três coisinhas que quero dizer daqui onde me encontro
Uma das coisas boas disto de estar longe de casa, para além da barba de cinco dias e de tirar as botas no fim da descida, é não fazer ideia do que se estará a passar lá no sítio de onde venho, não sei se a Casa dos Segredos já começou, não faço ideia se a Troika sempre vai dar mais tempo ou não, não sei se o dólar estará a derreter o Euro ou se o Brent desceu qualquer coisinha que faça descer o preço do gasóleo, não faço ideia se o Rui Patrício sempre foi vendido, não sei se o António Borges deslizou outra vez na maionese.
Por agora, enquanto o banho quente me apazigua os músculos e enquanto me apronto para jantar, imagino que sim, que a crise acabou, que, não só o Rui Patrício ficou, como até se deu o caso de despacharmos o Izmailov, que, em chegando a Vilar Formoso compro a Bola e verei com satisfação que estamos em primeiro com dez pontos de avanço sobre o Braga, quinze sobre o Benfica e dezassete sobre o Porto.
Por agora, enquanto o banho quente me apazigua os músculos e enquanto me apronto para jantar, imagino que sim, que a crise acabou, que, não só o Rui Patrício ficou, como até se deu o caso de despacharmos o Izmailov, que, em chegando a Vilar Formoso compro a Bola e verei com satisfação que estamos em primeiro com dez pontos de avanço sobre o Braga, quinze sobre o Benfica e dezassete sobre o Porto.
24 agosto 2012
23 agosto 2012
Que vês da tua janela Pipoco?
Foto: Pipoco Mais Salgado, Berna
Pipoco entra pela primeira vez (segunda, vá...) num Starbucks (no de Berna, por necessidade absoluta)
22 agosto 2012
Duas ou três coisas que quero dizer daqui onde me encontro
O primeiro capítulo de "O Cemitério de Pianos" de José Luis Peixoto é o mais bonito primeiro capítulo que li em muitos anos de livros.
21 agosto 2012
18 agosto 2012
17 agosto 2012
Pipoco pede ajuda
Isto de ser homem não é fácil, habituamo-nos ao que gostamos e com a idade ficamos com mais rotinas e, tendo rotinas, acabamos por perder o que de bom tem desviarmo-nos do caminho de sempre. Com isto dos blogs é a mesma coisa, um homem afeiçoa-se ali aos da direita e raramente segue caminhos alternativos e agora que alguns dos dali da direita estão a ficar barrigudos e preguiçosos, um homem quer saber quem é que realmente anda a escrever em condições e dá muito trabalho, vai daí, um homem tem que perguntar e pedir ajuda, logo duas coisas que um homem não aprecia, mas as coisas são como são e ele há alturas em que temos que nos focar num bem maior, assim sendo, quais são os bons blogs que eu devia estar a ler e que não estou porque nem sei que eles existem?
16 agosto 2012
Em verdade te digo, Ruben Patrick
Considera-a perdida para sempre quando ela já não se importar com os teus defeitos.
15 agosto 2012
Se a casa estivesse a arder, o que salvaria? (debriefing)
Salvas as pessoas e os animais, esse é o pressuposto inicial, tenho a certeza que não perderia muito tempo e salvaria apenas a carteira (só de pensar o tempo que demoraria a substiuir os documentos...), o passaporte e, naturalmente, a apólice de seguro. Faltou a chave do carro.
Gosto de pensar que salvaria Ulysses, afinal é uma guerra que tenho em curso, mas talvez optasse por deixar arder, sempre teria uma boa desculpa para desistir, e salvaria Saramago, curiosamente escolhi o livro de Saramago que mais gosto e deixaria arder aquele que tem uma dedicatória do próprio Saramago. Gosto de gravatas, a que salvaria nem sequer é a minha preferida, mas alguém de que gosto muito trouxe-me esta gravata da Índia, pura seda, diz ele que a comprou ao artesão. Pink Floyd está ali porque "The Wall" marcou-me, tocou em repeat dezenas de vezes, durante muito tempo e "Carmen" é apenas a minha ópera favorita, já assisti a dezenas de versões, curiosamente Don Jose acaba sempre por matar Carmen no final. Ena Pá 2000 foi a banda sonora de muitos dias bons e remete-me para um dos melhores tempos da minha vida, em que os Irmãos Catita tocavam em Santos, eu não tinha que decidir nada na vida e era genuinamente feliz. Não consigo sair de casa sem óculos de sol e gosto muito destes Persol, coisas de família. O relógio também não é aquele que gosto mais, mas quem me ofereceu este (nunca comprei relógios nem telemóveis nem carros em toda a minha vida) não me oferecerá outro. Quem "faz" montanha sabe que umas boas botas são difíceis de encontrar e que é um suplício cada vez que se troca de botas. Tenhos estas há cinco anos e já subiram os Alpes franceses, suiços e italianos, os Pirinéus (dos dois lados), os Picos da Europa, com chuva, com neve e com muito calor. Finalmente o cachecol, o meu pai ofereceu-mo na penultima vez que o Sporting foi campeão, uso-o duas vezes por mês, pelo menos.
Gosto de pensar que salvaria Ulysses, afinal é uma guerra que tenho em curso, mas talvez optasse por deixar arder, sempre teria uma boa desculpa para desistir, e salvaria Saramago, curiosamente escolhi o livro de Saramago que mais gosto e deixaria arder aquele que tem uma dedicatória do próprio Saramago. Gosto de gravatas, a que salvaria nem sequer é a minha preferida, mas alguém de que gosto muito trouxe-me esta gravata da Índia, pura seda, diz ele que a comprou ao artesão. Pink Floyd está ali porque "The Wall" marcou-me, tocou em repeat dezenas de vezes, durante muito tempo e "Carmen" é apenas a minha ópera favorita, já assisti a dezenas de versões, curiosamente Don Jose acaba sempre por matar Carmen no final. Ena Pá 2000 foi a banda sonora de muitos dias bons e remete-me para um dos melhores tempos da minha vida, em que os Irmãos Catita tocavam em Santos, eu não tinha que decidir nada na vida e era genuinamente feliz. Não consigo sair de casa sem óculos de sol e gosto muito destes Persol, coisas de família. O relógio também não é aquele que gosto mais, mas quem me ofereceu este (nunca comprei relógios nem telemóveis nem carros em toda a minha vida) não me oferecerá outro. Quem "faz" montanha sabe que umas boas botas são difíceis de encontrar e que é um suplício cada vez que se troca de botas. Tenhos estas há cinco anos e já subiram os Alpes franceses, suiços e italianos, os Pirinéus (dos dois lados), os Picos da Europa, com chuva, com neve e com muito calor. Finalmente o cachecol, o meu pai ofereceu-mo na penultima vez que o Sporting foi campeão, uso-o duas vezes por mês, pelo menos.
14 agosto 2012
The burning house
Há uma espécie de blog, o The Burning House, uma ideia genial de tão simples que é. Imagine-se a nossa casa a arder, temos poucos minutos para salvar o que consideramos essencial, aquilo de que nos custaria separar. Considerando que as pessoas e animais já estariam a salvo, do lado de fora da casa, seríamos mais pragmáticos e salvaríamos o dinheiro, os documentos e o computador portátil ou cederíamos aos sentimentos e optaríamos por salvar o urso de peluche que tem o nosso cheiro, o livro favorito ou o disco de vinil que herdámos do nosso pai?
(vou ali pensar nisto, estou capaz de prantar aqui um retrato com aquilo que me faria falta, esforçando-me para fugir ao cliché portátil-iPod-máquina fotográfica de rolo-livro do Eça-relógio que me ofereceram os meus amigos-botas de montanha-pés de gato de escalada-vinil dos Pink Floyd-passaporte)
(e não, não publicarei no Burning House, que eles pedem o nome e a idade e mais não sei quanta informação que não acrescenta nada à ideia)
(vou ali pensar nisto, estou capaz de prantar aqui um retrato com aquilo que me faria falta, esforçando-me para fugir ao cliché portátil-iPod-máquina fotográfica de rolo-livro do Eça-relógio que me ofereceram os meus amigos-botas de montanha-pés de gato de escalada-vinil dos Pink Floyd-passaporte)
(e não, não publicarei no Burning House, que eles pedem o nome e a idade e mais não sei quanta informação que não acrescenta nada à ideia)
Meus caros rapazes das canoas...
...antes de mais, agradecer-vos pela medalha, é bem bonita e reparei que vinha pendurada nos vossos pescoços e que a mostraram à rapaziada que estava no aeroporto a bater palmas e a dar-vos aquele apoio generoso que só se dá aos vencedores, é perguntar ao tipo do lançamento do peso se teve um apoio igual ao vosso e ele diz logo que não, nem pensar.
O que vos queria aconselhar é que não se excitem muito com a recepção de ontem, aquilo foi um fogacho e a partir de agora as vossas chegadas a aeroportos terão as mesmas pessoas à vossa espera que eu tenho, e toda a gente sabe que a mim ninguém me espera em aeroportos. Nestes quatro anos é meter a canoa no rio Ave e remar como se não houvesse amanhã, mesmo se estiver a chover ou o tempo estiver muito frio, talvez consigam mais umas medalhas nuns campeonatos europeus, mas não esperem mais que uma nota de rodapé na página quarenta e três do Record, não se queixem, as mulheres nuas estão na página quarenta e quatro e é possível que a rapaziada veja a notícia do vosso feito, pior seria a página vinte e dois que é onde estão os resultados dos distritais de ténis de mesa, de resto a primeira página estará reservada para uma provável aquisição de defesa esquerdo para o Benfica, um tipo que virá do Zaragoza a custo zero, o Nápoles tambem está interessado no tipo, daqui a quatro anos queremos que estejam finos no Rio de Janeiro, já não nos lembraremos de vós, afinal passaram quatro anos, mas havemos de querer que tragam a medalha e, se a trouxerem, havemos de lá estar no aeroporto, que nós gostamos de apoiar quem merece.
O que vos queria aconselhar é que não se excitem muito com a recepção de ontem, aquilo foi um fogacho e a partir de agora as vossas chegadas a aeroportos terão as mesmas pessoas à vossa espera que eu tenho, e toda a gente sabe que a mim ninguém me espera em aeroportos. Nestes quatro anos é meter a canoa no rio Ave e remar como se não houvesse amanhã, mesmo se estiver a chover ou o tempo estiver muito frio, talvez consigam mais umas medalhas nuns campeonatos europeus, mas não esperem mais que uma nota de rodapé na página quarenta e três do Record, não se queixem, as mulheres nuas estão na página quarenta e quatro e é possível que a rapaziada veja a notícia do vosso feito, pior seria a página vinte e dois que é onde estão os resultados dos distritais de ténis de mesa, de resto a primeira página estará reservada para uma provável aquisição de defesa esquerdo para o Benfica, um tipo que virá do Zaragoza a custo zero, o Nápoles tambem está interessado no tipo, daqui a quatro anos queremos que estejam finos no Rio de Janeiro, já não nos lembraremos de vós, afinal passaram quatro anos, mas havemos de querer que tragam a medalha e, se a trouxerem, havemos de lá estar no aeroporto, que nós gostamos de apoiar quem merece.
Athayde de Meyrelles e Rothschild
Fui jantar ontem com o Athayde de Meyrelles e Rothschild, um velho amigo, que foi pai de três belas meninas. O Athayde de Meyrelles e Rothschild contava-me, ainda perturbado, que tinha ficado congelado em frente aos berços com a terrível angústia de ter que escolher uma das filhas para abraçar em primeiro lugar.
E eu, que não sou de pensar em coisas, fiquei a pensar nisto.
E eu, que não sou de pensar em coisas, fiquei a pensar nisto.
13 agosto 2012
Pipoco não gosta de facebook
Enquanto as notícias online de sismos no Irão, guerra civil na Síria e incêndios no Algarve tiverem lá em baixo um polegar espetado para cima e a indicação de que "273 pessoas curtiram isso", eu terei a certeza que a decisão de não ter perfil no facebook é a coisa certa.
E tu Pipoco, porque raio escreves num blog?
A São João, que tem um blog que se chama Febre dos Fenos e até hoje não estava ali na minha lista de bons blogs e agora já está, escreveu sobre o que nos leva a alinhar nisto dos blogs. Eu, com os meus cinquenta anos de experiência de escrever em blogs, e não comecei cedo, já assisiti a um bocadinho de tudo, já vi blogs que começaram por ser um desabafo e se tornaram num aconchego ao orçamento, sei de quem use o blog para mandar recados que não consegue mandar de viva voz, sei de quem tem blogs e os usa como se fosse um diário onde tudo se conta e sei ainda de quem tem um blog para registar os momentos principais da vida de um filho (e para uma mãe todos os momentos são principais).
Eu continuo a pensar que ter um blog é um bom motivo para escrever, para trocar impressões e para toda a gente se divertir com isto e a parte mais importante é que ninguém deve acreditar que o que se escreve nos blogs se passa exactamente como é escrito, mais, que a ninguém passe pela cabeça que a vida de quem escreve é igual a como escreve. Pode ser viciante mas é um vício saudável, em se parando de escrever os tempos serão ocupados noutra coisa qualquer e percebemos que isto dos blogs não é assim tão importante, passados uns meses apetece voltar e é fácil, volta-se e está feita a coisa.
Eu continuo a pensar que ter um blog é um bom motivo para escrever, para trocar impressões e para toda a gente se divertir com isto e a parte mais importante é que ninguém deve acreditar que o que se escreve nos blogs se passa exactamente como é escrito, mais, que a ninguém passe pela cabeça que a vida de quem escreve é igual a como escreve. Pode ser viciante mas é um vício saudável, em se parando de escrever os tempos serão ocupados noutra coisa qualquer e percebemos que isto dos blogs não é assim tão importante, passados uns meses apetece voltar e é fácil, volta-se e está feita a coisa.
10 agosto 2012
O Grey, explicado ainda mais devagarinho
Explicada a problemática de os Greys desta vida impactarem os corações das mulheres por via do poder, afinal ainda a Anastasia não tinha visto o homem e já estava pronta para a coisa, com aquilo das assistentes e de ver o nome dele escrito no topo do edifício até lhe podia aparecer o Nicolau Breyner que a coisa aconteceria na mesma, o segundo factor que perturba aquele ar de tédio das mulheres quando se lhe depara a possibilidade do jogo é aquela crença que o amor tudo alcança, ele é um rapaz compostinho, sim senhores, que é, tem qualquer coisinha de seu, que tem, mas, lá está, no fundo é um alternativo que gosta daquelas coisas lá dos couros e das chibatadas e assim, maneiras que ela vai mudá-lo, vai mostrar-lhe o caminho do bem e acabarão todos com uma carrinha Volvo das grandes, um labrador sairá da porta de trás, cauda a abanar, duas criancinhas louras e rosadas sairão dos bancos traseiros, não sem antes ele os auxiliar a desapertar os cintos de segurança enquanto ela prepara a toalha de quadrados onde servirá o piquenique, num campo verde com papoilas, ela não perceberá o olhar estranho com que ele olha para as criancinhas e até mesmo o afago cumplice no labrador, que as coisas são como são.
Enquanto dormias...
O que há de divertido em um homem levantar-se cedo e precisar de poucas horas de sono é que às dez da manhã de um dia qualquer, hoje, digamos assim, um homem já correu uns pares de quilómetros com o cão ao lado, já viu o nascer do sol, já quase caiu por causa de uma raposa que se lhe atravessou no caminho, já reparou uma fuga na rede de rega, já preparou um pequeno-almoço daqueles com sumo de laranja das suas próprias laranjas e leu vinte páginas de um livro dos bons enquanto tomava o tal pequeno-almoço, já deu boleia a um vizinho que resolveu vir à cidade grande, já tomou café no Café Central e leu a primeira página do Record, já teve a primeira reunião do dia, já marcou voo para Londres e já escreveu um post a dizer que fez isto tudo.
09 agosto 2012
O Gray, explicado muito devagarinho
Eu continuo a pensar que a coisa se iniciou no tempo das cavernas, o homem lá tratava da caça dos bisontes e de dar uma coça a quem lhe quisesse roubar a mulher ou a melhor peça de bisonte assado e os mais fortes ficavam com as mulheres mais capazes e com as melhores partes do bisonte e as melhores partes do bisonte alimentavam-no melhor que aos outros e o homem acabava por ser ainda mais forte, derivado da alimentação, e caçava ainda melhores bisontes que os anteriores e ficava com mulheres ainda mais capazes e, isto é que é a parte bonita, as mulheres aprenderam a saber escolher os homens melhorzinhos, aqueles com mais préstimo, chamaram-lhes machos alfa e as mulheres convenceram-se que, em tendo descendência daqueles homens, os filhos seriam mais fortes e mais capazes e todos seriam felizes porque aquilo seria uma estirpe forte e sadia e haveria sempre bisontes assados à farta e a coisa passava-se exactamente desta maneira que vos estou a contar.
O Grey, descontando ter um Audi daqueles SUV e não ter grande jeito para escolher vinhos, isto para além de ser dado a telemóveis Blackberry, tudo coisas que não o favorecem enquanto macho alfa do cimo da pirâmide do machoalfismo mas também não deslustram da sua condição de descendente de caçadores de bisontes, ilustra bem a coisa para os dias de hoje e é por isso que as mulheres suspiram por ele, pelo menos até à parte daquelas coisas lá dele, das algemas e assim, mas isso é a vida pessoal das pessoas e mulher que é mulher acredita sempre que é capaz de o mudar e que ele, mais cedo ou mais tarde, lhe responderá às mensagens fofinhas enviadas pelo telemóvel, as mulheres suspiram pelo Grey como suspiravam pelo Dr House ou por aquele tipo que era publicitário nos anos sessenta e que agora não me lembra o nome, nem é preciso que o tipo seja bonito, basta que tenha personalidade, que é uma forma engraçada de dizer "basta que mande e, já agora, que tenha dinheiro suficiente para eu não ter que me aborrecer com coisas e com situações", as mulheres que apreciam o Grey apreciam-no porque, lá no fundo, gostam de quem diga que as coisas terão de ser como são e que assim será porque são eles quem manda, o resto, a personalidade e o carisma e o magnetismo e o encanto, derivam dessa condição de quem pode dar ordens e efectivamente as dá porque pode e porque sempre assim foi.
O Grey, descontando ter um Audi daqueles SUV e não ter grande jeito para escolher vinhos, isto para além de ser dado a telemóveis Blackberry, tudo coisas que não o favorecem enquanto macho alfa do cimo da pirâmide do machoalfismo mas também não deslustram da sua condição de descendente de caçadores de bisontes, ilustra bem a coisa para os dias de hoje e é por isso que as mulheres suspiram por ele, pelo menos até à parte daquelas coisas lá dele, das algemas e assim, mas isso é a vida pessoal das pessoas e mulher que é mulher acredita sempre que é capaz de o mudar e que ele, mais cedo ou mais tarde, lhe responderá às mensagens fofinhas enviadas pelo telemóvel, as mulheres suspiram pelo Grey como suspiravam pelo Dr House ou por aquele tipo que era publicitário nos anos sessenta e que agora não me lembra o nome, nem é preciso que o tipo seja bonito, basta que tenha personalidade, que é uma forma engraçada de dizer "basta que mande e, já agora, que tenha dinheiro suficiente para eu não ter que me aborrecer com coisas e com situações", as mulheres que apreciam o Grey apreciam-no porque, lá no fundo, gostam de quem diga que as coisas terão de ser como são e que assim será porque são eles quem manda, o resto, a personalidade e o carisma e o magnetismo e o encanto, derivam dessa condição de quem pode dar ordens e efectivamente as dá porque pode e porque sempre assim foi.
08 agosto 2012
Já voltamos ao Grey, é só um momento
Há uma cena do "Há lodo no cais", aliás, é A cena do filme, muito melhor que a da conversa dos irmãos no banco de trás do carro ou quando Marlon Brando rebenta com a porta de casa de Eva Marie-Saint par lhe declarar o seu amor, há uma cena, dizia eu, que é quando Marlon Brando se levanta do chão e, cambaleando, lábios a sangrar, se mantem de pé, recusando ajuda de quem quer que seja, atravessa o pequeno pontão e entra onde tem que entrar, com os estivadores atrás dele, aproveitando o embalo, imaginamos nós, imagino eu, que Brando cai assim que atravessa o limiar do portão, nessa altura já pode cair, a câmara de Elia Kazan já não o consegue apanhar e os que têm que estar para além da porta já lá estão, e essa cena, era isto que eu queria dizer, resume o meu mês de Agosto.
07 agosto 2012
Era isto
Terminada sem glória a aventura de ler o livro do Grey, houve que tomar uma decisão de fundo e escolher quem temperaria a leitura de Ulysses e a inteligente escolha recaiu no "Conde de Abranhos", lido de seguida, o que tecnicamente me deixa outra vez na condição de ter que escolher parceiro para Ulysses, para além de me ter parecido que o Conde de Abranhos é uma espécie de Grey, só que em mais gordo.
(e, em verdade vos digo, o perfil do Grey e aquilo que as mulheres vêem no Grey dava para vinte posts daqueles com comentários inflamados de simpáticas leitoras - sim leitoras, quem criou o fenómeno foram mulheres, creio mesmo que terei sido o único homem a perder o meu tempo com aquilo)
(e, em verdade vos digo, o perfil do Grey e aquilo que as mulheres vêem no Grey dava para vinte posts daqueles com comentários inflamados de simpáticas leitoras - sim leitoras, quem criou o fenómeno foram mulheres, creio mesmo que terei sido o único homem a perder o meu tempo com aquilo)
06 agosto 2012
Ulysses vs Grey (IV)
Por uma vez na vida a blogosfera tinha razão, o livro do Grey é francamente mau e receio pelo sucesso do resto da trilogia, que isto à primeira todos caem. É um livro em que se avança mais rapidamente que no Ulysses, até porque a autora raramente usa as linhas todas até ao fim e fica sempre muito espaço em branco que não é preciso ler na parte direita de cada página, já Joyce espraia-se por toda a página, ainda para mais em letras pequenas.
Por muito que me custe, a blogosfera tinha razão, mesmo sem ter lido o livro, o que equivale a dizer que eu estava errado e não devia ter gasto cento e vinte preciosíssimos minutos da minha vida com aquilo, mas as coisas são como são e não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
Por muito que me custe, a blogosfera tinha razão, mesmo sem ter lido o livro, o que equivale a dizer que eu estava errado e não devia ter gasto cento e vinte preciosíssimos minutos da minha vida com aquilo, mas as coisas são como são e não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
Que isto são só blogs, é claro.
Vais começar a escrever porque alguma coisa abalou os teus dias, ou então será apenas porque sim, talvez comeces isso do blog nos primeiros dias de Janeiro, será uma espécie de diário do que te apoquenta e não o dirás a ninguém, um dia terás o teu primeiro comentário e responderás imediatamente, agradecendo a visita, que retribuirás, lendo de fio a pavio o blog de quem te comentou, será fácil, afinal são só pensamentos de vida com retratos de pôr do sol, um dia arriscarás o teu primeiro comentário e ficarás deliciada com a interacção, a magia, afinal há outros como tu nisto dos blogs, farás a primeira ligação para outros que escrevem como tu e receberás o teu primeiro selo blogosférico, dirá que "é um blog sensível, sim senhor", depois mudarás o header, afinal são trinta visitas por dia, não importa se dez são tuas, há que arrumar os textos e limpar o espaço, ficarás indisposta com o teu primeiro comentário anónimo e responderás com fúria, terminando a tua resposta em forma post dedicado com um "get a life!", um dia percebes que já tens dez seguidores e ficas contente, nunca tiveste quem te seguisse, depois alguém citará um texto teu, com link para o teu blog, e nesse dia as visitas disparam e receberás mais comentários e terás mais seguidores, responderás ao primeiro desafio onde dirás que gostas de ler e de viajar e de cinema e de dançar e de encontrar o amor da tua vida, depois percebes que já não escreves para ti, que te é impossível responder a todos os comentários e que não consegues interagir como antes, já não é possível discutir uma ideia, até porque agora os comentários que te chegam são básicos, dizem-te que "já me senti assim" ou apenas "lol", o que escreves é cada vez mais fraco e menos elaborado, curiosamente percebes que quanto mais básica for a tua escrita mais popular serás, é nessa altura que te fartas disto dos blogs.
05 agosto 2012
Pipocix na Lusitânia
Estamos no ano 2 depois da Troika. Todos os que têm trabalho sabem o quanto é incerto mantê-lo no médio prazo e esforçam-se por ser o mais profissionais possível. Todos? Não! Os empregados de restaurantes e esplanadas de cafés ainda resistem ao invasor, o Cliente. E a vida não é nada fácil para quem deseja ser servido com atenção, eficiência e boas maneiras.
04 agosto 2012
As coisas são como são
"Os homens matam aquilo que amam"
Roslyn, aliás Marilyn Monroe, aliás, Norma Jean em "Os Inadaptados", aliás, em "The Misfits"
Roslyn, aliás Marilyn Monroe, aliás, Norma Jean em "Os Inadaptados", aliás, em "The Misfits"
03 agosto 2012
Ulysses vs Grey (III)
Enquanto o desgraçado do Dedalus tem que ouvir da boas de Mulligan por ter não ter obedecido à mãe que lhe pedia que ajoelhasse e rezasse por ele quando ela estava prestes a partir para o Além, Grey, o poderoso Gray, aparece do nada numa loja de bricolage, daquelas pequenas, nada a ver com um AKI ou um Leroy Merlin, uma loja pequena numa cidade pequena, estava ali só por acaso, e por acaso lá estava a moça a atender ao público, boa moça, vendeu-lhe uns metros de corda, adivinho, adivinhamos todos, para que servirá a corda, confirma-se que a tradução por agora poupa-nos a pormenores, um "fuck you" no original transforma-se num "desejo sinceramente que a vida te prejudique, meu facínora", é a segunda semelhança que noto nas duas obras, o Houaiss também transformou Ulysses numa leitura excêntrica.
02 agosto 2012
Quase a subir montanhas
São as camisas imaculadamente brancas, o nó de gravata perfeito, o final da gravata milimetricamente alinhado com o cinto, os sapatos bem engraxados, é o ar grave a falar ao telemóvel, olhos fixos no horizonte, as mãos a acompanhar o discurso imperativo, é o ritual de escolher o vinho, primeiro os iguais que prescindem de lhes caber em sorte a escolha, depois o escanção que se aproxima e mostra o rótulo, o ano de colheita que é confirmado com um aceno de cabeça, o líquido que escorre pelas paredes do copo, o copo que se segura pelo pé e se roda, a cor do vinho, o suave aroma, o sinal de "pode servir" enquanto se aguarda ser o último a ser servido, o jazz tranquilo que sai das colunas Bose do carro alemão preto quando já passa das oito da noite, a ópera italiana ouvida de manhã, o andar apressado a caminho das reuniões importantes, o tempo mostrado no relógio suiço a comandar o cumprimento dos horários como se de uma religião se tratasse, o sussuro da assistente que apenas pergunta "quantas pessoas, senhor engenheiro?" sem precisar de mencionar o nome do restaurante, o nunca ter ninguém à espera no aeroporto, o sorriso indecifrável quando se pressente estar perto de ganhar um jogo de xadrez.
Somos ridículos, bem sei.
Somos ridículos, bem sei.
Ulysses vs Grey (II)
Do que tenho lido por essa blogosfera fora percebo que as pessoas só deram uma vista de olhos no Grey, na versão original, está claro, pois se a blogosfera só vê as versões originais, delira com a American Idol e boceja com os Ídolos, está claro que a blogosfera se imagina a folhear displicentemente num qualquer aeroporto o livro do Grey enquanto se exaspera com a vulgaridade dos escritos, chega à Portela e folheia a versão em Português e, lembrando-se das poucas páginas que leu no aeroporto de La Guardia, constata que a tradução é pobre, boceja de novo e devolve o livro ao escaparate e o livro lá fica abandonado, é por isso que o Grey está esgotado, é porque a blogosfera o deixa lá ficar.
Entretanto, no primeiro capítulo do Grey não há sexo, o que me desiludiu bastante, afinal a blogosfera dizia que aquilo era sexo da primeira á última página e afinal o primeiro capítulo é sobre um tipo arrogante que sabe o que faz e que sabe tirar o melhor das pessoas, sabe o que as motiva e sabe que alguma inteligência emocional faz as mulheres deixar cair coisas e ficar desajeitadas, é isso e abrir-lhes as portas com cavalheirismo e, lá está, com sentido de humor, o primeiro capítulo do Grey é igualzinho ao do primeiro capítulo do Ulysses, não há sexo mas percebe-se logo que temos ali dois gajos fodidos.
Entretanto, no primeiro capítulo do Grey não há sexo, o que me desiludiu bastante, afinal a blogosfera dizia que aquilo era sexo da primeira á última página e afinal o primeiro capítulo é sobre um tipo arrogante que sabe o que faz e que sabe tirar o melhor das pessoas, sabe o que as motiva e sabe que alguma inteligência emocional faz as mulheres deixar cair coisas e ficar desajeitadas, é isso e abrir-lhes as portas com cavalheirismo e, lá está, com sentido de humor, o primeiro capítulo do Grey é igualzinho ao do primeiro capítulo do Ulysses, não há sexo mas percebe-se logo que temos ali dois gajos fodidos.
01 agosto 2012
Ulysses vs Grey (I)
"Olhei descontente para a minha imagem no espelho. Bolas para o cabelo - não havia forma de ficar no sítio, e bolas para a Katherine Kavanagh por estar doente e me submeter àquele suplício. Eu devia estar a estudar para os meus exames finais, que eram já na semana seguinte, mas ali estava a tentar submeter o cabelo à escova."
"Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha. Seu roupão amarelo, desatado, se enfunava por trás à doce brisa da manhã. Elevou o vaso e entoou: - Introibo ad altare Dei."
Sabendo que vão ler os dois, atendendo a que estas são as primeiras linhas de cada um dos livros, qual começariam primeiro? Ah, a doce e terrível dúvida...
"Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha. Seu roupão amarelo, desatado, se enfunava por trás à doce brisa da manhã. Elevou o vaso e entoou: - Introibo ad altare Dei."
Sabendo que vão ler os dois, atendendo a que estas são as primeiras linhas de cada um dos livros, qual começariam primeiro? Ah, a doce e terrível dúvida...
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