Na verdade estamos sempre a escrever o mesmo post, as dos blogues de coisas para vestir têm sempre a mesma porta do quarto por detrás, o mesmo trejeito de boca, as mesmas unhas de cor inenarrável, sim, é certo às vezes há variações e fazem as fotografias no exterior, mas sempre com os mesmos prédios de subúrbio, a mesma roupa de loja de centro comercial.
Os dos blogs de política também estão sempre a escrever o mesmo post, sempre em cima da mesma caixa de sabão de Speakers Corner, só são lidos pelos do outro lado da barreira, acreditando uns e outros que todos estamos a prestar atenção, e não, só os do outro lado os estão a ouvir, nós não, nós estamos a escrever o nosso próprio mesmo post de sempre.
As dos blogs que escrevem aquilo que os outros blogs escrevem, mas em pior, lá estão também, sempre à espreita, sempre atentas ao que fazem os mesmos de sempre, numa eterna espiral de ser o arremedo de sempre do post de sempre, o que resulta numa estranha constância, que nos tranquiliza e apazigua.
Os dos blogs de diário de bordo, lá estão também, com os mesmos gatos de sempre, a comer o mesmo sushi de sempre, saboreado enquanto nos contam como são maravilhosas as mesmas séries de sempre, vistas na companhia do mesmo atado de sempre, debaixo da mantinha fofinha da loja de móveis de sempre.
Os intelectuais, esses sistematizam os intragáveis livros de sempre, lidos nos intervalos de ciclos de cinema dedicados aos realizadores incompreendidos de sempre, que partilham connosco com a sobranceria de sempre.
As dos filhos contam-nos os progressos dos filhos, todos a dizer as mesmas primeiras palavras, todos eles entram para a escola da mesma maneira, deixando as jovens mães com a mesma tensão e com as mesmas lágrimas nos olhos, todos eles são os melhores filhos do mundo, não tão deliciosos como as sementes de gitdja-karbunifa que as das comidas saudáveis nos mostram, todas sugerindo que ligam muito bem com arroz de pétalas Moiteng ou com iogurte grego das estepes amazónicas, naturalmente, todos eles preparados de véspera porque não há tempo a perder na corrida para o emprego de sempre, onde as espera o malvado chefe que é igual em todo o lado.
Pois eu prefiro os blogues que conseguem misturar os vários estilos.
ResponderEliminargitdja-karbunifa tb para si! :)
ResponderEliminarPipoco, se não lhe for muito incómodo, quando lhe der jeito, num intervalo entre Aspen e os Alpes, enfie o meu blogue numa dessas categorias. Há muito que tento. Há muito que falho.
ResponderEliminarEstou a sentir um certo cinismo, Pipoco, vê lá isso, a amargura faz de nós seres insuportáveis, dá gastrite e faz rugas. Conta-me, se fosses escrever sempre o mesmo post seria qual? A versão Ruben Patrick ou a versão PMS? Abraço.
ResponderEliminarSim, não há nenhum problema. É como na vida. Também estamos sempre a cometer o mesmo erro nos mil e um cenários possíveis.
ResponderEliminar"as sementes de gitdja-karbunifa" ahahahahah, peço desculpa caro Pipoco pelo ahahahahah... não resisti. Vou rectificar rapidamente:
ResponderEliminar"as sementes de gitdja-karbunifa", senti uma vontade avassaladora de rir (penso que se pode encaixar aqui o avassaladora ) e a verdade é que não me fiquei só pela vontade, ri mesmo. Será que me posso esticar mais um pouquinho e dizer: obrigada pela gargalhada? Não? Pronto. Retiro.
Agora, saio de mansinho, porque se existe pessoa com telhados de vidro, essa pessoa sou eu.
"as mesmas séries de sempre, vistas na companhia do mesmo atado de sempre, debaixo da mantinha fofinha da loja de móveis de sempre" (ahahahahah) Ups! Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Isto é mesmo um diálogo de caixa fechada, mas já me estava a parecer que tinha razão. Trajeito= micagem=fazer caretas, momices. Vai dar ao mesmo.
ResponderEliminarAgora é que me despeço, lamentando o tempo que tirei. Boa noite.
ana
A constância é de valor caro Senhor. Acontece tornar-se amiúde enfadonha e repetitiva, mas o que seria de nós sem ela ?
ResponderEliminarÉ pode ser sempre o mesmo post mas nos seus há variação nos detalhes, por exemplo, neste post a frase "vistas na companhia do mesmo atado de sempre," é uma camada de verniz adicional ao post do costume.
ResponderEliminarO mesmo atado de sempre é para lá de delicioso, é que é tão mau que se torna magnífico.
EliminarAnonimo, que comentário tão agradável...
EliminarÓ caramba (não sei se poderei dizer caramba aqui, mas a verdade é que disse), vá beber o mesmo vinho de sempre, ao sítio de sempre, com a companhia de sempre, que o cinismo passa, como sempre, aliás. Ou então não, que isto é muito melhor que o Pipoco em modo fofinho.
ResponderEliminar(o brent desceu, e hoje deu-lhe para isto?)
(mas este post é inédito, valha-nos isso)
P
As dos blogs & Os dos blogs, compreendo que o essencial não está aí, se bem que, no limite....
ResponderEliminarÉ uma questão mais vasta, paradoxalmente. Aristóteles dizia que todas as histórias se reduzem a duas tramas. Carlo Gozzi, chegou ao número de trinta e seis, embora tenha havido quem achasse redundâncias e as reduzisse a dezoito, número que envergonha claramente as sessenta e nove encontradas por Kipling. Nesta enorme Biblioteca de Babel onde alguns de nós ainda nos deliciamos algumas horas por dia, o pleonasmo esmaga-nos. E, no entanto, lá o vamos tolerando, quem sabe mesmo toda a vida.
ResponderEliminarPurcell e a voz daquela grande Senhora. Comovente e de uma beleza assombrosa.
EliminarE pensar que só cantou no Met depois de ter cantado nas maiores e melhores salas de ópera da Europa e já ser escandaloso que não fosse ouvida no Met...E tudo por ser negra.
Maria Helena
Caro pipoco, o que tens a dizer em relação á tragédia no meco? E o facto do dux não querer falar?
ResponderEliminarE, usam todos o blogue para o mesmo fim: ter um escape, momentos só seus que lhes permitam fugir da banalidade diária...
ResponderEliminarMuito bom. Poucos são os blogs que tenho prazer em seguir por todas as razões indicadas e mais umas quantas. Os que sigo são os que me fazem rir pelo seu acutilante sentido de humor. Os "outros" sigo porque tenho uma grande curiosidade em saber o next...Sou cusca eu sei. Os seus às vezes enjoam-me e tenho a sensação que existe um "mix" de personagens a escrever....Desculpe ser tão directa.
ResponderEliminarnão tenho nada a acrescentar mas deixo um pedido / sugestão para um próximo post: uma analogia para a vida dita real, de fora dos blogs.
ResponderEliminarEu sei que o senhor já explicou aos iniciados que os comentários se devem usar com parcimónia, mas aquele "porta do quatro" não me deixa prosseguir com a minha vida de consciência tranquila... Pronto, era só!
ResponderEliminarNão me leve a mal. Defeitos de profissão mesmo. (Que fique bem claro que nunca opinaria por algo que me parecesse não uma gralha mas um erro ortográfico...)
EliminarPipoco, os tais dos blogs...são uma bela amostra da nossa sociedade.
ResponderEliminarÉ por isso que eu só leio o querido Pipoco......
ResponderEliminarCristina
Caro Pipoco, como consegue ser tão salgado?
ResponderEliminarTanta azia... Tantas vezes reproduzida em tantos posts desde blogue. Não gosta não lê, incomoda não lê, irrita não lê. A solução é sempre a mesma, tão fácil e rápida:) se cumprir deixa de repetir tanto os posts e dorme melhor à noite. Eu volto cá muitas vezes para saber se a tendência mudou, mas não muda, repete-se, tal como nos outros blogues, encontrou o seu pequeno nicho e eu gosto de nichos. Gaviscon ajuda :) p.s. os smiles irritantes são para ajudar na azia
ResponderEliminarOra Pipoco, toda a gente sabe que a manta foi tricotada pela Mãe ou pela Avó, não diga disparates!
ResponderEliminarAtrevo-me a acrescentar que também existem os posts dos normais desta vida, que tanto tentam relatar com (algum) humor os pequenos acontecimentos da vida, como vão inventando historinhas que tornariam a dita da vida mais engraçada (ou trágica); com parcimónia, falam das maravilhas da família e da respetiva bicharada, sem nunca se atreverem a publicar a sua falta de estilo féchion. Pese embora variem os temas, acho que acaba por ser sempre o mesmo post de normalidade.
ResponderEliminarCom elevada estima bloguística,
Rita
Vá dormir, que o seu mal é sono.
ResponderEliminarJoaquina Silva ( usando da sabedoria popular que normalmente é a melhor )
Não há nenhum problema em estar sempre a escrever o mesmo post. D. Pipoco pratica-o amiúde.
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