30 dezembro 2016

Combinei comigo próprio sair do boneco uma vez e meia a cada trezentos e sessenta e cinco dias

Comecei o ano a pedir desculpas e não doeu nada. Não repeti a experiência. Fui ao teatro mais vezes do que aterrei em Madrid. Aterrei mais de trinta vezes em Madrid. Decidi ir ver a final do Euro. Correu bem. Validei a ideia de que as pessoas têm um blog porque precisam. Eu não tenho um blog, isto é outra coisa qualquer. Tomei consciência de os meus pais precisarem agora mais de mim. O meu pai já me deixa ser eu a escolher o vinho e a minha mãe lembra-me mais vezes que eu não lhe telefono todos os dias. Fiz uma das viagens da minha vida. Fui feliz na Normandia. Validei a ideia de ser prudente não assumir que isto dos blogs serve para fazer amigos. Isto são só blogs, os amigos são outra coisa. Não terminei Ulisses, de Joyce. Um dia destes tive um estímulo adicional para terminar, não sei se será suficientemente forte. Tive um cão novo, aliás uma cadela. Temos uma boa química. Tive o meu momento alto nisto dos blogs. Foi aquilo de ouvir pessoas extraordinárias a declamar poemas. Não fiz amigos novos. Mas conheci pessoas que isto nunca se sabe. Deixei de fazer voluntariado a meio do ano. Troquei pelo Ioga. Acho que o blog que mais vezes me fez ler duas vezes o mesmo post foi o da Isabel Duarte Soares. Tive genuína pena de pessoas que escrevem em blogs. Não esquiei. Fez-me falta, é por isso que estou tão cansado.

29 dezembro 2016

Aliados, o filme

É uma espécie de mistura de Mr. & Mrs. Smith com Inglourious Basterds e com um travozinho a O Paciente Inglês e a Casablanca.

(é notável como uma boa ideia de filme pode ser tão estragada)

28 dezembro 2016

Às vezes um homem avalia mal as situações

Capitã Cuca, sempre na vanguarda das ideias geniais para posts extraordinários, lembrou-se (onde desencantará Capitã Cuca estas preciosidades?), lembrou-se, dizia eu, de fazer um rol, bem catita por sinal, de coisas para fazer no ano que é já na semana que vem e eu, que não posso ver nada, inspirei-me e cá vai disto, as Pipoquenas resoluções são

Optar por níveis de energia mínima nas coisas cá da minha vida que me interessam pouco mas que têm mesmo que ser

Deixar de resolver problemas que não tenho a certeza que existam

Voltar a comprar rolos de fotografias

Recomeçar a ler Ulysses desde o princípio, para ver se assim faz mais sentido

Passar uma noite em pelo menos três hotéis da minha lista de hotéis em que tenho que passar pelo menos uma noite uma vez na vida

Ir tratar disto da microrutura

Jogar menos

Ler o livro do filho do Escobar e ver se bate certo com o Narcos

Ver a segunda parte do Ivan, o Terrível, de Eisenstein


E, claro, a única decisão que cumpro todos os anos: ser imortal.

26 dezembro 2016

Nós, os grandes bloggers de referência...

...podemos expressar a nossa exasperação com o movimento de pessoas que se deslocam às nossas lojas só para ver, podemos aborrecer-nos com tanto jantar de Natal que patrões mal-parecidos  convocam para os restaurantes onde escolhemos ir em boa companhia, podemos divertir-nos observando o cidadão a adquirir bugigangas de última hora em lojas de má fama, podemos agastar-nos com a boa-vontade com prazo de validade, podemos indignar-nos com criancinhas atoladas em brinquedos sem jeito nenhum, mas, na verdade, é só porque isto da indignação dá posts razoáveis, em verdade vos digo, nós, os grandes bloggers de referência, não desgostamos disto do natal.

Last Christmas

Literalmente.

25 dezembro 2016

É isto, não é?

Se as lascas grossas de bacalhau, ligadas por bom azeite, acompanhadas por tinto do Dão que tenha sido bem decantado, forem apreciadas com tempo, com a tranquilidade dos grandes momentos, se olharmos para os sobrinhos que nem sempre calha ficarem no lugar ao nosso lado e escutarmos, embevecidos, o que eles têm para nos dizer, se a noite de natal for uma noite que passa devagar, em que apreciamos as pequenas coisas, em que recordamos os que cá já não estão e isso não é coisa triste, então as lascas grossas de bacalhau, ligadas por bom azeite, acompanhadas por tinto do Dão que tenha sido bem decantado não nos pesam no dia seguinte.

23 dezembro 2016

Uma espécie de coisa assim no género, que isto nunca se sabe para o que se está guardado (*)

O blogger, por mais desprendido que seja, tem a sua estética, não é qualquer post que aguenta o destino de passar uns dias a ser o último post, o blog a afundar-se nas listas do lado direito, indício claro que o blogger está lá na vida dele, não pode ser um post a desejar um feliz natal aos leitores, isso é coisa de risco, para começo de conversa isso de desejar feliz natal adere mal aos superiores interesses do blogger, isso de desejar natais felizes a quem o blogger não conhece, acrescido do facto de o blogger ter aversão a desejar coisas por atacado, o mesmo para todos, não é razoável, para além de ser coisa datada, não tarda nada e já é o dia depois do natal, soa aos cartazes que pede que votemos no candidato tal e nós já sabedores que o candidato tal não ganhou coisa nenhuma, o blogger pode sempre escrever sobre livros, é coisa que não assenta mal e há sempre quem tenha o que acrescentar, acontece que ao blogger lhe apetece genuinamente cumprimentar quem por cá passa, o blogger ainda se fascina com esta magia de escrever e haver quem leia e quem tenha que dizer, é por isso que ao blogger, hoje, numa vez sem exemplo, lhe apetece dar um abraço aos que por aqui passarem, é como deixar um café pago a quem não conhecemos,  só porque sim, só porque sim, só porque somos todos um bocadinho tontos por nos divertirmos com uma coisa tão fora do razoável como é isto de escrever blogs só porque sim, de ler blogs só porque sim, de gostar de blogs quando há por aí tanta coisa a competir nas coisas de que gostamos.

20 dezembro 2016

Ruben Patrick avalia as miúdas dos blogs: A Pipoca Mais Doce

A Pipoca Mais Doce é uma espécie de Nestum com mel dos blogs, consome-se a coisa porque tem o o sabor de sempre, a previsibilidade é um bem, na loucura há alterações ao nível de disponibilizarem a embalagem familiar com cem gramas grátis, em tempos terá sido um produto que sim senhores, era novidade e da grossa, era o tempo do mundo dominado pela Farinha 33 e Farinha Amparo, resumindo esta parte da avaliação, ao nível da escrita a nossa Pipoca Mais Doce é claramente um três em dez.

Quanto ao segundo nível de critérios, que trata de responder à dúvida existencial "pudesse eu escolher alguém para naufragar comigo numa ilha deserta", a Pipoca Mais Doce é prejudicada pela estrelinha no calcanhar, ou lá onde é a tatuagem, mas é claramente beneficiada pelo excelente estado geral ao nível de bom ar, certamente potenciado pelas correrias, atendendo ao espírito da época, digamos que é um seis em dez.

Já na categoria "convidei-a para jantar, e agora?", a coisa complica-se, é certo que se pressente que pode manter um nível médio de conversa, não nos iludamos com o ar viajado, aquilo é tudo à base de resort com tudo incluído, o que, é sabido, está para as viagens como o sushi está para a alta cozinha, é não versar temas de categoria igual ou superior a densidade média-baixa e não deslustra, o problema é ao nível do dress-code, a requerer uma atenção especial antes de sair de casa, cinco em dez, atendendo a que lê livros razoáveis.

Finalmente, antes da avaliação geral, o facto de fazer coisas diversas, partindo do pressuposto de que tem a papelada em dia, é um tónico para os sentidos, ele é falar-nos ao coração para nos dizer que havíamos de adquirir coisas que não lembram ao mais pintado, ele é estar em sítios onde nós não estaríamos a não ser que devêssemos favores, ele é tirar retratos onde tem que fazer caretas, ele é ter que nos mostrar a comida que vai comer e as pulseiras que vai usar, é todo um ror de situações-limite que nos levam a crer que, sim senhores, está ali alguém que faz pela vida, é um oito em dez, que eu aprecio mulheres que não sossegam.

Coisa a favor: foi notável aquela situação da corrida pelo cancro, não havia nisto dos blogs quem tivesse arcaboiço para colocar de pé uma empreitada daquelas.

Coisa a desfavor: aquela fixação na equipa de Carnide.

Nota final: Sete em dez

A seguir: Palmier Encoberto ou Cocó na Fralda?

Post das sete e meia

De todas as coisas que envergonham o género masculino, que não são muitas, a que potencia a níveis máximos a vergonha alheia é observar um cidadão na nobre arte de explicar a situação a uma cidadã sobre-qualificada na arte de lidar com situações, é ver o cidadão, palavroso, entusiasmado com o seu parco saber em, digamos assim, energia nuclear, a explicar os rudimentos da tabela periódica e a cidadã, com trinta centrais nucleares projectadas de A a Z em todo o mundo, tranquila, fazendo de conta que os saberes do cidadão são de valor, nós a ver que a cidadã não está ali, nós a observá-la e a constatar o seu ar de quem está a pensar em rissóis de riboló enquanto um esforçado amante faz o que fazem os esforçados amantes, que é desiludir mulheres demasiado crentes, o cidadão cada vez mais entusiasmado, explicando que o hidrogénio não sei quê, a cidadã tranquila, benevolente, gerindo o coeficiente de maçada com profissionalismo, nós a interceder pelo bom nome do género, nós a chamar o cidadão para a varanda, aliciando-o com promessas de discutir se o treinador chega a Fevereiro, a cidadã agradecendo-nos com o olhar, serena, ciente de que os nossos saberes, alicerçados em setenta centrais construídas de A a Z, não serve só para palestras, também serve para isto de salvar mulheres de cidadãos que só cá estão para denegrir o género.

18 dezembro 2016

Ruben Patrick vai avaliar as miúdas dos blogs

De um a dez, com critérios assertivos, incluindo a rubenpatrickiana percepção do tamanho da copa.

Tenham medo. Começo amanhã. Ou quando me apetecer.

Post encomendado número 1

O início de "A vida de Brian", que é coisa para figurar ao nível dos melhores inícios de filmes, melhor que o início do "África minha", pior que o início do "Rei Leão", evidencia a falibilidade dos Reis Magos no que concerne a certezas sobre os meninos que devem receber prendas, foi por um bocadinho assim que Brian não se viu no lugar do Salvador, sabe-se lá o que faria, fomos salvos de uma espécie de Trump a mandar nos destinos do mundo, para além de se ter visto como o feliz possuidor de uma taça de incenso, um frasquinho de mirra e, lá está, um lingote de ouro, e o menino certo, o Messias, por pouco não se via desprovido do que é seu, sabe-se lá o que seria da redacção do Evangelho segundo Mateus se Belchior não tivesse dado pelo equívoco a tempo, a mensagem é que não é lá por se nascer em mau berço que não nos podem suceder coisas de valor, nem sempre somos nós e as nossas circunstâncias, basta que sejamos bons meninos e a vida se encarrega de nos levar ao colo, é ser humildes e saber curar desvalidos, não ceder às Marias Madalenas desta vida, ajudar os fariseus, que são má gente mas também sofrem como nós, em verdade vos digo que a vida não sorri apenas aos que encontram camas fofinhas em boas estalagens da Judeia, com leite de cabra quentinho e Aero-OM para as cólicas dos primeiros dias, não, em se pressentindo que ali está quem abrirá os mares, em se antevendo que temos diante de nós quem transformará água em vinho, logo surge o investidor que não se intimida com o período de retorno da start-up, é ver a UBER, que ainda não fez sorrir o accionista mas não há quem não lhe oferte o novo ouro, incenso e mirra, maneiras que é isto, tomai nota e escrevei na pedra esta lição de vida, esta boa-nova de que, lá por termos mau berço, não teremos a nossa dose de ouro incenso e mirra, é olhar para o nosso Cristiano e aquilatar.

15 dezembro 2016

Pipoco pergunta

Poderá uma mulher que escreve banalidades não ser uma mulher banal?

12 dezembro 2016

Cá vamos nós outra vez

Acabei de marca na agenda uma nota, com recorrência semanal, escolhi a opção "no end date" e escolhi a cor que uso para a categoria das coisas que são diversão.

Diz "Ioga".

11 dezembro 2016

Aznavour (*)

Na viagem de regresso a casa, depois de Aznavour, tive uma necessidade absoluta de escutar as músicas tal como eu as recordava, uma espécie de apaziguamento pela constatação de Aznavour já não as cantar límpidas, pujantes, fortes, uma necessidade de um Aznavour que não evitasse os tons altos, de um Aznavour sem tremuras de mãos, de um Aznavour que não fosse periclitante nem quase frágil, depois dei por mim a pensar que não é todos os dias que se assiste a um concerto assim, um homem que já era antigo quando eu nasci conseguir encantar-me durante quase duas horas, que não cantou à boleia das senhoras dos coros, que explicou que aquele aparelho nos ouvidos estava ali porque já não ouvia em condições, que apelou à nossa generosidade e nos contou que era possível que os olhos se fixassem no teleponto porque talvez não recordasse todas as letras, um homem que está ali tal e qual, ciente de que a idade não perdoa mas os artistas a sério só param no último dia, nem um segundo antes, e decidi então ouvir um concerto de há pouco mais de um ano, um Aznavour de agora, um mito que se aplaude de pé.

(*) o tal sinal...

10 dezembro 2016

Há um sítio onde nos sentimos verdadeiramente jovens

A plateia VIP de um concerto de Charles Aznavour...

É cedo

Não sei nada sobre haiku nem sei onde fica Bisalhães, nunca li Frederico Lourenço nem tenho (ainda) nenhuma garrafa do último Barca Velha.

Mas sei onde se comem as melhores tapas de Madrid.

09 dezembro 2016

Ipsis verbis (ou o plágio, capítulo primeiro, adivinhe quem apeteceu a Pipoco plagiar hoje)

Imagine o distinto e atento público que sou confrontado com uma situação deveras embaraçosa e que alguém que prefiro não identificar, podia ser a Rita das fotocópias mas não é, não vale a pena especularem, podiam arrancar-me o fígado que não me arrancariam um nome, acontece que fígado só se tem um, se fossem os rins ainda podia ser mas o fígado faz-me muita faltinha, de maneiras que não digam a ninguém mas trata-se da Dona Odete das limpezas, não, essa é a da secretaria geral e é a Doutora Odete, a que está no centro do furacão é a Dona Odete das limpezas, sim essa, a dos óculos muito graduados, ora sucede que me vieram informar que a Dona Odete tem uma página bastante alternativa, nem pensem que vou dizer que o endereço é bizarriasdaodetecomcobras.com, vejam a página e aquilatem os conteúdos, nomeadamente o link que está no canto inferior direito, quase não se vê mas é o caminho para as situações mais alternativas, o resto é para meninos, e depois vinde cá dizer-me se é de dar um toque à Dona Odete sobre o perigo que pode ser para a vida dela a rapaziada saber assim das coisas a frio, sem um aquecimentozinho nem nada, ou se é melhor deixar correr o marfim, ide e vinde cá dizer-me que eu estou meio atordoado e nem estou em mim, com a breca, uma pessoa que parece que nem batata sabe dizer duas vezes seguidas e vai-se a ver e afinal é danada.

Plagiar é fácil

Copiarem-me as letras nunca me incomodou muito, ao lado de problemáticas verdadeiramente traumáticas como o Paulo Oliveira a jogar fora de posição em Varsóvia ou eu ter que passar a conduzir um Volvo muito grande, copiarem-me as letras é coisa menor, olho para as minhas expressões icónicas, com a patine que oitenta e sete anos de blogs lhes proporcionam, pespegadas em blogs de más letras e quase me comovo por os ver ali, deslocados, como se fossem um volante de um Rolls Royce atamancado num Opel Corsa, concedo um momento ou dois a pensar que aquilo são pessoas do bem a apreciarem tanto a minha obra, a beberem com tanta sofreguidão a minha palavra que a coisa acaba por se lhes entranhar no cérebro, a mim cabe-me olhar para a coisa com compaixão, afinal estou cá pelo convívio e isto é só uma forma diferente de ajudar velhinhas a encontrar a porta de embarque para Ibiza.

(Vou experimentar a sensação, pegar nas boas ideias dos meus blogs ali do lado e fazer de conta que sou um tipo brilhante.)

07 dezembro 2016

06 dezembro 2016

Eu...

... que empurro as portas que têm lá escrito "Empurre" e puxo as que têm escrito "Puxe", que estaciono sempre dentro dos limites das linhas brancas do lugar de estacionamento, que atravesso sempre na passadeira, que dou prioridade a senhoras grávidas nas filas do teatro, que aviso quando me atraso mais de um minuto, que marco sempre mesa no restaurante, afinal...

Ruben Patrick pergunta

Como é pessoal? Somos Palmeirim ou somos Carlos do Carmo?

05 dezembro 2016

04 dezembro 2016

As minhas discussões mais quase trágicas?

Tive-as quando comecei a discutir por discutir, apenas pelo gozo do contraditório, pela beleza de argumentar só para que o outro lado não ficasse sem ponto de vista.

O Porto, depois de eu o correr


E ao quinto dia?

Ora, ao quinto dia apanha-se o das sete e cinco para Madrid, regressa-se no das três e quarenta e cinco, tem-se duas reuniões das más em Lisboa e segue-se para o Porto porque se tem uma vontade súbita de ver os Miró...

01 dezembro 2016

Não tentem fazer isto sem ajuda de profissionais

Em três dias seguidos apanhar o vôo das sete e cinco para Madrid e regressar no das quatro da tarde.

Ao quarto dia, fazer as compras de Natal.