Filmamos a performance dos que se esqueceram de desligar a câmara em vez de os avisar do deslize, olhamos de viés para os mais velhos que, atrevidos dos velhotes, estão na rua em vez de estarem a ver o programa das televendas, batemos palmas aos da saúde mas evitamos sentar-nos ao pé deles, que isto nunca se sabe, tanto tempo passado no hospital com tanta bicheza pelo ar, deitamos a culpa à miudagem, sempre em festarolas e a beber cerveja depois das oito da noite, amedrontamo-nos com o teatro mas não nos importamos com a fila da loja irlandesa de roupa ruim, reclamamos baixinho do jantar da família do vizinho do quinto esquerdo, onze pessoas à mesa, uns inconscientes.
Isto da pandemia está a fazer de nós uma boa merda de pessoas.