30 março 2014

De onde raio saiu este Anselmo Ralph?

(pergunta-se Pipoco enquanto dá os últimos retoques nos valores que o Brent terá no segundo semestre, ao mesmo tempo que faz zapping por aquilo do Fócuporto a queixar-se dos malandrecos dos árbitros)

Que vês da tua janela, Pipoco?

27 março 2014

Em verdade te digo, Ruben Patrick

O segredo é inquietá-las, Ruben Patrick. Levar-lhes Piaf, sabendo que elas esperavam Brel, desassossegá-las com um convite para jantar no Eleven sem ser aniversário de nada, admirar-lhes a cor dos olhos na noite em que elas tudo prepararam para que nunca as olhássemos nos olhos, fazer de conta que tudo o que desejamos é companhia para beber um bom vinho tinto, que só lá estamos por causa dos livros.

Desassossegá-las, Ruben Patrick. Porque não há nada mais estimulante que uma mulher em desassossego.

26 março 2014

Daqui onde me encontro, vejo um gato preto com coleira encarnada a comer a comida do meu cão. E ele a ver.

Tenho uma amiga, também loura, vida desafogada e cheia de ouros, que tem sobre mim o efeito Jorge Jesus, diverte-me sempre ouvi-la, quase me engasgo de riso com as suas teorias do mundo, enquanto ela fala fico a meio caminho entre o incrédulo e o siderado com as bizarrias que ela vai debitando.

25 março 2014

O problema das mulheres

Achar que subir para uns saltos altos, vestir um saia-casaco preto, puxar o cabelo para trás e manter um olhar severo nos mete medo quando estamos a negociar.

(e não, apenas as faz parecer aqueles sapos que incham só para meter medo ao predador) 

O céu pode esperar

Nunca fui a Istambul nem corri uma maratona, nunca ofereci flores a uma mulher que amasse nem li todos os livros que estão no meu sótão. Nunca nadei no Pacífico nem estive abaixo de Durban nem acima de Bergen. Nunca esquiei a sul do Equador nem aprendi a dançar em condições, ainda não comprei um Citroen DS nem fui de descapotável à Suiça. Nunca vi o Sporting ganhar a Champions nem bebi vinho do Porto do meu ano nem jantei em Lhasa.

24 março 2014

Será que só se pode dizer que é amor se estiver a doer?

Perguntava ao tipo de óculos redondos a rapariga ao meu lado no balcão do restaurante da Avenida da República.

Pipoco está a perder poderes de adivinhação

Apostei que hoje as dos blogs haviam de falar nos sovacais pelos de Madonna, umas horrorizando-se com o opção estética, outras proclamando que a revolução está em curso, outras ainda chamando a atenção para o ponderador "higiene".

Enganei-me.

22 março 2014

Pipoco sai feliz da Madeira

Enquanto espero que o jogo comece, que isto no Funchal está a ficar frescote...

...estou aqui a pensar que os tipos que mandam nos cinemas e que não percebem nada do público que vê cinema e mandam lá vender anúncios e pipocas e intervalos e depois estranham muito que a coisa não lhes corra de feição, devem ter aprendido no mesmo sítio dos tipos das marcas que pagam à rapaziada dos blogues para lhes escrever posts com fotografias do produto, só por acaso, e não percebem a dinâmica da coisa, por preguiça não acautelam o que as pessoas vão escrever e depois o "buzz" sai-lhes ao lado e nem sempre um "buzz" que sai ao lado é coisa boa, digam o que disserem.

20 março 2014

Por que leio blogs?

Em lendo, fico sabendo quem rói as unhas, que os detergentes são nossos amigos, fico sabendo que há quem ande sempre de coração cheio (quer atropele uma velhinha que atravessava na passadeira os cinco netinhos órfãos, cada um com um gatinho abandonado ao colo ou acabe de colher uma rosa num campo de uma aldeia, ao nascer do sol, com uma gota de água que desliza pelas pétalas), que há quem corra sempre com ténis a estrear, que graças a Deus o homem resistiu àquilo da vesícula e, claro, que não há quem não tenha o melhor pai do mundo.

No princípio eram os cremes, e os cremes estavam com elas, e elas acreditavam que tudo era feito pelos cremes, apesar de nada ser feito.

E lá estavam elas, com aquela cisma dos cremes, miraculosas criações, bastava espalhá-los durante a noite e esperar, haviam de acordar viçosas e delgadas na manhã seguinte, três centímetros assegurados pelos especialistas. E nós a ver que não.

E agora são os sumos de espinafres e bagas, sementes e maçã descascada, é beber daquilo e esperar, três centímetros assegurados pelas características combinadas dos ingredientes, os espinafres têm ácido cefaleico-brometássico, um oxidante natural, as bagas limpam os metais pesados, umas são ricas em brometito de potássio, que é um ião desintoxicante, outras são ricas em vitamina nanocarotena, a mistura há-de limpar o organismo e fica-se mais leve, não é preciso mais nada, o sabor da fruta elimina o acre do gengibre e o agrião potencia o efeito das sementes de linhaça roxa, é beber e é vê-las acordar viçosas e delgadas na manhã seguinte, três centímetros assegurados pelos especialistas. 

E nós? A ver que não...

19 março 2014

Dia do pai

O meu pai atirava-me ao ar e eu sabia que ele me seguraria sem me deixar cair e eu acredito que esta certeza de nunca cair, de saber que no último segundo no vazio o meu pai me seguraria, fez muito do que sou, quase ninguém acredita que a minha confiança de hoje e o meu incorrigível optimismo aconteceram naqueles dias em que o meu pai me atirava ao ar e me segurava, segurava sempre, mas as coisas são como são.

O meu pai ainda me aconselha vinhos, ainda acha que eu gosto de conduzir o carro dele com ele ao lado (e gosto), ainda me segura muitas vezes, ainda faz de conta que eu não ligo ao que me aconselha (e ambos sabemos que sim, que ligo, que sempre liguei).

 E agora sou eu que o seguro. Às vezes. Sem o atirar ao ar.

17 março 2014

Quando os jogos começam à mesma hora, nós temos mais hipóteses

Em "A Porta", uma coisa que passa no Teatro Nacional e que eu, por razões que me transcendem vi um destes dias, conta-se a história de uma casa que é só uma porta, podemos colocar a porta onde quisermos, somos nós quem decide onde é o lado de dentro e o lado de fora da casa, a sala de estar pode ser um dia em cada lugar.

Uma bela metáfora para isto dos blogues.

16 março 2014

Mantra

Dois-Um para nós.

O golo deles é de penalty inexistente e nós teremos dois golos mal anulados.

15 março 2014

Pipoco, esse estudioso da condição humana

Às vezes, quase sempre, as mulheres gostam de imaginar os homens uns Tony Soprano a desabafar com a psicóloga, ou psiquiatra, ou lá o quer era a tipa dos óculos que lhe cobrava para o ouvir, uns seres com ar durão mas cheios de fragilidades, a eterna história de Aquiles, tudo ao som do "Cão muito mau" dos Boitezuleika (diverte-me saber que um par de leitores irão investigar isto dos Boitezuleika).

As mulheres sabem ainda menos de homens do que o quase nada que os homens sabem sobre mulheres.

Dupont & Dupond

14 março 2014

12 março 2014

11 março 2014

Isso e de poesia borboletal

Os blogs que pretendem ser tranquilizadores e motivacionais irritam-me profundamente e desmotivam-me até à quinta casa decimal.

10 março 2014

Nunca durmas com o inimigo,

Verifica sempre o dente do cavalo, ainda que te tenha sido oferecido, não morras de culpa por teres deixado para amanhã aquilo que podias ter feito hoje, é possível que quem tudo quer tudo tenha, os últimos são mesmo sempre os últimos, nunca serão os penúltimos, jamais os primeiros, há quem faça depressa e bem e é desagradável se não fores tu, depois da tempestade vem a gripe, não creias que há males que vêm por bem, isso é coisa nunca vista.

Os problemas das mulheres

Responsabilizarem os homens pela forma como as mãezinhas delas lhes ensinaram o mundo.

09 março 2014

Dia de nos lembrarmos de levantar o tampo da sanita

Todos os anos, vai para noventa e sete anos, por alturas do oitavo dia de Março, o meu lendário post evocativo do dia da Mulher assegura-me que nada mudou na maneira como as mulheres observam o mundo e eu respiro fundo, há toda uma paz interior que se apodera de mim, tranquilizo-me por saber que há coisas que não mudam, gosto sempre de saber que é meu o mal por evocar o dia da Mulher, porque elas, mulheres modernas e resolvidas, afiam a pena neste dia só para dar umas palmadas nos tipos como eu, que não sabem que ainda há mulheres que não sei quê, que sofrem muito por ganhar pouco, e as crianças e o chefe que é um bandalho e o tipo que mora lá em casa e nem um ovo sabe estrelar, e a sociedade que não facilita.

Das coisas que sei da vida, e são muitas, sei que as mulheres que não se queixam são as que vão mais longe, igual aos homens, sei que as mulheres que permitem que o tipo que mora lá em casa não saiba cozinhar são iguais aos homens que não sabem cozinhar, sei que as mulheres que não exigem ao tipo que mora lá em casa que vá buscar as crianças à escola tantas vezes quanto ela, que não exigem que o tal tipo fique em casa quando a criancinha está doente as mesmas vezes que ela fica, são iguais aos incapazes dos homens que não lhes facilitam a vida.

São as mulheres que facilitam, as que se acomodam à ideia de o tipo ter um emprego tão importante que não lhe permite faltar, as que não os encostam à parede, as que acreditam que eles não têm jeito para cozinhar, as que lhes dobram o pijama, as que lhes perdoam a imbecilidade, que perpetuarão o dia da Mulher e, consequentemente, partilhar com o mundo o que me ocorre dizer a cada dia oito de Março.

08 março 2014

Dias da mulher

Os homens ensinaram-me a jogar xadrez, a mergulhar, a saber ler mapas, a subir montanhas, a conhecer a diferença entre bom e mau vinho, a confiar, a esquiar, a gerir energias, a ser resiliente, a não olhar para trás.

Tudo o resto, o que realmente conta, aprendi com mulheres.

Pipoco, imediatamente antes da corrida matinal, na companhia de seu cão

07 março 2014

Da crise

Se é para poupar na cultura e na educação, para que servem estes sacrifícios?

06 março 2014

Pipoqueanos Oscares

Melhor Filme
Melhor Realizador
Melhor Actor Secundário
Melhor Actriz
Melhor Actriz Secundária
Melhor Argumento Original
Melhor Argumento Adaptado
Melhor Filme Estrangeiro
Melhor Filme de Animação
Melhor Curta-metragem de Animação
Melhor Curta-Metragem
Melhor Documentário
"Santa Nostalgia"

Melhor Documentário de Curta-metragem
Melhor Banda Sonora Original
Melhor Canção Original
Melhor Design de Produção
Melhor Montagem
Melhor Mistura de Som
Melhores Efeitos Visuais
Melhor fotografia
Melhor Guarda-Roupa
Melhor Maquilhagem e Cabelo

05 março 2014

As pessoas que realmente contam nas nossas vidas...

...são aquelas com quem retomamos a conversa no exacto ponto em que a tínhamos deixado há quatro anos, sem constrangimentos, reconhecendo-lhes a voz instantaneamente.

03 março 2014

A quem possa interessar

Se mais alguém, ao confrontar-se visualmente com o meu fato às riscas e a gravata Gucci com nó Windsor, fizer ar de espanto e balbuciar "Está a trabalhar hoje? Julgava-o na neve esta semana...", não garanto uma resposta ponderada e madura.

O que pensa Pipoco sobre os Oscares

O Gravidade? A sério, aquilo com a Sandra Bullock? O Gravidade? Aquela bizarria científica? Não, devemos estar a falar de outro filme. Foi mesmo o Gravidade? Aquela tonteria, cheio de impossibilidades óbvias e sem jeito nenhum, aquele desfilar de clichés? Ganhou mais Oscares que todos os outros filmes? Não me mintam, é outro Gravidade, não é?

Durante muito tempo, demasiado tempo, o meu lema de vida foi "Quero tudo, já"

O problema é que as pessoas não conhecem o maior dos prazeres, o prazer de esperar. As pessoas aborrecem-se demasiado depressa e não imaginam o prazer de esperar o exacto momento em que a mulher que decidimos que havia de reparar em nós se decida enfim, o prazer de esperar que uma receita demorada esteja pronta a ser servida, o prazer de esperar o dia em que embarcamos na viagem que marcámos há meses, o prazer de aguardar o momento óptimo de um bom vinho, o prazer de esperar o momento certo para fechar a negociação da nossa vida.

02 março 2014

A importância de se chamar Ernesto

Ulisses, o cão, esteve a isto (dedos indicador e polegar a um milímetro de distância) de se chamar Valeta, da mesma forma que as Marias da Natividade indiciam que a proprietária nasceu por alturas do Natal ou as Maria das Dores nos contam que a mãe não foi a tempo da epidural, Valeta seria um nome apropriado para este cão, que há-de ser enorme, felizmente eu sou um indivíduo atento a estas problemáticas e sei tudo o que há para saber da psicologia dos nomes de cão e evitei-lhe um ferrete para a vida, todos os Snoopys, Pilotos e Pupis do sítio onde eu moro haviam de comentar entre si, em voz baixa, que era Valeta porque tinha sido resgatado de uma valeta, por isso se chamava Valeta, todos os cães a acenar que sim, que fazia sentido, bendita hora em que o baptizei Ulisses, trauma por trauma é trauma meu e assim, de cada vez que lhe levar ração, sempre me lembro de ler mais uma página ou duas daquilo.

01 março 2014

Daqui onde me encontro...

..., um tronco de pinheiro a arder na lareira, chá bem quente e Miles Davis, sentado na velha poltrona de couro, relendo Pessoa, tenho Ulisses, o cão, no meu campo de visão, do lado de fora da janela. Lá fora está frio e o vento uiva por entre os sobreiros, a chuva cai grossa e Ulisses, o cão, olha para mim através do vidro duplo que nos separa, orelhas descaídas, suplicando entrar na minha sala confortável e quente, adivinho-lhe o pequeno coração palpitante, afinal é um pequeno cachorro, com medos, ansiando um carinho que o tranquilize.

É nesta altura que percebo quão poderoso é o ar de cachorro abandonado que comove o coração mais empedernido da mulher mais dura.