30 julho 2019

E livra-te das grandes viagens, Ruben Patrick

A verdade, Ruben Patrick, é que estamos fora de moda, já ninguém aprecia uma boa prosa sobre o prazer do gin tónico em fim de tarde, se anunciarmos que apreciamos um bom Pierde Almas, logo uma boa alma nos insinuará que mais valia um gin local, um Gotik se estivermos no Ribatejo, um NAO se estivermos pelas bandas do Porto, sempre se reduzia a pegada de carbono do transporte do gin de terras lá tão longe e, de caminho, promovia-se a economia local, em menos de dez segundos estariam a falar-nos disso da sustentabilidade, não fossemos nós quem somos e talvez nos soubesse pior o gin depois de tamanha dose de politicamente correto, com as mulheres é a mesma coisa, Ruben Patrick, tudo o que nos ensinaram temos que desaprender, se nos atrevermos a notar que uma mulher é apresentável, logo nos farão sentir o peso de sermos julgadores sem emenda, de menorizarmos as de pior figura, não tardará nada até que uma longa dissertação sobre os movimentos libertários que promovem as minorias e o seu direito à diferença, a conversa a entrar-nos por um ouvido e a sair por outro, o cérebro a desconectar-se devagarinho, a boa samaritana que nos quer trazer para os caminhos da luz a ficar difusa, e que não falemos de viaturas alemãs das razoáveis, logo desdenharão do nosso apego ao supérfluo, uma bicicleta faz o mesmo efeito e, calhando ser na cidade, tem a vantagem de se estacionar melhor e não ser tão intrusiva para o binómio pessoas e cidade.

26 julho 2019

Ninguém sabe para o que está guardado

Eu, que nunca tirei um retrato com o vértice da pirâmide do Louvre na ponta do meu dedo indicador, que nunca tirei um retrato com ar esforçado a evitar que a Torre de Pisa se estatele de vez, que nunca tirei um retrato a atravessar uma certa passadeira na Abbey Road, que nunca tirei um retrato de braços abertos em frente ao Cristo Redentor, que nunca tirei um retrato a beijar as estátuas da Ilha de Páscoa, que nunca tirei um retrato com um avião a aterrar na minha cabeça e eu na praia de não sei quê, sou bem capaz de tirar um desses retratos cliché na próxima viagem grande.

24 julho 2019

Talvez...

...o Eusébio nunca devesse ter jogado no Beira-Mar, talvez a Kim Basinger nunca devesse ter feito nada depois de "Nove Semanas e Meia", talvez Julio Iglesias nunca devesse ter cantado o que quer que fosse em inglês, talvez García Márquez nunca devesse ter escrito "Memória das minhas putas tristes", talvez os Queen nunca devessem ter sobrevivido a Freddy Mercury, talvez a Porsche nunca devesse ter lançado o 928.

Talvez a Netflix nos devesse ter poupado a esta última temporada de "Casa de Papel".

20 julho 2019

Da problemática da escolha do livro para a próxima viagem grande

A pouco mais de uns pares de semanas da segunda viagem grande do ano, não tenho livro escolhido, não há nenhum que assente bem no propósito desta próxima viagem grande, também não recordo nenhum (com excepção de um livro grosso de autor português, excluído porque já o li) que se desenrole naquelas relativas lonjuras, é um problema inédito, nunca, até hoje, me faltaram livros que  me contassem histórias das minhas escolhas para viagem grande.

Talvez me decida por Corto Maltese, afinal sempre se trata de lugares de muito mar e aventuras tamanhas e a Corto Maltese, por mais vezes que o leia, volta-se sempre.

19 julho 2019

O próximo 007 será uma mulher

Já cá venho dizer o que me suscita esta temática, ou seja, uma uma ode ao politicamente incorrecto e à misoginia.

14 julho 2019

Esta semana...

...dormi duas noites no Porto e três em Paris, esqueci-me de uma coisa que não devia ter esquecido, comi vieiras com um vinho branco bastante razoável, disseram-me que afinal ainda tenho metade um menisco, dormi menos do que aquilo que preciso (e preciso de quatro horas e meia por noite), li o "Mau tempo no Canal" e não achei genial, encontrei um motorista da Uber que sabe mais de Aznavour do que eu, prometi fazer uma coisa que não sei se consigo mesmo fazer, precisei que tomassem conta de mim.

Já passou.

08 julho 2019

Enquanto houver estrada para andar

Vimos como num instantinho se estraçalhou a carreira miúda que queria uma mala, assistimos, com a sapiência dos que sabem como acabam estas coisas, ao definhar das sociedades de mulheres a escreverem no mesmo blog, antecipámos, com a certeza de as coisas serem como são, a agonia dos blogs irónicos, comprámos livros à miúda do gato que queria ir para Bruges, divertimo-nos largueiro com a zanga da rapariga a quem não deram um telefone igual ao das outras, bebemos à saúde dos blogs inventados para escreverem bizarrias sobre a nossa escrita escorreita, descobrimos como se fabricam suspiros com base em coisa nenhuma, espantámo-nos com a forma como as criancinhas podem render umas férias de tudo incluído, aborrecemo-nos com as que escrevem tonterias para auto-motivar as mais pobres de espírito, cofiámos a barba, taciturnos, a cada texto sobre as mulheres precisarem que outras mulheres tomem conta delas, rimo-nos quando elas sugeriam umas às outras Ferrante e o livro do Segredo como se fosse coisa de valor, passámos incólumes pelos cupcakes e pelos jantarinhos de bloggers, sobrevivemos aos retratos de pés na areia da praia e de pratos de comida, vimos como as que vendiam bugigangas se tranformaram em influencers, apesar de continuarem a impingir-nos bugigangas, resistimos ao facebook e ao instagram e ao twitter.

E nós cá estamos, Ruben Patrick.

07 julho 2019

Blog, esse repositório de memórias

Bem pode este ter blog uma fórmula que mistura na dose que se afigura a mais acertada episódios que aconteceram precisamente como aqui estão contados com outros que podiam muito bem ter acontecido da maneira que aqui se relatou, mas, em verdade vos digo, sempre que me escapa a precisão sobre quando foi que determinada situação ocorreu, é aqui que venho tirar as dúvidas.

02 julho 2019

Da nobre arte de cozinhar polvo e outras histórias

Don José Alves, o maior de todos os apanhadores de polvo em toda a largueza do sotavento, e talvez possa incluir também metade do barlavento, homem de poucas mas acertadas falas, excelente bebedor de cerveja preta e a melhor companhia que se pode ter quando o que nos apetece é tomar um gin de final de dia a acompanhar marisco da costa, estende-me dois cefalópodes magníficos, informando-me que aquilo é material que eu, nas minhas vidas de homem das cidades, jamais degustaria, não fossem as suas artes ancestrais, a sua mão hábil.

Mais me acirrou Don José Alves, desdenhando dos meus conhecimentos colaterais de cozinha, insinuando que eu não teria traquejo suficiente para preservar o potencial de prazer proporcionado por aqueles exemplares, atrevendo-se mesmo a afirmar não estar certo das minhas capacidades de aplicar as melhores práticas ou, pior, não estar seguro de que não adicionaria ingredientes menores ao petisco.

Don José Alves havia de apreciar os meus resultados, tivesse ele aparecido pela lezíria ontem à noite.