31 julho 2013

Está bem, então...

Uma das coisas que aprendemos no final da infância, coisa ancestral, que se nos incute no ADN desde os primórdios, é que o estereotipo mulher loura com copa avantajada e saia curta, a conduzir carro potente e descapotável, óculos espelhados modelo Aviator, i-Phone numa mão e sapatos Manolo Blahnik não é, nunca é, o tipo de mulher "para casar".

Já elas, mesmo maduras, crêem sempre que o esterotipo homem com cabelo penteado para trás com gel, corrente de ouro ao pescoço, calça pinçada com bota de cano curto, a conduzir carro potente e descapotável, óculos espelhados modelo Aviator, t-shirt Armani branca e justa, pulseira étnica de couro é sempre do tipo "para casar", isto é, com um trabalhinho de persuasão da parte delas ele vai mudar e, lá está, mudando, é do tipo "para casar".

(depois eu é que tenho de tratar das coisas, de as acalmar, de lhes dizer que vai passar, que há muita vida pela frente, coisas assim, sai-me um dinheirão em vodka com limão de final de dia)

Em verdade vos digo...

...que é uma experiência absolutamente fantástica estar a seiscentos quilómetros de casa, ficar sem bateria de telemóvel e ter esquecido algures o carregador do carro. Seiscentos quilómetros com a certeza de que ninguém me ligará, cinco horas de caminho sem ter que decidir em tempo real, um tempo precioso de silêncio. Estou capaz de fazer isto mais vezes.

30 julho 2013

Mas nem isso quero

Quero ler livros que cheirem a livros à sombra dos meus sobreiros, quero comer maçãs acabadas de apanhar, quero fazer festas na cabeça do meu cão grande e preto. Mas nem isso quero. Quero nadar de manhã no rio, quero escalar granito ao fim da tarde, quero tomar banho na praia à noite. Mas nem isso quero. Quero voltar a ver Baremboim no alla Scala, quero escutar de novo Strauss em Salzburgo, quero andar de comboio sem destino certo. Mas nem isso quero. Quero voltar a gostar de gin tónico, quero comer peixe apanhado por mim, quero voltar a saber distinguir os pássaros. Mas nem isso quero. Quero saber como funcionam as máquinas, quero que o meu pai me atire ao ar, quero voltar a ter dúvidas sobre se as pessoas valem ou não a pena. Mas nem isso quero. Quero que o Sporting volte a ganhar jogos, quero fazer o Caminho de Santiago, quero dormir em Lhasa e na Nova Zelândia e em Glasgow. Mas nem isso quero. (inspirado numa certa parte da peça que vi este fim de semana no Teatro do Bairro)

29 julho 2013

Nada contra, acho até bem bonito...

Dependesse de escrever livros de blogs eu abrir uma boa garrafa de vinho sempre que me apetece e também eu o faria, sem reservas mentais. Bem entendido, teria que fazer como toda a gente, seguir blogs que nunca lerei, dizer coisas a torto e a direito, fazer de conta que é interessante conhecer pessoas dos blogs, inventar uma página de instagram e outra de facebook e mais uma de twitter. O que estás a fazer Pipoco? seria uma rubrica horária no twitter em vez de ter a periodicidade que me apetece, que é a de ter sempre alguma coisa à mão para encher chouriços, os próprios chouriços, montados em pão alentejano, seriam instagramados, em tons sépia, e todos saberiam o que almoçou hoje Pipoco, pois que partilharia com o respeitável público um carpaccio de salmão a acompanhar um Collares frio, havia de nos reforçar o sentimento de pertença, eu havia de ser popular e todos diriam de mim que, sim senhores, que grande blogger estava aqui deste lado. Havia de apresentar o livro, que seriam os meus melhores escritos, criteriosamente escolhidos, o dos abraços, o dos bons conselhos para a vida, os das recomendações ao Ruben Patrick, talvez uma ou outra visão da minha janela, provavelmente alguns escritos de propósito para o livro, quase de certeza reflexões sobre porque leio blogs. Havia de convidar quem me fizesse o prefácio e dissesse coisa bonitas sobre a minha obra, "...deixo-vos então com Pipoco Mias Salgado, uma lenda viva, o decano disto dos blogs, o mito com mais de sessenta anos de blogosfera", as pessoas que encheriam a livraria, havia de escolher uma livraria pequena, haviam de aplaudir, os meus pais haviam de se perguntar onde teria eu desencantado um locutor de programas de rádio ou uma escritora de maus livros para dizer coisas bonitas sobre mim, haviam de se retirar para beber café enquanto eu assinava autógrafos para pessoas que me citariam de cor, que me diriam que gostavam muito de me ler, a ironia, e tal.

Mas não, não dependo de escrever livros de blogs para abrir uma boa garrafa de vinho sempre que me apetece e isso, parecendo que não, é uma boa coisa.

De onde se fala de Esteves Cardoso e José Cid e Summertime

De repente, saído das nossas boas memórias, aparece o Milo, o Toffee Crisp, o Cornetto limão e o Miguel Esteves Cardoso, que é uma espécie de José Cid, mas em bom, recordamos, nem sempre com agrado, que ainda nos lembramos de tudo o que fizeram lá atrás, há muitos anos.

A crónica nova de MEC, que são canções misturadas com palavras ditas com aquela voz eternamente juvenil, é uma delícia tal que um destes dias me fez escutar de novo Porgy and Bess, a primeira ópera que vi ao vivo. E não foi mau.

26 julho 2013

O anúncio da Benfica TV

A verdade é que acho adequado ao target o anúncio da Benfica TV. Um tipo com massa corporal capaz de deixar aquela rapariga do livro das dietas dos não sei quantos dias à beira de um ataque de nervos corre, tanto quanto aquilo se pode chamar correr, anda em passo largo, vá, por um campo de madressilvas, ou mato ou lá o que é aquilo, e atira com um comando de televisão dos baratos para um lago. Já em casa, televisão de marca chinesa em cima de um móvel de fórmica, sofá de imitação de couro coçado, o tipo, provavelmente reformado aos cinquenta anos da função pública, cara de quem bebe cerveja do LIDL, responde à esposa, estes tipos têm sempre esposa, num tom de voz "deves gostar de comida de hospital, Josefina", que lhe pergunta pelo comando, ela quer ver a novela das quatro, responde ele, dizia eu, "Qual comando?" e vira-se de novo para a televisão, está a dar o resumo da pré-época de oitenta e dois-oitenta e três, coisa de valor. Tão adequada me parece a coisa que aquilo já tem um ror de pagantes para ver o Benfica vinte e quatro horas por dia, o que se me afigura simpático, tê-los fechados em casa a acreditar no que lhes dirão os comentadores, que Jesus é o salvador e que o guarda-redes que eles lá têm agora não defendeu por um triz mas é de craveira internacional, ainda assim.

(fosse um anúncio ao nosso canal e um executivo, chaves do Porsche Cayman em cima da mesa, gravata verde e camisa branca, botões de punho com um leão estilizado, responderia "estás a falar com ele, querida" à mulher que perguntasse onde está o comando, desligaria o som da televisão Bang&Olufsen, sorriria, colocaria Miles Davis no modo "night" do som estereofónico, passava a imagem do Sporting-Bayern para o tecto da sala e assistiria ao resto do jogo ao mesmo tempo que dava a costumada sessão de pura magia à mulher loura cem por cento fibra)

25 julho 2013

Dúvidas que assolam Pipoco

Os livros dos que escrevem em blogs estão em que secção das livrarias?

Às vezes penso que era capaz de sair caro se calhasse sermos mesmo amigos

Por razões cá nossas, jantei um destes dias com um dos melhores contadores de histórias que conheço, o Athayde de Burnay. Desprezamo-nos mutuamente, o Athayde de Burnay despreza-me olimpicamente porque lhe confessei um dia que li Júlio Dinis, de pouco me serve alegar que tinha doze anos, eu desprezo com todas as minhas forças o Athayde de Burnay porque me confessou um dia que nunca leu livros de mulheres francesas, de pouco lhe serve alegar que se trata de um trauma juvenil.

No fim do jantar o Athayde de Burnay, desprezando-me, considerou-me merecedor de um Stuart original, ano de 1955. Eu, desprezando-o, considerei-o merecedor de um Herberto Hélder que não voltará a ser editado.

24 julho 2013

Pipoco também diz coisas sobre o principezinho

Caro George Alexander Louis, não gostava de ter a tua vida, miúdo.

Nunca vais ter a certeza de que aquele buraco na barreira quando vais marcar o pontapé livre surgiu por acaso ou se foi porque, por reverência, te quiseram dar o gosto de marcar um golo, nunca saberás se a miúda realmente está interessada em ti ou pelo que és ou pelo que representas, nunca saberás se a entrada em Eton foi pelos teus saberes ou porque tinha que ser assim, nunca terás a certeza de que os inimigos que abateste em missão eram mesmo dos maus ou eram uns tipos que ali colocaram para que se criasse o mito da tua virilidade.

Nunca conhecerás o sabor de ser a última escolha para a equipa de rugby, nunca farás um inter-rail de mochila às costas, nunca poderás sair à rua livremente, nunca poderá tomar banho nu sem saíres na primeira página do Sun do dia seguinte, nunca poderás ter noites em que deixas de gostar de gin tónico sem que sejas apontado como um mau exemplo para a juventude de todo o mundo.

Ainda assim, miúdo, diverte-te. Estar vivo é do melhor que há.

22 julho 2013

Ser snob-chic é...

...almoçar um robalo de mar no Jockey, ali ao Hipódromo do Campo Grande, e jantar um pica-pau de picanha no Matateu, no próprio estádio do Restelo, e cumprimentar o "chef" em ambos os casos pela qualidade da comida e do atendimento.

Eu que nunca me lamento...

...tenho que lamentar ter chegado a esta idade, tanto tempo perdido a ler coisas menores, e ter-me escapado completamente Rentes de Carvalho.

Felizmente ainda vou a tempo de recuperar, dizem-me que deveria ter começado pelo "Ernestina" e eu comecei pelo "Rebate", mas a coisa vai certamente dar-se.

Daqui a meia dúzia de anos saberemos quem ganhou...

19 julho 2013

À atenção dos parentes e amigos de Mário Soares

Tomem conta do vosso parente e amigo. Levem-no a passear, deixem-no dormir a sesta o tempo que lhe aprouver. Se houver câmaras de televisão e microfones por perto, distraiam-no, não deixem que o vosso parente e amigo abra a boca. Falem-lhe das tartarugas das Seychelles e da entrevista do "Olhe que não", se for necessário façam de conta que as coisas ainda são como naquele tempo, o Alexander do Goodbye Lenine fez a mesma coisa com a mãe e resultou.

Tomem conta do vosso parente e amigo, deixem que o senhor permaneça na nossa memória como um ancião simpático, amigo das artes e bom conversador, não o queremos recordar um ressabiado que não recuperou de um tareão numas eleições, um desatinado que não se lembra do que disse ontem, alguém que afinal não percebe nada do que se está a passar.

18 julho 2013

Selvagem grande

As coisas são como são

Estes são os miúdos que escrevem palavras que não existem e respondem "lol" quando não têm nada que dizer, que exigem televisão nos quartos, que gastam tempo a comentar não-coisas nas redes sociais. São os miúdos que não precisam de trabalhar nas férias para ter o último modelo de telemóvel, são os miúdos que não têm a ida aos festivais de verão indexada a bons resultados escolares, são miúdos que não falam porque lhes bastam as mensagens escritas. Estes são os miúdos sem deveres, sem esforço, sem regras, a quem tudo lhes é perdoado, porque o contexto é adverso, porque os professores são péssimos, porque a escola não tem condições, porque a culpa nunca é deles.

Estes são os filhos dos pais que não leram, com um mundo que acaba nos programas de televisão medíocres, cuja viagem de sonho é um resort na praia em regime de tudo incluído, que preferem os centros comerciais às livrarias, que não querem saber porque também para eles o contexto é adverso, o chefe é um imbecil, isto está cada vez pior, o governo, os outros.

Por que razão havemos de nos espantar por estes miúdos terem levado um banho de realidade com notas miseráveis a Português e Matemática?

15 julho 2013

Pipoco, esse misógino

Uma das três razões que justificam uso de armas é quando alguém, geralmente um tipo gelatinoso e com o fato demasiado apertado proclama que "por detrás de um grande homem há sempre uma grande mulher". Quando estas palavras fossem pronunciadas, seria legítimo, e até incentivado, que a mulher montasse o silenciador da sua UZI Micro, que uma luzinha encarnada aparecesse na testa do energúmeno e que, na janela temporal em que o tipo fizesse menção de se levantar da poltrona de veludo, o Cutty Sark com gelo caído no chão, ela disparasse, sorridente, one shot, game over.
(em coeficiente de filhadaputice encapotada de cavalheirismo, a coisa está ao nível daquela situação de servir em primeiro lugar a mulher, que agurdará, comida a esfriar, que o último homem, o da comida quente, seja servido)

14 julho 2013

Pipoco, a conhecer pessoas desde há muitos anos

Havia qualquer coisa no indivíduo que me escapava, não sabia exactamente o quê, o indivíduo chegou a horas, explicou sem rodeios o que pretendia, usou o Prezi na justa medida, o casaco era de bom corte, botões de punho a condizer com a gravata discreta, não colocou o telemóvel em cima da mesa, pediu café e não o adoçou, terminou a reunião dez minutos antes da hora, o tempo exacto para eu colocar as minhas perguntas. Ainda assim, eu sentia que algo não estava certo, que me escapava algo importante, que alguma coisa não fazia sentido.

Ao almoço, na hora de pedir as bebidas, o indivíduo pediu um  "panaché". Descontraí finalmente.

12 julho 2013

E tu Pipoco, não mostras o teu bilhete do Alive?

Os Lamborghinis roxos, caramba!

Eles existem. Céus, eles existem mesmo!

http://www.tabonito.pt/ricaco-do-qatar-exibe-o-seu-lamborghini-aventador-roxo-metalico-com-riscas-laranja/

(eternamente agradecido a uma gentilíssima e certamente lindíssma leitora que me mostrou que os sonhos podem transformar-se em realidade)

11 julho 2013

Às vezes acho que tenho demasiado tempo livre

O Henrique Monteiro, do Expresso, fez uma recauchutagem de uma coisa engraçada e associou personagens de Eça aos dias de hoje. Desde o óbvio "O Conde de Abranhos é o Miguel Relvas" até ao forçadíssimo "O Conselheiro Acácio é o Luís Filipe Meneses", a coisa não está mal.

Dei por mim a associar personagens de Eça a isto dos blogues. Jacinto, Fradique Mendes, a Gouvarinho, o Padre Amaro e Dâmaso Salcede foram associações imediatas e óbvias. João da Ega e Amélia foram os que mais me divertiram associar à persona blogosférica, embora a associação seja mais subtil.

Em percebendo isto, acabamos por gostar delas. De todas elas.

As pessoas, todas as pessoas, se repararmos com atenção, têm escrito nos olhos, com tinta de cores fortes "Gosta de mim. Por favor, gosta de mim".

10 julho 2013

Que aprendeste ontem, Pipoco?


Que, com a banda sonora adequada, se demora uma hora e tal para chegar ao Porto, que os filetes de polvo do Aleixo continuam bons, o problema é o arroz que acompanha, que a A1 se mantém fiel à tradição e está em obras, que os emigrantes já chegaram, vê-se pela taxa ocupação da faixa do meio, que os dias demasiado longos são compensados pelas noites curtas.

08 julho 2013

Há alturas em que não sei porque gosto tanto disto aqui

Desde que me lembro sempre pertenci a vários sítios. O sítio para onde os bancos me mandam cartas já mudou muitas vezes, passo muito tempo, talvez demasiado do meu tempo, em sítios onde não pertenço mas no fim de contas é aqui que gosto de voltar.

Mas, mais que tudo, é pelas pessoas, não será pelas pessoas que mandaram fazer rotundas com estátuas lá dentro, Quarteira e Albufeira, auto-estradas onde ninguém passa, leis que ninguém percebe para que servem, mas as pessoas que ainda acreditam nisto, que se fazem à vida, que tentam uma e outra vez, que percebem a vantagem de fazer bem à primeira, que apanham lixo do chão e o colocam no caixote e não está ninguém a ver, essas pessoas mais o queijo de Nisa, a manteiga de Azeitão, o vinho alentejano, o pôr-do-sol na Comporta, as manhãs na serra de Sintra, o pão de Mafra, o peixe grelhado, o café curto, Saramago e Eça, os dias luminosos, o cheiro do mar, as esplanadas com cerveja fresca, Évora e Marvão e Óbidos no inverno, a música em São Carlos, Serralves que me fazem continuar a acreditar que sim, que não há outra solução senão isto compor-se de uma vez por todas.

07 julho 2013

Ruben Patrick explica a semana política que passou

Na minha leitura, Tio Pipoco, o que aconteceu esta semana foi como se um jogador marcasse um penalty decisivo, mas, ao partir para a bola, escorregou e o penalty foi tão mal marcadinho que a bola saiu tão alta que estava quase a sair do estádio, deixando em êxtase os adeptos de um dos clubes e em profundo desânimo os do outro, que começaram a abandonar o estádio. Porém, uma ave de grande porte que passava por ali chocou com a bola, inverteu-lhe o sentido e, numa espécie de carambola, um vento suão que soprava forte precisamente naquele momento empurrou a bola, entretando regressada aos limites da pequena área, para dentro da baliza deserta, nem o guarda-redes lá estava, empenhado que estava a ser felicitado pelos companheiros de equipa, apesar de não ter tido grande mérito no processo. Foi golo, portanto.

Pipoco comenta a semana política que passou

E, se no meio de tudo isto, afinal Portas e Passos são brilhantes? Se afinal Portas subiu de divisão no governo porque geriu até ao limite o efeito cénico da sua demissão, se afinal Passos, com aquilo de não aceitar a demissão de Portas e de dizer que o País é que importa, e tal, teve um rasgo que acaba por ser entendido pela rapaziada como de grande estadista, o homem certo no momento certo? Se afinal ambos nos fizeram um desenho para que percebamos melhor que, sem eles, os juros sobem, a Troika fica aborrecida, a bolsa perde e, muito pior que tudo o resto, o Tó-Zé, esse poço de saberes das vidas dos bravos socialistas de Valdevez de Baixo e Carrazeda de Malaguste, ficava a mandar nisto tudo?

Já agora, mais do que no verdadeiro significado da palavra "irrevogável", vale a pena pensar nisto...

04 julho 2013

Queres então ter um blog?

Queres então ter um blog irónico? Que ideia tão bonita, bem precisados estamos, desde o "Meu Pipi" que não temos um blog irónico em condições. Tem atenção, o campeonato dos blogs irónicos não é para todos, isto as coisas são como são, se deres por ti a ter que apregoar, post sim, post não, que o que ali tens é um blog irónico, se calhar tens apenas um blog tonto e tendencialmente confrangedor, se as pessoas não perceberem à primeira que a coisa é irónica é uma maçada para todos em geral e para ti em particular.

Queres então ter um blog colectivo? Boa ideia, bem precisados estamos, desde o "Sociedade Anónima" que não temos um blog colectivo em condições. Tem atenção, nos blogs colectivos as pessoas tendem a aborrecer-se umas com as outras, ora porque um artista brilha mais que os outros, ora porque há sempre alguém que coloca um post sobre bola cinco minutos depois do teu tratado sobre filosofia das relações que tanto trabalho te deu a escrever e, toda a gente sabe isto, os posts de bola rendem noventa e sete vezes mais comentários que os posts sobre filosofia das relações, principalmente, se os da bola estiverem por cima. Blogs colectivos de mulheres? Humm, eu não me metia nisso, mas a vida é tua...

Queres então ter um blog de fotografias de gatinhos bebés e crianças a beijar-se com um malmequer na mão e pensamentos sobre a importância da amizade e da paz no mundo? Isto é uma democracia, mas não sei se é do teu conhecimento que a pessoa abre o teu blog de gatinhos fofinhos, as pálpebras começam a piscar, a pessoa começa a enervar-se, o batimento cardíaco a aumentar, a boca a abrir-se de forma a oxigenar mais o cérebro e, de acordo com um estudo americano, nos dois segundos que a pessoa dá atenção ao teu blog de gatinhos fofinhos, a pessoa transfigura-se e torna-se uma má pessoa, capaz de fazer o pior aos cabrões dos gatinhos fofinhos. Ainda queres ter um blog de fotografias de gatinhos bebés e crianças a beijar-se com um malmequer na mão e pensamentos sobre a importância da amizade e da paz no mundo? Bem me parecia...

Queres então ter um blog snob-chic? Muito boa ideia, genial mesmo. Não dá trabalho nenhum, as pessoas vão passando, sempre na esperança de algum sinal, descobrem que estás sempre a escrever o mesmo post, mas vão tendo paciência, se os outros gostam porque não haviam elas de gostar também?

(há mais categorias? queiram informar-me e continuamos esta agradável partilha de saberes)

03 julho 2013

Oportunidade

O primeiro-ministro estará hoje em Berlim na conferência europeia sobre emprego.

Maias

Ao princípio estranha-se, eu nem sabia que se podiam alterar coisas perfeitas, é como se permitissem que o David Ghetta escrevesse um terceiro acto para Don Giovanni ou se a senhora velhinha do Ecce Uomo fosse convidada a transformar o 3 de Mayo num tríptico.

Desde  a descrição da casa que os Maias vieram habitar em Lisboa no Outono de 1875 até à corrida final de Carlos da Maia e João da Ega, "Os Maias" é o livro perfeito e, não sei se já tinha dito, eu pensava que na perfeição não se toca.

Depois a ideia entranha-se. Primeiro por razões menores, o puro gozo de imaginar três dos seis autores a patinar e a não agarrarem a coisa. Depois imaginamo-nos na nossa poltrona favorita, um cálice de um Porto Quinta do Noval na mão, a ler aquilo e a pensar que não está mal engendrada a continuação que os outros três autores, os capazes, imaginaram.

E afinal de contas, é capaz de ser uma coisa divertida, isso de termos quem nos conte Carlos da Maia no momento seguinte àquele em que teve que correr por alguma coisa.

01 julho 2013

Como Gaspar perturbou a linha editorial de Pipoco

Tinha aqui um post tão bonito sobre o que acho da iniciativa do Expresso de colocar o Gonçalo M. Tavares e o Zé Luís a pensar na continuação de "Os Maias", e vem-me o Gaspar a roubar-me o soundbite com esta bizarria de se ter demitido...

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Se nunca sentiste a potência do momento imediatamente a seguir ao último abraço, não falo de abraços que ambos sabem ser o último, falo do momento a seguir a um abraço que só tu conheces a circunstância de ser o último, então não sabes nada do que é isso da tristeza na sua forma mais tremenda.