30 agosto 2021

Pipoco pergunta

 Quantos dias são precisos para se ter dez mil seguidores nisso do twitter?

24 agosto 2021

Da viagem grande e outras situações (II)

Gosto do ambiente nostálgico destas estâncias de esqui no Verão, são uma espécie de lugares-fantasma, as lojas de aluguer de material para esquiar estão fechadas, os teleféricos estão em manutenção, as informações sobre a cor das pistas parecem deslocadas, restam um ou dois restaurantes de comida fácil e meia dúzia de pessoas que estão cá para estar em sossego ou para fazer uma descida de parapente, é uma espécie de Vilamoura em Dezembro, enfim, precisamente aquilo que eu procurava depois dos dias de montanha a sério, dos dias em autonomia e de me desviar dos bravos do Grand Raid des Pyrénées, bem mereço estes dias de livros e café quente.

23 agosto 2021

Ainda agora

 São quatro da manhã, bela hora para sair e ver o nascer do sol no Pic du Midi, pelo menos ontem, depois de uma sessão de cervejas artesanais com oito graus e meio de teor alcoólico, malditos monges beneditinos ou lá de que confraria eles são, parecia uma excelente ideia, o melhor é levar os bastões de caminhada e água, comida e um impermeável, é cortar no peso, o tempo está bom, só o essencial, subimos, subimos sempre, caramba, como o tempo mudou, o impermeável afinal faz falta, logo hoje que trouxe t-shirt de algodão, o melhor é parar e comer uma barra energética, comida? ninguém trouxe?, siga, é subir, um pé a seguir ao outro, comandar a respiração e controlar o batimento, de quem foi a ideia de ver nascer o sol? não há sol mas há chuva com fartura, era para ter cortado à esquerda lá atrás e lá atrás são vinte minutos perdidos, sobe, sobe sempre, cá estamos, era aqui mas não há sol, é descer, reaperta as botas para a descida, os músculos são outros, dói? faltam só duas horas, é já ali, a rocha escorrega, foca-te, não digas palavrões, diz bonjour aos senhores que estranham ver-te descer tão cedo, não vaciles, pode ser que o homem que vende queijo de brébis no vale já esteja no seu posto, afinal não está, logo hoje que precisávamos dele, chegaste ao fim, tomas um banho quente, um café a ferver, daqui a anda estás noutra sessão de cervejas artesanais, o que vamos fazer amanhã?

Que vês da tua janela, Pipoco?


 

22 agosto 2021

10 agosto 2021

Ponto em que nos encontramos

 A escassas horas da viagem grande, a tal que marca o fim do meu ano e me faz esquecer por uns dias a problemática do carbono e o aprumo da camisa com colarinho Oxford, separei como bagagem as botas de montanha, umas fiéis North Face que me acompanham desde o tempo em que as velhas Chiruca, as que fizeram El Camiño e a garganta do Cares, os Alpes e os glaciares da Noruega, foram depositadas num contentor no fim de um caminho na ilha de São Jorge e livros, talvez demasiados para o tempo que sobrará entre os precipícios do passo do Tourmalet e as conversas de fim de dia com pessoas da montanha que me contarão histórias dos sítios de onde vêm e me dirão como estão os trilhos mais adiante, este ano escolhi não ter bagagem nem grandes planos, talvez seja assim que a grande viagem faça sentido, afinal sempre me disseram que o que conta é o caminho

08 agosto 2021

Não sei se ficámos amigos

 O homem que às vezes encontro no café fascina-me. Pela barba, pela boina e pela roupa parece um mendigo, mas os sapatos engraxados dizem-me que não é mendigo coisa nenhuma, toda a gente sabe que, se queremos conhecer um homem, é olhar-lhe para os sapatos. No café eu digo-lhe "bom dia" e ele responde-me, nos dias bons, com um aceno de cabeça. Sei que fica a olhar para mim quando eu não não estou a ver, se treinarmos bastante aprendemos a saber quando olham para nós, mesmo quando estamos de costas. Mas o homem, dizia eu, fascina-me e ignora-me, talvez por haver dias em que os meus sapatos não estão convenientemente engraxados (obra das festas finais ao cão grande ou de me apetecer ir apanhar pêssegos à ultima hora), talvez por me ver chegar num carro que me assenta mal. Eu, que eu não desisto das pessoas que me fascinam, mesmo quando me ignoram, estava à espera do momento certo para arrancar uma palavra ao homem que parece um mendigo, mas não é. Aconteceu hoje, faltava-lhe uma moeda das mais pequenas para pagar o café e eu perguntei-lhe se me dava o gosto de lhe oferecer o café. O homem aceitou e disse "muito obrigado, cavalheiro", esse conjunto de palavras que só s homens que calçam sapatos imaculados ainda sabem dizer.

04 agosto 2021

Eu,…

 …que sei que quantos homens estão sentados na viga do arranha-céus de Nova Iorque, que sei quantos anos fazia Einstein no dia da língua de fora, que sei quantos tanques parou o homem de Tiananmen, que sei de que fugia a menina nua no Vietname, que sei o que estava escrito no uniforme militar de Elvis, que sei quantas riscas horizontais tinha a pegada de Armstrong, não faço ideia de como se cozinha um bobó de camarão.

03 agosto 2021

Gin

 Afonso de Burnay, provavelmente o mais bizarro de todos os meus amigos daquele tempo e que me tirou o meu melhor retrato, um em que estou de polo cor de rosa e cara de quem vai sair para uma viagem de um mês de comboio daí a nada, Afonso de Burnay, dizia eu, foi quem me chamou a atenção para o facto de o Paul Mc Cartney estar descalço enquanto atravessava a passadeira na Abbey Road, estávamos nós a caminho do Lohnerhütte, um dos caminhos  mais bonitos que conheço ali para o lado dos Alpes e discorremos longamente sobre esse pormenor, era o tempo que nos entretínhamos com minudências.

(o Afonso de Burnay também me explicou que a falta das pessoas nos pode fazer gostar mais delas, mas eu não acreditei)