O Senhor Dionísio não sabe tirar um café em condições, o que é uma maçada quando se é o proprietário de um estabelecimento que se chama Café Dionísio, mas sabe tudo o que há para saber sobre enxertos de árvores e qual a melhor altura para semear tomilho ou para que ponto cardeal se deve virar o arbusto de louro, é por isso que o meu segundo café do dia, cinco minutos depois do primeiro, é tomado no café do Senhor Hugo, homem de poucas palavras mas que sabe tanto da nobre arte de extrair o melhor da mistura de arábica e robusta como eu sei das artes de distinguir se há mais Malvasia ou Touriga Nacional num bom vinho tinto.
31 janeiro 2021
30 janeiro 2021
29 janeiro 2021
Dois dias
O melhor da minha espécie de confinamento é estar prestes a conseguir o equilíbrio perfeito da quantidade de lima no risotto de gambas, um micrograma a mais ou a menos e é a tragédia, lá se vai o risotto perfeito, é um exercício de tentativa-erro que comecei ainda antes de começar a ler Ulysses, por outro lado estou a especializar-me no conhecimento do exacto momento em que alguém vai desejar saber a minha opinião sobre o que realmente importa para os destinos da humanidade, como vão evoluir os futuros do carbono ou quando vai ficar competitivo o hidrogénio verde, agora preocupo-me menos com o Brent, mas estou a especializar-me, dizia eu, em antecipar em trinta segundos o momento em que do outro lado do écran vão solicitar a minha palavra sábia, sempre tenho tempo para desviar o olhar do comparativo da produtividade do Coates nos jogos mais a doer e naqueles onde teoricamente temos a obrigação de nos desembaraçar, nesses trinta segundos coloco o meu ar mais sabedor e digo os números que sei que irão ancorar a conversa daí para a frente, sempre com a voz firme e o ar convicto de quem sabe que os números podem ser aqueles ou outros quaisquer.
28 janeiro 2021
Um post por dia até me aborrecer
Talvez esta nova versão do confinamento seja menos Camilo Castelo Branco e mais Bukowski, menos Vivaldi e mais Wagner, menos Fellini e mais John Carpenter, estamos mais cépticos e mais distantes, menos optimistas, e afinal tudo teria sido tão mais simples se não tivéssemos deixado que nos descansassem, nos idos de Março, os cartazes a dizer que tudo iria correr bem .
15 janeiro 2021
07 janeiro 2021
A angústia do guarda-redes antes do penalty
A mulher que me Hemingwaynizou uma parte da vida, dominasse ela das artes da paciência e da resiliência e havia de me Hemingwaynizar para a eternidade, deu notícias. Primeiro a medo, aproveitando estes dias de desejar o melhor para todos, eu incluído, depois ganhando confiança, afinal não é todos os dias que se recebem boas palavras daqueles a quem se Hemingwaynizou os dias. Se é verdade que não é boa prática voltar onde se foi feliz, que mal fará um gin tónico num final de dia, pois não é?
03 janeiro 2021
Mas está cada vez mais difícil
Das minhas promessas para o ano que acabou, não cumpri começar a fumar cachimbo, um Bent Bulldog que me impregne a casa de aromas que combatam o todo-poderoso incenso das horas de meditação, não cumpri pisar chão sagrado no Botswana nem nadar nas águas da cidade do Cabo, não corri meias maratonas nem esquiei na Suiça, não me tornei melhor pessoa nem me esforcei por comer mais legumes e beber dois litros de água por dia, não medi os níveis de colesterol nem os níveis do não sei quê da próstata, não consumi séries em prestações mais moderadas, só três episódios de cada vez, no máximo, nem li Ulysses de uma vez por todas.
Mantive a promessa de me manter imortal, isso sim.