27 junho 2012

Post grande, afinal estou de férias

Daqui a pouco, depois daquilo dos hinos, eu de pé, mão esquerda junto ao coração e a voz projectada no meio dos infiéis que se sentirão menorizados por não ter um hino com letra, uma coisa cantabile, o tipo que manda na realização a mandar parar a imagem no detalhe do penteado do Cristiano Ronaldo, também ele de pé, cairá dos céus aquilo que se chama a sportinguização da equipa, uma espécie de fenómeno transcendental que consiste, e isto agora sou eu a traduzir em palavras simples o elaborado fenómeno que é a sportinguização de uma equipa, num bloqueio mental que tem como resultado final um sentimento de quase, um quase estar lá mas afinal não. Este fenómeno, amplamente trabalhado por gerações de treinadores da bola ao serviço dessa instituição de esforço, dedicação, devoção e glória, com um ligeiro interregno quando do Malcolm Alisson, que era maluco, persegue as equipas desde o tempo em que empatávamos com a Escócia e era um bom resultado, eu sou desses tempos, em que era um feito o Sporting despachar o Southampton e a selecção perder por poucos com a Bélgica, era uma coisa honesta, toda a gente sabia ao que ia, não existia cá isso de acharmos que podíamos ganhar a qualquer um. Depois veio a sportinguização, juntavam-se jogadores geniais uns a jogar com os outros, tu jogas a defesa central e chamas-te Peixe, tu aí, rodas baixas, tu jogas na posição sete e distribuis jogo, chamas-te João Moutinho, e era assim que se passavam as coisas, eles jogavam muito à bola e no fim ganhavam os outros, injustamente, mas ganhavam os outros. Ora este processo foi-se sedimentando, os Figos e os Moutinhos e os Cristianos e até mesmo os Simões Sabrosa e Quaresmas desta vida foram pelo mundo, espalharam a boa nova e alguns chegaram mesmo a sportinguizar as equipas por onde passaram, veja-se o caso do Figo no Real Madrid. Outros, menos robustos no domínio do conceito, sucumbiram e definharam e levantaram bem alto os troféus que as equipas ganharam com eles, apesar deles. Ora daqui a pouco, numa espécie de reencontro de amigos de Alex, todos esses porta-estandarte da sportinguização, essa ciência do quase ganhar, subirão ao relvado, liderados por um senhor das artes de sportinguizar qualquer um, aliás, só batido pelo Mestre Peseiro, jogaremos como uns heróis, garbosos e com triangulações rápidas mas lá pelo minuto setenta os outros estarão capazes de se aborrecer e, impulsionados pelas perdidas do Cristiano, mai-las bolas no poste do Moutinho, mai-las saídas fora de tempo do Patrício vislumbrarão ali a sportinguização da equipa a descer devagarinho, como uma névoa mansinha, os jogadores não sportinguizáveis, como o Pepe, que fez a formação no Desportivo de Minas Gerais, a perceber que a coisa se está a dar, eles todos a tentar lutar contra a força maligna, o Bruno Alves a tentar os truques de expelliarmus, uma coisa que ele viu no Harry Potter, mas nada resultar, o Paulo Bento a substituir de uma assentada três jogadores de campo das escolas do Sporting por outros três da universidade sénior do Besiktas, a coisa a não resultar porque também ele, Paulo Bento, está possuído, o Iniesta a ver tudo isto a acontecer, a fazer um sinal ao Casillas para lhe colocar a bola directa e já está, os nossos a ser recebidos na Portela, caramba, estivemos quase, faltou ali uma pontinha de sorte e eu a ver as coisas, que, uma vez mais, são como são.

10 comentários:

  1. Isso da Sportinguização não se deseja nem ao pior inimigo
    (e não é a direita que deveria estar junto ao coração?eu acho que é a direita)

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  2. Prognósitcos...Afiançado pela história e ladeado pela assertividade das tendências, sim, se calhar será assim. Contudo na 'bola' há aquele factor surpresa que tantas vezes bateu o Sporting. a Bola é redonda e nem sempre a melhor equipa é a vencedora. Isto quase soa a pedir para os outros terem azar, que assim seja (olé!)
    Por outro lado o pessimismo ou o realismo extremo pode ser encarado como uma defesa para a desilusão...é mais fácil um 'já estava à espera' do que o sofrimento agudo pelo desaire...
    Fica o apontamento de achar muito engraçado saber de vinhos, charutos e feitiços.
    FORÇA PORTUGAL e o resto é conversa!

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  3. Anónimo27.6.12

    É perito em cativar a atenção dos leitores, que passam pelo seu blogue! Muito bom, como sempre.
    Sol

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  4. Hoje ganhamos pipoco.
    Recentemente quando o nosso Sporting jogou com o Manchester City já só se perguntava por quantos perderiamos...ganhámos.
    Hoje também ganharemos...tenho a certeza.

    Ass: Leoa Ferrenha

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  5. Que visão pessimista. Assim de facto custa menos logo se perdermos. Quanto ao "Outros, menos robustos no domínio do conceito, sucumbiram e definharam e levantaram bem alto os troféus que as equipas ganharam com eles, apesar deles.". Coitadinho do Postiga.

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  6. Mão esquerda no coração?? És um granda vivo ó Pipoco. No coração de quem??? ;)

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  7. Anónimo27.6.12

    Adorei o texto. Talvez porque sei o que é ter o sporting num cantinho bem especial do coração.

    Quanto ao resultado, infelizmente penso que vai ser como descreves.

    Beijinhos

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  8. Anónimo27.6.12

    Evidente que o tio:
    1- ja apanhou sol a mais
    2- está do lado errado da fronteira à demasiado tempo
    3- é mesmo tio a caminho dos 40 ou mais

    Torço a triplicar pela nossa vitòria!

    Sophia

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  9. Anónimo27.6.12

    Anónimo, 'à demasiado tempo'!?!?! esse 'à' é com 'h', há de haver.. deamsiado tempo...
    Paula

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  10. Anónimo27.6.12

    @Paula è um há para que se entrenha a descobrir que padece do mesmo que os comuns mortais c/ tablets, androids, portàteis, multiplas janelas abertas em dialogos continuos que nesse momento se paressava em cruzar a fronteira e se preocupava se n tinha que passar antes pelo sur e dar 1boleia ao Tio Pipoco para que veja a Luz (4-0 há bem pouco e que lhes està entalado, sim tio os periodicos e radios de madrid até há fronteira andam de fazer ranger os dentes e percebo, comparto ... Momento de empatia).

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