Todos os anos, vai para noventa e sete anos, por alturas do oitavo dia de Março, o meu lendário post evocativo do dia da Mulher assegura-me que nada mudou na maneira como as mulheres observam o mundo e eu respiro fundo, há toda uma paz interior que se apodera de mim, tranquilizo-me por saber que há coisas que não mudam, gosto sempre de saber que é meu o mal por evocar o dia da Mulher, porque elas, mulheres modernas e resolvidas, afiam a pena neste dia só para dar umas palmadas nos tipos como eu, que não sabem que ainda há mulheres que não sei quê, que sofrem muito por ganhar pouco, e as crianças e o chefe que é um bandalho e o tipo que mora lá em casa e nem um ovo sabe estrelar, e a sociedade que não facilita.
Das coisas que sei da vida, e são muitas, sei que as mulheres que não se queixam são as que vão mais longe, igual aos homens, sei que as mulheres que permitem que o tipo que mora lá em casa não saiba cozinhar são iguais aos homens que não sabem cozinhar, sei que as mulheres que não exigem ao tipo que mora lá em casa que vá buscar as crianças à escola tantas vezes quanto ela, que não exigem que o tal tipo fique em casa quando a criancinha está doente as mesmas vezes que ela fica, são iguais aos incapazes dos homens que não lhes facilitam a vida.
São as mulheres que facilitam, as que se acomodam à ideia de o tipo ter um emprego tão importante que não lhe permite faltar, as que não os encostam à parede, as que acreditam que eles não têm jeito para cozinhar, as que lhes dobram o pijama, as que lhes perdoam a imbecilidade, que perpetuarão o dia da Mulher e, consequentemente, partilhar com o mundo o que me ocorre dizer a cada dia oito de Março.
Normalmente essas são as que aproveitam a ordem de soltura de uma noite para excessos que em nada contribuem para que o chefe deixe de ser um bandalho ou o marido aprenda a estrelar um ovo.
ResponderEliminarMirone, está a dizer-me que há mulheres que aproveitam o dia da Mulher para jantares de amigas daqueles barulhentos e de risos altos? Mas deixam o jantar no micro-ondas, espero eu...
EliminarAs Mulheres São Mais Fortes
EliminarPara começar, gosto das mulheres. Acho que elas são mais fortes, mais sensíveis e que têm mais bom senso que os homens. Nem todas as mulheres do mundo são assim, mas digamos que é mais fácil encontrar qualidades humanas nelas do que no género masculino. Todos os poderes políticos, económicos, militares são assunto de homens. Durante séculos, a mulher teve de pedir autorização ao seu marido ou ao seu pai para fazer fosse o que fosse. Como é que pudemos viver assim tanto tempo condenando metade da humanidade à subordinação e à humilhação?
JS
Tenho que ir buscar os óculos. Saramago era suposto juntar-se ás citações... Peço desculpa
EliminarQual micro-ondas qual quê? O jantarinho servido, que o marido que nem um ovo estrela não gosta de comida requentada, a loiça lavada e a cozinha arrumada! Depois sim, está pronta para celebrar a sua condição como compete (senão tem de esperar mais um ano e para o ano não dá muito jeito porque calha a um domingo e ao domingo à noite é dia de preparar as roupas para a semana, adiantar umas refeições e ver se os miúdos fizeram os tpc...)
EliminarNão podia estar mais de acordo, meu caro.
ResponderEliminarSão as que se queixam - mulheres ou homens, também os há - que não fazem o mundo acontecer, apenas assistem, nada mudam. Para poderem continuar a queixar-se.
E já agora, para reforçar o espelho que fez de "elas serem iguais a eles, aos que não estrelam um ovo", diz o Hermann Hesse, em Demian, qualquer coisa assim: "vemos nos outros o que há em nós".
Abraço e boa semana,
Susana
Boa semana, Susana. E, ilustrando o que acabou de dizer, permita-me que cite Stendhal: "As mulheres demasiado belas surpreendem menos no dia seguinte".
EliminarÉ. Surpreendentes são as feias e que deixam o jantar no micro-ondas quando não estão lá para o servir... Já só falta citar Schopenhauer, esse conhecido defensor da igualdade de género...
EliminarCuca, já que estamos em maré de citações, creio que era Colette que dizia que "A mulher que se acha inteligente reclama igualdade de direitos com os homens. Mas a mulher que é realmente inteligente não o faz."
EliminarQual Colette? Aquela que foi obrigada a publicar os primeiros livros com um pseudónimo masculino para se afirmar como escritora? Acho que isso diz muito sobre reclamar igualdade de direitos, não? Inteligente é a mulher que esconde a sua condição de mulher para vender livros... estou a ver a ideia.
EliminarEstamos então numa situação em que nem Colette nem Schopenhauer nem Stendhal estão pela sua causa. Teremos que invocar então Esteves Cardoso?
EliminarPodíamos invocar Beauvoir que diz que não se nasce mulher, torna-se. Mas claro que para perceber isso era preciso admitir o papel dos homens no processo da desigualdade de género e isso é coisa que não combina com a ideia inerente ao post.
EliminarGrande Cuca!
EliminarOnde se lê "nada mudou na maneira como as mulheres observam o mundo ", leia-se " nada mudou na maneira como eu penso que as mulheres observam o mundo " ... O resto do post é o habitual num post deste género dos que o Senhor costuma publicar quando está menos inspirado. Boa semana.
ResponderEliminar(A minha querida MD Roque é o expoente máximo da coerência, escreve sempre o mesmo comentário no blog do tipo que escreve sempre o mesmo post)
EliminarEu sei, sou uma querida, uma querida muito chata, mas uma fofura de pessoa . Beijos. Muitos
EliminarDevemos portanto concluir que a culpa pelo facto de as mulheres trabalharam mais e receberem menos; ocuparem um escandaloso número inferior de cargos de chefia; serem as vencedoras na estatística dos despedimentos ilegais, etc, etc, é toda delas e da sua natureza permissiva? Os séculos de uma história feita pelo domínio dos homens não tem nada a ver com isto? E os homens também não têm nada a ver isto? Ou seja, se bem entendi, a culpa de haver um tipo lá em casa que não ajuda em nada, que se desculpa com a importância do seu trabalho para deixar as partes chatas para a mulher e que se comporta como um inapto para manter o seu estatuto doméstico não é dele?
ResponderEliminarCuca, posso perfeitamente comentar o seu comentário da mesma forma que a Cuca comenta o post, com uma pergunta retórica que nada tem a ver com o que escrevi. Quer?
EliminarComo assim não tem nada a ver com o post? A única leitura possível é que a posição de fragilidade social da mulher só existe por culpa da própria. Ora, todos sabemos que essa ideia, apesar de confortável para alguns homens (especialmente os que ocupam cargos de poder dentro de empresas), é do foro da mitologia...
EliminarCuca, isso de "a única leitura possível" é uma expressão tão de género...
EliminarSó pode com isso querer dizer, Dom Pipoco, que a objetividade é uma característica do meu género. A leitura é tão objetiva como o post.
EliminarPMS estava a aguentar razoavelmente bem o diálogo com a Cuca (de inquestionável inteligencia e soberba argumentação)....até essa infelicíssima saida final , que lhe dá a Ela toda mas toda a razão.
EliminarCreia que este seu remate final é mesmo de género !!
Não é à toa que é a Master and Commander de qualquer género.
EliminarEste mundo evolui nitidamente por as pessoas "comerem e calarem"... É por os seres humanos não se queixarem que a mulher ganhou o direito ao voto, que os negros passaram a ser considerados humanos, que as mulheres passaram a frequentar uma universidade, entre tantas outras coisas... Foi por intervenção do Espírito Santo por serem castos e bem comportados...
ResponderEliminarAbsolutamente, absolutamente. E podemos dizer, que não há quem nos desminta, que é tão mais fácil uma boa queixa...
Eliminardia em que desceste do olimpo e resolveste comungar com o comum mortal, foi isso? de resto, ainda não me decidi se o teu post é uma ode às mulheres ou aos homens. mas senti um tonzinho de irritação, o que é um ótimo sinal. Bjos
ResponderEliminarO Dia da Mulher é Internacional e julgo que todos saibam a razão da sua existência (basta googlar). Pela parte que me toca, nesse dia é recorrente lembrar-me que países há, no planeta azul, em que as mulheres são apedrejadas até à morte só porque ousam pensar.
ResponderEliminarOra bem, ora bem! Concordo a 100%.
ResponderEliminarTotalmente de acordo! A igualdade é para todos, todos os dias: http://quando-me-encontrares.blogspot.pt/2014/03/do-8-de-marco.html.
ResponderEliminarPerfeito.
ResponderEliminarFoste tu que escreveste ou copiaste de algum manual para Tótós? Já estou como o outro... encaro isto como sendo ironia. A grande maioria das mulheres evolui na forma estar, de pensar, de se colocar na sociedade. A grande maioria dos homens não. Porquê? Porque não lhes dás jeito...pois que ter de ir com os filhos à pediatra, às vacinas, às reuniões da escola. Ajudar os filhos a fazer os trabalhos de casa. Verificar o que esta em falta em casa e ir ao supermercado. Colocar a roupa a lavar, a secar e passar a ferro. Fazer jantar. Ir com o cão à rua (excepto se tiver um "Pipoco") Isto TUDO depois de ter aturado toda a panóplia de cenários laborais e transportes públicos....Caramba que fiquei exausta.
ResponderEliminarConcordo e torno a concordar, eu fui uma das imbecis que durante 28 anos, achou que o outro lá de casa era demasiado importante para como qualquer mortal ir buscar as criancinhas ao colégio, ir sequer a uma reunião da escola, levantar-se de noite, mexer uma palha em casa, fazer comer nem pensar e muito menos ir às compras, e com isso conseguiu precioso tempo extra para evoluir na carreira e eu fiquei na mesma, e a culpa foi minha!!!!! Foi preciso os próprios filhos hoje adultos abrirem-me os olhos para o poço de egoismo que é sua excelência para eu acordar finalmente, demorou mas foi. Maria José
ResponderEliminarPipoco, deixe que lhe diga, o Pipoco vai para o Panteão! Ó alma iluminada.
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