13 dezembro 2013

Os meus dois minutos de fama com J. Rentes de Carvalho



Cancelei a videoconferência com Nova Iorque, antecipei o voo de Madrid, recordei a Maria Gertrudes da minha indisponibilidade para toda a tarde, vesti o meu melhor fato, engraxei os sapatos com mais afinco que nos outros dias, ajeitei o nó da gravata, dei uma última olhadela na minha imagem reflectida no capot preto do carro alemão que mandei lavar, com polimento extra, o normal nestas situações, fiz-me à estrada, imaginei que era a velha estrada de Sintra que os dos livros de Eça percorriam para ir ter com espanholas e cear no Lawrence e foi-me menos penoso passar Massamá e a Damaia, o Cacém e Ranholas. Escolhi uma estação de rádio dessas de música calma e cheguei com tempo à biblioteca municipal, o normal nestas situações.

As senhoras da recepção sorriram-me, é o meu lendário poder sobre senhoras de idade, e lá estava J. Rentes de Carvalho a falar com homens de cara séria e mulheres de olhar embevecido, os grandes escritores têm este efeito.

A cerimónia estava atrasada, o normal nestas situações, respirei fundo, lembrei-me das técnicas de ioga para controlar a pulsação e abeirei-me de J. Rentes de Carvalho, sorriso nervoso, pé ante pé, acercando-me em círculos. "Professor, posso pedir-lhe para me autografar um livro?", disse eu, quase num sussurro, falta de experiência de pedir coisas, J. Rentes de Carvalho, solícito, vendo-me a tropeçar nos meus próprios pés, as mãos trementes, apiedou-se e disse que sim, quis saber o meu nome, o normal nestas situações. "Pipoco Mais Salgado", murmurei, esperando que as senhoras da primeira fila não ouvissem, "Como?" quis saber J. Rentes da Carvalho, "Pipoco Mais Salgado", repeti quase junto à orelha de Rentes de Carvalho, sentindo-me um menino que roubou um doce e foi apanhado, olhei por cima de mim abaixo, fato completo, sobretudo azul, realizando o ridículo de dizer a J. Rentes de Carvalho que me chamava "Pipoco Mais Salgado", lamentando não ter um blog chamado "Benevides de Burnay", felizmente Rentes de Carvalho lembrava-se vagamente de mim, apesar do seu "Não pode ser, não pode ser...", é sempre assim, as pessoas têm expectativas demasiado altas em relação a mim, está sempre a acontecer-me, felizmente chegaram pessoas importantes e J. Rentes de Carvalho, posso apostar que com pena, teve que ocupar o seu lugar na mesa, o normal nestas situações.

E as pessoas falaram e disseram coisas importantes e leram excertos do livro que ali os trazia, o normal nestas situações, e J. Rentes de Carvalho também falou e disse coisas acertadas e de valor, e lá estava eu no final, de novo com o livro estendido e à conversa com o grande J. Rentes de Carvalho e as pessoas a olharem para nós e as senhoras a perguntarem-se quem seria aquele rapaz tão composto, e os fotógrafos começaram a disparar os "flashes", o normal nestas situações, e eu a pensar se seria como nas revistas cor-de-rosa onde apareceria Rentes de Carvalho e eu, e o título do retrato havia de ser "J. Rentes de Carvalho com um amigo" e eu havia de ficar contente porque ser confundido com um amigo de J. Rentes de Carvalho era coisa para ser, de longe, o melhor do meu dia.

6 comentários:

  1. Anónimo13.12.13

    :)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

    (desculpe, mas tinha de ser :)

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  2. Anónimo13.12.13

    And this is Christmas

    AnaB

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  3. Anónimo13.12.13

    Eu cá não sou de intrigas, mas olhem que Tio Pipoco é o alter ego de J.R.C.; O Ruben é o alter ego de Tio Pipoco; o ononimo é o alter ego de Ruben e... há mais, mas agora não posso escrever porque tenho de trabalhar!

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  4. :D :D :D
    excelente meu caro, excelente!

    ... só faltou confessar que sintonizou a antena 2.

    ... e terno beijinho para a Palavras!
    ... o OCorvo? que é feito desse malandreco?

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  5. Que bonito Senhor. Amei !

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