29 janeiro 2017

Ainda Janeiro não acabou...

...e já despachei dois hotéis da lista de quatro que interessava conhecer, já vi três filmes que há muito me apetecia ver, já comprei dois livros que há muito estavam esgotados, já marquei viagem para a única grande capital que ainda me faltava.

Isto vai.

Que vês da tua janela, Pipoco?


27 janeiro 2017

Morrer de amor

O problema, Ruben Patrick, é que deve ser um aborrecimento dos antigos essa coisa de se morrer de amor, a pessoa ali a ter episódios de taquicardia porque a amada ou não está sintonizada na situação, ou não está a par de que está alguém nesse preciso momento a morrer de amor por ela, ou, simplesmente, dá-se o caso de estar ela própria a morrer de amor por outro alguém, a pessoa a definhar, a enganar-se no caminho para casa, a não dizer coisa com coisa, a perguntar-se como conseguiu existir antes de a conhecer, a embevecer-se a cada palavra dela, a não dormir em condições, a parecer-lhe que sem ela nada mais importa, nem o Sporting campeão, nem almoçar no Porto de Santa Maria, nem uma garrafa de Barca Velha da última colheita, enfim, Ruben Patrick, tudo isto quando bastava chegar à beira dela, um bom fato vestido, um sorriso de quem tudo pode, a confiança de quem lhe pode dar mundo, olhando-a nos olhos, convidando-a para um jantar lá em casa, ela a chegar, ele recebendo-a de avental branco, atarefando-se nos últimos pormenores da sobremesa, Roth e Herberto espalhados pela cozinha, Bach a sair de uma Bang&Olufsen invisível, ele a servir-lhe o vinho certo em cada ocasião, ela finalmente a intuir que está ali quem lhe pode garantir o refinamento da espécie, ela a rir com as histórias de viagens que ele lhe conta, ele a ouvi-la com atenção, com atenção indisputada, enfim, Ruben Patrick, tudo tão mais fácil e eficaz, sem essa trapalhada de se morrer de amor.

26 janeiro 2017

Já morri

Num fundão do Zêzere, eu com seis anos, eu sabendo o meu tio a fumar a menos de um metro, eu a afundar-me, eu a não conseguir agarrar-me ao meu tio, o meu tio puxando-me do que me parecia o fundo de um abismo, o meu tio dizendo "então, engoliste um pirolito?" enquanto continuava a fumar e a falar com um amigo, sem sequer olhar para mim a a água a dar-lhe pela cintura, eu a ir para a margem devagar.

Nos Alpes suíços, o glaciar que estava mais abaixo do que aquilo que me mostrava a carta topográfica, eu sem equipamento para passar o glaciar e sem tempo para voltar para trás, eu a olhar para o declive e a pensar que se me escorregasse um pé, se por ali existisse gelo fino, se, se se.

Ela a oferecer-me boleia para casa, eu a aceitar, eu a perceber que ela não era a melhor condutora do mundo assim que ela engatou a primeira, ela a não parar num stop, o camião a desviar-se no último segundo, ela a passar o cruzamento imperturbável, ela a dizer "se calhar devia ter parado", eu a concordar com ela.

Na garganta do Cares, eu a ser inconsciente, eu a não querer contar mais nada sobre isto que se passou na garganta do Cares.

Eu com demasiado gin tónico, eu de pé no banco do pendura de um descapotável, chuva e a Marginal sem separador central.

O comboio a chegar a Budapeste, era a estação final, eu a acordar devagar, o comboio a voltar para trás, eu a saltar do comboio em andamento, eu a cair para o lado certo.


(inspirado no sempre notável J. Rentes de Carvalho)

24 janeiro 2017

Tuga Hygge

Caminhar no Guincho contra o vento, de olhos fechados, comer pastéis de Belém ainda quentes sem ter esperado na fila, ir ao Museu Cargaleiro só para ver os quadros das minhas serigrafias, comer um sargo que acabei de pescar, abraçar o pescoço de um cão Serra da Estrela muito grande, beber café Camelo antes das oito da manhã, aquecer as mãos numa fogueira com madeira de azinho, subir às muralhas de Marvão e não dizer nadas, uma imperial Super Bock nas roulottes de Alvalade depois de um jogo em que ganhámos ao Benfica, dizer Herberto Hélder em voz alta na rua num dia de muito nevoeiro, beber vinho tinto do Douro num jantar de amigos que contem histórias de viagens, comprar um cobertor de papa e usá-lo numa noite de muito frio, adormecer na praia da Amália ao fim da tarde, comer manteiga do Açores com pão alentejano acabado de sair do forno. E que mais?

23 janeiro 2017

Hygge

O Hygge é a coisa do momento, as minhas fontes dizem-me que é uma daqueles conceitos não tem tradução, nesse particular é parecido com a saudade, mas houve quem investigasse porque raio é que os dinamarqueses, com aquelas poucas horas de sol, com aquela cerveja Carlsberg e com aquele frio de rachar, ainda assim eram um povo feliz, ora acontece que afinal é porque se dedicam a apreciar as pequenas coisas da vida, ele é o barulho da chuva, ele é andar descalço na areia, ele é sentir o ar frio na cara, ele é ficar feliz por sobreviver a mais um dia, enfim, coisa que um qualquer sem-abrigo de Lisboa tem acesso fácil, só que não sabe que a coisa se chama Hygge porque nunca lhe ocorreu ler o tal livro, estou bem capaz de fazer um post sobre isso do Hygge, em modo tuga, é isso ou ler mais meia página de Ulysses, sim abandonei a tradução e voltei ao original, as nossas bestas negras têm muitas maneiras de ser abordadas.

Os problemas das mulheres

Terem razão mas não fazerem nada com ela.

22 janeiro 2017

Estereótipos

Estava aqui a ver as marchas das mulheres contra Trump, um presidente eleito com o voto de outras mulheres, mas isso agora não interessa nada para o que quero dizer e eu percebo-as, também me amofino com as bizarrias de Trump, estava aqui a ver as marchas das mulheres contra Trump, dizia eu, elas com aqueles barretes cor-de-rosa com uma espécie de efeito de orelhas de gato e fiquei aqui a pensar que se o presidente fosse italiano os barretes haviam de ser muito mais bonitos, um design cuidado, talvez o problema fosse não serem muito funcionais, se o presidente fosse chinês todas, mas todas as mulheres haviam de ter um barrete, o problema é que haviam de se desfazer antes do fim da manifestação, se fossem alemãs haviam de ter uns barretes todos iguais, fortes, reforçados, barretes que haviam de durar uma vida, se fossem portuguesas, se fossem portuguesas?...

21 janeiro 2017

Enquanto o Sporting perde

Não tivesse sido uma semana em que sucederam situações e eu havia de ter reflectido sobre o magnífico post da Pipoca Mais Doce, essa musa inspiradora a quem tanto devo, um post que nos faz reflectir sobre os velhos tempos dos blogs em que todos nos divertíamos muito e assim, havia também de me ter inspirado neste post de J. Rentes de Carvalho, havia de vos contar as vezes em que também eu já morri, menos do que as de J. Rentes de Carvalho, desculpa-me o que sei da vida ser bastante menos do que sabe J. Rentes de Carvalho, havia ainda de ter dado o ponto de vista do utilizador neste post da Susana Rodrigues, podia ser que ajudasse as gerações vindouras a não perpetuar erros que perduram, havia ainda de vos mandar ler o Ferreira Fernandes de ontem, uma escrita superlativa, havia de ter escrito sobre tudo isto, seriam quatro maravilhosos posts, assertivos, as palavras cuidadosamente alinhadas, uma coisa em bom. Mas afinal não.

15 janeiro 2017

Por pouco isto não foi uma guerra de bloggers (moral da história)

Gentis leitoras, vamos agora dissecar o que aprendemos com esta desagradável história em que quase me aborreci com o jovem Ruben Patrick que, com o ímpeto da sua juventude e com a carga que é ser um menino resgatado a uma vida de dificuldades, se arvorou em conhecedor de situações e ousou inquietar-me.

Ora aconteceu que todas vós, gentis leitoras, pressentindo o dano, logo decidísteis aconselhá-lo por bem, fazendo-o vislumbrar o caminho da verdade e da paz. Estou grato a todas vós pela sensatez com que agísteis, chamando um jovem à razão, mostrando-lhe que uma amizade de tantos anos não pode ser vilpendiada de uma forma tão atroz, afinal isto não são só blogs, foi a vossa perícia nas artes da inteligência emocional que resgatou um quase-foragido da razão, um putativo perdido para as delícias de uma blogosfera sadia.

O meu bem-haja a todas vós, por terdes interrompido uma tarde de domingo certamente passada junto de uma lareira crepitante na companhia de quem vos ama, para meterdes um pouco de tranquilidade na cabeça deste bom rapaz. Evitásteis assim uma zanga desagradável e bem podeis ficar de bem com as vossas consciências por terdes tido a coragem de intervir e evitar um desaguisado de consequências quiçá irreparáveis.

Retomarei a agradável sequência de bons, suculentos e educativos posts, promovendo uma concórdia saudável e ciente de que este exemplo de como a blogosfera se pode unir para salvar uma amizade perdurará pelos tempos e será usada como estandarte sempre que a discórdia volte a espreitar.

Oh não, será isto mais uma guerra de bloggers?... (Capítulo III)

Ai ele é isso, Tio Pipoco? Então vou tomar medidas drásticas: vou tirar o link para o seu blog da minha lista!

(incha...)

Oh não, será isto mais uma guerra de bloggers?... (Capítulo II)

Ruben Patrick, eu ensinei-te o clássico “comece a usar os talheres de fora para dentro”, eu ensinei-te que, depois de usados, os talheres não devem voltar para a mesa, devem ficar apoiados dentro do prato, eu ensinei-te que de forma alguma deves gesticular com os talheres nas mãos, eu ensinei-te que deves sinalizar que terminaste a refeição colocando o garfo e a faca alinhados no prato, sendo o garfo ao lado esquerdo ou abaixo da faca, nas posições do ponteiro do relógio quando atinge nas 4 horas, eu ensinei-te que as facas de carne são utilizadas apenas para carnes vermelhas e aves e que para os peixes existe faca própria, eu ensinei-te que as omeletes e legumes devem ser cortados com o garfo, eu ensinei-te que o esparguete não deve ser cortado, enrolas no garfo e levas à boca, eu ensinei-te que quando comes sopa deves levar a colher à boca pela lateral, e tu agora fazes-me uma destas, seu desaforado?

Oh não, será isto mais uma guerra de bloggers?... (Capítulo I)

Tenho saudadinhas dos tempos em que o Tio Pipoco aqui escrevia coisas tão, mas tão, engraçadas, de rebolar a rir de tão engraçadas que eram. Não percebo este novo registo do Tio. Todos os dias as minhas preces vão para o regresso do Tio e para que as coisas voltem a ser como eram...

Insónia


10 janeiro 2017

Uma coisa nova por dia

Rir das coisas do Ricardo Araújo Pereira só por respeito.

09 janeiro 2017

Há uma forma de ler Ulisses (*)

É imaginar Joyce sentado ao meu lado, a distância segura, eu a poder dizer-lhe sempre que me apetecer que o parágrafo está uma bela merda, Joyce a abespinhar-se, explicando-me o que lhe ia na cabeça quando escreveu o que escreveu, dizendo-me que é legítima a minha dúvida, que a coisa carece de contexto, eu a perceber, a passar ao parágrafo seguinte, Joyce tamborilando com os dedos na mesa, tenso, aguardando enervado o meu próximo julgamento, eu olhando Joyce e fazendo menção de pedir novas explicações, decidindo prosseguir no ultimo segundo sem questionar Joyce, Joyce apaziguando-se, eu avançando, Joyce não podendo fazer coisa nenhuma antes de eu terminar, Joyce tentando apressar as coisas, ansiando por uma dose dupla de whiskey. eu acenando que não, que tenho o meu tempo.

(*) o tal sinal

08 janeiro 2017

Uma espécie de blogger-Sísifo

Há nisto dos blogs uma blogger que se esforça de forma quase enternecedora na nobre tarefa de captar a minha atenção, a cada dia que passa a sinto mais abnegada, com novas forças, uma vontade tão deliciosamente férrea que quase me faz repensar a minha decisão de não a achar extraordinária e dar-lhe uma oportunidade. É nessa altura, no momento em que está quase a chegar lá, que a tal blogger escreve uma patetice qualquer e lá recomeça tudo de novo.

06 janeiro 2017

Os problemas das mulheres

Abandonarem homens que nem sequer conhecem.