Num fundão do Zêzere, eu com seis anos, eu sabendo o meu tio a fumar a menos de um metro, eu a afundar-me, eu a não conseguir agarrar-me ao meu tio, o meu tio puxando-me do que me parecia o fundo de um abismo, o meu tio dizendo "então, engoliste um pirolito?" enquanto continuava a fumar e a falar com um amigo, sem sequer olhar para mim a a água a dar-lhe pela cintura, eu a ir para a margem devagar.
Nos Alpes suíços, o glaciar que estava mais abaixo do que aquilo que me mostrava a carta topográfica, eu sem equipamento para passar o glaciar e sem tempo para voltar para trás, eu a olhar para o declive e a pensar que se me escorregasse um pé, se por ali existisse gelo fino, se, se se.
Ela a oferecer-me boleia para casa, eu a aceitar, eu a perceber que ela não era a melhor condutora do mundo assim que ela engatou a primeira, ela a não parar num stop, o camião a desviar-se no último segundo, ela a passar o cruzamento imperturbável, ela a dizer "se calhar devia ter parado", eu a concordar com ela.
Na garganta do Cares, eu a ser inconsciente, eu a não querer contar mais nada sobre isto que se passou na garganta do Cares.
Eu com demasiado gin tónico, eu de pé no banco do pendura de um descapotável, chuva e a Marginal sem separador central.
O comboio a chegar a Budapeste, era a estação final, eu a acordar devagar, o comboio a voltar para trás, eu a saltar do comboio em andamento, eu a cair para o lado certo.
(inspirado no sempre notável J. Rentes de Carvalho)
1- morreu no menino a confiança nos Tios, nasceu o firme propósito de aprender a nadar.
ResponderEliminar2- Se cá nevasse, fazia-se cá ski
3- essa falta de firmeza, perante a doideira feminina, já me desiludiu, ó Tio.
4- não quer contar; eu respeito, mas...como poderei saber se isto não é só garganta (de Cares)?
5- morria adormecido em g(b)rande estilo.
6- se prova que Buda não é nenhuma Peste.
PS- Ainda bem que isto foi tudo um 'suponhamos'...
Viva la Vida!!!
No terceiro parágrafo fiquei a rir (desculpe), mas achei essa condutora com muito estilo.
ResponderEliminarA Marginal sem separador central era um horror, mesmo.
Muitas formas de quase morrer, mas faltou-lhe a principal..
ResponderEliminarNão vejo valor acrescentado em morrer de amor, Ana...
EliminarValor acrescentado?
EliminarNão me diga que não tem mais glamour morrer de amor do que ficar com as pelencas todas alcoolizadas espalhadas pela Marginal?! E o que se aprende, heim? Pelo que sei ainda hoje bebe gin.
Ora bem, como é que eu hei-de dizer isto de uma forma não vulgar mas sem floreados poéticos?
EliminarPipoco, não se tratará de morrer de amor, antes morrer porque o fez, e muito bem feito. Tenho a certeza que há estudos que atestam que um orgasmo comme il fault é em tudo semelhante à morte, o coração pára por segundos, deixa-se de respirar, interrompem-se as sinapses...
Nunca me enganaste...
EliminarMirone, eu digo que não vejo nenhuma vantagem em morrer de amor, a menina responde-me que bom sexo é coisa de valor. Que tem uma coisa a ver com a outra?
EliminarEu falei-lhe de o (amor) fazer.
Eliminar(abstenho-me de o elucidar, por todas as razões e mais alguma, das diferenças entre um e outro)
Se não vê valor acrescentado em morrer de amor, então é porque nunca morreu mesmo... Uma pena, adianto-lhe já.
Eliminar(Mirone, sexo e amor são caixas diferentes. Quando se juntam não se morre, ressuscita-se.)
...morrer de amor, no sentido de desfalecer de êxtase, de prazer, carago!! Será que ainda ninguém entendeu o que a Mirone quer dizer?
EliminarE depois sou que não sou a tal sábia leitora...que nervos!!!
Tio?!...de amor nunca morreu? é um problema dA Mulher? :D
ResponderEliminarEscusado será dizer que gosto tanto destes seus posts, mas ainda assim digo e...também quero:
ResponderEliminarEu com seis anos, de repente uma corrente esquisita na Lagoa de Albufeira, a corrente a puxar-me e eu a ir com uma velocidade que parecia que tinha um motor incorporado, eu a engolir água, eu com dificuldade em respirar, eu a tentar agarrar-me à margem, a qualquer coisa, a não conseguir, uma senhora gorda, muito gorda, eu a agarrar-me com unhas e dentes, a senhora a aguentar-se sem cair, eu aqui, hoje, a escrever isto.
Um carro, demasiada velocidade, demasiadas "habilidades", aquele olhar pelo canto do olho daqueles que dizem "olha bem para isto, repara como sou destemido, you need a hero? Aqui o tens", de repente, ao lado da estrada principal, um caminho de terra batida, uma mota com um atrelado, uma travagem daquelas, uma nuvem de poeira, um senhor a dar cambalhotas no capô do carro, o senhor não morreu, ficou totalmente bem depois de ter estado uns dias no hospital e eu cá estou a escrever isto.
De cada vez que me morreu gente que eu amava e que vou amar para sempre.
Durante um beijo.
Parece-me que ninguém está a levar a sério as suas mortes, caro Pipoco.
ResponderEliminarPensam que este post é igual ao anterior.
Isto são experiências reais...
Eu é que já quase morri d'amor, porque não pertenço à classe de gente com classe. Gente fina não morre de amor...mata por amor!!
Caríssima Maria Antonieta, noto que não domina o raro saber da fórmula que uso para indução de comentário do sábio leitor...
EliminarCaro Pipoco, lamento não ter intuição bastante para ter captado ainda essa sua fórmula mágica. Lamento tanto. Mas que poderei fazer para me tornar uma sábia leitora, que domine, sem esforço, esse raro saber? Dizer palavrões? Não sei, digo eu...
EliminarAbençoada inspiração, adorei o post, vi as cenas todas a acontecer à minha frente.
ResponderEliminarCompreendo perfeitamente a mãe de PMS a verbalizar: devias telefonar mais vezes.
ResponderEliminar[credo! quanta adrenalina! Pipoco é um perigo :)]