14 outubro 2020

Fronteira

Sei precisamente quando me apaixonei pelas aldeias da raia, foi no tempo em que li os Novos Contos da Montanha e tive vontade de ler “Fronteira” duas vezes seguidas, a beleza do guarda republicano a mudar de vida, aconteceu-me agora nestas férias por lugares lá longe decidir ir a essa Fronteira de Torga e esbarrar com a triste realidade, não existe nenhuma Fronteira nas terras da raia, muito menos existe um austero castelo de Fuentes, há uma Fronteira para os lados de Sousel e um castelo de Fuentes em Palência, nem um nem outro na zona da raia, e, pior, de Fronteira não se vê o castelo de Fuentes e vice-versa, assim destrói Torga o encanto das coisas simples, que são um homem decidir-se, muitos anos depois, a um lugar que o fascinou, um desses sítios onde um homem chega, olha em redor, pensativo, e diz “sim senhores, foi precisamente por estes caminhos que o Valentim e o Sabino se esgueiraram”, acabei em Marvão, que sempre é terra da raia, as coisas são como são. 

4 comentários:

  1. Anónimo14.10.20

    Pois eu apaixonei-me pela Cidade e as Serras de Eça de Queiroz e nao me desiludi. Nao me canso de o reler
    Vw

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  2. Caramba... Lá me obrigou a pegar no meu tesouro, não de 'Novos', mas apenas "Contos da Montanha". É por essas que conta - e eu acredito - e outras que eu penso, que nunca passei nem passarei por Soutelo, por Bravães, pelas serras agrestes de Trás-os-Montes.
    Quero continuar a apiedar-me do 'Duro' que corria todas as serranias das redondezas, a vender o seu milhão, desde madrugada até noite fechada, trabalhando como um moiro, para trazer a mulher airosa e anafada. E ela, ingrata e porca, a trair o desgraçado, descaradamente. Para continuar a sentir uma enorme compaixão pelo pobre Pé-Tolo. Sentir as dores da Melra e a alegria do Ronda ao oferecer o cavaquinho ao filho Júlio, pelo brilhante exame com distinção, da quarta classe.

    Não, Mestre PMS, tire-me tudo, mas não me leve os meus nobres sentimentos de adolescente...

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  3. Cláudia Filipa15.10.20

    Estou aqui entre manifestar-lhe a minha solidariedade pela desilusão que terá sido passar a fronteira de um encantamento muito seu para uma realidade que não correspondeu, ou, apenas dizer-lhe que, se este não é um dos posts mais bonitos (e íntimos, eu acho) que escreveu, tendo em conta o que já li escrito por si, claro, macacos me mordam.
    É que está qualquer coisa de particularmente bonito este post. Acho mesmo. Peço-lhe até desculpa, que a palavra "bonito", aqui, fica bem aquém, mas está a facilitar-me a vida.
    Quando a Kina uma vez aqui falou de intimidade, e eu saí daqui a pensar naquilo, e penso que percebi a sua (dela) "definição", tendo em conta este tipo de contexto (e mesmo não só). Pensei também que se um dia o Pipoco Mais Salgado nos desafiasse a fazer-lhe uma pergunta íntima, talvez mesmo daquelas que, no seu entendimento, não fosse para abordar aqui, eu pediria que me falasse sobre as montanhas, ou melhor, que me explicasse as montanhas (adoraria que me explicasse as montanhas). Agora, ao ler este post, fez-me lembrar, pensei que, se um dia me respondesse explicando as montanhas, seria, talvez, assim desta forma, mas com uma grande diferença, sim, sem a parte da desilusão.

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  4. Que boa escolha, tio! Ficou na Estalagem? Talvez nos cruzemos por aí amanhã. costumo passear um cão preto já muito velhinho, eu própria já não sou nova. Beba um café, de manhã, na esplanada do bar "O Castelo" e compre pão de castanha na Mercearia. E olhe, volte sempre!

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