Era o tempo das férias grandes. Foi o tempo em que os meus pais me levaram a conhecer o mais possível do país de norte a sul, apenas com um mapa e sem destino definido para dormir, seria no hotel, residencial, pousada do sítio onde chegássemos perto das 19 horas, por isso foi o tempo em que me apaixonei verdadeiramente e para sempre por Portugal. Foi o tempo das primeiras saídas só com amigos, a primeira saída foi de dia e foi uma sessão de cinema no Amoreiras, por causa disso o filme e a sua música principal têm o meu carinho especial. Foi o tempo em que, num verão, a minha madrinha me ofereceu um diário lindo com cadeado e eu guardei lá uma quantidade de emoções e quando começou o inverno escondi a chave tão bem escondida que aconteceram umas obras em casa e nunca mais a encontrei, e isto dá-me sempre vontade de rir, o diário cá está guardado e bem fechado para sempre, tenho, literalmente, emoções fechadas a cadeado. Foi o tempo em que todos liam os Cinco e eu lia a Coleção Mistério, e achava delicioso, como já aqui disse, adorava a genialidade do Gordo e foi o tempo em que, influenciados, formámos um grupo para deslindar mistérios e uma vez entrámos numa quinta com um portão muito grande que quisemos achar muito misteriosa e foi o dia em que uns metros apenas nos pareceram a volta ao mundo em oitenta dias, três enormes cães, quando nos viram, encarregaram-se de nos escoltar de volta à saída e ainda me lembro do bafo quente nas canelas e das rosnadelas e dos dentes afiados e nós a tremer, agarrados uns aos outros e a dizermos muito baixinho, não podemos correr, não podemos correr e a pensarmos que íamos morrer ali, sem coroa nem glória, tão novos e sem termos resolvido mistério nenhum, dessas aventuras decidimos escrever um livro a várias mãos, cada um escrevia um episódio com muita imaginação à mistura e muita irrealidade acrescentada, "o livro" ficou inacabado e para sempre. Também para mim, foi o tempo de tomar banho de mangueira, depois da praia, no quintal. E sim, o cheiro das pinhas e o gosto daqueles pinhões... E agora estou aqui a fazer uma associação com aquele seu post sobre o essencial da felicidade, a disponibilidade para sermos fascinados e fiquei com vontade de dizer que, essa disponibilidade acontece quando conseguimos, ou a vida nos vai permitindo, manter intacta aquela parcela de olhar o mundo com os olhos do tempo em que éramos felizes e não sabíamos. (gostei tanto de escrever isto. Obrigada.)
/a mãe colocava os colchões no terraço, ela ficava no meio, eu de um lado, os meus três irmãos do outro. ficávamos acordados até muito tarde, falávamos das estrelas, fingíamos saber todos os nomes, do que queríamos ser quando fossemos grandes, das lutas dos alacraus e das rãs da ribeira, enquanto a minha mãe nos ia dando talhadas de melancia... fui genuinamente feliz, nessas noites de verão, e só o soube muito mais tarde, quando já era tarde demais./
Era o tempo das férias grandes. Foi o tempo em que os meus pais me levaram a conhecer o mais possível do país de norte a sul, apenas com um mapa e sem destino definido para dormir, seria no hotel, residencial, pousada do sítio onde chegássemos perto das 19 horas, por isso foi o tempo em que me apaixonei verdadeiramente e para sempre por Portugal. Foi o tempo das primeiras saídas só com amigos, a primeira saída foi de dia e foi uma sessão de cinema no Amoreiras, por causa disso o filme e a sua música principal têm o meu carinho especial. Foi o tempo em que, num verão, a minha madrinha me ofereceu um diário lindo com cadeado e eu guardei lá uma quantidade de emoções e quando começou o inverno escondi a chave tão bem escondida que aconteceram umas obras em casa e nunca mais a encontrei, e isto dá-me sempre vontade de rir, o diário cá está guardado e bem fechado para sempre, tenho, literalmente, emoções fechadas a cadeado. Foi o tempo em que todos liam os Cinco e eu lia a Coleção Mistério, e achava delicioso, como já aqui disse, adorava a genialidade do Gordo e foi o tempo em que, influenciados, formámos um grupo para deslindar mistérios e uma vez entrámos numa quinta com um portão muito grande que quisemos achar muito misteriosa e foi o dia em que uns metros apenas nos pareceram a volta ao mundo em oitenta dias, três enormes cães, quando nos viram, encarregaram-se de nos escoltar de volta à saída e ainda me lembro do bafo quente nas canelas e das rosnadelas e dos dentes afiados e nós a tremer, agarrados uns aos outros e a dizermos muito baixinho, não podemos correr, não podemos correr e a pensarmos que íamos morrer ali, sem coroa nem glória, tão novos e sem termos resolvido mistério nenhum, dessas aventuras decidimos escrever um livro a várias mãos, cada um escrevia um episódio com muita imaginação à mistura e muita irrealidade acrescentada, "o livro" ficou inacabado e para sempre. Também para mim, foi o tempo de tomar banho de mangueira, depois da praia, no quintal. E sim, o cheiro das pinhas e o gosto daqueles pinhões...
ResponderEliminarE agora estou aqui a fazer uma associação com aquele seu post sobre o essencial da felicidade, a disponibilidade para sermos fascinados e fiquei com vontade de dizer que, essa disponibilidade acontece quando conseguimos, ou a vida nos vai permitindo, manter intacta aquela parcela de olhar o mundo com os olhos do tempo em que éramos felizes e não sabíamos.
(gostei tanto de escrever isto. Obrigada.)
(se gostou tanto de escrever quanto eu gostei de ler...)
Eliminar/a mãe colocava os colchões no terraço, ela ficava no meio, eu de um lado, os meus três irmãos do outro. ficávamos acordados até muito tarde, falávamos das estrelas, fingíamos saber todos os nomes, do que queríamos ser quando fossemos grandes, das lutas dos alacraus e das rãs da ribeira, enquanto a minha mãe nos ia dando talhadas de melancia... fui genuinamente feliz, nessas noites de verão, e só o soube muito mais tarde, quando já era tarde demais./
ResponderEliminaré uma bela corrente, esta, amigo Pipoco.
(não é bem uma corrente, é só uma espécie de tocar a reunir e voltarmos aos locais onde fomos felizes)
Eliminarobrigado pelas vossas memórias, senti-me lá.
ResponderEliminarHomem