27 setembro 2015

Sobre os comentários do post anterior que escolhi não publicar

Quem leu Dom Quixote é capaz de se lembrar (quem não se lembrar é ler aqui o resumo e fazer boa figura) de quando o cavaleiro da triste figura se encontra com Sansão Carrasco que lhe conta que Benengeli, um mouro sábio (nesse tempo havia-os) escrevera sobre os feitos de Dom Quixote. E ali está Dom Quixote, personagem de Cervantes, querendo saber de Dom Quixote, personagem de Benengeli, um pouco como o efeito daqueles espelhos em que nos vemos reproduzidos até sermos um ponto, ou como a embalagem do fermento Royal.

E é aqui que chegamos às personas dos blogues (é aqui que o leitor se espanta com a destreza da passagem de Dom Quixote para Pipoco Mais Salgado), também eles personagens de quem os escreve, também eles, os personagens, com façanhas descritas por outros que não o autor. E nós, os autores, ficamos ali, espantados por saber que exista quem perca tempo a elaborar sobre personagens que criámos, dando-lhes uma vida que nunca ousámos, exagerando-lhes façanhas, conhecendo-os melhor que nós.

E ainda me dizem que isto são mais do que só blogues.

7 comentários:

  1. Anónimo27.9.15

    Caro Pipoco, para simplificar a questão, parece-me que pode haver duas grandes perspetivas sobre isto do blogues: uma, que se confessa confessional (passe a redundância), e o blogue é uma extensão da alma, é um espelho fiel (?) da sua vida; e, outra, onde o Pipoco se enquadra, que entende, como Pessoa, que há uma dor vivida, uma dor escrita e uma dor lida (onde se lê «dor», leia-se, evidentemente, «assuntos tratados em blogues»).

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    1. E no entanto, caríssimo/a anónimo/a, não poucas vezes o Pipoco diz mais do que sou, tem mais da minha vida, do que aqueles que assinam pelo nome nos querem fazer crer que são as suas vidas.

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  2. Personagens literárias vivas! Que maravilha!!!

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  3. Anónimo27.9.15

    Eu a pensar que andava a pisar a linha vermelha já há uma série de tempo, e afinal o tio ainda está a aquecer.

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  4. Bem gostariam que a realidade superasse a ficção... só que não!

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