Intrigava-me a falta de conexão entre as tramas, aborrecia-me que nenhuma delas tivesse de facto uma conclusão, primeiro perguntava-se a um sardanico, presumo que uma ave, quem lhe teria colocado a mão no bico e o pico pico sardanico acusava a filha do juiz, assim mesmo, sem pudores, mas a filha do juiz estava presa, e logo pelo nariz, aqui questionava-me se seria uma espécie de piercing que prendia a filha do juiz, inquietava-me se ter colocado a mão no bico do sardanico teria sido a causa da prisão mas logo se me afigurava que teria sido alguma coisa mais grave, afinal nem mesmo sendo filha do juiz lhe tinha valido, talvez tivesse sido o próprio pai, o juiz, a mandar prendê-la, quiçá ter colocado a mão no bico do sardanico, talvez o animal de estimação de seu pai, tivesse sido a gota de água que tivesse feito o juiz perder a paciência e ter uma decisão desproporcionada, ainda para mais com o requinte de a mandar prender pelo nariz.
Ainda eu pensava nisto e já a história tinha mudado, agora eram cavalos a correr e meninas a aprender, mas as meninas aprenderiam a montar os cavalos, que não correm, galopam?, ou estariam as meninas a aprender as lições e, nesse caso, estudariam num hipódromo, o que seria desadequado, ou estudariam numa escola e, neste caso, seriam os cavalos que desadequadamente corriam num sítio inapropriado, assustando as meninas e perturbando-lhe a aprendizagem, talvez estudassem naquele momento física de partículas? E, finalmente, por que razão seria a menina mais bonita quem se devia esconder? Não seria mais próprio que fosse a menina mais feia a esconder-se, evitando assim assustar os cavalos com a sua fealdade, acalmando-os até que os cavalos deixasse de galopar dentro da escola e, assim, poderem ser transportados em segurança para os estábulos, deixando as meninas finalmente estudar em paz?
Caro Pipoco, só por me lembrar da lengalenga que a minha mãe me costumava contar, já está perdoado.
ResponderEliminarA minha avó tb costumava contar-me esta (e outras) mas na versao dela é pico pico sarapico.
ResponderEliminarSó para ficar o registo, na minha versão também era pico pico sarapico
ResponderEliminarLá em casa a versão era também a do Sarapico. No entanto, confesso que nunca atentei nos restantes versos, pois estava tão irritada com "coreografia" que a minha mãe fazia acompanhar a lengalenga e que consistia em, ao ritmo dos versos, ir-me beliscando os dez dedos das mãos!!! Claro que o fazia cheia suavidade e carinho maternal, mas aquilo irrrrrrriiiiiitttttaaaaavvvvaaa-me tanto! Que só queria mesmo era que a porcaria da música acabasse! Queria lá eu saber das meninas e dos cavalos e da filha do juiz! Toda aquela dicotomia "carinho da mamã vs coisa mais irritante que me repuxava os dedos" era muito difícil de gerir...
ResponderEliminarUm abraço, Patrícia
"Varre, varre vassourinha, se varreres bem dou-te um vintém, se varreres mal dou-te um real.
ResponderEliminarPico pico sarapico, quem te deu tamanho bico?
Foi a pata chocalheira que põe ovos de manteiga para a filha do juiz que está presa pelo nariz.
Salta a pulga na balança dá um pulo e põe-se em frança.
Os cavalos a correr as meninas aprender, qual será a mais bonita que se irá esconder?" (versão transmontana )
É por textos como este que eu goste de aqui vir. Não me inquieta qual a versão mais correta, quais as variações, se conhecia ou não a ladaínha, mas sim qual o sentido da mesma. Assunto para me deixar a pensar o resto do dia, se não me cansar entretanto.
ResponderEliminarainda q com algumas variações em torno da mesma cantilena, tb sempre me intrigou (e intriga) tanto...
ResponderEliminarEsta lengalenga para crianças, comentada pelo autor do blog, tem alguns detalhes muito pouco infantis. Ou é dos meus olhos?
ResponderEliminarJá agora mais uma versão (a que me cantarolavam):
ResponderEliminar"Sarrabico bico bico
Quem te deu tamanho bico?
Foi a velha chocadeira
Que come ovos com manteiga
Cavalinhos a correr
As meninas a aprender
Qual será a mais bonita
Que se vai esconder?"
e a mim sempre me intrigou a presença de uma lagarta na linha de partida.... só recentemente me ocorreu que talvez não fosse uma lagarta, mas sim largada!!! Senti que tinha descoberto o pólvora e ao mesmo tempo triste pela queda de um enigma infantil.... Preferia não ter "descoberto" e continuar a dizer ingenuamente
ResponderEliminar"Partida, lagarta, fugida!"
Ah, Senhor, os piquenos nunca hão-de entender lengalengas sobre raparigas bonitas sem óculos de massa... mas a minha bisavó também me contava a história, só que a minha versão imaginada era muitíssimo mais rica, prodigiosa mesmo... as minhas mais sinceras desculpas, mas isto explica muita coisa... Freud chamar-lhe-ia um figo !!
ResponderEliminarPor dizia-se pico-pico sarapico, quem te deu tamanho bico...
ResponderEliminarCaramba, que agora é a minha vez:
ResponderEliminarPico pico, sardanico, quem te deu tamanho bico,
Foi a velha da rainha, que está morta na cozinha,
Os cavalos a correr, as meninas a aprender,
Qual será tamanho bico que te vai comer.
Obrigada, obrigada, cof cof cof.
Também cantei num coro, mas depois dispensaram-me.. era muito alta.
O Freud de certeza que tem uma explicação muito boa para isso tudo.
ResponderEliminarPrefiro Jung.
ResponderEliminarPrefiro o Marques Mendes...
ResponderEliminaro meu bisavô cantava enquanto ia tocando nos nossos dedos: pico pico sarapico/ vai ao mar buscar sardinha/ para a filha do juiz/que está presa pelo nariz/ os cavalos a correr/ as meninas a aprender/qual será o mais bonito que se irá esconder. no final onde ficava o dedo dele a tocar era o dedo (nosso) que se escondia, ou seja metíamos debaixo da palma da nossa mão.
ResponderEliminar.. e ainda havia uma outra que era qualquer coisa com uma cabra e que no final ficavam 23 ... e magia das magias no final ficavam memso 23 tracinhos.
Essa ouvia quando era pequenina. Depois na primária era mais duro: "se tu visses o que eu vi/ à porta do tribunal/as cuecas do juiz/embrulhadas no jornal. Esta rua cheira a sangue/foi alguém que se matou/ foi a mãe do meu amor/da janela se atirou"
ResponderEliminarIsto aos pares enquanto faziamos uma coreografia complexa com as mãos.
Era apenas uma historieta surrealista. O meu professor dizia que a arte abstracta não era para para ser interpretada. Às tantas, esta com contornos surrealistas também não.
ResponderEliminarWow. E eu pensava que esta era A versão:
ResponderEliminarPico, pico, maçarico, quem te deu tamanho bico, foi a pomba da balança que deu um pincho e pôs-se em França!
By the way, versão Porto.
Em minha casa dizia-se "a filha do Luís"...
ResponderEliminarVá-se lá se perceber porquê...
A minha avó também me contava estas lengalengas, tal e qual!!
ResponderEliminarDa explicação, diria que só a menina bonita saberá...
Pico, pico, sardanico que te deu tamanho bico?
ResponderEliminarFoi a filha da rainha que está presa na cozinha
Os cavalos a correr, as meninas a aprender
Qual será a mais bonita que se irá esconder?
Essa era a lenga lenga usada pelo médico que há quase 60 anos me dava injeções. Com a agulha na mão ia batendo nas nádegas palavra a palavra e quando terminava ao dizer balança espetava a dita cuja e eu nem dava por nada...
ResponderEliminarBico Bico Suru bico
ResponderEliminarQuem te deu tamanho bico ?
Foi a Velha Sucareira
Que andava na Ribeira
Procurando ovinhos de perdiz
Para o filho do juiz
bico bico suru bico, é melhor lembraça que tenho da minha avó paterna.
bico bico suru bico, como brincadeira oral tem centenas de versões.
bico bico suru bico, mas sempre era a Velha Sucareira ou açucareira ou ainda chocalheira
bico bico suru bico, ou seja, a Velha fofoqueira que dizia quem saia da bricaderia!
bico bico suru bico, na minha lembrança de infancia as mão juntavam os dedinhos fazendo bico
bico bico suru bico, revezando as mãos uma sobre as outras
bico bico suru bico, para no final da parlenda perdia quem não segurasse a mão abaixo da sua com um belisco.
bico bico suru bico, eu sempre perdia...
Bico Bico Suru bico, Quem te deu tamanho bico ?
Curiosidade :
Na Revista Brasileira de Dezembro de 1946,
na pagina 59, soma ainda outras versões ao Surubico
encontrando registro de 1876.
http://memoria.bn.br/pdf/139955/per139955_1946_00018.pdf
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Carlos Morais - Porto Alegre/RS
A .minha avó cantava esta versão. Gracias por mencionarla.
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