01 outubro 2013
Pequenas pinceladas do quotidiano de Pipoco
Estava a chover e o tipo de barba abriu a porta do carro que estava à minha frente no semáforo da Praça de Espanha. Quase ao mesmo tempo, a mulher que estava no carro do tipo com barba também abriu a porta e saiu do carro. Esperava-se que trocassem de lugares, coisas lá da organização deles. Mas não, antes da mulher ocupar o lugar do condutor cruzaram-se na traseira do carro, o tipo de barba tirou uma mala e beijaram-se. O sinal passou a verde e o tipo da barba continuou a beijar a mulher. Eu estava com pressa e não buzinei. Ninguém buzinou. A mulher correu para o lugar do condutor e arrancou. O tipo de barba levantou a gola da gabardina, olhou para mim, estendeu o polegar e fomos todos às nossas vidas.
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que lindo...
ResponderEliminarIsa, é post para um determinado público.
Eliminar(está fofinho, não está?...)
adorei. Não buzinaste, não interrompeste, ng o fez, descreveste a cena aqui. há uma réstia de esperança nesse teu coraçãozinho racional. :p
EliminarEra um fiat uno de 92 com um gajo careca com ar de drogado e uma gorda desdentada com idade para ser mãe dele?
ResponderEliminar(o pipoco oculta propositadamente a informação mais interessante... tsss tsss, isso não se faz)
The love car, exciting and new
ResponderEliminarCome aboard. We're expecting yoooou...
Não se apressa o amor!
ResponderEliminarO amor é assim!
ResponderEliminarBeijinhos
Adolescentes sem carro, iamos para a praia de boleia com amigos. Sentados no banco de trás, uma tarde, beijavamo-nos devagar, protegidos do angulo do retrovisor.
ResponderEliminarOlho pelo vidro descontraidamente, aninhada no braço dele. Colados ao carro dois capacetes negros espelhados. Não lhes vi a cara, gostei de não lhes ver a cara, sorri. Fomos todos às nossas vidas.
Um post para as meninas, que lindinho sr. Pipoco
ResponderEliminarE para as velhas também, porque eu gostei . Ahhh, l'amour....
EliminarHesito sempre antes de fazer um "fixe" com as mãos ao condutor do carro de trás, considero-o um sempre um gesto bem mais cool que eu.
ResponderEliminarTalvez tivesse sido a ausência de buzinas, estranhei tamanho silêncio pelo meio da chuva que caía, não é normal. Normal seria ouvir o tipo do carro de trás a buzinar e eu esticar-lhe o dedo do meio, esperando uma reacção para inverter o gesto a um convite estilo Neo no Matrix.
Vinde meu caro, vamos debater filosofia enquanto dentes e sangue se juntam à chuva que cai no asfalto.
Talvez tivesse sido uma estupidez, no meio de um tempo que toda a gente insiste em chamar de estúpido, mas que me faz pleno sentido.
Mas não foi isso que aconteceu e ninguém me estragou aquele momento, aqueles segundos mágicos em que, apesar desta barba e desta idade, me despeço da minha mãe com um sentido beijinho quando ela me vai levar ao trabalho.
Mak... primeiro ri-me desalmadamente, depois fiquei de coração mole, mas... voltei à descrição do Sir, e ainda que não tenha sido dito em momento algum que as bocas se colaram, parece-me que os sinais da praça de espanha levam ainda alguns minutos a mudar do encarnado para a cor mais linda do mundo. ora assim sendo... não terá sido esse beijo à mãe demasiado edipiano?...
EliminarO filho muito amado sabia que nada é garantido na vida, nem na morte. E por isso, beijou a Mãe como se fosse a última (dose?) e não percebendo que há diferença entre o vermelho e o verde, acreditou que o condutor do carro que estava atrás era mais uns dos voyeur que a cidade tem e a solidão alimenta. Cool, levantou o dedo tipo like, adivinhando que a escrita criativa ajudaria a escrever a cena e que o fulano com ar de facínora que estava ao volante, no carro atrás, iria fazer um post fofinho.
EliminarMaria Helena
ar de facínora?!? Sir Pipoco?!? Maria Helena, não me «desconjunture» a imagem do Sir! :)
EliminarImagino a mãe, divertida, a entrar na brincadeira, a deixar-se mimar pelo seu pequeno (afinal para as mães eles nunca crescem) e a rir-se por dentro que nem uma perdida. sabia que mais tarde, pelo anoitecer, o pequeno havia de escrever sobre o momento e rir-se-iam ambos as dezenas de comentários na caixa de tão nobre voyeur...
:)
like like like !!!
EliminarSó se deseja o que se vê, conta o Hannibal naquele filme dos lambs e, sim, todos os elegantes têm o seu quê de facínoras quando estão na Praça de Espanha, junto a sinais. Raramente as mães são divertidas quando pressentem voyeurs em bons carros e com hipótese de fazerem tipo post fofinhos. Os comentários são faits divers tipo fofinhos, acredite,
EliminarMaraia Helena
Maria Helena, nem sei que lhe diga... de um Sean Connery enxuto e com menos cinco ou dez anos que o original, transferi a imagem do Sir para um Hannibal papa-miolos... olhando de novo a cena, agora guiada pelas suas palavras, estou em crer que a mãe, astuta, protegia o seu pequeno nas garras do facínora (veja como já o retrato de facínora e nao com ares de) e quiçá da perversa maldade deste, ao passar mesmo ao centro da poça de lama, simplesmente para soltar uma gargalhada sonora... enquanto o rapaz se julgava traquinas, beijando a mãe à exaustão; a mãe, galinha de garras afiadas pela sua cria, salvava-lhe a roupa limpa e o bom humor do dia inteiro.
Eliminar:)
Nada como mães e mulheres inteligentes para se deliciarem com o fígado de facínoras em carros tipo alta cilindrada na praça de Espanha. Não se esqueça que os post tipo fofinhos têm a patine dos Rick deste piano...
EliminarMaria Helena
:) foi um gosto, um prazer, Maria Helena, realizar este «filme» consigo. para finalizar, imagino, mães e mulheres inteligentes, todas de roda do facínora, de colher na mão, batendo com ela na mesa em ostinato, esperando a vez para provar a basta mioleira...
Eliminarforte abraço.
Isto da intensidade dos afectos é algo bastante vasto. Veja-se o exemplo de Commodus em relação a Marcus Aurelius, seu pai, versão Gladiador:
Eliminarhttp://movieimage4.tripod.com/gladiator/gladiator14.jpg
Abraça seu pai sentidamente, mas usa esse abraço para o cilindrar.
Felizmente, não tenho encontrado muitos imperadores romanos no trânsito.
E como seria sacrilégio afirmar que Nosso Senhor é um intragável facínora.... Tomai e comei todos. "Bowels in or bowels out?"
EliminarInstantâneo muio plástico, muito cénico, vívido, belo.
ResponderEliminarEstamos na cena,num dos vários semáforos da Praça de Espanha.Curioso tanto silêncio, é verdade.
Mas como era a mala ? não calcula a falta que me faz mais detalhes...
Aposto que era a amante (ou o amante)...
ResponderEliminarNinguém deixa ninguém assim no meio da Praça de Espanha! Ficando na PE, onde é que uma pessoa vai? À embaixada de Espanha?! Vender pensos nos semáforos?! Apanhar a TST?!
Naaaa... Chama-me descrente (sim, agora que nos conhecemos, acho que te posso tratar por tu... sou uma nacional-porreirista, como saberás) mas, para mim, essa história não bate certo!
Parece-me bem que ninguém tenha buzinado... na realidade, somos todos uns corações moles! :p
ResponderEliminarÉ um post fofinho, é. Diz que ninguém buzinou?! Estamos a melhorar como povo, estamos estamos.
ResponderEliminarParece-me bem. Acho bonito que uma pessoa que é mesmo pessoa não contenha os instintos amorosos. Pior seria se tivesse ficado parado no semáforo por causa de 2 tipos que resolveram andar à pera.
ResponderEliminarComo é que era o tipo? E a mulher? Qual a marca do carro? Ó tio tem de pormenorizar :)
ResponderEliminarAhahahahahahahah! Fantástico!
ResponderEliminarO amigo Mak descreve a perspectiva da personagem masculina. A amiga Anónima expõe uma visão de personagem feminina em circunstâncias análogas. O meu amigo Salgado sempre como romântico narrador onírico.
Fica em falta a narrativa do sr. do carro de trás, simpático não ter atacado selvaticamente a sua buzina ou cabelo ou a amante a seu lado, verberando grosserias, cabeça à chuva fora do carro, desconhecendo o terno momento lírico logo ali à frente (ou seria um autocarro, motorista igualmente deleitado ou entorpecido com a cena, ou uma camioneta de operários da construção civil rejubilando em piropos inaudíveis no tropel de chuva, em olvido do martírio que os aguarda para o resto do dia?), para termos aqui o quarteto da praça de espanha digno do próprio Durrell.
Fantástico meu caro amigo! Fantástico! Sem drama mas com muita paixão.
Então mas o automóvel de trás não era o do PMS ?
ResponderEliminar(não devo pertencer "ao determinado público" se não percebi ....)
O pipoco foi à sua vida e o desgraçado ficou lá à chuva!
ResponderEliminarTio, ele levantou o polegar para si a pedir boleia :))))
Ainda há romance!
ResponderEliminarGostei aqui do sítio. Vou adicionar à minha lista no meu Amendoins e coca-cola.