13 fevereiro 2022

Na esplanada da avenida da Liberdade...

... na mesa ao lado da minha, um homem com idade de quem podia  perfeitamente ter ido ver os Police ao Restelo, contava a sua má fortuna a duas mulheres, o homem contava os seus medos e uma das mulheres aligeirava-lhe o discurso e repetia o que o homem tinha dito, usando com palavras mais ligeiras. 

Nunca apreciei apaziguadoras de angústias.

3 comentários:

  1. Nem eu! Todos temos o direito de beber o nosso cálice de angústias até à última gota. Ai, Sttau-Monteiro... tu é que percebias disto.

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  2. Anónimo13.2.22

    Falta de carácter.

    Quem, ao invés de ter coragem de dar um abraço, enxugar as lágrimas e ainda arrancar um sorriso, tenta conter a saída da mágoa com lugares comuns como "deixa lá isso, não é assim tão grave", "olha lá o vizinho que está pior do que tu", mostra ser muito diminuído de carácter.

    Creio que todos teremos por perto pelo menos uma dessas "almas caridosas".

    Um abraço do Algarve,

    Sandra Martins

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  3. Cláudia Filipa13.2.22

    A primeira coisa maravilhosa deste post é estar a fazer-me matutar no que, cá muito à minha maneira, penso ser uma tendência que tenho, uma coisa mais forte do que eu. A segunda coisa maravilhosa é essa definição, "apaziguadora de angústias", uma definição do caraças. E percebo perfeitamente esse não apreciar.
    Matutando, sei por que me acontece.
    Não é uma coisa de frases feitas, sequer sei se se nota a urgência, que me acontece principalmente por dentro, de ter compressas ali à mão. Não é por não estar para aturar os medos das outras pessoas, por não aguentar os menos felizes avessos das suas almas. Não é por falta de noção de que não me cabe estar a aligeirar uma coisa com a qual a pessoa sente necessidade de confrontar-se partilhando. Também não é pelo que pode parecer uma relativização leviana desses medos.
    Matutando, sei que me acontece por um pavor maior, sei que é pelo pavor maior de, por algum momento, poder parecer uma suína que se deleita, como quem chafurda na lama, com a fragilidade dos outros.

    E, agora, lá está, paciência, uma pessoa tem de aguentar, a vida não é só uma maravilha pegada: "Nunca apreciei apaziguadoras de angústias." Oh!

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