23 outubro 2016

Costa Silva

O Costa Silva foi ficando, o pai mandou-o estudar para o Liceu Francês e era uma dor de alma perceber-se como o Costa Silva não encaixava ali, aquilo de ser o melhor da turma nas matemáticas não disfarçava o efeito camisola de lã feita pela mãe, casou-se com a namorada de sempre, um casamento com mesa de mariscos e quatro pratos, abriu a pista com uma valsa mal ensaiada, salvou-o o sogro que puxou a noiva para dançar enquanto lhe dizia muito bem, muito bem, e batia palmas, a gravata já desapertada, o Costa Silva desorientado, havíamos de o puxar para nós e acender um dos charutos ressequidos e embrulhados em celofane que o Costa Silva nos tinha distribuído pelas mesas, isso e um Grant's novo, a última vez que o tinha visto foi quando o Costa Silva me quis mostrar a casa nova, ali para a zona da Expo, que é uma zona feita de propósito para despejar lá os Costa Silva desta vida, é espetá-los ali e dizer-lhe que estão na Expo, como isso fosse coisa boa, eles ficam felizes e faz-lhes bem à autoestima, se quisermos ser mais excêntricos é mandá-los na semana do Carnaval para Serra Nevada e uns dias de Algarve no Verão, mas dizia eu, o Costa Silva foi ficando, liga-me nos anos e eu ligo-lhe no Natal, foi-se refinando, aprendeu sobre vinhos e comprou um Audi dos pequenos, um dia destes convidou-me para almoçar a um sábado, fazia um número redondo de anos e tinha alugado uma churrasqueira ali para os lados de Campolide, infelizmente eu estava fora e não pude ir, uma pena, vi-o esta semana que passou, estava ali por causa de uma formação lá do banco, já é gerente, disse-me ele, e foi ficando, faltou à última hora da formação de liderança e chegou tarde a Moscavide, mas valeu a pena, para mim e para o Costa Silva.

11 comentários:

  1. Então fique sabendo, caríssimo Pipoco, que as camisolas de lã tricotadas à mão aconchegam mesmo até à alma, sejam produzidas pela mãe ou pela avó.

    (agora a sério, garanto-lhe que quando vejo alguém vestido com uma camisola de lã feita à mão, o meu coração de abre automaticamente um pouco mais para essa pessoa, do que se a indumentária for um polo Lacoste, mesmo que não esteja nadinha desbotado)

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    1. (ora, mas a Susana é uma pessoa boa, não conta...)

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  2. Naquele tempo, todos usámos uma camisola de lã feita à mão, Pipoco. A entrada na CEE foi mais tarde, e, além da Sidney, com os pullovers de lambswool, não havia mais nada que uma criança pudesse vestir.

    (Mas não me lembro de nenhum Costa Silva bom a matemática. Não quer dizer que...)
    (João Pedro?)
    (Era péssimo a matemática. Não pode ser.)
    (Na verdade, a boa a matemática era uma menina. Vá, duas.)
    (A minha modéstia não me permite.)

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    1. Havia os blusões da Levi's. E os de penas, da Duffy.

      (se calhar foi vinte anos antes, Linda...)

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    2. Anónimo23.10.16

      Se calhar? Hahahahah Ainda há quem não saiba a idade do Pipoco?

      Deve ser muito triste, coitado, ter estudado no Liceu Francês e acabar a fazer uma festa de anos na Valenciana! Pior, só se morasse na Expo. :D

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    3. Anónimo23.10.16

      Aíiiiiii os duffy de penas tive um azul escuro e um levi's

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    4. Confere: camisa Levi's, que ainda vive! Ee blusão Duffy. O meu era cinzento. Parecíamos o boneco da Michelin.
      Não foi nada, Pipoco. Foi tudo ao mesmo tempo...

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  3. A pergunta que não quer calar é: e a mulher do Costa Silva, abarangou?

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    1. (olha, uma palavra que não conheço...)

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    2. é a versão brasileira de bacazola :), mas em verbo (não me diga que está a responder a comentários?)

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  4. Suspeito que o Costa Silva seja muito feliz. Talvez não o saiba, mas isso é um sintoma de felicidade.

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