16 setembro 2015
Nós
Nós, que sabemos que o Astana veio do Casaquistão mas não fazemos ideia de onde veio García Márquez, que prantamos comentários anónimos nas notícias do Correio da Manhã mas não reclamamos com o nosso nome quando somos mal servidos, que preferimos dominicais passeios no Colombo a subir a pé a serra de Sintra, que sabemos de cor os nomes dos que estão na Casa dos Segredos mas não temos cabeça para saber qual é a capital da Síria, que nos indignamos nas redes sociais com a violência doméstica mas fazemos de conta que não sabemos de onde apareceu aquele olho negro da vizinha de cima, nós, a quem umas latas de atum por altura do Banco Alimentar nos apazigua a alma, porque havíamos agora de repente entender o problema dos refugiados?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Vós não entendeis certamente.
ResponderEliminarEntendemos razoavelmente. O suficiente para ter algumas ideias claras sobre o assunto.
EliminarAcho perfeitamente natural e aceitável que os cidadãos, individualmente considerados, não entendam o problema dos refugiados ou não o sintam como seu.
ResponderEliminarO que não é admissível é que os líderes dos vários estados europeus se comportem da mesma forma que o cidadão anónimo.
Eu tenho alguma dificuldade em perceber que cidadãos individuais percam um segundo a decidir se acolher estas pessoas é ou não a coisa certa. Se perderem mais de um segundo a decidir, basta pensar que nós podemos ser, um destes dias, uma destas pessoas, é um exercício auto-explicativo do problema.
EliminarOs líderes pensam o que o conjunto do cidadão individual quer que eles pensem.
Tal e qual, Pipoco. Também não acho nada normal (nem aceitável) que os cidadãos europeus não entendam o drama de quem foge da guerra e da misérias (têm memória curta). Os políticos representam a maioria, nunca nos esqueçamos disso. Colocar as culpas sempre nos políticos não faz sentido.
EliminarPois eu compreendo que os reformados com 300 euros de pensão consumida pelos medicamentos e aqueles que se levantam às seis da manhã para apanharem um barco e dois autocarros para um emprego que lhes rende 600 euros por mês e que mal chega para sustentar os filhos e ainda aqueles que estão desempregados e vivem à custas dos 300 euros da reforma dos pais, se estejam completamente nas tintas para os refugiados. E nem sequer me atrevo a jurar que no lugar deles não estaria também.
EliminarTem alguma razão, Cuca. (estava quase a escrever "toda a razão" mas contive-me, é sempre melhor não abrir precedentes). As pessoas que refere, os menos favorecidos, terão mais em que pensar. Ainda assim, a minha infinita crença nas pessoas faz-me pensar que não terão dificuldades em decidir qual é a coisa certa. E a coisa certa, agora, é recebê-los. A coisa certa daqui a uns meses pode ser diferente.
EliminarLamento informá-la, cara Cuca, que os portugueses que mais têm criticado o apoio ao refugiados (que eu conheço), ganham acima dos 2.000 euros. Tire as palas dos coitadinhos. É classe média que não quer perder mais um bocadinho, não são os "pobrezinhos", esses, pelo contrário, até costumam (porque sabem o que é a necessidade) ajudar o próximo, mais do que os outros.
EliminarA sua conversa, desculpe, é demagógica.
Suponho que tenha tido acesso a um estudo estatístico que desconheço. Aquilo a que se refere não é a minha experiência pessoal, mas se calhar sou eu que tenho a sorte de conhecer pessoas com consciência social. De qualquer forma, não vejo que demagogia possa existir no facto de admitir que compreendo a indiferença de uma parte da população que, como é evidente, há muito que vive uma existência quase sonâmbula.
EliminarAplausos para si Cuca!!! estou consigo.
EliminarDemagógica, sim, pois não a vi tão preocupada com esses que ganham 600 euros e têm de apanhar dois barcos no post do blog do Xilre, quando se falou das greves. Usa-se o exemplo dos pobrezinhos quando nos convém, tipo Paulo Portas, não é?
EliminarAplausos a todas.
Mas que chatice, anónimo!
EliminarNão há a mais leve preocupação no meu comentário. Só a afirmação, muito simples e direta, de que percebo perfeitamente que essas pessoas se estejam nas tintas para os refugiados. Quer que minta, é? Se percebo, percebo e pronto.
Além do mais a minha posição sobre o tema é que a necessidade de resolvermos a questão dos refugiados está para além de questões éticas. Neste momento já é um problema prático da Europa que tem necessariamente de ser resolvido.
Contrariamente ao que parece pensar, eu não tenho a pretensão de andar pelas caixas de comentários desta blogosfera fora a defender os pobrezinhos. Ninguém me passou procuração para isso.
(Muito obrigada, Pipoco. Agora vou tomar os comprimidos)
ResponderEliminarE as saudades que eu tinha suas... [pá :) ]
Bem regressada. Um grande, enorme e apertado abraço.
EliminarPeço desculpa pelo atrevimento desde já, mas permita-me também regozijar-me pelo regresso da Filipa. Que bom. Que bom. Já fui a correr lá ao Neptuno, matar saudadinhas.
EliminarVamos compreendendo!
ResponderEliminarQuantos refugiados tem em sua casa Pipoco?
ResponderEliminarEscolha os homens jovens. Além de despertarem menos emoção, sempre o ajudam lá com os sobreiros.
Nós, assim retratados acima, temos muita dificuldade em nos reconhecer.
ResponderEliminarEra um plural majestático, ou plural da modéstia.....
EliminarA mim faz-me muito mais confusão que o mundo continue a permitir que líderes tiranos tomem conta de países, desatem a matar e a tornar a vida dos outros tão insuportável, que nada mais reste a esses outros, que abandonar a própria pátria com pouco mais do que a roupa que têm no corpo. Abandonar o próprio país para pelo menos conseguirem aguentar-se vivos mais algum tempo, sendo essas viagens tantas vezes, afinal, o encontro com a morte. Entretanto, o líder, continua refastelado. E já que referiu o exemplo da violência doméstica, excelente exemplo, podemos fazer o paralelismo perfeito, afinal, no caso da violência doméstica, também são os agredidos que têm de sair da própria casa, fugir é mesmo a palavra certa, fugir da própria casa, enquanto o agressor continua bem instalado. E ter tomates para atacar o problema na sua origem?
ResponderEliminarClaro que é muito mais bonito dizermos que devemos acolher, acolher, acolher todos, somos tão generosos, acolhemos sem pensar um segundo. Alguém pensará por nós no resto, coisinhas assim sem importância nenhuma, como por exemplo, terem um espaço digno de ser chamado de casa para viver, terem o que comer, terem onde trabalhar, para que possam continuar a ter o que comer e por aí fora, tudo coisas que não interessa nada, a nós, os outros, boas pessoas de corações a transbordar de generosidade, alguém há de pensar nisso.
Imaginemos todos aqueles tomates da Gran Fiesta da tomatina a serem utilizados para fazer o bem!
EliminarMinha querida Cláudia, a tirania é um estilo de liderança e nenhum líder vai deixar de o usar só porque é condenável do ponto de vista de uma ética superficial. Qualquer líder que se preze usa todos os estilos de liderança consoante lhe dão jeito adequando-os às situações, faz parte do baralho.
EliminarNão se preocupe, não sou eu que o digo, alguém já deu por isso há muitos séculos atrás.
Seria uma calda de tomate benfazeja.
EliminarMinha querida pessoa cujo nome desconheço, talvez se justifique o uso da força para obrigar ao meio termo em certas coisas, por exemplo, para obrigar ao meio termo que existe entre o excesso de democracia (demagogia) e a tirania (abuso de autoridade). Tem razão, o diagnóstico está feito há muito muito tempo, parece que a cura foi deixada para segundo plano. Deve ser por isso deve, porque a seguir à palavra "ética" vem a palavra "superficial".
Eu nunca ouvi falar de um conselheiro de ética para políticos ou líderes, e cada vez que ouvem falar nessa palavra mágica têm ataques de brotoeja pelo corpo todo. E aqui entra o médico, o homem que cura a gente e vai de lá, surpresa, já ninguém se cura de nada. Há que sustentar os nossos amados laboratórios unidos do mundo, por isso aqui vai uma ´pomadita tópica para aliviar a coceirinha:
Eliminarhttp://www.octapharma.com/uploads/tx_templavoila/bg-01_01.jpg
Logo: "Mais vale super, superficial!"
Porque e que nao consigo ler os Posts anteriores?
ResponderEliminarAgradecida se me explicasse.E nao tenho pontuacao neste teclado,peco desculpa.
Boa noite tio! Os nossos queridos amigos holandeses, sendo eles isso e não podendo deixar de ser quem são, já decidiram que acolhem refugiados durante 10 meses e depois acabou. Coincidência ou não, esse período de tempo é a duração prevista de um subsídio do programa de acolhimento de refugiados.
ResponderEliminarDepois temos toda uma questão relacionada com os campos de concentração, PERDÃO!... de refugiados que é preciso voltar a enviar para o destino de origem decorridos os tais 10 meses ou coisa que o valha. São só cerca de 200,000, o que é isso comparado com a solução final encontrada para 6 milhões de judeus? (Punheta, Dona Henriqueta. Lá estou eu com estas guinadas)
Oh, tio! Não foi por mal. Não estou nos meus dias, sabe?
Voltando aos execráveis holandeses, o que eles não sabem é que desta vez o tirinho lhes vai sair pela culatra.
Cá para nós, há muito tempo que Nostradamus escreveu as suas profecias, e numa dela podemos ler várias analogias a esta situação desumanitária.
Vou ali tomar um duche ('dassssssssssse)...