Nunca saberei determinar com precisão o momento a partir do qual o Belchior de Mascarenhas se transformou num filho da puta. Até certo momento, o tal que não sei determinar, o Belchior de Mascarenhas era o melhor de nós, calças bege bem vincadas, camisa branca sem bolsos, um relógio Omega que o pai lhe tinha oferecido quando saiu do Liceu Francês, era o genro que todas as mães queriam ter, avisava quando chagava tarde a casa, podíamos contar sempre com ele para conduzir, pedia sempre "por favor", nunca tratava as mulheres na segunda pessoa do singular, não fumava, era cordato e delicado, namorava a Constança de Mendonça e Burnay desde sempre, um amor respeitoso e profundo.
Um dia, que não sei determinar com precisão, o Belchior de Mascarenhas pediu uma Piña Colada, naquele tempo usava-se, era o tempo do Bora-Bora e do Tangaroa e nós, copos de Jameson na mão, estranhámos, outro dia o Belchior de Mascarenhas ofereceu-nos cigarrilhas Davidoff, a nós que estávamos nessa fase de transição de Montecristo para Partagas, estavam ainda longe os tempos de Cohiba, no dia seguinte apresentou-nos a Sónia e a Soraia Silva, duas primas da África do Sul que abraçava como se não lhe fossem família.
E o Belchior de Mascarenhas refinou-se, aprendeu a gerir três telefones, o pai da Constança de Mendonça e Burnay procurou-o umas boas semanas para "lhe dar uma palavrinha", sem sucesso, tinha garrafa de gin em tudo quanto era discoteca no eixo Plateau - 2001, fez-se dono de um Jaguar descapotável, oferta generosa de uma senhora mais velha, do Estoril, ganhou dinheiro num esquema que nunca me quis contar, fez felizes (para a seguir entristecer) mais mulheres do que o próprio Capitão Roby.
Encontrámo-nos ontem no não sei quê Cool Jazz, depois do concerto. Pullover rosa desses de boa marca, chamou-me em voz alta e rouca, atirou "Pipoco, foda-se, estás igual!", deu-me um abraço, apresentou-me à loura com cara de mulher de jogador de futebol como "um grande amigo de infância, o único que sabe viver a vida", eu reagi como pude.
Bebemos uma cerveja. Paguei eu. Nisso, nada mudou.
Pipopo, não seja um chato! Passei aqui para ver os comentários ao texto anterior e PUM! levo com o Oliveira de Figueira?? Deixe-se lá de modernices, por favor.
ResponderEliminarE, sim, gostei muito da ironia fininha da última frase.
Aplaudido! Bis!
EliminarO Oliveira de Figueira está muito bem visto , grande humor com requinte(s).
EliminarCalças. Só a Sónia e a Soraia é que diriam "calça".
ResponderEliminarAhahahahah! Priceless! Penso que todos temos um Belchior de Mascaranhas na nossa vida...
ResponderEliminarMomentos surreais do tio.
ResponderEliminarFicou com cara de tacho?
Tanta coisa para dizer que foi ao não sei quê cool jazz.
ResponderEliminarQuerido, já tinha dito ontem, ou hoje cedo. Uma pessoa perde-se. Se quer ser desagradável, seja no timing certo.
EliminarQuerido? Pessoa, eu não passo aqui a vida.
EliminarE no entanto veio aqui responder-me. O meu coração palpita.
Eliminarestá quase a chegar a hora do post virar abóbora, e da cinderela se esquecer do manolo
ResponderEliminarIsto assim aborrece-me sobremaneira. Quero ler as coisas mais antigas. Acha que tenho tempo para vir aqui todos os dias? É que não tenho, sou uma retardada. Vá, deixe lá de ser chato p'ra caraças e coloque visíveis os antigos. Bah!!!
ResponderEliminarMeu caro Mais Salgado, em podendo era fazer um referendo. :D
ResponderEliminarVoto sim, sem mais demoras.
Bragging again...
ResponderEliminarOs Belchior de Mascarenhas são uma instituição lisboeta.
ResponderEliminarTio é o que acontece quando vamos a sítios mal frequentados e encontramos pessoas "menos próprias".
ResponderEliminarVW, a "tia".(ahahahah)
Gosto mais deste Belchior, é muito mais divertido.
ResponderEliminarO outro era bastante enfadonho....
Meu Caro Pipoco, topo-o à légua.
ResponderEliminarhttp://pagfam.geneall.net/307/pessoas.php?id=1099120