Um dia, era o tempo em que ainda não tinham inventado os blogues, deram-me a conhecer Herberto, com o sábio conselho de o apreciar com tempo, asseguraram-me que havia de gostar e eu não gostei logo, talvez por ter desprezado o conselho de ler Herberto só quando tivesse tempo.
Muitos anos depois, sem ser diante do pelotão de fuzilamento, Herberto acompanhou-me numas férias feitas de subir montanhas e nesses dias, com tempo, talvez tenha gostado de ler Herberto, quando se trata de poetas como Herberto nunca sabemos se gostámos, nunca estamos certos de ter percebido as palavras que lemos. Imaginei sempre um Herberto forte, tonitruante, fazendo tremer aqueles a quem não reconhecia intelecto, um homem só, a alquimia de conjugar palavras não é uma arte que suporte companhia, um homem-rochedo, duro e frio, inacessível.
Ver, como eu vi, um retrato de Herberto com uma manta de padrão escocês a cobrir-lhe as pernas, aquecedor a óleo no escritório e livros de Herberto por detrás de um Herberto sentado numa poltrona, aqueceu-me a alma, fez-me crer que afinal os poetas, mesmo Herberto, são como nós, só são bastante melhores que nós.
Vale a pena a crónica do Pedro Santos Guerreiro no Expresso.
ResponderEliminar«Este texto é meu e não vim cá hoje para ver nem para ler, vim para estar. E ir. Afinal, isto é uma crónica e é a minha forma de expressar não o amor por ele mas o amor pelo amor que ele nos revelou. Herberto, o que quero eu? É apenas uma crónica, não preciso de vencer. Só quero dizer: Herberto é para ler todo e serve para ler tudo. E para nos vermos a nós depois dele, no nosso mundo depois daquele, que são o mesmo, mas nós diferentes.»
Viu o Eixo do Mal? Então é fazer o que o filho disse, não lhe façam em morte o que ele não gostava que lhe tivessem feito em vida.
ResponderEliminarCrónicas simples!
ResponderEliminarNão traz novidade, não : HH não é mesmo o seu poeta, a sua praia ou a sua mesa de esplanada.
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