O Micaelis de Sottomayor sabia de mulheres, pelo menos era o que ele dizia. E parecia mesmo que sabia de mulheres, bastava o Micaelis de Sottomayor entrar na sala, fazer um compasso de espera na entrada, estendendo o seu sobretudo ao criado, um bom sobretudo em pele de carneira, trocado por meia dúzia de dólares em Aceh, no Magreb profundo, igual ao sobretudo que Brel, Jack Brel, usou no concerto do Olympia em sessenta e dois, e logo os olhares se cravavam no Micaelis de Sottomayor, dizia-se que tinha perdido uma fortuna a jogar black jack no Casino, e no fim, imperturbável, depois do "nada mais" do croupier, virara as costas, sem sequer esperar para se certificar que a bola não tinha parado no quarenta preto, pediu um whiskey, um Dimple de quarenta anos, e, bebendo-o de um trago, saiu sem uma palavra, sem um lamento, mas com o sobretudo.
O Micaelis de Sottomayor saboreava aquele silêncio, perscrutava o horizonte com o seu olhar gélido e todos temiam um sinal, o sinal que era a sua mulher quem o Micaelis de Sottomayor cobiçaria nessa noite, o homem do piano atacava alguma coisa de Zbigniew Boniek para desanuviar o ambiente e só nessa altura avançava o Micaelis de Sottomayor, cumprimentando com aperto firme os cavalheiros, inclinando ligeiramente a cabeça e dizendo com voz grave e baixa "minha senhora" quando cumprimentava as mulheres. Havia sempre alguém que se oferecia para levar o Micaelis de Sottomayor para a varanda, alegando a soberba vista do mar dessa Bolonha de outrora, acenando com a suavidade de um cubano Alonzo Menendez, tudo para que o Micaelis de Sottomayor não inquietasse as senhoras, que já se afrontavam, apartando-se dos seus homens, fingindo desinteresse súbito pela atapetado da sala e invocando necessidade do ar fresco da noite.
O Micaelis de Sottomayor não percebia nada de mulheres.
mais um ensaio sobre a imbecilidade numa salgalhada do pipoco mais petulante
ResponderEliminarSe nem o Senhor percebe!!!
ResponderEliminarQualquer Mchaelis explica conceitos e definições, mas não creio nenhum capaz de produzir um naco de prosa tão bem temperado.
Quase que se redimiu, Senhor Pipoco, quase.
Pipoco em grande forma. Se não se cuida ainda o contratam para perito nessas coisas dos problemas das mulheres. Este é um daqueles posts que só poderia ser escrito pelo Pipoco.
ResponderEliminarPerco-me nessas referências.
ResponderEliminarDe resto está magnífico.
Abraço.
Muito interessante!
ResponderEliminarÀs vezes, quando estou a ler um texto seu, sinto-me numa corrida de obstáculos. Às vezes, o Pipoco escreve um bonito post, que dá gosto ler, mas depois, eu, teimosamente, fixo-me no título e já não me consigo concentrar tanto no resto da corrida, continuo a correr mas sempre com o título na cabeça. Às vezes, sinto que o título é simultaneamente o inicio e o fim da corrida. Pode dar-se o caso de eu perceber tanto o Pipoco Mais Salgado, como Micaelis de Sottomayor percebia as mulheres.
ResponderEliminarMas ó gentes, onde está a surpresa, onde está a admiração ? ( bom, esta pode estar ). Este é aquele velho post de eterno retorno. Umas vezes melhor, outras menos melhor. Hoje acho-o bom, com um ambiente à Tango da Velha Guarda, e o Jack Brel Olímpico, a recordar em Bolonha o seu mar da Martinica.
ResponderEliminarSó comento no fim. Está-me cá a parecer que o Ruben ainda vai esborratar a pintura. Bom, também depende do que lhe deu a beber no lago Tanganica...
ResponderEliminarCultura, alter ego e Saint- Simon.
ResponderEliminarMH
Tanta asneira... isto é um teste?
ResponderEliminarÉ um teste que confirma que o Pipoco continua a brilhar neste estilo.
EliminarAsneira não estou a ver. Contundência sim! Muita e certeira!
ResponderEliminarPonho sal ou não ponho sal? Eu ia divertir-me a pôr sal, mas depois tenho os puritanos do pipoquismo à perna. Vai ficar assim... um comentário insonso. Mas continue, Tio Pipoco, que eu gosto sempre de recordar Bolonha.
ResponderEliminarDe vez em quando o tio faz um post deste genero, Aceh é na Indonésia bem longe do Magreb profundo, Dimple vende whiskey de 12, 15, ou 18 anos e não 40, Zbigniew Boniek foi um avançado centro polaco que jogou na Juventus com o Michel Platini e não um compositor, o Jack Brel será o Jacques Brel, os Alonzo Menendez são charutos brasileiros e não cubanos, para de uma varanda de Bolonha avistar o mar a 60 Km (no mínimo de ser mais) de distância teria ver muito bem, black jack jogo de cartas em se tenta atingir ou ficar mais próximo dos 21 não liga com quarenta preto da roleta.
ResponderEliminarAh que engraçado, o Tio Pipoco a lançar o pânico e a testar a qualidade dos seus leitores...(estava tudo muito bem camuflado até ao black jack, os casinos estão na moda...)
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