22 setembro 2013

Isto não tem que ver com este blog

Talvez o Torn Curtain não seja o melhor filme de Hitchcock, que não é, mas impressiona a actualidade do bluff perfeito, o desfocagem a seguir ao despique intelectual, o despeito que alguém sente quando os saus saberes são menorizados e a forma como baixa tanto os níveis de segurança que acaba por revelar mais do que o devido, é brilhante a forma como Paul Newman faz com que o inimigo Professor Lindt baixe a guarda e perceba, demasiado tarde, que a soberba nos tolda o espírito, que a sobranceria só é eficaz quando ela própria é um bluff.

20 comentários:

  1. Quando é que volta o Tio Pipoco?

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    1. Fada Sininho, terá que aceitar que as coisas são como são...

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    2. Anónimo22.9.13

      Eu também quero o Tio Pipoco de volta ou o Ruben. Vou fazer uma petição! Esta escrita faz me lembrar outro blog...

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  2. Anónimo22.9.13

    Não será por acaso que o salmista pede para ser preservado da soberba, para que ela não o domine. É o mais intelectual dos pecados e aquele que se liga facilmente a todos os outros. Tanto pode ser grosseiro como subtil. Grosseira, a soberba é mefistofeliana (posso dizer assim?); subtil, até Job a consentiu e, por isso, os seus amigos desconfiaram dele, porque muita virtude é soberba oculta.
    Nunca vi esse filme, por isso, obrigada pela sugestão.

    Maria Helena

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  3. Como sei que pré-qualificou este post como sendo para três comentários, venho aqui estragar a sua estatística.
    Quando eu for grande quero conseguir atingir o seu admirável nível de subtileza.

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  4. Anónimo22.9.13

    O Hitchcock assusta-me e a Maria Helena cansa-me!

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    1. A Maria Helena é notável, quer seja por captar o subliminar, quando o há, quer seja pela extraordinária sensibilidade e rara inteligência. Quando aqui comenta é a minha validação externa de que escrevi de jeito. Cansa?...

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    2. Anónimo22.9.13

      Claro que cansa. Obriga-me a pensar!

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  5. Cuca, era post para um comentário, uma coisa semi-hermética. Viu o filme?

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    1. Vi. Mas foi há tento tempo que retive pouco mais do que a ideia de eles estarem sempre eles a fugir. E qualquer coisa com uma bailarina num teatro. Espero que esteja a fazer sentido.

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  6. Anónimo22.9.13

    O Post é um bluff semi-perfeito.

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  7. Magritte encontra Hitchcock? "Ceci n'est pas une pipe?"

    Boa tarde, caro PMS.

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  8. E o meu caro amigo Salgado? Vê-se a si próprio como Armstrong, Lindt ou o próprio Hitchcock? Não esqueça que para bailarina já aqui tem este seu.
    Epifania? Primeiro vislumbre de m. após tão longo périplo? Ou apenas heliocêntrica projecção deste seu espelhado salão de dança?

    Magnífica referência, particularmente tendo presente que o próprio H., com aquela persistente imposição da sua própria obnóxia presenca ao cinéfilo, nos recordava que tudo era mera aparência. Ou que gostaria de ser bailarina mas não sabia dançar. Alas, sempre sobra lugar para um maestro.

    Novamente, o meu apreço por estas suas deliciosas, ainda que suavemente gongóricas, parábolas, e pela profunda introspecção que revelam.
    anonimo

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  9. Vi este filme com o meu pai há, sei lá, 38 anos? Neste presente fora do contexto da Guerra Fria, ainda faz todo o sentido. Lembro- me que fiquei chocada com as cenas mais ousadas da Maria Von Trapp. É bom para rever com os olhos que tenho hoje. Certíssimo sobre a soberba.

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  10. Ironia ou não, é sem dúvida alguma uma boa referência. No entanto, entre subtileza, soberba e culpa, se bem que servidas de outra forma, a minha preferência vai para "A corda".

    É certo que a história do plano único é a modos que um mito, mas saborear um mito acompanhado de Hitchcock dá sempre outro sabor à coisa.

    Se é para fazer fitas, que se façam sem fazer beicinho.

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    1. Mak, meu caro, desta vez não podemos estar de acordo. Em "A Corda" não havia subtileza, todos os caminhos iam dar à arca, era uma questão de tempo. E também não havia soberba, a soberba implica saber lidar com a pressão, coisa que não havia naqueles imbecis.

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    2. Totalmente a favor de desacordos, especialmente em matéria de hitchcock, nem que seja pelo pretexto de ir tirar filmes ao baú.

      A subtileza não tem apenas que ver com o que vemos no filme mas também com o que é intuído – laivos homoeróticos dos protagonistas (estávamos no final dos anos 40), o confronto do existencialismo e da amoralidade, já que a questão não é apenas que está ali um gajo na arca, mas sim matar porque se pode e tornar isso um exercício filosófico, já que o crime factual enquanto acto é o que menos interessa. Acrescente-se que a história do plano único, associada ao facto de podermos até ver o filme como um dos primeiros filmes noir a cores (ironia), sendo o Hitchcock um devoto da estética tudo isso contribui para um conjunto de subtilezas, que complementam o argumento em si.

      É subtil também porque psicologicamente inverte a lógica do espectador – estás habituado a que os filmes progridam na lógica inversa e aqui, embora seja tudo uma questão de tempo é certo, vamos observando o desenrolar da acção com a mesma intensidade mas aplicada a uma dinâmica diferente. Se não estou em erro, o Hitchcock desvalorizava sempre o filme, considerando-o uma espécie de exercício mas, sem ser o seu melhor filme, é um patamar importante numa série de aspectos como os que referi.

      Concordo no entanto que não é uma trama subtil, mas isso não é o mesmo que dizer que não é um filme pleno de subtilezas meu caro.

      Quanto à soberba, diferimos no que é o conceito da mesma. O princípio da arrogância não implica por si a resistência à pressão, aliás a soberba poderá ser na sua fase inicial uma espécie de sentimento de impunidade e sobranceria. Se a mesma resiste à pressão ou não, isso já são outros atributos em jogo. No caso da Corda, os dois criminosos começam arrogantes, plenos de convicções e cientes da sua genialidade e superioridade. É essa a razão pela qual dá gosto começar a vê-los cair, com o desconto dado ao que revela características mais humanas. A soberba está lá, a sua queda também.

      As pessoas adoram detestar os praticantes da soberba, sendo que porventura desculpam um pouco mais (ou revelam alguma admiração) pelos que conseguem comprovar a razão da mesma. Nos restantes, dão bons alvos em feiras das vaidades.

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    3. Anónimo23.9.13

      O que me aborrece é ficar com vontade de ver coisas que me assustam por ler coisas que admiro. Lá vou eu ter de ir desencantar um Hitchcock a algum lado. (Aposto que aquele meu amigo tétrico tem todos)

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  11. O bluff tem de ser mais discreto, não pode piscar tanto o olho ao vizinho do lado ;)

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  12. Anónimo23.9.13

    Hmm, saudosismo do velho império? Este não é o melhor, aquele acolá também não... Mas afinal qual é a melhor película do homem na opinião de V.Exas.?

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