15 agosto 2013

De como Pipoco ousa perguntar coisas a J. Rentes de Carvalho

Meu caro J. Rentes de Carvalho, picou-me deveras o remoque à boa gente que por estes lados manifesta, algumas com desmesurada efusividade, é certo, apoio à minha maneira de ver as coisas. Pois não vê o meu caro que essa boa gente, intuindo o resultado da contenda, não fazem mais que apoiar espiritualmente, reforçar o ego, apoiar quase maternalmente aquele que, é bom de ver, mais carece de gentilezas para não esmorecer?

Fala-me o meu caro dos trabalhos que dá sair dos cânones. Eu, que pouco sei das coisas da vida, cuido saber do que fala. Aprendi que de pouco vale fazer de conta que somos o que esperam que sejamos, nunca agradaremos. Veja o meu caro o caso que gentilmente aqui nos trouxe, com o seu velho chaço, nem uma bandeira verde e vermelha pendurada no retrovisor, nem rodadas de tinto da Cooperativa de Valpaços. Veja agora o Valadares, o oposto, bela carripana, casa de assombrar, vinho a rodos. Nem a si, pelo que conta, nem ao Valadares, pelo que me contou, as boas gentes da terra concedem os seus favores à primeira, sem reserva. Assim, meu caro J. Rentes de Carvalho, mais vale ser o que somos e não perder muito tempo a pensar que podíamos ser de outra maneira, que sendo como somos, sicrano não nos apreciou com gostaríamos, fôssemos assado e sicrano ficaria apaziguado, mas, lá está, sairia beltrano da sua quietude e nos diria que assim não podia ser. Sendo como somos e não gastando o nosso bem mais precioso, o tempo, aprendi com o tempo que nada é mais precioso que o tempo, com aquilo que são as não-coisas, e dormimos melhor, com mais cabeça para ler bons livros e estar em boas companhias, isto, claro, se não nos aborrecermos por nos apelidarem de arrogantes, antipáticos e sobranceiros.

Porque o introito já vai longo e o que me interessa verdadeiramente é perguntar-lhe do que não sei, porque o meu caro me fascina em quatro dimensões, a do homem que escreve de forma a que a leitura se me torna compulsiva (nada de estrondoso, aconteceu-me igual com o Dan Brown...), a do Português que não se esqueceu de ser, apesar do mundo, apesar de tudo, a do emigrante, o que olha de fora, sem sobranceria nem superioridade bacoca e, finalmente, a do mais velho, aquele a quem o tempo lhe deu a tranquilidade e a sabedoria para ser aquilo que nós, os que gostamos de pensar que o conhecemos, temos a certeza que é.

E assim, meu caro, desejando com todas as minhas forças que lhe apeteça satisfazer-me a curiosidade, gostava de perguntar ao autor por que razão os Pipocos Mais Salgados desta vida, tipos que acham que estão sempre informados, só agora, tão tarde, se dispõem a lê-lo, embasbacados pela magia, irritados por não terem sabido mais cedo, picados (o que eu gosto desta palavra...) com aqueloutros que, impantes, nos dizem "Rentes de Carvalho? Não conhecias?...". Gostava de perguntar ao autor por que razão Carlos da Maia foi para aquele desterro, afinal não o chegou a dizer a João da Ega, gostava de perguntar ao autor se já leu Ulysses, de Joyce, e, se sim, como se faz para ler até ao fim, gostava de perguntar ao autor porque raio não podemos deixar smiles, e escrever "LOL" e outras menoridades na caixa de comentários do Tempo Contado.

17 comentários:

  1. Anónimo15.8.13

    Sir Pipoco, não lhe vou mentir, ainda que a verdade me possa expulsar deste belissimo recanto snob-chic (ou será chic-snob?!). Eu torço pelo Ilustre Rentes de Carvalho.

    Mas não sendo a alma pequena nem o coração exclusivo, decidi deixar-lhe o aviso. Após o espanto inicial, ao encontrar o «estadulho», vocábulo certamente desconhecido do Sir Pipoco citadino, no texto do seu opositor, decidi averiguar quais seriam as suas (as dele, entenda-se) intenções para com o seu cadáver, após total sangramento da estocada final (sim, eu acredito sempre na vitória das gentes do norte e do campo). Pasme-se, leia o que encontrei...

    http://tempocontado.blogspot.pt/2008/09/o-cadver-dos-outros.html

    Peço-lhe, Sir, que tenha cuidado. Não sei o que seria de mim e dos milhares de grandes mulheres e homens que o admiram e acompanham por esse planeta fora, se algo grave lhe suceder...

    Despeço-me com amizade,

    N

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    1. Anónimo15.8.13

      O estalajadeiro já tem as moedas necessárias e os melhores vinho e azeite transmontanos estão preparados. Nada a temer, portanto.

      Maria Helena

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    2. Anónimo15.8.13

      :)))

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  2. Se o mundo fosse perfeito, agora aparecia aqui Rentes de Carvalho e respondia: "é relativo".

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    1. Anónimo15.8.13

      Ou então LOL !
      (e depois prantava um smile)

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    2. Anónimo15.8.13

      Se o mundo fosse perfeito quem montava de lado nos cavalos eram os homens.

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    3. Se o Mundo Fosse perfeito O Senhor escreveria também d'Os Novos Maias ( ou lá como se chama aquilo) e JRC comentaria, para nosso gáudio).

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  3. Anónimo15.8.13

    Hum... Isto é bom demais. Tenho para mim que Sir Pipoco é o Rentes de Carvalho e que é bipolar!

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  4. Curioso assistir a este momento, ao género Eça de Queiroz vs Pinheiro Chagas, onde a blogosfera substitui as páginas dos jornais...

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  5. E eis que damos por nós perante um autor de quem se ouviu vagamente falar por La Coca, que se torna incontornável através disto dos blogues. Muito temos que agradecer ao Senhor da Casa por nos mostrar que afinal as coisas são como são: duma simplicidade surpreendente e maravilhosa.

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    1. Anónimo15.8.13

      MDRoque, permita que a contradiga veementemente.
      Dizer que J. Rentes de Carvalho é vagamente falado e que se torna incontornável através disto dos blogues é, no mínimo, de uma enorme injustiça.
      Parece-me que os excessos perante este Senhor transmontano e um alfacinha com uma estrela polar a bater no peito, não nos ficam bem.
      Conto com a sua generosidade para que não me leve a mal.

      Maria Helena

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    2. Sheila Carina15.8.13

      Maria Helena, permita-me apoiá-la.
      Parece-me que tudo quanto é bom e agradável deve ser vivido em excesso.
      Este não é o caso, muito pelo contrário, e parece-me que os contendores já deveriam ter embaínhado as espadas e sentarem-se como dois cavalheiros a beberem uns jarros e falarem das suas aventuras românticas.

      Sheila Carina.

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  6. No meu caso particular, e mesmo através de GoodReads, Rentes de Carvalho era ( e é) o autor de La Coca " um livro engraçado" . Foi a própria Maria Helena que uns posts atrás me aconselhou Ernestina como verdadeiramente delicioso, e tinha razão. No meu caso, e provavelmente noutros casos pois se são tantos os seguidores de blogues, não me envergonho de dizer que descobri os outros livros de José Rentes de Carvalho através destes posts e ainda bem. Noutros blogues, noutros livros não encontrei horas de leitura prazerosa como descobri nos deste autor. Isto afirmo...veementemente.

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  7. Anónimo15.8.13

    MDRoque, li o que escreveu e não percebi que estava a falar de si. Peço desculpa, natural e veementente.

    Maria Helena

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    1. OCorvo15.8.13

      Quer dizer, estimada DRA Maria Helena; as suas apreciações aos comentários dos outros são de acordo com as simpatias que os leitores lhe merecem.
      Natural e veementemente.

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  8. Anónimo16.8.13

    Pardon! (Achei que deveria começar assim, em francês. Dizem que é chique.) Sir Pipoco, para além de ser também Rentes de Carvalho, é também ele todos os comentadores deste blog. Todos com excepção da minha pessoa, que existe mesmo! É fácil entender: Não há assim tantas pessoas interessantes e interessadas, na blogosfera. Conclui-se portanto que Sir Pipoco não é bipolar. Sir Pipoco sofre de um Transtorno dissociativo de identidade. Uma espécie de Fernando Pessoa! (E poesia? Escreve?)

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