03 julho 2013

Maias

Ao princípio estranha-se, eu nem sabia que se podiam alterar coisas perfeitas, é como se permitissem que o David Ghetta escrevesse um terceiro acto para Don Giovanni ou se a senhora velhinha do Ecce Uomo fosse convidada a transformar o 3 de Mayo num tríptico.

Desde  a descrição da casa que os Maias vieram habitar em Lisboa no Outono de 1875 até à corrida final de Carlos da Maia e João da Ega, "Os Maias" é o livro perfeito e, não sei se já tinha dito, eu pensava que na perfeição não se toca.

Depois a ideia entranha-se. Primeiro por razões menores, o puro gozo de imaginar três dos seis autores a patinar e a não agarrarem a coisa. Depois imaginamo-nos na nossa poltrona favorita, um cálice de um Porto Quinta do Noval na mão, a ler aquilo e a pensar que não está mal engendrada a continuação que os outros três autores, os capazes, imaginaram.

E afinal de contas, é capaz de ser uma coisa divertida, isso de termos quem nos conte Carlos da Maia no momento seguinte àquele em que teve que correr por alguma coisa.

6 comentários:

  1. não, alguém devia impedir isso.
    corre-se o risco mais que previsível de um dia essa versão de banco de esperma ser tão referenciada que inadvertidamente partes da narrativa chegam aos ouvidos de pessoas normais, violando para sempre a obra mãe, que nunca perfilharia criaturas adoptivas com complexos de édipo.
    a continuação protética de uma obra prima devia ser feita na cabeça de cada um, nomeadamente na cabeça de quem acha que é possível alguma continuação para uma obra prima (sim, já sei, quanto mais prima mais se lhe arrima). mas em terra de cegos, quem tem um olho geralmente é um idiota, como se comprova por grande parte dos autores convidados.

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  2. O Eça deve estar a dar voltas na tumba!

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  3. Olhe-se para o cinema meu caro Pipoco. A idade das sequelas já passou e o que está na moda são as prequelas e as derivadelas (isto fazendo uma adaptação).

    Portanto acho que, mais do que escavacar a conclusão, há muito para ser dito no antes e no paralelo. Nem que seja nos paralelos da calçada para atirar a quem desvirtue tão ilustres obras.

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  4. Anónimo3.7.13

    Alguém no perfeito juízo ?!

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  5. Vi a notícia há dois ou três dias no Delito de Opinião, e confesso que fiquei agoniada. Tão agoniada que nem comentei, não fosse sair-me alguma opinião mais furibunda do teclado. Ainda nem há três semanas fiz uma leitura integral do livro (mais uma entre centenas e centenas, tirando aquelas vezes em que lhe pego só por me apetecer ler esta ou aquela passagem em particular).
    Isto é uma infâmia.

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  6. estranho e não entranho. Os Maias são intocáveis, para mim.

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