17 abril 2013

Disso dos afectos nos blogs, e não sei quê

Estava a escrever um post que terminava com um assertivo "nos blogs não há afectos", era uma espécie de aviso à navegação para a tribo das dos blogs "diário de bordo", sempre à cata de um stroke positivo para o retrato dos seus ricos filhinhos, sempre à espera da nossa aceitação quando nos comunicam que hoje comeram sushi.

Genuinamente, nunca me pareceu que isto dos blogs fosse a coisa certa para gerar afectos. Não sei quem me lê, imagino que venham cá ter por causa da colagem descarada do nome do blog, acabam por ficar para ver se também a mim hoje me deu para isto e vão à sua vida. Não devemos nada uns aos outros, eu divirto-me às vezes a escrever isto, quem lê também se diverte às vezes a ler isto, aposto que nem sequer nos divertimos nos mesmos momentos.

Depois lembrei-me de coisas cá minhas e fiquei de pensar melhor se haveria afectos nisto dos blogs ou não. Pensei na Pólo Norte que me ensinou onde está o terceiro melhor gin tónico da cidade e na Alexandra que me ofereceu do seu tempo e que acertou à primeira no header que eu nem sabia que queria antes de o ter. Ppensei em como desejei que a Maria fosse mesmo para Bruges, pensei no meu cd do Carlos do Carmo que já não se vende em lado nenhum e foi enviado para uma morada comercial, pensei no Ulysses esquecido, abençoadamente esquecido, no Museu d'Orsay. Pensei no livro do Corto Maltese que me foi deixado numa agência bancária em nome de Senhor Salgado e no vídeo do Von Karajan a dirigir a Leontyne Price, deixados numa bilheteira também ao cuidado do Senhor Salgado, assim mesmo, sem necessidade de saber sequer o meu verdadeiro nome. Lembrei-me de alguns comentários que me remeteram para uma dimensão diferente da que eu pretendia com o que tinha escrito e que me fizeram pensar, lembrei-me dos posts que li e que me fizeram querer saber mais do que falavam.

E talvez haja afectos nisto dos blogs. Talvez.

15 comentários:

  1. Anónimo17.4.13

    Não esperava uma resposta tão longa, mas foi (como é sempre) um prazer lê-los, a si e à resposta.

    Afectuosamente,

    N.

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    1. Foi exatamente a sua pergunta que me incentivou a explicar melhor o que penso sobre esta interessante temática

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    2. Anónimo17.4.13

      O que eu muito agradeço, Pipoco. E fui sincera quando lhe fiz a pergunta.

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  2. Quando se aqui vem não é nem pouco mais ou menos pela colagem do nome. É pelo chamamento das palavras, pelo requinte, pelo remoque, pelo estímulo. É do conhecimento geral que a vida não existiria sem sal... Tanto as hábeis observações do autor, como as da outra face da mesma moeda que é o piqueno RP, como o brilhantismo de muitos comentários fazem deste espaço um marco, uma paragem obrigatória e para os mais atentos, demorada e apreciada. Talvez seja isso dos afectos nisto dos blogs.

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  3. E a melhor açorda de marisco de Alcabideche, ó mal e pobre agradecido!

    (E o pior restaurante de Sintra... :P )

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    1. Come-se muito bem em Alcabideche, confirmo. Ponto Verde?

      (pior restaurante de sintra, qual?)

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  4. Estar sozinho é muito bom, mas às vezes, sabe bem saber que não estamos sozinhos.

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  5. Atrevo-me a dizer que foi um dos melhores posts (a puxar ao sentimento...sim,porque depois há os outros)que li do Sr Salgado!

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  6. Há sim, sr. Salgado, que ainda por estes dias dei por mim feita inverno ao saber da "partida" de uma companhia blogosférica para aquela dimensão de onde nunca ninguém regressou. Gostava que houvesse rede wireless lá em cima, para que todos pudéssemos escrever eternamente...

    Para mal dos nossos pecados, há afecto sim.

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  7. Anónimo17.4.13

    O sentimento de solidão, que é aquele que mais valorizo, perdeu-se algures entre comentários e mails dos meus leitores.
    Nuns dias soube-me bem sentir acompanhada, noutros apetecia-me o silêncio.
    Acabei por ganhar aversão aos sentimentos nisto dos blogs mas, ao mesmo tempo, debato-me com a tristeza dos dias em que ninguém me lê. Vá-se lá entender!
    Há certamente sentimentos nistos dos blogs. Aos milhares.
    Sejam lá eles quais forem.

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  8. Há afectos em todo o lado, caro Pipoco. Isto não é um lugar mágico nem especial onde há coisas diferentes do resto do mundo. Tem diferenças? Tem, mas não são tantas como se quer fazer parecer. E o que cá se passa é igualzinho ao que se passa em outros lados. Aqui só é mais fácil fechar os olhos e acreditar noutra coisa qualquer.

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  9. Vê? Afinal as coisas são como são.

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  10. Um pipoco Salgado (talvez) a ficar doce.

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  11. Para além do conteúdo, visito o seu blog porque O Pipoco, escreve excepcionalmente bem Portugues.

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  12. Na minha modesta opinião os afectos criam-se em blogs como em qualquer lado, começando primeiro por se notarem afinidades, que eventualmente levam a querermos conhecer mais aquela pessoa, e eventualmente criar uma amizada.

    Não conheci muitas pessoas através do blog, por ser relativamente reservada nesse aspecto, mas tirando uma única excepção, foi sempre positivo. Conheci através do blog uma pessoa que é hoje das minhas melhores amigas, de uma generosidade imensa, e que me irá alojar uns tempos até deixar a Holanda.

    Se é possivel criar afectos através dos blogues, claro que sim, como em todo o lado. Basta cruzarmo-nos com as pessoas certas.

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