02 abril 2012

Bilf

Chega um homem da sua semana branca, uma semana inteira a espalhar a fragância do Davidoff Cool Water pela alta montanha, o requinte de deslizar velozmente com Bach nos ouvidos, a neve que lhe bate na face, a elegância das pistas negras descidas a direito, com uma eventual paragem para levantar garbosamente uma jovem caída em pista, os agradecimentos da jovem, confidenciando a sua imprudência por ter arriscado uma pista só ao alcance dos eleitos, um homem conforta-a e ajuda-a a descer, as mãos trémulas de emoção da jovem apoiadas nos ombros fortes e viris do seu salvador, aquele que lhe recolhe os esquis perdidos com um suave movimento de mão, as amigas da jovem que aguardam no fim da pista, antevendo o pior, rebentando num pranto sentido ao saber a amiga sã e salva, cantando hossanas e cânticos de louvor por tal milagre, um homem faz-lhes uma ligeira vénia e segue para mais um encontro com o perigo, dissipa-se na neve que não pára de cair, pressente-lhes os suspiros de gratidão e a líbido em valores máximos, um homem sorri por ter feito o bem e sabe que merece o seu cognac, bebido tranquilamente num bar decorado com fotos de lendas alpinas, homens de bigodes grossos em retratos a preto e branco, um homem sente-as suspirar à sua entrada, cumprimenta-as com um aceno de cabeça, sem palavras, um homem sabe que elas preferem os de palavras parcas, um homem regressa finalmente ao seu país, adivinhando a recepção no aeroporto, Pólo Norte à frente, orgulhosa por entregar o BILF 2012 a uma lenda viva do BILFismo, alguém que acabou de espalhar BILFagem pelo coração da Europa, Tolan, o digno vencedor do ano transacto acolitando Pólo Norte, um sorriso abnegado, a satisfação por poder finalmente cumprimentar uma referência, um homem fazendo-se humilde, depois de tantos prémios maiores a consagrá-lo e ei-lo regressado à sua pátria para aceitar este prémio singelo, que representa apenas uma linha na sua epopeia de setecentas BILFantes páginas de glória, o aeroporto deserto, um homem sorri, afinal nem sequer foi nomeado este ano, os mitos nascem assim, um homem percebe que as eleitoras intuíram que as verdadeiras lendas não são sufragáveis, a sua grandeza etérea é intocável, um homem cofia a sua barba grisalha e pensa que, sim senhores, as mulheres são seres tocados pela mão da sabedoria.

4 comentários:

  1. Deixa lá, pode ser que para o ano que vem haja justiça, pá

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  2. Mr Popcorn, para mim será sempre o vencedor! ;)
    (E já soube que no ano passado não ganhou devido a uma maluquinha que se pôs a votar no Tolan como se não houvesse amanhã? Atenção, não lhe chamo maluquinha por ter votado no Tolan! Parece que a moça não joga mesmo com o baralho todo, a avaliar pelo que a Pólo contou lá no estaminé dela).

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  3. Eu cá até cheguei a dizer que Mr. Pipoco tinha pensado neste renascimento estratégico, qual fénix qual quê, só mesmo para arrebatar o BILF2012!

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