08 outubro 2024

Kilimanjaro (5)

 Quando eu subir outra vez o Kilimanjaro não direi nada. Mas haverá sinais.



Kilimanjaro (4)

No campo de Barafu, onde começa o ataque ao cume, fico no caminho principal, vejo chegar os que tentaram e não subiram. Chegam às costas dos guias, derrotados pelo mal de altitude. Subo esta noite. Sinto-me como se estivesse a ver o Mayday na noite antes de viajar de avião.



Kilimanjaro (3)

 Rashid, o waiter, não fala inglês que vá além de “dinner is ready” e das suas variações, mas é o mais doce do grupo. Fica em espera, deliciado com a minha cara de surpresa quando destapa a panela onde está a refeição, ambos sabendo que será massa com vegetais, às vezes frango.



05 outubro 2024

Kilimanjaro (2)

A rapariga americana pediu ontem ao segundo guia que a acompanhasse na descida, que não tinha cabeça para a montanha e só sonhava com o banho quente que só chegará daqui a quatro dias. Hoje a rapariga americana está de volta. Às vezes a noite ajuda a pensar.



04 outubro 2024

Kilimanjaro (1)

Mndeme, o melhor guia do Kilimanjaro, recebe-me com um abraço apertado e diz-me que achou que eu não cumpriria a minha promessa de voltar, que ninguém de mente sã sobe duas vezes o Kilimanjaro em menos de um ano. Mndeme está certo e errado ao mesmo tempo.



21 setembro 2024

Pergunto

Podem as mãos ter memória?

20 setembro 2024

Hoje

Acordei a pensar se as mulheres preferirão um homem que cozinhe maravilhosamente ou um homem que seja um bom dançarino.

10 setembro 2024

Recadinho

 Se vieres, que tragas livros. Ou então, não venhas.

06 setembro 2024

Do deslumbre e outras situações

 Quando te deslumbrares pelo que quer que seja, Ruben Patrick, nunca te inibas a um maior deslumbre, nunca esmoreças pensando que a seguir a “Big Fish” só poderá vir “Eduardo Mãos de Tesoura”, que a seguir à “História do Cerco de Lisboa” não terás mais que “O Homem Duplicado”, que depois de Sophie Marceau terás Britney Spears, porque, em verdade te digo, estando os astros a teu favor, poderás muito bem ter “A noiva cadáver” a seguir a “Big Fish”, “Ensaio sobre a Cegueira” depois da “História do cerco de Lisboa”, poderá acontecer-te Juliette Binoche depois de Sophie Marceau. 

29 agosto 2024

Da feirinha

 Lá fui à feira do livro do Porto, pela primeira vez. É só aquilo?

28 agosto 2024

Ementas

 E se, no restaurante onde vamos almoçar com regularidade, nos disserem que a nossa lista não é aquela que os franceses da mesa do lado estão a consultar, mas outra com preços mais baixos, dizemos o quê?

Cá estamos

 Estivesse Hemingway, Agustina ou Saramago enfiado num saquinho de tule cor de rosa com lacinho de cetim numa estante de uma boa livraria, compraríamos?

21 dezembro 2023

Eu, …

… que tenho um espanta-espíritos que me trouxeram do país dos guaranis, que entro sempre em Alvalade com o pé direito, que cruzo os dedos quando quero que aconteçam coisas cá minhas, que evito situações nas sexta-feira 13, não acredito nisso da sorte e do azar

As coisas são como são

Se as histórias que conta te maravilham, se as palavras que alinha te comovem, se te escuta como se tu soubesses alguma verdade, se te abraça com força, se quer saber das tuas pequenas coisas, então, Ruben Patrick, por quem és, não lhe digas que ela é uma mulher interessante.

25 setembro 2023

Das boas graças dos deuses certos e caldeirões da poção mágica da sorte eterna

Dizem-me que eu tenho as boas graças dos deuses certos, que me caí no caldeirão da poção mágica da sorte eterna, mas eu, que sei como as coisas se passam, sei que só aproveito o que a vida me estende numa bandeja, perguntando-me se quero ou não quero, e eu, que sei como as coisas se passam, acho que já tinha dito isto, digo que sim, que quero, mesmo que às vezes não tenha todas as certezas, mas sei que é pegar ou largar, se pensar muito a coisa deixa de lá estar, e quero, e pego, e sei que a seguir a oportunidades aparecem oportunidades, sei que não há boas graças dos deuses certos nem caldeirão da poção mágica das sorte eterna, mas que me dá muito jeito que exista quem pense que a vida se faz de boas graças dos deuses certos e de caldeirões da poção mágica da sorte eterna, isso dá.

29 agosto 2023

Dos livros e outras situações

 




Trouxe o óbvio Kadaré para estes dias albaneses, dois livros a contar a história brava deste país, um que me conta como os turcos foram despachados, outro que me diz como os italianos de Mussolini daqui saíram sem glória, talvez a companhia de livros que me contem histórias dos sítios onde vou nunca tenha sido tão perfeita,  quase ao jeito do “foi aqui, precisamente neste lugar…”, o que eu não contava era fechar o círculo de forma perfeita e visitar a casa que foi do próprio Kadaré, onde ele terá tido as ideias dos livros que aqui li.

25 agosto 2023

Picos dos Balcãs, as histórias (4)


 Peaky, foi o nome que eu lhe dei, é um cão errante, a primeira vez que o encontrei no caminho acabou por ir comigo até ao abrigo seguinte, ainda uns bons dez quilómetros debaixo de muito calor, a sua entrada no abrigo foi saudada por outros viajantes a quem Peaky tinha acompanhado no caminho, alguns deles a mais de trinta quilómetros dali. Peaky não pede comida, tem entrada livre na mesa das refeições e todos guardam um pouco da sua comida e da sua escassa água para dar de comer e beber a Peaky, que sairá com o primeiro viajante, que trocará no percurso se o viajante repousar mais do que um par de minutos, Peaky não espera e acompanhará quem vier a seguir no caminho. Encontrei-o quase cinquenta quilómetros à frente de onde nos cruzámos pela primeira vez, desta vez com uma ferida que não deixava que tratassem, contava-se que tinha sido picado um dia antes por uma cobra que Peaky tinha atacado na berma de um caminho com arbustos cerrados de mirtilos selvagens que, por terem muita água, os viajantes sempre colhem, sem parar no caminho. 

23 agosto 2023

Picos dos Balcãs, as histórias (3)

 Não há como não notar a placa de metal a brilhar ao sol na cascata. Pergunto a quem parece ser dali o que está escrito, dizem-me que será qualquer coisa como “a beleza da natureza levou-te”, era um homem da terra que gostava de se arriscar a mergulhar no lago da cascata, um bom homem, bebo uma cerveja em memória deste homem bom e fico a pensar se quem vai colocar aquelas flores frescas no precipício não terá, mais dia, menos dia, direito à sua própria placa de metal com fotografia.



22 agosto 2023

Picos dos Balcãs, as histórias (2)


 Trouxe um dos melhores Kadaré para as montanhas, este é o Kadaré que conta a história de um general italiano que tem a missão de levar os soldados italianos mortos pelos albaneses na segunda grande guerra, é um bom livro para ler nas montanhas da Albânia e ficar arrepiado, acontece que desrespeitei a regra primeira das arrumações de mochilas e transportei o General na bolsa cimeira num dia de seis horas de dilúvio e o General apanhou chuva, a mesma chuva de que se queixa na história. E se isto não é uma coisa bonita para acontecer a este livro, então não sei nada de coisas bonitas para acontecer a bons livros.