09 outubro 2021

Do último Bond

 De todos os desgostos maiores que fui tendo na minha longa vida, e aqui incluo os mais tremendos, o Sporting ter sido eliminado pelo Gençlerbirligi, as últimas quatro temporadas de "La Casa de Papel" ou já se terem passado quinhentos dias seguidos sem eu ter calçado umas botas de esqui, talvez o maior deles tenha sido esta situação do último Bond, James Bond, coisa para nos fazer repensar que sociedade deixamos como legado às gerações vindouras, uma página negra do que somos enquanto indivíduos e que nos deverá fazer reflectir em como aqui chegámos, os que se dedicam a estudar estes fenómenos dirão desta situação o mesmo que se disse de quando a Coca-Cola resolveu mudar de sabor ou quando a Mercedes achou que um Mercedes barato era uma ideia vencedora, a Bond, James Bond, pede-se que sobreviva ao pior dos bandidos, que esteja entretido com uma Bond girl no fim do filme enquanto o primeiro ministro o tenta contactar, que verifique que horas são no seu Omega para ver se ainda tem tempo para mais um Martini shaken not stirred, antes de entrar no Aston Martin que muda de matrícula e espalha pregos que furam os pneus dos carros que vêm atrás, o desgosto maior é ver que Bond, James Bond, sobreviveu ao Dr. No, Blofeld, Scaramanga e ao Goldfinger mas não sobreviveu ao politicamente correcto.

9 comentários:

  1. Cláudia Filipa10.10.21

    Venho ao seu Blog para conversar consigo, portanto, viu o filme, não vou preocupar-me com questões de spoiler. Fica o aviso para outras pessoas, que possam, também, começar a ler este comentário e que não tenham visto o filme e queiram ver: ATENÇÃO, COMENTÁRIO, EVENTUALMENTE, TODO ELE SPOILER.

    Foi o Bond que fui ver logo a correr, bem, não foi logo a correr, fui ver no segundo dia.
    A minha curiosidade estava muito acicatada "como se desembaraçariam? Cairiam totalmente na fantochada carnavalesca ou fariam a coisa de forma inteligente?

    Bond, particularmente este Bond, com tanta atenção em cima, merecia, pelo menos: "Se é para fazer, nós mostramos como é, se nos metemos nisto, então, vamos descalçar esta bota com o respeito e a elegância que merece, vamos mostrar como se faz e bem".

    E eu, que até estava cheia de má vontade, achei que sim, que descalçaram muito bem a bota. Bond, James Bond, este filme, achei eu, foi superior a passar a mensagem. Homens e mulheres exactamente no mesmo patamar, isso ser encarado com a mais absoluta naturalidade (Bond percebe logo que está ali um dos seus pares, uma 00, reagindo sem qualquer estranheza) a respeitarem-se mutuamente, a trabalhar em equipa, sem a mais que desgastada e tola guerra dos sexos, a encarar, também com toda a naturalidade, sentido de humor, a questão: "ok, lá porque eu sou um homem e tu és uma mulher, não temos de "dormir" juntos, a coisa não passa por aí", sem que o macho fique ferido na sua masculinidade e sem que a fêmea desate logo a descabelar-se injustificadamente enquanto diz "#eutambém".

    Portanto, no que toca à política correctice destemperada, mas que dá buédalikes nas redes sociais, penso mesmo que, Bond, James Bond, esteve de luva branca a mostrar como se faz e bem. (não li quaisquer críticas, não sei o que dizem do filme, mas penso pela minha própria cabeça e esta é a minha opinião).

    Tudo bem, passaram a mensagem... mas... nós, pessoas civilizadas, pessoas muito à frente do nosso tempo, que vemos Bond, James Bond, e sabemos que aquilo é só ficção, até porque, nós, comuns mortais, esticaríamos logo o pernil perante a impossível dificuldade logo do primeiro obstáculo, e, Bond, bem, é o que se vê. Nós, que sabemos que, mesmo tratando-se de James Bond, não basta passar pelo mulherio e, pronto, a coisa dá-se. Nós, que sempre vimos desenhos animados, por exemplo, em que os animais falam, que se desunham, a nossa língua, e nunca devolvemos os nossos animais de estimação por nunca terem sido capazes de dizer nada de jeito. Nós, QUEREMOS BOND, JAMES BOND, O ORIGINAL, O AUTÊNTICO, O VERDADEIRO, DE VOLTA, COM TODOS OS CHAVÕES, COM TODOS OS VÍCIOS, COM TODAS AS COISAS QUE SÃO COMO SÃO EM BOND, JAMES BOND, e, em troca, prometemos continuar as mesmas pessoas civilizadas de sempre, muito à frente do nosso tempo, a saber separar ficção de realidade e a não precisar que, também Bond, James Bond, venha educar-nos.

    É totalmente verdade, Pipoco, que pena. E, embora tenha gostado do filme, também pelas razões que já disse (já que era para ser...), aconteceu mesmo isso, foi mesmo o politicamente correcto, ao fim de todo este tempo, que matou Bond, James Bond. O politicamente correcto está mesmo a ser, cada vez mais, um ditador tirano que mata sem armas. E, se não arranjarem maneira de Bond ter ainda mais vidas do que os gatos, com Bond nunca se sabe, este foi o último filme de Bond que vi, também em jeito de protesto contra a tolice (perigosa) dos excessos.

    E um excelente resto de domingo! E continuação, claro.

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    1. Bond, James Bond, evoluiu. Em "007 contra Goldfinger", coisa antiga, Bond usava um Rolex e tratava a rapariga namorada do mauzão (que havia de falecer com uma camada de tinta dourada) como uma imbecil, e ela aceitava. E isso admite-se, evoluir. Coisa diferente, como bem diz, Cláudia Filipa, é adulterar material sagrado, é tratar o respeitável público como incapazes de decidir por si as opções. Uma agente secreta que represente a diversidade, parece-me bem, pode ser mulher, Rohingya, transexual e do Belenenses, desde que não seja Bond, James Bond. Da mesma forma que não nos passa pela cabeça ver o Faísca McQueen fazer o novo Shrek, o Plácido Domingo ser o novo vocalista dos Foo Fighters ou a francesinha passar a ter brócolos e abacate, tudo em nome da igualdade de oportunidades e de uma vida mais saudável.

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    2. Cláudia Filipa12.10.21

      Não consegui, antes, disponibilidade mental, para organizar o pensamento para a caixa de comentários e contar-lhe o que quero contar a seguir. Tem que ver com tudo isto, claro, e penso que vai achar giro...

      A primeira vez que vi um filme de James Bond, não me lembro qual (vi vários dos antigos, entre eles, esse que refere), foi na televisão e na fase dos 15/16 anos. Detestei, quis, logo ali, acabar com Bond, James Bond. Mas que criatura horrorosa de convencida, que petulante, que prepotente. E que mulheres eram aquelas, senhores? Que um parvalhão daqueles dizia duas palermices e elas caiam embevecidas já sem saber quem eram, onde estavam, para onde iam e o que é que andavam cá a fazer? Mas que mulheres tão idiotas, caramba!... Agora, importa conhecer o contexto em que vi o meu primeiro Bond. Foi com 15/16 anos, que começaram a acontecer aqueles episódios de desconhecidos dizerem-me coisas na rua e logo decretei que todos os homens eram uns imbecis. Mas se eu não me metia com eles nem me punha a tecer comentários sobre o corpo deles, nem a dizer-lhes que lhes fazia assim e assado, por que raio é que aquelas criaturas, que só podiam, evidentemente, ser seres inferiores, sentiam-se no direito de fazê-lo. Nem queira saber, até se algum colega, coitado, tinha o azar de ser apanhado a olhar de forma até "embevecidamente" frágil, era corrido a "mas para onde é que estava a olhar, se nunca viu, olhasse para outro lado que aquilo era incomodativo" (mesmo, até está a dar-me vontade de rir)... Ora, neste estado, (adolescência revoltada-1, alguma calma para discernir convenientemente situações-0) uma pessoa não está em condições para que Bond, James Bond, se apresente (bem, logo à partida, ser homem, já não o favorecia nada)...
      Foi então, que me aconteceu uma coisa maravilhosa, o tempo foi passando e, à medida que as borbulhas desapareciam, aumentava o discernimento. E uma pessoa começa a perceber que as coisas situam-se muito mais nas tonalidades de cinzento do que no preto e no branco. Percebi que a fase "adolescência revoltada" tinha sido péssima conselheira, aquela vontade de aniquilar, aquilo não é bom para ninguém. Tinha feito julgamentos precipitados, sem qualquer direito de defesa, tinha posto tudo no mesmo saco, com a pala nos olhos das situações que, para mim, tinham sido traumáticas.
      E foi assim que, quando voltei a ver Bond, James Bond, estive apenas a ver um filme de puro entretenimento que me fez passar um bom bocado. E achei ridícula a minha irritação inicial. É que, Bond, é apenas um homem adulto, que sobrevive a coisas impossíveis, o único, sem super poderes, que combate uns quantos mauzões, esses sim, verdadeiramente mauzões, com uma mão e, com a outra, segura uma Bond Girl em apuros. E não acho mesmo nada que Bond desrespeite as mulheres, acho que não passa mesmo nada por aí. Bond quer e envolve-se com as Bond Girls e as Bond Girls querem e envolvem-se com Bond. Plena igualdade, também aqui. São todos adultos, no exercício da sua livre vontade. Ninguém obriga ninguém, ninguém é inimputável.
      Sabe o que sei com toda a certeza, Pipoco? É que, quando achei que Bond deveria desaparecer, era muito pior pessoa do que sou hoje.
      É isso, matar Bond, não presta serviço nenhum à diversidade, matar Bond, é só as sociedades a mostrarem que caem sempre na mesma trampa que é a pequenez de querer aniquilar o que não vai ao encontro da "moral e dos bons costumes" da altura, mesmo que seja algo completamente inofensivo, que não incomoda nem faz mal a ninguém. Matar Bond é contribuir para matar a diversidade em nome da diversidade. E "é tratar o respeitável público como incapazes de decidir por si as opções." (e, sim, em tudo)
      (e, obrigada pela conversa, Pipoco)

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  2. E por que insiste nisso, Tio? Só se for pelo Sporting.
    Old bonds never die.

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  3. Anónimo10.10.21

    Tio, eu ca não aprecio o Bond, James Bond
    Vw

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  4. Isto é a opinião de alguém que nunca viu um filme dele pois para mim está obsoleto desde que nasceu. Enfim, sabe que eu sou aqui uma voz desalinhada mas gosto de o ler, gosto de contactar com pessoas diferentes de mim.
    A ver então:
    Considerando as hipóteses que coloca: a) continuar como era ou b) evoluir para uma pessoa que respeita as mulheres e por isso deixa de ser o herói que era. Fico a pensar que o melhor era deixar de fazer Bond e 007. OS heróis têm o seu tempo e devem lá ficar como tal. Não sou pelo revisionismo da história (até porque é bom ter como ilustrá-la), mas também não sou pela manutenção de heróis e figuras que já não são consentâneas com aquilo que queremos para os dias de hoje. De resto a mudança é a tónica do mundo e oxalá que sempre para melhor (caso contrário ainda estávamos na Escravatura e para mau já nos basta o Afeganistão).
    ~CC~

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    1. CCF, como é isso de ter uma opinião sobre um filme que nunca viu?

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    2. Não temos que experimentar tudo para ter opinião sobre isso, certo? A figura é de tal modo propagandeada que a contactei em imensos lugares, designadamente naqueles intervalos de (outros) filmes, supostamente de luz acesa mas nem sempre. Esses excertos chegaram-me, assim como tudo o resto. Como sabe todo o produto comercial é imensamente disseminado, não há como não se saber o que é e quem é.
      ~CC~

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  5. Propaganda is everywhere

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