16 abril 2021

Pipoco opina sobre "The One"

Devidamente aconchegado por generosas doses de Ardbeg, um malte que tem um final de madeira fumada que não vos passa pela cabeça, lá me dediquei àquilo do "The One", uma séria simpática que nos fala da beleza da alma compatível, é entregar um fio de cabelo e recebemos na volta do correio o contacto da nossa alma gémea, depois é fazer vir a pessoa lá do Burkina Faso ou das Ilhas Caimão, que isto das almas gémeas nem sempre são as girls next door, e não há que duvidar, em estando frente a frente libertam-se as feromonas ou a serotonina ou lá o que é, e a coisa dá-se, percebe-se que é para a vida, que com aquela mulher ao lado, bem sei, sou um dinossauro, resumo a coisa a um mundo heterosexual, mas com aquela mulher, dizia eu, não há quem tenha vontade de ir ao Brasil em negócios nem dar um salto ao Bairro Alto só para analisar o mercado, e vice-versa, ela tem-nos cativados para sempre, principezinhos e raposas, é aproveitar, poupa-se uma fortuna em restaurantes de boa fama, já não precisamos de fazer de conta que somos uns intelectuais incompreendidos para as conquistar, não teremos que escolher ser maus ou bons rapazes, elas não terão que espalhar generosas doses de essência de pêssego pela pele nem pintar as raízes do cabelo, os preliminares serão uma opção que ninguém usará, parece tão boa ideia, tão perfeito, tão vibrante e, afinal, é tão sem jeito nenhum.

4 comentários:

  1. Espere pela segunda temporada e vai ver como a perfeição descamba:) O ser humano é bem mais complexo do que um filamento de ADN.
    ~CC~

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  2. Diz bem, caro Pipoco, diz muito bem:
    ...parece tão boa ideia, tão perfeito, tão vibrante e, afinal, é tão sem jeito nenhum.

    O poder sedutor, os preliminares, o subtil sorriso, o olho no olho, é que dão encanto à conquista...quem é que quer uma alma gémea enfadonha e, ainda por cima, lá de onde o diabo perdeu as botas, não acha? Não caia nessa, Caro Pipoco, não cai nessa!!

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  3. Anónimo16.4.21

    "parece tão boa ideia, tão perfeito, tão vibrante e, afinal, é tão sem jeito nenhum.". Quite right!

    Não há nada melhor do que uma boa conversa, descobrir gostos comuns e aprender algo novo.

    Eu gostei de me ter sido apresentado o Ardbeg. Será provado assim que surgir oportunidade.

    Um abraço do Algarve,

    Sandra Martins


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  4. Cláudia Filipa16.4.21

    Sabe que uma das coisas que, quando me nasceu a curiosidade para isso dos amores, fazia-me pensar nisso como uma coisa um bocado pífia, assim mesmo ao nível da intrujice da boa, era a quantidade de vezes que ouvia "Mal olhei para ela, soube logo que seria a minha mulher", "ou a tal" (ouvi mais homens com esta palermice, por isso é que não escrevo o equivalente no feminino, alguns, até pessoas pelas quais tinha/tenho grande consideração. Aliás, isto ouve-se muito), (também vou referir-me mais à realidade heterossexual, não por ser uma dinossaura, mas por ser a minha). Pois esses dizeres, Pipoco, eram baldes de terra, assim sem dó nem piedade, assim mesmo para enterrar a minha ideia de Amor. Esses dizeres, transformavam mesmo o Amor numa coisa sem jeito nenhum. Repare, "Ah, olhei e soube logo..." está praticamente ao nível do envio de um fio de cabelo, e, pronto, a coisa dá-se.
    Mas não queria nada fazer o funeral da beleza que é a ideia da existência do Amor, assim como uma coisa em condições, então, amadurecendo mais as ideias, pensei "a culpa não é do Amor, por não existir, a culpa é da precipitação das pessoas, ou então apenas pensam que estão a dizer uma grande coisa" (não sabiam, Pipoco, que poderiam estar a ser responsáveis pela morte de um panda)

    Acontece que, e isto é tudo tal qual estou a contar-lhe, resolvida aquela primeira parte, não me conformava com essa outra questão verdadeiramente demolidora para o Amor, precisamente, a questão "do bairrismo", (repare, até no caso da série, com a ciência a querer ajudar, a amostra fica limitada às pessoas que se inscrevem, não é?). Ora, punha-me a dizer estas coisas às pessoas, o Amor, estava limitado ao nosso bairro, ou aos bairros que frequentávamos, precisamente, às pessoas "da porta ao lado", o Amor, afinal, era como a mercearia do Senhor António. Ora, se, obviamente, não tínhamos a possibilidade de conhecer todas as pessoas do Mundo, nunca poderíamos dizer que estávamos com "The One", mas sim, com "The Possible One". Só em casos raros, destinados a pessoas com sorte a valer, "The One" era do bairro. Bolas, isto é uma valente machadada no Amor. Bem, mas, lá está, eu toda teimosa, não me apetecia nada fazer o funeral do Amor, então, uma vez, uma amiga, já toda muito esotérica naquela altura, como brinco e ela não se importa, disse-me que o Universo funcionava como grande conspirador para colmatar o que seria uma tremenda injustiça, e que, depois, dependeria muito de nós fazermos das coisas pífias ou em condições. Achei a ideia tão bonita que optei por acreditar nela. E foi assim que, hoje, sou uma mulher muito mais apaziguada.

    (e, obrigada por todo este momento, Pipoco)

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