16 novembro 2020

É como o Instagram, creio eu

 Uma dessas funcionalidades que ninguém pediu à rapaziada dos telefones inteligentes que inventasse recordou-me logo de manhã um retrato com um ano e meio, era o tempo em que se faziam viagens e eu estou em Khardung La Pass com barba de doze dias, uma boa barba, sorridente naqueles cinco mil e muitos metros de altitude e quase trinta graus negativos, nem uma palavra o retrato diz como cheguei ali, se por meu pé ou com ajuda, se sofri ou não na subida, o que me custou o regresso, se foi ou não má ideia ter lá ido numa abertura de bom tempo que podia ter sido demasiado curta, é só um tipo com barba de doze dias e neve à volta e uma placa a dizer que estamos a cinco mil seiscentos e dois metros de altitude, quase três Serras da Estrela, posso contar a história que eu quiser, suor e lágrimas ou coisa para meninos, risco total ou segurança acima de tudo.

2 comentários:

  1. Cláudia Filipa16.11.20

    Isso.
    E talvez também o potencial para brincar de estrela, com todas as poses e todos os filtros, uma espécie de Hollywood instantânea e ao alcance de todos. Toda a gente com hipótese de ser admirada, invejada, idolatrada, desejada, uma porta escancarada para a fantasia: E agora eu continuo a ser herói e o meu cavalo continua a só falar inglês e a noiva do cowboy continua a ser você além das outras três...

    (quando era miúda brincava muitas vezes às passadeiras vermelhas, eu a desfilar, a sentir-me poderosíssima, e, mesmo quando não podia ouvir, imaginava automaticamente a música na minha cabeça, tinha de estar sempre lá a música, era só mudar a letra de menino para menina, "Eye of the tiger", ficava a sentir-me capaz de mover montanhas, aliás, o efeito dessa música, em mim, mantém-se inalterado, (não me tivessem os Survivor deitado a mão e estava agora no insta...), isso e Nowhere Fast, as pessoas é que não sabem, nada como dançar e pular como se se tivesse enlouquecido enquanto se grita a plenos pulmões "There,s nothing wrong with going nowhere, baby, but we should be going nowhere fast")

    Enfim, todos temos as nossas fraquezas, os nossos podres, agora, se deixarem de seguir a sua palavra "derivado" do Instagram, que há lugar para tudo, nesse caso é que ficam a merecer o pódio da tótózice imperdoável...

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  2. Ah, mas essa foto do Tio, com barba de três quinze dias, aquando daquela sua casmurrice de andar lá p'las neves parecidas com as do Kilimanjaro, que só o não foram por ser em terras da Índia, que eu bem lembro, dizia eu, essa fotografia é que eu gostaria de ver...Publique, publique, que isto sem foto de pouco vale...

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