03 outubro 2016

Há outro país...

...onde senhoras velhinhas e com a dentição completa, de face rosada e risonha, preparam, com mãos sábias, galinhas que ainda ontem depenicavam em liberdade grãos de milho semeado por senhores velhinhos mas rijos, milho que foi regado por águas cristalinas de rios selvagens, que foi debulhado ao som de cantigas ancestrais e seco por um sol de Setembro, desse tipo de sol que tisna peles de aldeões que nunca careceram de protector nível cinquenta, onde as crianças sabem os ciclos da natureza, num ciclo de passagem de saberes de avós para netos, nas noites de frios invernos passados ao redor de lareiras que queimam sobro e azinho, escutando os mais velhos e rindo de histórias simples de antanho, onde os jovens sonham ser artesãos e agricultores, perpetuando artes antigas, onde as noites de verão se passam contemplando as estrelas, ali está Orion, ali está a Ursa Maior, não, essa é a Cassiopeia, tens toda a razão meu bom amigo, confundo-as sempre, e apertam as mãos com fervor, num aperto forte e cúmplice, fechando os olhos e pensando que a vida podia ser sempre assim, harmoniosa e simples, lendo livros clássicos, cozinhando alimentos da época, felizes por serem uns bons rurais, agradecendo aos céus não serem como as pessoas da cidade, sempre a correrem atrás de coisa nenhuma, sabedores de maus programas de televisão, e aquele trânsito, senhores, deus nos livre.

(em complemento a isto)

13 comentários:

  1. Anónimo3.10.16

    Já que, aparentemente, todos correm atrás do País das Maravilhas se tivesse que escolher entre a «oposição e o complemento», escolheria o segundo. Sei lá; talvez porque gosto de senhoras velhinhas de faces rosadas e sempre sorridentes, de arroz de cabidela, de contemplar as estrelas e, sobretudo, porque não preciso de enfrentar o trânsito infernal quando vou trabalhar. Felizmente, vivo na periferia de uma grande cidade...

    JM

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  2. Cláudia Filipa3.10.16

    Pois é, também existe esse.
    Num rádio que pertencia aos meus avós maternos, daqueles que hoje é relíquia e que sintoniza as frequências de todo o mundo, mas, em contrapartida, de Portugal só permite ouvir a Antena Um e uma rádio de seu nome Rádio Sim, nesse rádio de sintonia única e ainda cheio de vida que quero muito perpetuar e então toca a ligá-lo, sei, muitas vezes, noticias desse outro país, a Antena Um farta-se de visitar esse país e num outro dia, num desses dias de andar a correr atrás de coisa nenhuma, dei por mim quieta a ouvir um jovem pastor feliz, feliz (só queria que o tivessem ouvido) com a vida que tinha e a contar histórias umas atrás das outras desse país, pertencia a um rancho folclórico e nessa altura estavam a organizar um encontro de ranchos folclóricos. Quando os mais velhos, de quem ele queria saber todas as histórias, todos os saberes, todas as cantigas, lengalengas, tradições da terra e também as crendices, lhe diziam "ó rapaz, mas isso é tão antigo, há aí tanta coisa moderna, mas tu não te interessas pelas coisas modernas?" dizia ele no rádio "eu quero é saber daquelas coisas, eu gosto mesmo destas tradições, desta vida e depois alguém tem de saber para que as coisas possam continuar, não é? ou então morre tudo, não é? um dia querem saber como foi e já ninguém sabe". O que eu sei é que fiquei ali muito quieta a ouvir tudo o que o pastor tinha para me contar desse país e eu de certa forma egoisticamente toda contente por ele ser pastor estar feliz com isso e a desejar que existissem outros como ele a permitirem que esse outro país não tenha fim.

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    1. Confesso que às vezes tenho vontade de ser pastor.

      (depois passa, está claro...)

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    2. Cláudia Filipa3.10.16

      Talvez, como aqui nos conta, quando está livre do fato Ermenegildo Zegna na sua rede com um livro numa mão e uma bebida a condizer na outra, afinal tem duas (coisas com que me faz rir) semicerra os olhos e deixa-os perdidos no horizonte da lezíria em modo contemplativo a permitir-se ter tempo para pensar em tudo ou em nada, talvez em alturas como essas, consiga um efeito parecido...

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    3. (talvez este blog já seja um bocadinho reflexo dessa vontade do Pipoco de se dedicar à pastorícia...)

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    4. Anónimo3.10.16

      Doutora Cláudia Filipa, aprecie, atentamente, como o doutor PMS joga uma das suas cartadas geniais, quiçá, uma das que fazem dele o único blogger mundial digno de ter ao seu dispor um Comentador-Secretária.
      Repare como, em poucas palavras, ele foi a subtil ironia, ele foi o saber conjugar as palavras de modo a que digam muito sem dizer quase nada, ele foi a cartada fatal que mistura a sensibilidade, o mistério e um tudo nada de arrogância…

      Aprendei, bloggers deste País!!!

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    5. Lady Kina3.10.16

      Mééééé´´e´´éééééh´!

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    6. (que linda ovelhinha, tão felpudinha, que aqui anda a vaguear pelo prado verdejante! Vê-se bem pelo ar sadio que é uma ovelhinha desse tal país mitológico que só o Nosso Pastor conhece)

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  3. Não há nada! Não tente enganar as pessoas.

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    1. Lady Kina3.10.16

      Não há?!!

      E agora, o que faço? Já comprei o bilhete, demiti-me do emprego e do part-time, anulei as inscrições no ginásios e nos colégios, devolvi os meus cartões gold de cliente na nespresso e da sacoor, vendi as jóias e as pratas no olx, as casas na Remax... meu deus, e agora?!

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    2. Lady Kina3.10.16

      Pá, um resort tão jeitoso, e afinal era tudo fake?! Foda-se!

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    3. Anónimo3.10.16

      My God, my God...

      Lady Kina, esse vernáculo horroroso, pior do que a linguagem usada por Eliza Doolittle, remete-a à vulgar condição de camponesa inculta. Necessita urgentemente, contratar os serviços de um Professor Henry Higgins que lhe ensine as regras mais básicas de etiqueta e de como deve uma Lady comportar-se publicamente...

      JM

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    4. Talvez me tenha enganado, Lady Kina. O que não existe é o reino do Preste João. Toda a gente sabe que troco tudo...

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