Durante muito tempo pensei que, escrevesse eu livros, havia de me apetecer ser como Hemingway. Bellinis no Harry's em Veneza, mojitos na Bodeguita del Medio em Havana, crónicas de guerra, tertúlias de escritores graúdos, mulheres, pesca em alto mar e, enfim, bons livros.
Até ler "Paris é uma festa".
Destrua todos os seus escritos particulares antes de morrer, Pipoco, não vá um familiar seu querer criar um blog póstumo...
ResponderEliminarJá viu o que seria os outros bloggers escreverem um "Quem quer ser Mais Salgado"?
Não é um livro mas um filme, o do Woody Allen, Midnight in Paris. A sua persona, pelo menos, está longe de se assemelhar ao Hemingway, apesar de a gente ver fotos dele velhinho de barbas brancas e nos parecer a coisa mais inocente deste mundo. E se calhar era, não inocente, mas bonzinho, de tanto peso na consciência pelo que fez na jumentude... é dele, penso, uma frase que me serve muito de mote: escreva bêbedo, edite sóbrio. Que é como quem diz: escreva com o coração, edite com a cabeça. Se quiser trazer alguma coisa do Hemingway para si, traga isto. A solidão de passar horas no meio do mar já a terá certamente, quem lê assim, aguenta toda essa introspeção. E perdoe-me a audácia.
ResponderEliminarEstou, a propósito deste post, a lembrar-me de um outro no qual escrevia não gostar de ver os escritores na feira do livro, naquela situação dos autógrafos, a não saberem como lidar com determinadas coisas, a passarem por certas maçadas, e o Pipoco a preferir que os Deuses continuassem no Olimpo por gostar de vê-los preservados de "excessos de humanidade" (conclusão da minha responsabilidade). "Paris é uma festa" traz os Deuses para o meio de nós e Hemingway, lá está, também estatelado em humanidade. Mas, parece que o homem foi direccionando a vida para fazer aquilo de que mais gostava, para poder concretizar a sua maior paixão, escrever, entretanto, foi vivendo muito pelo caminho e lá foi conseguindo escrever e escreveu aquele tipo de escrita que só está ao alcance de alguns. Nos livros, apresentava-nos gente, por vezes, feia, porca e má em diálogos que não lhes mascaravam nem os defeitos nem as fragilidades, entretanto, misturavam-se em algumas das suas personagens masculinas, a barba rija que às vezes arranha, a dureza exigida pelo contexto da vida e simultaneamente uma imensa capacidade para a ternura, delicadeza, sensibilidade, gosto de pensar que, estas últimas, seriam as personagens mais parecidas com ele próprio. Sabe, apesar de todas as partes menos boas, eu penso que deve ter sido fascinante ter sido Hemingway, e também gosto de pensar que se se nota desalento, desencanto, no fim, na retrospectiva, talvez tenha que ver, não com o que se viveu, mas com a chegada de um conjunto de circunstâncias, nomeadamente, falta de saúde que, deixa quem se habituou a viver, inconformado com um possível futuro de, apenas, sobrevivência.
ResponderEliminarPipoco, mesmo apanhado em rescaldo de fim de festa, caramba, há de continuar a ser atraente apetecer ser como Hemingway, sendo uma pessoa homem e escrevendo livros.
(gosto tanto destes seus motes)
Eu não gosto do Hemingway. Bem sei que não se pode dizer isto alto mas é um facto. Não gosto.
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