12 junho 2016

Conversa de praia

Este ano eles voltam a usar ao pescoço cordões com crucifixo de ouro em vez dos de prata, pólos Ralph Lauren em vez de Massimo Dutti e chegam com ar de quem pode outra vez, o cabelo puxado para trás com gel, atendem o telefone com ar mais descontraído.

Elas voltam a usar óculos de sol Dior e percebe-se que fizeram alguma coisa às ancas e usam vestidos de saída de praia em seda, voltam a falar de Nova Iorque e Paris e não é a viagem de há dez anos.

Nota-se que a vida está a melhorar.

6 comentários:

  1. Cláudia Filipa12.6.16

    (eu sei, as fotografias venceram mais uma vez, mas eu estou aqui cheia de vontade de comentar-te e portanto não é tarde nem é cedo é já, ficamos aqui a conversar só os dois, tu post e eu)

    Creio que também conhecerá algumas histórias destas, Pipoco. Só uma delas.
    Era uma vez um ex-dono disto tudo e durante uns anos, que não foram tão poucos assim, foi mesmo um dono disto tudo apesar do nome não aparecer badalado pelos meios de comunicação social, a certa altura apostou num determinado negócio, as coisas correram mal, muito mal. Este ex-dono disto tudo continuava a vestir-se à dono do mundo e a andar num carro dos de topo de topo de gama e a ter uma casa condizente com a sua ex condição, a profissão da mulher tinha sido a de aparecer bonita ao lado dele nos eventos e portanto provinha totalmente dele a manutenção do "império". A comida começava a escassear, os filhos começavam a andar com fome, contavam-se as moedas para ver se chegava para o pão, onde antes jorrava dinheiro deixavam-se por pagar as contas da água e da luz e a mulher acabou a recorrer a apoio social para, pelo menos, garantir alguma comida. Eu que o conheço desde miúda e sempre conversei com este ex-dono disto tudo (precisamente foi ao longo dos anos em conversas de praia que mais conversei com ele) sabendo ele que eu já conhecia a real situação, perguntei-lhe por que raio é que pelo menos não vendia o carro, não se desfazia de algumas coisas o que permitiria que a família não andasse a passar necessidades básicas, ao que ele respondeu que um homem de negócios tem de aparentar sempre uma situação de poder, que toda a aparência é também ela uma forma de investimento que contribui para que aconteçam propostas, que contribui para que continuem a considerá-lo um par e a querer negociar com ele, pode estar a passar fome, pode não ter dinheiro para nada, mas jamais poderá passar essa imagem ou então será mesmo o fim. Nunca me esqueci disto, Pipoco, e a minha anterior ideia sobre a exibição de aparências saiu reforçada.
    Mas sim, nota-se que a vida está a melhorar, já existem umas folgas na crise. Até para o caso que acabei de contar sei que a vida está a melhorar sem ser só aparentemente.

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    1. Era exactamente isso que eu queria transmitir, Claudia Filipa. Venho para esta praia quase desde sempre e tenho apreciado os ciclos. Eles vir, vêm sempre. Mas nota-se nos pormenores, no quanto apostam no casino, no vinho que sugerem quando é a vez deles pagarem o jantar...

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    2. Cláudia Filipa12.6.16

      Exactamente, sendo que o continuar a ir (mesmo nas alturas piores arranjam forma de)também é fundamental para a situação de demonstrar que continuam a poder, que tudo permanece como sempre, depois, lá está, os pormenores, sempre os pormenores, esses grandes denunciadores...

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  2. Anónimo12.6.16

    Mas por outro lado, o local de amostragem incide sobre a fatia (minoria?) dos que podem algo mais. Até que os mais afectados por esta crise sintam algum alívio ainda vai demorar, e essa é a maioria.

    Invoco os meus poderes de anónimo mauzão para discordar desta péssima avaliação da crise aliviada. É Verão, senhores, e é suposto descontrairmos. Quando o Inverno chegar logo falamos.

    Pode ter acontecido simplesmente que essas pessoas tenham decidido que uma vez perdido por cem, então que seja perdido por mil e vamos viver a vida.

    É um bocadinho como gabar a alegria de viver da população dos ditos países do "terceiro mundo".

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  3. Cláudia Filipa13.6.16

    Apenas pela troca de ideias.
    "anónimo mauzão":
    O Título do post é "Conversa de praia" não é "Estudo sobre a realidade socioeconómica do país", obviamente que diz respeito àquelas pessoas, naquele contexto, durante vários anos. Mas já agora também lhe digo que fazer "uma avaliação" usando como "amostragem" os que foram podendo sempre mais realmente (atenção ao realmente) talvez seja muito mais fiável do que fazer "uma avaliação" tendo por base a quantidade enorme de pessoas que só podiam mais devido a essa situação fictícia que o recurso ao crédito permitia de forma praticamente desregrada, essa situação completamente ilusória de poder de compra.
    Também me parece que ninguém falou em " alegria de viver" nem tão pouco se gabou coisa nenhuma, pelo que essa sua alusão aos "pobrezinhos mas felizes" me parece desadequada ao contexto em causa. Para além de também não me parecer muito provável que essas pessoas tenham batido todas com a cabeça em algum sítio ao mesmo tempo, mais precisamente este ano na altura das férias e se transformassem nesses grandes malucos "perdido por cem, perdido por mil, vamos viver a vida e assim".
    Claro que há pessoas a passarem sérias dificuldades, claro que ainda vamos demorar muito tempo a recuperar, se é que alguma vez vamos recuperar, afinal, desde que me conheço que Portugal está em crise, isto se a conjuntura mundial também melhorar o que, diga-se de passagem, não anda lá grande coisa, mas isso não significa que cada um de nós não possa recorrer "às amostragens" que vão fazendo parte da sua vida e chegar às suas próprias conclusões de forma descompromissada.

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    1. Anónimo13.6.16

      Além de anónimo mauzão, Cláudia, também primo por outras qualidades como a de vagabundo. Da minha vida fazem parte muitas amostragens díspares. Não se ofenda com o disposto anteriormente nem imediato, mas não sei se a vida melhora quando os ricos começam a comer os ricos.

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